Celso Lungaretti (*)
Os 40 anos da morte de Ernesto Guevara Lynch de la Serna, a se completarem no próximo dia 9, dão ensejo a uma nova temporada de caça ao mito Che Guevara por parte da imprensa reacionária, começando por Veja, que acaba de produzir uma das matérias-de-capa mais tendenciosas de sua trajetória.
"Veja conversou com historiadores, biógrafos, antigos companheiros de Che na guerrilha e no governo cubano na tentativa de entender como o rosto de um apologista da violência, voluntarioso e autoritário, foi parar no biquíni de Gisele Bündchen, no braço de Maradona, na barriga de Mike Tyson, em pôsteres e camisetas”, afirma a revista, numa admissão involuntária de que não praticou jornalismo, mas, tão-somente, produziu uma peça de propaganda anticomunista, mais apropriada para os tempos da guerra fria do que para a época atual, quando já se pode olhar de forma desapaixonada e analítica para os acontecimentos dos anos de chumbo.
Não houve, em momento algum, a intenção de se fazer justiça ao homem e dimensionar o mito. A avaliação negativa precedeu e orientou a garimpagem dos elementos comprobatórios. Tratou-se apenas de coletar, em todo o planeta, quaisquer informações, boatos, deturpações, afirmações invejosas, difamações, calúnias e frases soltas que pudessem ser utilizadas na montagem de uma furibunda catalinária contra o personagem histórico Ernesto Guevara, com o propósito assumido de se demonstrar que o mito Che Guevara seria uma farsa.
Assim, por exemplo, a Veja faz um verdadeiro contorcionismo retórico para tentar tornar crível que, ao ser preso, o comandante guerrilheiro teria dito: "Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto". Ora, uma frase tão discrepante de tudo que se conhece sobre a personalidade de Guevara jamais poderá ser levada a sério tendo como única fonte a palavra de quem posou como seu captor, um capitão do Exército boliviano (na verdade, eram oficiais estadunidenses que comandavam a caçada).
É tão inverossímil e pouco confiável quanto a “sei quando perco” atribuída a Carlos Lamarca, também capturado com vida e abatido como um animal pelas forças repressivas.
E são simplesmente risíveis as lágrimas de crocodilo que a Veja derrama sobre o túmulo dos “49 jovens inexperientes recrutas que faziam o serviço militar obrigatório na Bolívia” e morreram perseguindo os guerrilheiros. Além de combater um inimigo que tinha esmagadora superioridade de forças e incluía combatentes de elite da maior potência militar do planeta, Guevara ainda deveria ordenar a seus comandados que fizessem uma cuidadosa triagem dos alvos, só disparando contra oficiais...
É o mesmo raciocínio tortuoso que a extrema-direita utiliza para tentar fazer crer que a morte de seus dois únicos e involuntários mártires (Mário Kozel Filho e Alberto Mendes Jr.) tenha tanto peso quanto a de quatro centenas de idealistas que arriscaram conscientemente a vida e a liberdade na resistência à tirania, confrontando a ditadura mais brutal que o Brasil conheceu.
Típica também – e não por acaso -- da retórica das viúvas da ditadura é esta afirmação da Veja sobre o legado de Guevara: “No rastro de suas concepções de revolução pela revolução, a América Latina foi lançada em um banho de sangue e uma onda de destruição ainda não inteiramente avaliada e, pior, não totalmente assentada. O mito em torno de Che constitui-se numa muralha que impediu até agora a correta observação de alguns dos mais desastrosos eventos da história contemporânea das Américas”.
Assim, a onda revolucionária que se avolumou na América Latina durante as décadas de 1960 e 1970 teria como causa “as concepções de revolução pela revolução” de Guevara e não a miséria, a degradação e o despotismo a que eram submetidos seus povos. E a responsabilidade pelos banhos de sangue com que as várias ditaduras sufocaram anseios de liberdade e justiça social caberia às vítimas, não aos carrascos.
É o que a propaganda enganosa dos sites fascistas martela dia e noite, tentando desmentir o veredicto definitivo da História sobre os Médicis e Pinochets que protagonizaram “alguns dos mais desastrosos eventos da história contemporânea das Américas”.
Não existe muralha nenhuma impedindo a correta observação desses episódios, tanto que ela já foi feita pelos historiadores mais conceituados e por braços do Estado brasileiro como as comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos Políticos. Há, isto sim, a relutância dos verdugos, de seus cúmplices e de seus seguidores, em aceitarem a verdade histórica indiscutível.
E a matéria-de-capa da Veja não passa de mais um exercício do jus sperniandi a que se entregam os que têm esqueletos no armário e os que anseiam por uma recaída totalitária, com os eventos desastrosos e os banhos de sangue correspondentes.
* Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com
30.9.07
“VEJA” MIRA GUEVARA E ACERTA O PRÓPRIO PÉ
27.9.07
GOEBBELS INSPIRA DIREITA E ESQUERDA NA INTERNET
Celso Lungaretti (*)
A internet fornece tribuna a todos os cidadãos, que podem espalhar à vontade suas opiniões, interpretações e informações (verdadeiras e falsas), seja assumindo honestamente a autoria, seja ocultando-se como anônimos ou fakes.
Num primeiro momento, houve quem saudasse essa nova realidade como uma quebra do monopólio da imprensa e um respiradouro para a opinião pública tomar conhecimento de verdades que estariam sendo sonegadas pelos barões da mídia.
