A Arena era o maior partido do Brasil. Foi perdendo influência nos estados pujantes e acabou sobrevivendo por uns tempos graças as grotões, onde se trocam votos por esmolas.
Virou PDS, dividiu-se em dois (os direitistas convictos ficaram com o Maluf e os fisiológicos formaram o PFL), foi decaindo miseravelmente.
Depois foi a vez de dois partidos que começaram na esquerda e, quanto mais poder foram conquistando, mais para a direita descambaram: PMDB e PT.
O trágico não é o PT ter saído destas eleições como o novo partido dos grotões e dos estados que vivem pendurados nas tetas do governo federal; mas sim o fato de que o tucanato, quem diria, se tornou a opção progressista. Os auto-suficientes votaram em Alckmin, os eternos dependentes votaram em Lula. Que tristeza!
Desde o ano passado eu vinha advertindo que a esquerda ética precisava se tornar a alternativa ao "neoliberalismo com formação de quadrilha" corporificado no PT. Não conseguiu. À falta de melhor opção, o Brasil dinâmico acabou alinhado com os tucanos. O Brasil do atraso ficou com o Lula.
Numa comparação com os estadunidentes, foi como se o Sul escravagista tivesse vencido o Norte industrializante. Naquela guerra civil, os EUA escolheram ter um futuro grandioso (independentemente da avaliação que façamos do seu papel como potência - a minha é a mais negativa possível). O Brasil acaba de decidir que continuará mais quatro anos patinando sem sair do lugar. Outra década perdida à vista!
Há quem me recrimine por dar como certos e definitivos os eventos que ainda vão acontecer. No entanto, o raciocínio é simples:
* Como poderia o Brasil voltar a crescer tanto quanto precisa, ou seja, pelo menos 8% ao ano? Reduzindo os juros, claro!
* O que impede a redução dos juros? Os débitos do passado e a continuidade da gastança desenfreada do setor público. Nestas condições, os juros estratosféricos são o único freio que, reprimindo o consumo, impede uma disparada da inflação.
* Alguém vê em Lula o líder capaz de confrontar os credores externos e internos, propondo uma alternativa a essa engrenagem que tritura as esperanças do povo brasileiro? Fala sério! Arroubos retóricos à parte, ele nada fez até agora que verdadeiramente incomodasse os poderosos do mundo.
* Alguém considera que Lula seja capaz de dar um basta ao uso e abuso do estado por interesses privados, que tornou a nossa carga tributária uma das maiores do mundo? Fala sério! Quem fez Ministérios brotarem como cogumelos, para acomodar todos os interesses fisiológicos, não vai se regenerar da noite para o dia.
O que teremos, obviamente, é a manutenção da política econômica neoliberal praticada nos dois governos de FHC e no primeiro mandato de Lula. Aliás, mal acabava de vencer as eleições, ele correu a desmentir que a ortodoxia palocciana seria enterrada junto o próprio. Para tranqüilizar os banqueiros, rentistas e grandes empresários, Lula não hesitou em jogar um balde de água fria nos que ainda sonhavam com alguma melhora.
Assim, este segundo mandato de Lula será apenas um fim de feira. Com o agravante de que, já não ambicionando uma reeleição, ele resistirá menos ainda (se isto é possível!) ao assalto aos cofres públicos por parte dos "bons companheiros".
Incapaz de imprimir um novo rumo à sua administração, até porque já não conta com os quadros petistas de esquerda que lhe davam alguma consistência política, Lula tende à inércia. É o prognóstico que a Folha de S. Paulo fez em editorial; subscrevo-o.
Quanto a nós, que ainda não abrimos mão dos ideais de justiça social e de comprometimento ético na política, teremos um trabalho imenso pela frente. Sabendo, desde já, que à putrefação do lulismo provavelmente vai seguir-se uma nova ascensão tucana -- pois é o setor dinâmico que, mais dia ou menos dia, acaba sempre prevalecendo. O lulismo aguentará mais uns tempos representando o Brasil do atraso e depois vai para a lata de lixo da História.
Nesse meio tempo, cabe-nos reconstruir a esquerda. Precisamos juntar os cacos e empurrar a pedra de novo para o topo da montanha -- se quisermos ser a alternativa ao tucanato na próxima década.
De resto, temos de fazer até o impossível para evitar que, com suas delinqüências e ilegitimidade, o Governo Lula dê ensejo a uma nova ditadura. Pois não existe melhor pretexto para a escalada da direita troglodita do que o mar de lama em que chafurdam as instituições.
E este seria um péssimo momento para entrarmos em confronto com os fascistas, já que estamos enfraquecidos pela traição do PT e pela desmoralização por ele acarretada à esquerda como um todo.
Temos de preservar a democracia, custe o que custar. E colocar como prioridade máxima a reconquista do respeito da população.
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14.1.07
RESCALDO DA ELEIÇÃO (nov/2006)
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