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30.9.12

ARTE MORTA À MOSTRA NOS MAUSOLÉUS DA AV. PAULISTA

Apesar da superioridade artística de Caravaggio ...
No sábado ensolarado, fui ao chamado  vão do Masp  para gravar uma última imagem para a eleição 2012: candidatos do PSOL balançando os braços ao som do jingle de campanha.

Fizeram umas 30 tomadas para depois escolherem a melhor, com a câmara percorrendo, de extremo a extremo, a fileira de companheiros.

Não sei se na que aproveitarem estarei sendo focalizado no instante final, quando emendei no gesto de "vem pra cá!" a saudação do Poder Negro e do dr. Sócrates.

Foi inspiração de momento. Deu vontade de fazer, fiz, para deixar bem claro qual o tipo de chamamento que estou fazendo. É para a luta que eu chamo as pessoas, sempre...

Embora fosse de manhã, dividimos espaço com centenas de interessados na exposição  Caravaggio e seus seguidores, pelo último dia em cartaz.

Não sou nenhum obtuso insensível às artes plásticas; admiro muitas obras e já divulguei pintores e galerias. Mas, nunca ficaria tanto tempo numa fila para ver o original de uma tela que está ao alcance de uns cliques no computador.

Talvez porque não me sinta à vontade em museus e pinacotecas. Há veneração respeitosa no ar, como nas igrejas. Jamais pertenci a esse time.

Num daqueles ridículos questionários para fins eleitorais, taquei  umbandista  como minha religião. Verdadeiramente não tenho nenhuma, nem certeza aboluta da existência ou inexistência de Deus.

Mas, como os cultos afrobrasileiros sofrem frequentes ataques dos hitlerzinhos zumbis  e sempre curti os pontos de umbanda como música, resolvi não ficar em cima do muro. Mesmo porque, se eu decidisse adotar alguma religião, seria alegre, cheia de ritmos e de cores, jamais uma das soturnas. Sou chegado à vida, não à morte.

Enquanto esperava que a tropa se reunisse, resolvi distribuir meus folhetos para os que esperavam que a bilheteria abrisse.

...os Delacroix são melhor inspiração para nós.
Encontrei um nariz empinado atrás do outro, como se estivesse tentando entregar-lhes um verme.

E mentiam: "Não voto aqui". Ninguém votava em São Paulo. Mas, como eu não vira nenhum ônibus de excursão despejando estetas, desconfiei.

Tirei a prova dos nove: a alguns que recusavam, expliquei que não era nenhum tarefeiro de partido, mas sim o próprio candidato, defensor dos direitos humanos há 45 anos. Aí pegavam.

Irritado, deixei escapar da mão um folheto que veio rasgado; tive preguiça de o apanhar. Veio um chato atrás e ironicamente me devolveu com um "o senhor deixou cair".

Ah, bom! O perfil ficou completo.

São pessoas que descreem da política e da própria possibilidade de mudarmos as relações de poder no mundo; não movem uma palha para tornarmos realidade as utopias; querem apenas fazer parte da torre de marfim de uma sociedade desigual e desumana; ter seus êxtases em público para serem admirados pelos iguais; e aliviar a consciência com besteirinhas como a separação de vidros e plásticos nas lixeiras, como se dependesse dessas miudezas a salvação do planeta.

Meu maior sonho é ver outra primavera como a de 1968, quando a arte estava nas ruas e nós a tomávamos nas mãos, empunhando-a como bandeira.

Com uma pontinha de esperança de que ainda terei a chance de entrar no Masp e fazer o que Godard fez naquele Festival de Cannes que coincidiu com a  primavera de Paris: "derrubar as prateleiras/ as estátuas, as estantes,/ as vidraças, louças, livros, sim!"

Até lá, procurarei minha turma nos saraus da periferia, que é onde a arte está viva e fervilhante. Não nos mausoléus da avenida Paulista.

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