Agora, entretanto, evidencia-se cada vez mais o outro lado da moeda: abriram-se possibilidades praticamente infinitas de manipulação das consciências. Não só para impingirem-se como verídicos os eventos mostrados num pega-trouxas cinematográfico qualquer (A Bruxa de Blair), como também para a massificação de propaganda política enganosa, na linha do nazista Joseph Goebbels (“Uma mentira mil vezes repetida se torna uma verdade”).
As empresas jornalísticas e seus profissionais são obrigados a respeitar limites, para não sofrerem os prejuízos financeiros decorrentes da perda de credibilidade e das ações judiciais. Não podem dar livre curso a fantasias e calúnias.
Já os sites financiados por facções políticas pouco têm a perder, daí a desenvoltura com que agem. Direcionam-se para cidadãos frustrados e rancorosos, propensos ao fanatismo e, portanto, incapazes de perceber a total falta de verossimilhança naqueles relatos mirabolantes. Trata-se do mesmo caldo de cultura que gerou o nazismo e o fascismo.
A extrema-direita, em sites como o Ternuma, Mídia Sem Máscara, Usina de Letras e A Verdade Sufocada, prega ostensivamente um novo golpe militar, tentando reeditar, de forma mecânica, a receita que deu certo em 1964.
Mas, se os sem-terra caem bem no papel de espantalho então preenchido pelas Ligas Camponesas de Francisco Julião e se Lula é tão useiro e vezeiro em dar trunfos para o inimigo quanto Goulart, outras peças do quebra-cabeças não se encaixaram: os controladores de vôo nem de longe indignaram a oficialidade como os subalternos contestadores das Forças Armadas (com destaque para os marujos liderados pelo cabo Anselmo); o Cansei e o Fora Lula só conseguem reunir gatos pingados, jamais as multidões das Marchas da Família, Com Deus, Pela Liberdade.
O mais risível é o papel de vilão principal, antes ocupado pela conspiração comunista urdida em Moscou e Pequim. Na falta de coisa melhor, os sites fascistas hoje alardeiam a periculosidade do Foro de São Paulo, por eles apresentado como a “organização revolucionária que está influenciando de maneira decisiva os destinos políticos da América Latina, em especial a América do Sul”.
Na verdade, trata-se apenas de um encontro bianual de partidos políticos e organizações sociais contrárias às políticas neoliberais, que vem acontecendo desde a reunião inicial de 1990, em São Paulo (daí o nome).
Olavo de Carvalho, misto de (péssimo) jornalista, (eficiente) propagandista e (pretenso) filósofo, descreve o Foro de São Paulo de forma tão delirante que parece Ian Fleming introduzindo a Spectre numa novela de James Bond: “...a entidade que já domina os governos de nove países não admite, não suporta, não tolera que parcela alguma de poder, por mais mínima que seja, esteja fora de suas mãos. Nem mesmo as empresas de comunicação e o judiciário, sem cuja liberdade a democracia não sobrevive um só minuto. Com a maior naturalidade, como se fosse uma herança divina inerente à sua essência, o Foro de São Paulo, com a aprovação risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente”.
As hostes virtuais petistas respondem com outros sambas do crioulo doido, como os dossiês sobre conspirações para derrubar o presidente Lula divulgados pelo fantasmagórico grupo Jornalistas Independentes do Brasil (Jibra), com sede oficial em Londres (?!).
Assim, segundo o Jibra, as denúncias do mar de lama que maculou o primeiro mandato do presidente Lula não se deveram ao desmascaramento da organização criminosa que ora responde por seus crimes na Justiça, mas sim à má fé dos formadores de opinião, que estariam sendo subornados para denegrir o angelical Zé Dirceu.
Teria ocorrido o repasse de numerário, via Nossa Caixa, Bank of Boston e Santander Banespa, para “pelo menos 76 pessoas, entre jornalistas e outras personalidades”, incluindo os jornalistas Ricardo Noblat, Lílian Witte Fibe e Augusto Nunes, o deputado Fernando Gabeira e o ator Lima Duarte.
Além dos partidos rivais do PT, estariam envolvidos na fantástica tramóia os serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido – os quais teriam assassinado o brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô londrino, não por o terem confundido com um terrorista, mas por acreditarem que ele fosse o “operador estratégico das ações do Jibra”!
O Ministério Público Federal e as autoridades policiais têm mostrado empenho no combate à pornografia e à pedofilia na Internet, mas quase nada vêm fazendo contra as campanhas totalitárias – desde o golpismo da extrema-direita até a desmoralização e intimidação da imprensa por parte dos petistas. Muito menos para defender a honra dos cidadãos que são alvos diários de difamações e calúnias.
É preciso disciplinar o admirável mundo novo da Web, antes que ele se torne 1984.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com
A internet fornece tribuna a todos os cidadãos, que podem espalhar à vontade suas opiniões, interpretações e informações (verdadeiras e falsas), seja assumindo honestamente a autoria, seja ocultando-se como anônimos ou fakes.
Num primeiro momento, houve quem saudasse essa nova realidade como uma quebra do monopólio da imprensa e um respiradouro para a opinião pública tomar conhecimento de verdades que estariam sendo sonegadas pelos barões da mídia.
Agora, entretanto, evidencia-se cada vez mais o outro lado da moeda: abriram-se possibilidades praticamente infinitas de manipulação das consciências. Não só para impingirem-se como verídicos os eventos mostrados num pega-trouxas cinematográfico qualquer (A Bruxa de Blair), como também para a massificação de propaganda política enganosa, na linha do nazista Joseph Goebbels (“Uma mentira mil vezes repetida se torna uma verdade”).
As empresas jornalísticas e seus profissionais são obrigados a respeitar limites, para não sofrerem os prejuízos financeiros decorrentes da perda de credibilidade e das ações judiciais. Não podem dar livre curso a fantasias e calúnias.
