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14.1.07

O RESCALDO DO BADERNAÇO (jun/2006)

As ações dos cidadãos empenhados em construir uma sociedade mais justa e solidária, nos períodos de acumulação de forças, devem estar prioritariamente voltadas para a conquista dos corações e mentes daqueles que ainda não tomaram partido.

Então, o badernaço no Congresso foi um desastre. Só os militantes de esquerda (e nem todos) aplaudiram. A população ficou chocada. A imprensa caiu matando. A direita capitalizou em grande estilo.

Foi um episódio tão desastroso para a causa da justiça no campo e para a esquerda em geral que fico até pensando na possibilidade de estarem em cena agentes provocadores como aqueles que, preparando o terreno para o golpe de 1964, estimulavam os cabos e sargentos a desacatarem os oficiais.

As Forças Armadas eram majoritariamente favoráveis ao respeito à Constituição, mas a quebra da disciplina militar mudou a opinião da oficialidade, dando ao grupo castellista condições para assumir a liderança na caserna. A "mão invisível" de novos cabos Anselmo pode ser a explicação para o desatino da semana passada.

O certo é que, em termos de convencimento da opinião pública, só os adversários lucraram.

Quanto à guerrilha, que alguns desinformados querem reeditar num contexto totalmente diferente, quero lembrar que era bem secundária, quase irrelevante, em 1968, quando o movimento de massas ainda tinha condições de existência.

Foi o fechamento total do regime a partir do AI-5 que colocou a luta armada como única opção de resistência à ditadura. Ou se pegava em armas, ou se desistia. Os alvos identificados eram presa fácil da repressão, só os militantes clandestinos conseguiam permanecer algum tempo mais na ativa.

E o que aconteceu? A guerrilha conseguiu levar alguma vantagem sobre a repressão no primeiro semestre de 1969, mas, passada a surpresa, o inimigo se rearticulou.

Com o apoio financeiro de empresários fascistas e o know-how aprendido em escolas estadunidenses de tortura, a repressão começou a virar o jogo a partir da criação da Operação Bandeirantes, em São Paulo. A idéia de unificar todos os serviços de segurança da ditadura num único órgão foi estendida aos outros estados, dando origem aos DOI-Codi, que massacraram os combatentes de esquerda.

Pode-se dizer que a repressão conseguiu equilibrar o jogo no segundo semestre de 1969 e passou a levar vantagem cada vez maior, do ponto de vista militar, a partir de 1970. Foi quando começou a agir para obter também respaldo político, aproveitando o "milagre brasileiro" e a conquista da Copa do Mundo.

Em 1971, quando estava em vantagem tanto no plano militar quanto no político, a ditadura pôde passar ao estágio final: a execução dos combatentes, para que os revolucionários importantes não sobrevivessem.

Ou seja, partir para a luta armada contra uma ditadura já é uma opção arriscada e deve ser muito bem avaliada.

Vide o saldo de 1968/1973: foram dizimados os melhores quadros da esquerda, não sobrou quase ninguém para formar as novas gerações e transmitir-lhes as lições aprendidas na prática revolucionária que vinha desde a luta contra a ditadura anterior. A juventude surgida na década de 1970 acabou, por isso, tornando-se extremamente egoísta e alienada.

Já pegar em armas contra uma democracia é pura insanidade.

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