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27.2.07

A IMPRENSA NA RESISTÊNCIA À DITADURA

(resposta à pergunta de um internauta na comunidade "Palpiteiros do Orkut")


É um tema muito amplo e eu confesso não dispor de todas as informações a esse respeito. Então, sem pretender esgotar o assunto e me desculpando desde já pelas possíveis omissões, vou citar algumas experiências que acompanhei com mais atenção e carinho.

O Correio da Manhã (RJ) foi o primeiro veículo da grande imprensa a manter uma posição firme contra o golpe militar. Tinha uma constelação de grandes jornalistas de esquerda, como Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis, Antonio Callado, Jânio de Freitas, Sérgio Augusto, Márcio Moreira Alves e Hermano Alves. Os artigos que Carlos Heitor Cony escreveu sobre os primeiros tempos da ditadura, sarcásticos e combativos, foram depois por ele reunidos em livro: "O Ato e o Fato".

Longe de serem de esquerda, O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde foram os dois jornais que mais resistiram à censura ditatorial na primeira metade da década de 1970. Ao contrário de outros veículos, que publicavam as matérias sem os trechos cortados e aceitavam substituir as matérias integralmente vetadas por outras "inofensivas", o Estadão preenchia esses espaços vagos com poesias e o Jornal da Tarde com receitas culinárias. Assim, os leitores podiam saber exatamente qual era o espaço ocupado pelos textos tesourados e até adivinhar a que se referiam.

Em meados da mesma década, a Folha de S. Paulo reuniu um elenco de primeira linha de esquerda: Paulo Francis, Alberto Dines, Samuel Wainer, Tarso de Castro, Plínio Marcos, Osvaldo Peralva, João Batista Natali e outros, com o trotskista Cláudio Abramo dirigindo a redação.

Em termos jornalísticos, nunca a Folha teve ou teria depois tanta qualidade. O suplemento especial sobre os 60 anos da revolução soviética, p. ex., é inesquecível, com cada um dos grandes jornalistas tendo uma página inteira para preencher com seu artigo.

Mas, uma crônica inconsequente do Lourenço Diaféria, dizendo que a estátua do Duque de Caxias só servia para os mendigos urinarem, deu pretexto para uma intervenção do II Exército, que exigiu a cabeça de Cláudio Abramo (deixou de ser diretor de redação e virou correspondente em Londres) e outros. A "primavera da Folha" terminou.

O semanário Pasquim foi o grande respiradouro da imprensa na virada dos anos 60 para os 70, com Paulo Francis pontificando nos comentários políticos e humoristas como o Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo e Henfil soltando suas farpas na área de costumes, além de fazerem também suas alusões ao arbítrio e à burrice institucionalizada. Outros destaques eram Ivan Lessa, Tarso de Castro e o guru da nova esquerda Luís Carlos Maciel. Havia, ainda, colaboradores de peso como Glauber Rocha, Chico Buarque, Caetano Veloso e Carlos Heitor Cony.

Anárquico, irreverente, difundindo o "jeito carioca de ser" num Brasil ainda provinciano, atraiu um público jovem e não necessariamente politizado. Chegou a vender mais de 200 mil exemplares, tiragem superior à de muitos veículos da grande imprensa.

Finalmente, mais na linha da esquerda convencional, os alternativos Opinião, Movimento, Em Tempo e Coojornal foram outros respiradouros importantes, ao longo da década de 1970. Atingiam um público bem menor que o do Pasquim, de pessoas que já pertenciam à esquerda ou com ela simpatizavam, a maioria do meio estudantil. Conseguiam passar a esse pequeno universo informações importantes que a grande imprensa preferia não revelar (ou era impedida de fazê-lo).

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