Já os sites financiados por facções políticas pouco têm a perder, daí a desenvoltura com que agem. Direcionam-se para cidadãos frustrados e rancorosos, propensos ao fanatismo e, portanto, incapazes de perceber a total falta de verossimilhança naqueles relatos mirabolantes. Trata-se do mesmo caldo de cultura que gerou o nazismo e o fascismo.
A extrema-direita, em sites como o Ternuma, Mídia Sem Máscara, Usina de Letras e A Verdade Sufocada, prega ostensivamente um novo golpe militar, tentando reeditar, de forma mecânica, a receita que deu certo em 1964.
Mas, se os sem-terra caem bem no papel de espantalho então preenchido pelas Ligas Camponesas de Francisco Julião e se Lula é tão useiro e vezeiro em dar trunfos para o inimigo quanto Goulart, outras peças do quebra-cabeças não se encaixaram: os controladores de vôo nem de longe indignaram a oficialidade como os subalternos contestadores das Forças Armadas (com destaque para os marujos liderados pelo cabo Anselmo); o Cansei e o Fora Lula só conseguem reunir gatos pingados, jamais as multidões das Marchas da Família, Com Deus, Pela Liberdade.
O mais risível é o papel de vilão principal, antes ocupado pela conspiração comunista urdida em Moscou e Pequim. Na falta de coisa melhor, os sites fascistas hoje alardeiam a periculosidade do Foro de São Paulo, por eles apresentado como a “organização revolucionária que está influenciando de maneira decisiva os destinos políticos da América Latina, em especial a América do Sul”.
Na verdade, trata-se apenas de um encontro bianual de partidos políticos e organizações sociais contrárias às políticas neoliberais, que vem acontecendo desde a reunião inicial de 1990, em São Paulo (daí o nome).
Olavo de Carvalho, misto de (péssimo) jornalista, (eficiente) propagandista e (pretenso) filósofo, descreve o Foro de São Paulo de forma tão delirante que parece Ian Fleming introduzindo a Spectre numa novela de James Bond: “...a entidade que já domina os governos de nove países não admite, não suporta, não tolera que parcela alguma de poder, por mais mínima que seja, esteja fora de suas mãos. Nem mesmo as empresas de comunicação e o judiciário, sem cuja liberdade a democracia não sobrevive um só minuto. Com a maior naturalidade, como se fosse uma herança divina inerente à sua essência, o Foro de São Paulo, com a aprovação risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente”.
As hostes virtuais petistas respondem com outros sambas do crioulo doido, como os dossiês sobre conspirações para derrubar o presidente Lula divulgados pelo fantasmagórico grupo Jornalistas Independentes do Brasil (Jibra), com sede oficial em Londres (?!).
Assim, segundo o Jibra, as denúncias do mar de lama que maculou o primeiro mandato do presidente Lula não se deveram ao desmascaramento da organização criminosa que ora responde por seus crimes na Justiça, mas sim à má fé dos formadores de opinião, que estariam sendo subornados para denegrir o angelical Zé Dirceu.
Teria ocorrido o repasse de numerário, via Nossa Caixa, Bank of Boston e Santander Banespa, para “pelo menos 76 pessoas, entre jornalistas e outras personalidades”, incluindo os jornalistas Ricardo Noblat, Lílian Witte Fibe e Augusto Nunes, o deputado Fernando Gabeira e o ator Lima Duarte.
Além dos partidos rivais do PT, estariam envolvidos na fantástica tramóia os serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido – os quais teriam assassinado o brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô londrino, não por o terem confundido com um terrorista, mas por acreditarem que ele fosse o “operador estratégico das ações do Jibra”!
O Ministério Público Federal e as autoridades policiais têm mostrado empenho no combate à pornografia e à pedofilia na Internet, mas quase nada vêm fazendo contra as campanhas totalitárias – desde o golpismo da extrema-direita até a desmoralização e intimidação da imprensa por parte dos petistas. Muito menos para defender a honra dos cidadãos que são alvos diários de difamações e calúnias.
É preciso disciplinar o admirável mundo novo da Web, antes que ele se torne 1984.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com
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20.9.07
O RESCALDO DO RENANGATE
Celso Lungaretti (*)
O desfecho pífio do Renangate serve, pelo menos, como estímulo à reflexão e busca de novos caminhos. Na imprensa e na Internet, discute-se intensamente como redimir as instituições que, hoje, abdicam do cumprimento de sua missão e, até, do imperativo de manterem um mínimo de compostura.
Estão certos os que apontam o episódio como a comprovação de que o Partido dos Trabalhadores hoje é algo bem diferente daquela agremiação fundada em 1980 com o nobre objetivo de se tornar a alternativa à podridão da política burguesa.
Ninguém melhor do que Luiz Inácio Lula da Silva para simbolizar essa transição do idealismo para o amoralismo. Numa canhestra tentativa de justificação da atual defesa encarniçada da CPMF, depois de tanto tê-la atacado outrora, Lula implicitamente admitiu que ele e o partido cometeram estelionato eleitoral: “Você não governa com principismo. Principismo você faz no partido, quando pensa que não vai ganhar nunca as eleições. Quando vira governo, governa em função da realidade que tem”.
Seria simplista, no entanto, a mera desqualificação do PT, sem levarmos em conta os outros partidos que cumpriram idêntica trajetória nas últimas décadas, levantando belas bandeiras antes de chegarem ao poder e, depois, governando em função da realidade que tinham: o PMDB e o PSDB.
