Não sou nenhum foquinha deslumbrado, mas sim um sexagenário que há mais de meio século acompanha atentamente os acontecimentos da política nacional e internacional, buscando sempre tirar conclusões próprias, a partir de uma visão crítica (ou seja, não obnubilada por antolhos ideológicos, pois se pode, sim, defender causas sem se deixar fanatizar e cegar por elas).
Mais: participei da resistência à ditadura militar como militante da Vanguarda Popular Revolucionária, tendo sido surpreendido em abril de 1969 com a designação para formar e comandar o primeiro setor estruturado de Inteligência de uma organização guerrilheira.
No ardor dos meus 18 anos, fiz o máximo que pude para colocar-me à altura da incumbência. Então, ao iniciar uma carreira jornalística depois dos anos que vivi perigosamente, das torturas e da prisão, já tinha uma visão mais aprofundada do que se passava nos bastidores da política e dos Poderes da República.
E, no ofício que exerci profissionalmente durante mais de três décadas, pude aprender muitas coisas mais; idem na atividade de blogueiro, que assumi sem fins lucrativos em 2006 e me colocou no centro de lutas repletas de lições a serem tiradas, como a travada pela liberdade de Cesare Battisti em 2008/2011.
Quem leu a biografia Náufrago da Utopia (Geração Editorial, 2005) e/ou conhece minha história de vida, sabe que a credibilidade de que hoje desfruto não caiu do céu. Foi conquistada a duras penas, depois de eu passar muito tempo lutando para desvencilhar-me de uma armadilha do destino.
Não hesito em arriscar tal credibilidade afiançando que o documentário A Facada no Mito (clique no título para abrir) consegue provar, irrefutavelmente, a existência de uma ação coordenada, portanto grupal e não individual, no atentado contra Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), na véspera do último Dia da Pátria.
Trata-se de um documentário independente do canal True or Not do Youtube, cujos autores sensatamente preferiram permanecer incógnitos. Tem 57 minutos e viralizou na semana passada.
A longa, minuciosa e competente análise de vídeos e fotos não deixa dúvida nenhuma quanto ao fato de que candidato, agressor, seguranças e pessoal de apoio tinham um único e indisfarçável objetivo: propiciar o atentado.
Tanto que, de forma até hilária, ao fracassar na primeira tentativa de arremeter contra Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira derrubou sem querer o boné de um segurança – o qual nem depois de atropelado teria se dado conta de que estava diante de um indivíduo armado e pronto para esfaquear aquele por quem ele deveria zelar! Acredite quem quiser...
E o documentário é igualmente bem sucedido em deixar claro que aquelas pessoas (sempre as mesmas!) circulando ao redor de Adélio nada fizeram para proteger Bolsonaro, mas tudo fizeram para evitar que os admiradores do Mito linchassem o Adélio, não demonstrando o mais remoto receio de serem esfaqueadas pelo suposto agressor descontrolado. Por último, a arma do crime misteriosamente sumiu naquele instante, só sendo encontrada (?) convenientemente depois.
Então, a Polícia Federal tem agora a obrigação de ir muito além de suas conclusões preliminares (atribuindo responsabilidade exclusiva ao Adélio).
As pessoas mal-encaradas que se comunicavam por gestos e sussurros, faziam aparecer facas e faziam sumir facas, escondiam objetos comprometedores (como o que saltou para fora da jaqueta do afoito e atrapalhado Adélio) têm de ser identificadas, intimadas e ouvidas.
O gênio saiu da garrafa e as autoridades estão nos devendo um esclarecimento cabal do atentado ou "atentado", caso contrário a conclusão que se imporá é a de que teremos sido ludibriados pela pior das fake news de uma campanha em clima de guerra, na qual houve mentira como terra.
Mas, levando em conta o ocorrido em tantos outros episódios semelhantes aqui e no exterior, a maior chance de vermos tudo colocado em pratos limpos está em investigações independentes desenvolvidas por entidades e associações acima de qualquer suspeita e no trabalho de jornalistas investigativos da grande imprensa.
Que cada um cumpra o seu dever. O meu, eu acabo de cumprir.
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