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14.1.07

O VELHO SENHOR INDIGNO (dez/2006)

Deu na imprensa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi participar de um almoço de fim de ano com generais, no Clube do Exército, e pagou o convite dando declarações verde-oliva. Disse que a ditadura brasileira "não foi violenta como a do Chile e de outros países".

Alinhando-se à posição do cel. Jarbas Passarinho, ex-ministro de Médici, defendeu a intocabilidade da anistia imposta em 1979 pelos militares, que condicionaram a libertação de presos políticos e o retorno dos exilados ao perdão antecipado dos crimes contra a humanidade cometidos pelas forças de repressão. "No Brasil nós tivemos um processo de anistia negociado inclusive com as pessoas que participaram e foram vítimas", afirmou o presidente.

Impõe-se aqui uma breve recapitulação dos fatos, para aquilatarmos o quanto há de sordidez nessa agressão à verdade histórica e àquele mínimo de dignidade que os homens jamais devem negociar (parafraseando a fala mais marcante de uma peça sobre Galileu Galilei a que assisti na juventude e jamais esqueci).

Em 1980, quando o AI-5 já estava extinto e a pior fase do terrorismo de estado ficara para trás, o Lula passou 51 dias detido no Deops com outros sindicalistas. Os jornais publicavam fotos da turma toda disputando divertidas "peladas". Então, ele deve supor que os presos políticos anteriores a ele tenham recebido o mesmo tratamento vip.

No entanto, para efeito de pleitear reparação da Justiça, ele considerou bem grave a ofensa a seus direitos, já que foi dos primeiros a conseguir pensão vitalícia como perseguido pela ditadura, em 1996.

Bem, ele também foi desalojado da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos. Talvez as rendas de que foi privado equivalessem a 10 anos de uma pensão mensal que hoje supera R$ 4 mil. Quem sabe?

COMBATE NAS TREVAS

Não tivemos mesmo 3 mil companheiros mortos, como no Chile; o número seria de aproximadamente 400. Em contrapartida, lá foram cerca de 28 mil os torturados; cá, uns 50 mil.

A principal diferença é que o banho de sangue chileno se deu logo na tomada do poder e não pôde ser encoberto. Aqui, a aniquilação física, moral e psicológica daqueles que resistiam à tirania se deu nas trevas, sob o manto da censura, como bem ressaltou o Jacob Gorender.

No entanto, teve características extremamente brutais, culminando com a execução sistemática dos militantes presos a partir de 1971, quando os militares decidiram adotar a “solução final” para impedir que revolucionários valorosos pudessem eventualmente ser trocados por diplomatas e voltar à luta.

Para quem, como eu, conhecia pessoalmente uns 20 desses idealistas que foram assassinados durante os anos de chumbo, é simplesmente repulsivo ver o Lula desmerecendo o sacrifício de seres humanos muito melhores do que ele e fazendo média com os milicos.

Para os fardados, afagos, mesmo que tripudiando sobre as torturas que sofremos e o pesar que carregamos até hoje; para nós, a pecha de imaturos e inconseqüentes.

Durante a última campanha eleitoral, ao escrever que Lula estava tão distante dos ideais da esquerda quanto Alckmin, tive de enfrentar as tropas de choque petistas que atuavam no Orkut com tanta virulência quanto os néo-integralistas.

Preferiria que a evolução dos acontecimentos não tivesse me dado razão. Pois houve muito petista realmente de esquerda que foi vítima de mais esse estelionato eleitoral.

Quando sentiu-se ameaçado por Alckmin, logo após o 1º turno, Lula não teve vergonha de ir buscar a retórica de esquerda na lata de lixo onde a tinha jogado, reaproveitando-a da forma mais oportunista: acusou falsamente o adversário de pretender privatizar a Petrobrás.

Obtidos os resultados que almejava com seu jogo sujo, Lula "descobriu" que os sexagenários sensatos devem mesmo é ser centristas, amigos do Delfim Netto e puxa-sacos dos militares...

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