Se quisermos ir além da ladainha demagógica contra a esquerda e da retórica pessimista sobre a corrupção inerente ao ser humano, vale a pena lembrarmos que a redemocratização brasileira coincidiu com a globalização dos mercados capitalistas e o fim do socialismo real.
Na década de 1980 foi concluído o processo de transição para o que Lênin já em 1916 antevia como a “fase superior do capitalismo”: a concentração da produção, os monopólios, o predomínio do capital financeiro e a partilha do mundo entre as associações de capitalistas.
A II Guerra Mundial marcara o encerramento da era da franca competição entre nações capitalistas. A partir daí, o conceito de nação foi sendo esvaziado pela interligação e complementaridade dos negócios, inicialmente no bloco capitalista e, de 1989 em diante, em todo o planeta.
Falou-se em fim da História, na substituição das nações pelas corporações e na redução dos governos a funções secundárias ou decorativas, mas essas reflexões passaram longe do cidadão comum.
Poucos se dão conta da magnitude da transformação ocorrida, com a existência de um modelo econômico único, que nenhum governo, isoladamente, consegue alterar e do qual é suicídio apartar-se, só lhe restando a opção de adequar-se-lhe da melhor forma possível.
Como boa parte das decisões administrativas se resume a garantir as condições para o funcionamento desse modelo econômico, pouco resta para um governo resolver por si mesmo. A diferenciação entre os vários governos passou a se dar mais nos detalhes cosméticos.
Assim, um partido como o PT pode até chegar ao poder imbuído das melhores intenções, mas logo acaba governando “em função da realidade que tem”.
O que acontece com seus quadros?
Alguns se consolam com as melhoras insignificantes em relação às administrações anteriores, como a maior quantidade de migalhas distribuídas aos miseráveis, tentando fanaticamente convencerem a si próprios de que se trata da materialização do sonho antigo.
Outros, com mais clareza de visão e menos qualidade moral, assumem sua impotência em mudar verdadeiramente o Brasil e passam a priorizar a si próprios – e, conseqüentemente, a perpetuação do partido no poder, por que meio$ forem e com quais aliados forem, inclusive antigos inimigos como Fernando Collor, Renan Calheiros, Paulo Maluf, José Sarney e o finado ACM.
O certo é que, após personificar durante muito tempo a esperança de dias melhores para o Brasil, o PT deixou órfãos muitos idealistas que agora juntam os cacos e procuram reacender a antiga chama, com iniciativas díspares:
· a tentativa de construírem um partido nos moldes do PT original, mas que depois não se desvirtue;
· reforma política, fim das votações secretas no Congresso, unicameralismo, voto distrital, parlamentarismo e outras propostas de mudança das regras do jogo político;
· mobilizações populares para pressionar a mídia, para que não seja renovada a concessão da TV Globo, para se reestatizarem empresas, etc.
Para além do mérito ou relevância de cada uma dessas opções, salta aos olhos que passam longe do fulcro da questão: os Poderes do Estado nacional não respondem convenientemente às situações criadas pela economia transnacional, daí estarem sofrendo acentuado desgaste no Brasil.
A prática sem teoria é cega, diziam os pensadores marxistas. Mais do que nunca, há necessidade de pensarmos esta nova realidade, para que possamos interferir sobre ela de forma conseqüente.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
O desfecho pífio do Renangate serve, pelo menos, como estímulo à reflexão e busca de novos caminhos. Na imprensa e na Internet, discute-se intensamente como redimir as instituições que, hoje, abdicam do cumprimento de sua missão e, até, do imperativo de manterem um mínimo de compostura.
Estão certos os que apontam o episódio como a comprovação de que o Partido dos Trabalhadores hoje é algo bem diferente daquela agremiação fundada em 1980 com o nobre objetivo de se tornar a alternativa à podridão da política burguesa.
Ninguém melhor do que Luiz Inácio Lula da Silva para simbolizar essa transição do idealismo para o amoralismo. Numa canhestra tentativa de justificação da atual defesa encarniçada da CPMF, depois de tanto tê-la atacado outrora, Lula implicitamente admitiu que ele e o partido cometeram estelionato eleitoral: “Você não governa com principismo. Principismo você faz no partido, quando pensa que não vai ganhar nunca as eleições. Quando vira governo, governa em função da realidade que tem”.
Seria simplista, no entanto, a mera desqualificação do PT, sem levarmos em conta os outros partidos que cumpriram idêntica trajetória nas últimas décadas, levantando belas bandeiras antes de chegarem ao poder e, depois, governando em função da realidade que tinham: o PMDB e o PSDB.
Se quisermos ir além da ladainha demagógica contra a esquerda e da retórica pessimista sobre a corrupção inerente ao ser humano, vale a pena lembrarmos que a redemocratização brasileira coincidiu com a globalização dos mercados capitalistas e o fim do socialismo real.
Na década de 1980 foi concluído o processo de transição para o que Lênin já em 1916 antevia como a “fase superior do capitalismo”: a concentração da produção, os monopólios, o predomínio do capital financeiro e a partilha do mundo entre as associações de capitalistas.
A II Guerra Mundial marcara o encerramento da era da franca competição entre nações capitalistas. A partir daí, o conceito de nação foi sendo esvaziado pela interligação e complementaridade dos negócios, inicialmente no bloco capitalista e, de 1989 em diante, em todo o planeta.
Falou-se em fim da História, na substituição das nações pelas corporações e na redução dos governos a funções secundárias ou decorativas, mas essas reflexões passaram longe do cidadão comum.
