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9.2.07

CONTAGEM REGRESSIVA PARA A HUMANIDADE

Não será como o místico Antônio Conselheiro previu. O sertão não vai virar mar, nem o mar virar sertão. Pelo contrário, o sertão ficará ainda mais árido e o mar vai encorpar-se com o derretimento de geleiras. Tempestades, tufões, furacões, maremotos e tsunamis se tornarão bem mais devastadores. A desertificação de outras áreas avançará. Safras vão ser destruídas e a fome aumentará. A água que estará sobrando em alguns quadrantes, vai faltar em outros. Imensos contingentes humanos terão de deixar seus lares e buscar a sobrevivência alhures. Como uma amarga ironia, podemos dizer que o Brasil finalmente se igualará aos países desenvolvidos: haverá retirantes também no 1º Mundo.

Isto é o que se pode concluir da parte já divulgada do quarto relatório de avaliação da saúde da atmosfera produzido pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), órgão da ONU que congrega especialistas de 40 países. Uma novidade é que agora existe uma quase certeza científica de que as alterações climáticas provêm mesmo da insensatez humana, causadora de uma concentração inédita dos gases que provocam o efeito estufa na atmosfera. Fabricamos demasiados automóveis e queimamos demasiadas florestas. A conta está chegando.

Esse relatório, que sintetiza as contribuições de 600 autoridades no assunto, permite antever que a escalada catastrófica virá num crescendo, intensificando-se sobretudo na segunda metade do nosso século. E nada há a fazer para impedi-la, pois os danos causados já são irreversíveis. Nem que todos os veículos motorizados do planeta parassem imediatamente de circular, a temperatura deixaria de subir. Vêm tempos difíceis e a humanidade terá de passar por eles.

Mas, para que haja um século 22, teremos de corrigir a partir de agora nosso modelo econômico, deixando de priorizar o lucro em detrimento do meio ambiente. O atendimento das expectativas de cada consumidor não é um mandamento divino nem o planeta está aí para se sujeitar eternamente à faina predadora dos humanos. Teremos de aprender a respeitá-lo, a conviver harmoniosamente com ele. Somos seus locatários, não seus donos. Se continuarmos dilapidando insensivelmente a propriedade, o senhorio nos expulsará. É simples assim.

A grande questão é: o capitalismo comporta uma mudança radical das prioridades humanas? Existe alguma conciliação possível entre o direcionamento obsessivo dos esforços humanos para a obtenção do lucro e o imperativo de os homens trocarem a competição pela cooperação, fundamental para a travessia das próximas décadas e para a correção de rumos que se impõe?

A resposta é óbvia: não. O alerta lançado na década de 1960 por filósofos como Herbert Marcuse e Norman O. Brown está sendo confirmado da maneira mais dramática. O capitalismo, com a prevalência dos interesses individuais sobre as necessidades coletivas, leva à destruição da humanidade, num quadro em que os recursos indispensáveis à sobrevivência da espécie humana são finitos e têm de ser aproveitados de forma racional e compartilhada.

A contagem regressiva está em curso. Resta saber se seremos capazes de transcender nossas limitações e nossa cegueira, passando a colocar em primeiro plano “nós” e “os que virão depois”. Pois o mundo do egoísmo e da ganância deixará de existir, de um jeito ou de outro.

5 comentários:

Anônimo disse...

É por isso que nenhum sistema dá certo, pois mais que na sua íntegra ele seja perfeito. O problema não está no capitalismo, está nos capitalistas. Eu vou embora desse mundo quando chegar a minha hora e, creio que vou me sentir aliviada, porque se por um lado me preocupo com a bagunça na sociedade por outro me preocupo com a bagunça na natureza. Penso que o Brasil não tem jeito, que a humanidade não tem jeito... É uma pena mas as esperanças de que o ser humano pode ser algo melhor, vai desaparecendo cada dia mais...

Anônimo disse...

SAUDAÇÕES HUMANAS, MEU CARO CELSO LUNGARETTI.
PRAZER IMENSO EM TE REVER PELA WEB (COM IMAGEM)
SEU BLOG ESTÁ MUITO BOM. PARABÉNS FENIX!
A AGONIA ATUAL DO MUNDO SE COMPARA COM A AGONIA DO MUNDO DO FINAL DA IDADE MÉDIA OU NA ERA MERCANTILISTA. MOVOS MUNDOS FORAM NECESSÁRIOS CONQUISTAR E ASSIM NASCEU (RENASCIMENTO) NOVA FORMA DE SOCIEDADE. IGUALMENTE ASSIM SERÁ NESTE SÉCULO - IDEM, CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS PELO UNIVERSO A FORA.
VOLNEI

Anônimo disse...

Caro Celso,

Este texto é fantástico. Eu já tinha lido, mas estava dando uma garimpada para apresentar um artigo seu lá na faculdade da minha irmã e este aqui se encaixa no contexto, o assunto meio ambiente é o que eles resolveram investir.

Grande abraço.
ISMAR C. DE SOUZA

Anônimo disse...

Caro Celso

Penso como vc, mas não tenho esperanças, não. Já viu uma colônia de bactérias ou fungo crescer? Ela se inicia na superfície de algo que serve de alimento para microrganismo, como pão ou fruta. E enquanto há comida as céçilas crescem e se multiplicam exponencialmente em torno desse alimento. Até que se esgota o que comer e, então, elas se tornam autofágicas, a população envelhece, cada vez menos células novas substituem as muitas que vão morrendo. Até que finalmente, a colônia se extingue por exaustão de recursos para sua vida.

A espécie humana é aberração da natureza, um acidente doentio no percurso da evolução, mas ainda é filha dessa natureza e segue a mesma lei. Essa doença matará o planeta, e matando o planeta, não sobreviverá. Duvido que a espécie consiga em tão curto espaço de tempo mudar a sua própria natureza egoísta e impiedosa. Para salvar o planeta, nessas condições, somente aquilo que mais tememos, a perda da liberdade. Um regime totalitário e terrorista a nível mundial talvez consiga retardar o fim. Ainda bem que não viverei para ver esse dia, ou fim dos tempos. Só lamento pelos jovens...

Anônimo disse...

Caro senhor. Gostei de um texto seu sobre as cotas nas Universidades. Salvei-o nos meus favoritos.
Mas não é que ao ler sobre o aquecimento global levei um susto pois havia lido logo pela manhã, justamente que o aquecimento é irreal. Se quiser comprovar o que li é só visitar:
http://epw.senate.gov/public/index.cfm?FuseAction=Minority.Blogs&ContentRecord_id=2158072e-802a-23ad-45f0-274616db87e6
Sds.

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