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13.9.07

SEM NOVIDADES NO FRONT

Celso Lungaretti (*)

Escrevo este artigo quando o Senado está decidindo se cassa ou não o mandato de seu presidente, Renan Calheiros. Existindo a possibilidade de um desfecho que realmente significasse um dado novo na política brasileira, poderia escrevê-lo mais tarde. Não é o caso.

A absolvição de Calheiros seria apenas a reprise da monumental pizza servida pelos três Poderes em 2005, quando permitiram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escapasse impune do escândalo do mensalão, apesar da fartura de evidências de sua responsabilidade por práticas delituosas, seja como mandante, partícipe ou omisso.

A condenação de Calheiros seria apenas a reprise da degola de Fernando Collor, figura de proa sacrificada sem que nada realmente se fizesse para evitar a repetição futura das mesmas práticas, inclusive pelas mesmas pessoas (já que um de seus principais escudeiros é o pivô do episódio atual). Sacia-se a sede de sangue dos cidadãos imolando-se um símbolo e os seus iguais podem respirar aliviados por algum tempo...

Salta aos olhos que, como afirmavam os estudantes rebeldes de 1968, o sistema é o xis do problema. A política foi reduzida a um palco iluminado em que canastrões se alternam fingindo tomar decisões transcendentais, enquanto, na verdade, apenas cuidam mal e parcamente do secundário.

O principal é estabelecido pelo grande capital, cujas imposições foram tão caninamente obedecidas por FHC quanto o estão sendo por Lula. A retórica muda, mas a política econômica permanece sempre idêntica.

Essa política econômica significa a prevalência dos interesses de uma ínfima minoria de banqueiros, rentistas e grandes empresários sobre os da maioria dos brasileiros, a perpetuação de uma desigualdade social gritante e aviltante, a condenação de imensos contingentes humanos a uma existência de privações inúteis, que o assistencialismo só mitiga, quando já existe capacidade produtiva para proporcionar-lhes existência digna.

Aqueles membros do Executivo e Legislativo cuja função é coonestar esse estado de coisas, servindo de biombo para esconder dos cidadãos os verdadeiros culpados por suas tragédias, já carregam a má consciência de posarem de protagonistas quando não passam de marionetes.

Que, depois de colocarem interesses particulares acima dos interesses coletivos, coloquem seus próprios interesses acima do Código Penal, é um comportamento condizente com uma organização econômica e social que erige a ganância em valor supremo.

A corrupção não passa do capitalismo levado às últimas conseqüências.

* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

4 comentários:

Anônimo disse...

E o medo venceu a esperança...
o medo do futuro
o medo de sair de casa
o medo de precisar de um hospital público
o medo de não conseguir um emprego
o medo de ser enganado
o medo de ver o povo enganado
o medo do "Pão e circo"
o medo de que nada mude...

Anônimo disse...

Pra que manter um SENADO? Elegemos estes elementos para defender nossos interesses, tomando posições aguerridas a favor da ética e contra a corrupção e eles fazem isso? Mais uma vez fomos chamados de "palhaços". E a democracia? Desde quando num regime democrático as coisas de interesse público são fechadas? O que dizer?

rosane disse...

Aí esta parte do discurso do senador Dornelles.Está é a verdadeira razao para a nao cassacao.


Senhoras Senadoras e Senhores Senadores

O Senado, na decisão que hoje vai tomar, não pode se afastar da ordem jurídica, nem personalizar o assunto.

E qual o problema específico?

Cabe ao Senado decidir se existem provas de que os recursos entregues pelo Senador Renan Calheiros à Jornalista Mônica a ele não pertenciam. Nenhuma prova foi apresentada nesse sentido. A empresa de serviços afirmou que os recursos eram do Senador, o amigo comum do Senador e da Jornalista, funcionário da empresa, afirmou que os recursos eram do Senador Calheiros. O próprio Senador afirmou que os recursos eram dele, a Jornalista nada contestou.

Em que se baseou o Conselho de Ética para pedir a cassação do mandato do Senhor Renan Calheiros??? Baseou-se em que o Senador não teria patrimônio e renda suficientes para arcar com aquelas despesas.

Só que, quem pode dizer se o Senador Renan Calheiros tinha renda e patrimônio, se podia ou não arcar com as despesas realizadas, é a Secretaria da Receita Federal, através de um Processo Administrativo Fiscal, que nunca foi sequer aberto.

Como ficaria o Senado se, cassado o mandato do Senador Renan Calheiros com base em crime por ele cometido contra a ordem tributária, fosse ele amanhã absolvido pela Secretaria da Receita Federal?
Esses pontos, Senhores Senadores, é que têm que ser considerados num momento tão importante. Nós não podemos personalizar, não estamos julgando a figura do Senhor Renan Calheiros. Nós estamos julgando se existem provas concretas para cassação do mandato de um Senador eleito.

celsolungaretti disse...

Rosane, ninguém diria que ajudou a salvar o Renan por ser um crápula, ter recebido grana ou favores, haver sido pressionado pelo governo federal ou temer que fossem revelados seus próprios podres.

No entanto, os que o socorreram, quase todos, se enquadram numa ou mais dessas categorias.

Quando tinha 16 anos, vi uma peça sobre Galileu que me marcou muito, principalmente a frase "há um mínimo de dignidade que não se pode negociar, nem mesmo em troca da liberdade, nem mesmo em troca do sol".

Eles negociaram... e por muito menos do que o sol ou a liberdade. Henfil os colocaria todos em seu "cemitério dos mortos-vivos". Moralmente, morreram. E cadáveres insepultos cheiram muito mal.

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