Poucos se dão conta da magnitude da transformação ocorrida, com a existência de um modelo econômico único, que nenhum governo, isoladamente, consegue alterar e do qual é suicídio apartar-se, só lhe restando a opção de adequar-se-lhe da melhor forma possível.
Como boa parte das decisões administrativas se resume a garantir as condições para o funcionamento desse modelo econômico, pouco resta para um governo resolver por si mesmo. A diferenciação entre os vários governos passou a se dar mais nos detalhes cosméticos.
Assim, um partido como o PT pode até chegar ao poder imbuído das melhores intenções, mas logo acaba governando “em função da realidade que tem”.
O que acontece com seus quadros?
Alguns se consolam com as melhoras insignificantes em relação às administrações anteriores, como a maior quantidade de migalhas distribuídas aos miseráveis, tentando fanaticamente convencerem a si próprios de que se trata da materialização do sonho antigo.
Outros, com mais clareza de visão e menos qualidade moral, assumem sua impotência em mudar verdadeiramente o Brasil e passam a priorizar a si próprios – e, conseqüentemente, a perpetuação do partido no poder, por que meio$ forem e com quais aliados forem, inclusive antigos inimigos como Fernando Collor, Renan Calheiros, Paulo Maluf, José Sarney e o finado ACM.
O certo é que, após personificar durante muito tempo a esperança de dias melhores para o Brasil, o PT deixou órfãos muitos idealistas que agora juntam os cacos e procuram reacender a antiga chama, com iniciativas díspares:
· a tentativa de construírem um partido nos moldes do PT original, mas que depois não se desvirtue;
· reforma política, fim das votações secretas no Congresso, unicameralismo, voto distrital, parlamentarismo e outras propostas de mudança das regras do jogo político;
· mobilizações populares para pressionar a mídia, para que não seja renovada a concessão da TV Globo, para se reestatizarem empresas, etc.
Para além do mérito ou relevância de cada uma dessas opções, salta aos olhos que passam longe do fulcro da questão: os Poderes do Estado nacional não respondem convenientemente às situações criadas pela economia transnacional, daí estarem sofrendo acentuado desgaste no Brasil.
A prática sem teoria é cega, diziam os pensadores marxistas. Mais do que nunca, há necessidade de pensarmos esta nova realidade, para que possamos interferir sobre ela de forma conseqüente.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
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18.9.07
CESARE BATTISTI: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Quem me conhece, sabe que eu tenho sempre assumido posição pública de defesa dos direitos humanos, sejam quais forem os governos que os ameaçam. E já travei, com sucesso, várias batalhas de opinião pública, defendendo boas causas.
Então, tenho pedido aos defensores de Cesare Battisti que evitem desacreditar a Justiça italiana, como vêm fazendo, pois é um mau argumento. Como a Itália não é uma ditadura, os nossos adversários sempre poderão alegar que o Cesare Battisti deveria aceitar a deportação e lutar até o fim para ser inocentado no país dele.
Além disto, o princípio de autodeterminação dos povos é extremamente importante para nós. Se quisermos ter moral para criticarmos o Bush e Israel, que frequentemente o infringem, não podemos, como brasileiros, nos arrogar o direito de julgarmos a Justiça italiana. As ruas têm sempre duas mãos. Tudo que dissermos agora poderá ser usado contra nós numa situação futura.
P. ex., os sites fascistas cobram do governo Lula que dê a esse caso a mesma solução que deu ao episódio dos pugilistas cubanos.
Eu cantei essa bola no momento em que aquilo aconteceu. Manter o direito de asilo como algo sagrado era muito mais relevante para nós, revolucionários, do que agradar ao Fidel Castro.
Nunca devemos desvalorizar princípios que são importantes para nossas lutas presentes e futuras. O direito de asilo é um. O princípio da autodeterminação dos povos, outro.
Então, nosso apelo às autoridades brasileiras e nossas campanhas de convencimento da opinião pública devem bater na tecla HUMANITÁRIA e no respeito à TRADIÇÃO DE ASILO POLÍTICO brasileira. Críticas à Itália (e à França) só enfraquecerão a nossa posição.
Não somos os juízes do mundo, mas, tão somente, cidadãos empenhados em garantir a liberdade de Cesare Battisti. Devemos atrair todas as simpatias possíveis, não semear antipatias.
Então, tenho pedido aos defensores de Cesare Battisti que evitem desacreditar a Justiça italiana, como vêm fazendo, pois é um mau argumento. Como a Itália não é uma ditadura, os nossos adversários sempre poderão alegar que o Cesare Battisti deveria aceitar a deportação e lutar até o fim para ser inocentado no país dele.
Além disto, o princípio de autodeterminação dos povos é extremamente importante para nós. Se quisermos ter moral para criticarmos o Bush e Israel, que frequentemente o infringem, não podemos, como brasileiros, nos arrogar o direito de julgarmos a Justiça italiana. As ruas têm sempre duas mãos. Tudo que dissermos agora poderá ser usado contra nós numa situação futura.
P. ex., os sites fascistas cobram do governo Lula que dê a esse caso a mesma solução que deu ao episódio dos pugilistas cubanos.
Eu cantei essa bola no momento em que aquilo aconteceu. Manter o direito de asilo como algo sagrado era muito mais relevante para nós, revolucionários, do que agradar ao Fidel Castro.
Nunca devemos desvalorizar princípios que são importantes para nossas lutas presentes e futuras. O direito de asilo é um. O princípio da autodeterminação dos povos, outro.
Então, nosso apelo às autoridades brasileiras e nossas campanhas de convencimento da opinião pública devem bater na tecla HUMANITÁRIA e no respeito à TRADIÇÃO DE ASILO POLÍTICO brasileira. Críticas à Itália (e à França) só enfraquecerão a nossa posição.
