Celso Lungaretti
Dificilmente uma situação de política internacional assume características tão evidentes de comédia de erros como a crise entre Colômbia e Equador.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia são um grupo guerrilheiro que teimou em continuar atuante após o término do ciclo das ditaduras militares sul-americanas e sua contrapartida, a opção das esquerdas pela via armada de libertação.
Pior: as Farc descaracterizaram-se como defensoras de valores nobres, ao estabelecerem relações promíscuas com o narcotráfico e ao criarem a indústria de seqüestros.
Uma prática tão vil e desumana só podia ser relevada no caso da troca dos reféns por presos políticos, ou seja, como alternativa extrema aos assassinatos e torturas a que estavam sujeitos os resistentes nas garras de regimes despóticos. Sua generalização como fonte de recursos financeiros e instrumento de chantagem política é inadmissível para quem foi formado na tradição marxista.
Prevalece, aqui, aquela regrinha básica da dialética hegeliana: fins e meios estão em constante interação, condicionando-se mutuamente.
Trocando em miúdos: o emprego de um meio ignominioso conspurca o próprio fim. Quem mantém em cativeiro 700 pessoas, nas condições mais degradantes, não está apto a conduzir a humanidade para um estágio superior de civilização.
Os outros atores desse imbroglio são igualmente sinistros.
Sob a presidência de Álvaro Uribe, a Colômbia também parece ter retrocedido aos tempos sombrios da guerra fria. Colocou suas forças repressivas sob a tutela dos EUA e desencadeou matanças em território alheio, violando a soberania do Equador. É culpada de extermínio dos seus cidadãos e pirataria.
O Equador, por sua vez, abria suas fronteiras para bandos armados empenhados na desestabilização de um país vizinho. Envolveu-se, por omissão ou anuência, num problema interno de outra nação, o que fez os rompantes de virgem ultrajada do seu presidente Rafael Correa soarem particularmente cínicos.
O presidente venezuelano Hugo Chávez, em sua queda de braço com Uribe, tudo fez para estimular uma incrível guerra brancaleone, comportando-se com uma irresponsabilidade monstruosa. Mesmo tendo o Equador como aliado (ou teleguiado), isto nem de longe justificava a mobilização de suas tropas, colocando mais lenha na fogueira.
Depois, diante do rugido de Bush (ameaçando implicitamente intervir caso a Colômbia fosse atacada), recolheu-se à sua insignificância.
Chávez, tanto quanto Saddam Hussein, é um blefe. Seu antiamericanismo não o torna, nem de longe, um verdadeiro revolucionário. Não trabalha para a emancipação dos trabalhadores, mas sim para permanecer, ad eternum, como homem providencial, tutelando-os.
E, last but not least, os EUA de Bush se arrogam o papel de polícia do mundo, passando por cima do Direito internacional e de todas as normas de coexistência civilizada entre os povos. Depois de devastarem o Afeganistão e o Iraque, chegaram quase a provocar agora uma guerra dos esfarrapados em nosso continente.
O partido das pessoas de bem, face a quaisquer ameaças de morticínio insano, é em defesa da vida dos seres humanos trabalhadores e humildes que acabam sendo buchas de canhão em tais situações. Nunca vão ser Uribe, Correa, Chávez e Bush que arriscarão suas vidas nos campos de batalha, mas sim os pobres coitados de sempre.
A guerra pertence à pré-história da humanidade.
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4.3.08
A GUERRA DOS ESFARRAPADOS
Marcadores:
Colômbia,
Equador,
Farc,
Hugo Chávez
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2 comentários:
Realmente, o Celso Lungaretti, em poucas palavras disse toda a verdade, e o resto da américa latina que se cuide, pois o que os americanos sempre quizeram foi o empobrecimento de nosso povo, e alguns como o Chaves, estão ajudando neste sentido.
Antonio J. Viana
Foi um dos artigos mais sensatos e equilibrados e verdadeiros que até agora li sobre o caso Colombia-Equador! É este o tipo de atitude que esperamos de você Celso, dizer aquilo que deve ser dito, sem se preocupar em agradar ou desagradar quem quer que seja!
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