Não somos os juízes do mundo, mas, tão somente, cidadãos empenhados em garantir a liberdade de Cesare Battisti. Devemos atrair todas as simpatias possíveis, não semear antipatias.
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13.9.07
SEM NOVIDADES NO FRONT
Celso Lungaretti (*)
Escrevo este artigo quando o Senado está decidindo se cassa ou não o mandato de seu presidente, Renan Calheiros. Existindo a possibilidade de um desfecho que realmente significasse um dado novo na política brasileira, poderia escrevê-lo mais tarde. Não é o caso.
A absolvição de Calheiros seria apenas a reprise da monumental pizza servida pelos três Poderes em 2005, quando permitiram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escapasse impune do escândalo do mensalão, apesar da fartura de evidências de sua responsabilidade por práticas delituosas, seja como mandante, partícipe ou omisso.
A condenação de Calheiros seria apenas a reprise da degola de Fernando Collor, figura de proa sacrificada sem que nada realmente se fizesse para evitar a repetição futura das mesmas práticas, inclusive pelas mesmas pessoas (já que um de seus principais escudeiros é o pivô do episódio atual). Sacia-se a sede de sangue dos cidadãos imolando-se um símbolo e os seus iguais podem respirar aliviados por algum tempo...
Salta aos olhos que, como afirmavam os estudantes rebeldes de 1968, o sistema é o xis do problema. A política foi reduzida a um palco iluminado em que canastrões se alternam fingindo tomar decisões transcendentais, enquanto, na verdade, apenas cuidam mal e parcamente do secundário.
O principal é estabelecido pelo grande capital, cujas imposições foram tão caninamente obedecidas por FHC quanto o estão sendo por Lula. A retórica muda, mas a política econômica permanece sempre idêntica.
Essa política econômica significa a prevalência dos interesses de uma ínfima minoria de banqueiros, rentistas e grandes empresários sobre os da maioria dos brasileiros, a perpetuação de uma desigualdade social gritante e aviltante, a condenação de imensos contingentes humanos a uma existência de privações inúteis, que o assistencialismo só mitiga, quando já existe capacidade produtiva para proporcionar-lhes existência digna.
Aqueles membros do Executivo e Legislativo cuja função é coonestar esse estado de coisas, servindo de biombo para esconder dos cidadãos os verdadeiros culpados por suas tragédias, já carregam a má consciência de posarem de protagonistas quando não passam de marionetes.
Que, depois de colocarem interesses particulares acima dos interesses coletivos, coloquem seus próprios interesses acima do Código Penal, é um comportamento condizente com uma organização econômica e social que erige a ganância em valor supremo.
A corrupção não passa do capitalismo levado às últimas conseqüências.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
Escrevo este artigo quando o Senado está decidindo se cassa ou não o mandato de seu presidente, Renan Calheiros. Existindo a possibilidade de um desfecho que realmente significasse um dado novo na política brasileira, poderia escrevê-lo mais tarde. Não é o caso.
A absolvição de Calheiros seria apenas a reprise da monumental pizza servida pelos três Poderes em 2005, quando permitiram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escapasse impune do escândalo do mensalão, apesar da fartura de evidências de sua responsabilidade por práticas delituosas, seja como mandante, partícipe ou omisso.
A condenação de Calheiros seria apenas a reprise da degola de Fernando Collor, figura de proa sacrificada sem que nada realmente se fizesse para evitar a repetição futura das mesmas práticas, inclusive pelas mesmas pessoas (já que um de seus principais escudeiros é o pivô do episódio atual). Sacia-se a sede de sangue dos cidadãos imolando-se um símbolo e os seus iguais podem respirar aliviados por algum tempo...
Salta aos olhos que, como afirmavam os estudantes rebeldes de 1968, o sistema é o xis do problema. A política foi reduzida a um palco iluminado em que canastrões se alternam fingindo tomar decisões transcendentais, enquanto, na verdade, apenas cuidam mal e parcamente do secundário.
O principal é estabelecido pelo grande capital, cujas imposições foram tão caninamente obedecidas por FHC quanto o estão sendo por Lula. A retórica muda, mas a política econômica permanece sempre idêntica.
Essa política econômica significa a prevalência dos interesses de uma ínfima minoria de banqueiros, rentistas e grandes empresários sobre os da maioria dos brasileiros, a perpetuação de uma desigualdade social gritante e aviltante, a condenação de imensos contingentes humanos a uma existência de privações inúteis, que o assistencialismo só mitiga, quando já existe capacidade produtiva para proporcionar-lhes existência digna.
Aqueles membros do Executivo e Legislativo cuja função é coonestar esse estado de coisas, servindo de biombo para esconder dos cidadãos os verdadeiros culpados por suas tragédias, já carregam a má consciência de posarem de protagonistas quando não passam de marionetes.
Que, depois de colocarem interesses particulares acima dos interesses coletivos, coloquem seus próprios interesses acima do Código Penal, é um comportamento condizente com uma organização econômica e social que erige a ganância em valor supremo.
A corrupção não passa do capitalismo levado às últimas conseqüências.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
3.9.07
DEMOCRACIAS NÃO ACEITAM ULTIMATOS
Celso Lungaretti (*)
A nota oficial lançada pelo Alto Comando do Exército na última sexta-feira (31) é inaceitável para qualquer democracia, pois coloca essa Arma acima dos três Poderes da Nação.
Tudo começou com o lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, uma espécie de relatório final dos trabalhos da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, que atuou durante 1995 e 2006, analisando 339 casos de possíveis vítimas da ditadura militar de 1964/85.
Estão no livro os resumos de todos esses processos, tanto os 221 deferidos quanto os 118 negados. Para completar, a Secretaria Especial de Direitos Humanos incluiu também tópicos relativos aos 136 cidadãos que já haviam sido reconhecidos como mortos ou desaparecidos pela lei 9.140 de 1995.
Se tais processos confirmam que as Forças Armadas torturaram, estupraram, assassinaram, esquartejaram, decapitaram e ocultaram cadáveres dos opositores do regime de exceção, então esta já era a posição oficial do estado brasileiro, que reconhecera o fato de que cidadãos foram vítimas desses crimes tanto ao promulgar a Lei 9.140 quanto ao longo dos trabalhos da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos (bem como dos da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que está concedendo reparações aos sobreviventes dos massacres).
Devido à tibieza com que as autoridades têm enfocado os crimes cometidos durante a vigência do terrorismo de estado no Brasil, os defensores dos direitos humanos saudaram a edição do livro como a oficialização de algo que todos já sabiam, mas ninguém afirmava com todas as letras.
O ministro da Defesa Nelson Jobim, entretanto, escolheu uma péssima ocasião para afirmar uma autoridade de que, aparentemente, não dispõe. Afirmou esperar que as Forças Armadas recebessem com naturalidade essa iniciativa do governo em prol da reconciliação do País, mas concluiu com uma bravata pueril: "Não haverá indivíduo que possa reagir. E, se reagir, terá resposta".
Foi o pretexto de que o Alto Comando carecia para manifestar seu inconformismo com a revelação da verdade histórica.
A nota oficial que lançou representa uma quebra de autoridade, já que desautoriza o ministro da Defesa, e coloca em dúvida (“até porque os fatos históricos têm diferentes interpretações, dependendo da ótica dos seus protagonistas”) o acerto das iniciativas do estado brasileiro para reparar as atrocidades cometidas durante os anos de chumbo.
Não, esses fatos históricos têm uma interpretação unânime por parte dos historiadores eminentes e uma interpretação única do estado brasileiro. Ao Exército cabe aceitá-la e não contestá-la, caso contrário estará em dissonância com os “valores da disciplina, da hierarquia e da lealdade” que, na sua nota, afirma cultivar.
Pior ainda é a afirmação de que colocar em questão a Lei da Anistia de 1979 “importa em retrocesso à paz e à harmonia nacionais, já alcançadas”. Significa que, como nos tempos sombrios do AI-5, as Forças Armadas continuam atribuindo ao Executivo, Legislativo e Judiciário o papel de apenas obedecerem às ordens da caserna. Modificar ou não qualquer lei é uma decisão que, numa democracia, cabe aos Poderes da Nação e não precisa ter a anuência do Exército.
Finalmente, é inquietante o trecho que diz: “Não há Exércitos distintos. Ao longo da história, temos sido o mesmo Exército de Caxias”. Implica que, embora o Exército afirme agora estar “voltado para suas missões constitucionais”, não renega o período no qual, submetendo-se à vontade de golpistas que usurparam o poder, ajudou a rasgar a Constituição.
Para que haja uma verdadeira reconciliação nacional, não a imposição da paz dos vencedores sobre os vencidos, é imperativo que as Forças Armadas brasileiras reconheçam que o período 1964/1985 não passou de uma aberração, assim como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália. Suas congêneres desses países renegam o período em que, submetidas ao comando de forças totalitárias, atentaram contra os direitos dos povos e dos cidadãos.
É hora do Exército brasileiro fazer o mesmo, voltando realmente a ser o Exército de Caxias. Até lá, haverá sempre a suspeita de que se trate do Exército de Brilhante Ustra – aquele antigo comandante do DOI-Codi que, na frase imortal do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, “emporcalhou com o sangue de suas vítimas a farda que devera honrar”.
POST SCRIPTUM: É HORA DE REVER A LEI DA ANISTIA
Este artigo foi escrito no último dia 2, depois que o Governo Federal, Jobim e os militares resolveram dar o episódio por encerrado, não comentando-o mais.
Foi o desfecho ideal para o Alto Comando do Exército, que desacatou o ministro da Defesa e contestou as posições e programas oficiais impunemente.
Já Jobim e o Governo Federal saíram de joelhos, engolindo sapos para uma vida inteira (em seu nome e, infelizmente, no nosso também, já que nos representam ou deveriam nos representar).
Esperamos desde 1985 que a verdade sobre a fase negra do terrorismo de estado seja proclamada em alto e bom som pelos governos que elegemos -- e teremos de continuar esperando, já que o atual recua ante o primeiro blefe.
Se o Governo Federal quiser dar a volta por cima, basta abrir a discussão em torno da manutenção ou não da Lei da Anistia.
Usando como moeda de troca os resistentes que estavam presos e os exilados que queriam retornar ao País, os militares impuseram em 1979 o perdão antecipado de suas práticas hediondas.
Foi, como o AI-5, o cerceamento da Justiça, à qual se negou o direito de decidir sobre ocorrências que eram principalmente de sua alçada, já que consistiam em crimes -- e dos mais bestiais. Tanto quanto o AI-5, essa lei já deveria ter sido há muito revogada, como parte do entulho autoritário.
Será uma ignomínia se, vergando-se ao ultimato do Alto Comando do Exército, o Governo Lula não tiver vontade política para seguir os passos da Argentina e do Chile.
* Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
A nota oficial lançada pelo Alto Comando do Exército na última sexta-feira (31) é inaceitável para qualquer democracia, pois coloca essa Arma acima dos três Poderes da Nação.
Tudo começou com o lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, uma espécie de relatório final dos trabalhos da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, que atuou durante 1995 e 2006, analisando 339 casos de possíveis vítimas da ditadura militar de 1964/85.
Estão no livro os resumos de todos esses processos, tanto os 221 deferidos quanto os 118 negados. Para completar, a Secretaria Especial de Direitos Humanos incluiu também tópicos relativos aos 136 cidadãos que já haviam sido reconhecidos como mortos ou desaparecidos pela lei 9.140 de 1995.
Se tais processos confirmam que as Forças Armadas torturaram, estupraram, assassinaram, esquartejaram, decapitaram e ocultaram cadáveres dos opositores do regime de exceção, então esta já era a posição oficial do estado brasileiro, que reconhecera o fato de que cidadãos foram vítimas desses crimes tanto ao promulgar a Lei 9.140 quanto ao longo dos trabalhos da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos (bem como dos da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que está concedendo reparações aos sobreviventes dos massacres).
Devido à tibieza com que as autoridades têm enfocado os crimes cometidos durante a vigência do terrorismo de estado no Brasil, os defensores dos direitos humanos saudaram a edição do livro como a oficialização de algo que todos já sabiam, mas ninguém afirmava com todas as letras.
O ministro da Defesa Nelson Jobim, entretanto, escolheu uma péssima ocasião para afirmar uma autoridade de que, aparentemente, não dispõe. Afirmou esperar que as Forças Armadas recebessem com naturalidade essa iniciativa do governo em prol da reconciliação do País, mas concluiu com uma bravata pueril: "Não haverá indivíduo que possa reagir. E, se reagir, terá resposta".
Foi o pretexto de que o Alto Comando carecia para manifestar seu inconformismo com a revelação da verdade histórica.
A nota oficial que lançou representa uma quebra de autoridade, já que desautoriza o ministro da Defesa, e coloca em dúvida (“até porque os fatos históricos têm diferentes interpretações, dependendo da ótica dos seus protagonistas”) o acerto das iniciativas do estado brasileiro para reparar as atrocidades cometidas durante os anos de chumbo.
Não, esses fatos históricos têm uma interpretação unânime por parte dos historiadores eminentes e uma interpretação única do estado brasileiro. Ao Exército cabe aceitá-la e não contestá-la, caso contrário estará em dissonância com os “valores da disciplina, da hierarquia e da lealdade” que, na sua nota, afirma cultivar.
Pior ainda é a afirmação de que colocar em questão a Lei da Anistia de 1979 “importa em retrocesso à paz e à harmonia nacionais, já alcançadas”. Significa que, como nos tempos sombrios do AI-5, as Forças Armadas continuam atribuindo ao Executivo, Legislativo e Judiciário o papel de apenas obedecerem às ordens da caserna. Modificar ou não qualquer lei é uma decisão que, numa democracia, cabe aos Poderes da Nação e não precisa ter a anuência do Exército.
Finalmente, é inquietante o trecho que diz: “Não há Exércitos distintos. Ao longo da história, temos sido o mesmo Exército de Caxias”. Implica que, embora o Exército afirme agora estar “voltado para suas missões constitucionais”, não renega o período no qual, submetendo-se à vontade de golpistas que usurparam o poder, ajudou a rasgar a Constituição.
Para que haja uma verdadeira reconciliação nacional, não a imposição da paz dos vencedores sobre os vencidos, é imperativo que as Forças Armadas brasileiras reconheçam que o período 1964/1985 não passou de uma aberração, assim como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália. Suas congêneres desses países renegam o período em que, submetidas ao comando de forças totalitárias, atentaram contra os direitos dos povos e dos cidadãos.
É hora do Exército brasileiro fazer o mesmo, voltando realmente a ser o Exército de Caxias. Até lá, haverá sempre a suspeita de que se trate do Exército de Brilhante Ustra – aquele antigo comandante do DOI-Codi que, na frase imortal do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, “emporcalhou com o sangue de suas vítimas a farda que devera honrar”.
POST SCRIPTUM: É HORA DE REVER A LEI DA ANISTIA
Este artigo foi escrito no último dia 2, depois que o Governo Federal, Jobim e os militares resolveram dar o episódio por encerrado, não comentando-o mais.
Foi o desfecho ideal para o Alto Comando do Exército, que desacatou o ministro da Defesa e contestou as posições e programas oficiais impunemente.
Já Jobim e o Governo Federal saíram de joelhos, engolindo sapos para uma vida inteira (em seu nome e, infelizmente, no nosso também, já que nos representam ou deveriam nos representar).
Esperamos desde 1985 que a verdade sobre a fase negra do terrorismo de estado seja proclamada em alto e bom som pelos governos que elegemos -- e teremos de continuar esperando, já que o atual recua ante o primeiro blefe.
Se o Governo Federal quiser dar a volta por cima, basta abrir a discussão em torno da manutenção ou não da Lei da Anistia.
Usando como moeda de troca os resistentes que estavam presos e os exilados que queriam retornar ao País, os militares impuseram em 1979 o perdão antecipado de suas práticas hediondas.
Foi, como o AI-5, o cerceamento da Justiça, à qual se negou o direito de decidir sobre ocorrências que eram principalmente de sua alçada, já que consistiam em crimes -- e dos mais bestiais. Tanto quanto o AI-5, essa lei já deveria ter sido há muito revogada, como parte do entulho autoritário.
Será uma ignomínia se, vergando-se ao ultimato do Alto Comando do Exército, o Governo Lula não tiver vontade política para seguir os passos da Argentina e do Chile.
* Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
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