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7.5.12

GTNM/RJ REPUDIA "LÓGICA POLICIALESCA" DE LIVROS SOBRE A DITADURA

O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ acaba de lançar uma nota pública de repúdio aos livros Desafia o nosso peito, de Adail Ivan de Lemos, e Um tempo para não esquecer, de Rubim Santos Leão de Aquino, qualificando-os de "tentativas que se fazem de desqualificar e, mesmo, denegrir as histórias de resistência daqueles que, corajosa e generosamente, se opuseram à ditadura civil-militar implantada em nosso país".

Eis as principais críticas que o GTNM/RJ faz a ambos:
"Utilizando-se do mesmo modo de pensar que o Estado ditatorial brasileiro quando classificava os resistentes como inimigos do regime, os autores citados fazem uso de categorias tais como: infilitrados, dedos-duros, X-9, cachorros, colaboradores, traidores, delatores, dentre outras. Em especial, no livro Desafia o Nosso Peito há tabelas ridículas que nomeiam os presos políticos, muitos já mortos e desaparecidos, que à época abriram, delataram, colaboraram, traíramse infiltraram, dentre outras afirmações perigosas e, mesmo, estarrecedoras. Lembram-nos, em muito, os documentos ditos  sigilosos, confidenciais e secretos da repressão.
"...tal lógica policialesca em nada se diferencia dos discursos belicistas, acusatórios e difamatórios com os quais nos confrontamos ao longo dos últimos 40 anos, advindos dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Sendo assim, o GTNM/RJ reafirma sua posição de cuidado e respeito ao falar de nossa história, de seus personagens e utopias, do que aconteceu, quando aconteceu, como aconteceu, bem como quanto a identificação dos responsáveis pelas violências então cometidas. Tudo isso implica em pensar a história de um outro modo, como uma postura ético-política, em especial para com aqueles que não estão mais entre nós para testemunhar os horrores pelos quais passaram. 
 "É a ditadura civil-militar e seu terrorismo de Estado que devem ser investigados, esclarecidos, divulgados e responsabilizados!"
A nota informa também ter passado despercebida à presidente do GTNM/RJ, Cecília Coimbra, "a gravidade de tal lógica [policialesca] presente no capítulo Colaboradores, Infiltrados e Informantes do Regime Ditatorial, motivo pelo qual ela agora exigiu a retirada do prefácio que escreveu para Desafia o nosso peito.

SEGUNDO ADAIL LEMOS, GRANDE 
PARTE DOS COMBATENTES 'ABRIU'

A tabela citada pelo GTNM/RJ tem o título de Classificação Cronológica dos Delatores e Grau de Reversäo dos seus Ideais. Nomeia 47 militantes e faz também a acusação genérica de que, no período 1970/74, "grande parte dos combatentes"  abriu.

Conhecedor dessas histórias, posso afirmar que há erros crassos tanto nas inclusões, quanto nas rotulações e também nas omissões; mas, claro, recuso-me a esmiuçar episódios tão sofridos e dolorosos. Quem entrou na luta com sinceridade de propósitos, deu o melhor de si pela causa e, ao ser preso, aguentou quanto e como pôde. Tirando os agentes que a repressão infiltrou na esquerda, ninguém deve ser criticado em função de sua capacidade de resistência física e/ou psicológica haver sido ultrapassada.

Vale lembrar, p. ex., os infames julgamentos de Moscou, quando os mais duros e calejados revolucionários, que haviam dedicado a vida inteira à causa e suportado torturas de todo tipo, foram finalmente quebrados pelo martírio prolongado a que o stalinismo os submeteu: acabaram comparecendo balbuciantes ao tribunal para confessar os  crimes  mais bizarros e inverossímeis, como o de tentarem envenenar os reservatórios de água da URSS.

Sou mencionado no livro Desafia o nosso peito; embora a busca do Google (nesta 2ª feira, 7) indique 188 mil hits (textos meus ou em que sou citado) e haja dezenas de milhares de menções aos meus dois blogues, Adail Ivan de Lemos parece não ter encontrado nenhuma forma de me contatar, ou lhe faltou vontade de o fazer. Ignorar o  outro lado  facilitou seu trabalho, evidentemente, mas o expôs à acusação de leviandade que lhe faço agora. E leviandade das piores, pois se refere a reputações alheias.

Foi leviano ao me inserir e classificar na tal tabela sem  me dar direito de defesa e, mais ainda, ao escrever asneiras como a de que eu e o Francisco de Assis teríamos desistido de nossas causas e abandonado os ideais do passado.

Nenhum de nós deixou jamais de ser revolucionário. Logo na primeira vez em que a imprensa me procurou em liberdade (IstoÉ, em 1978), relatei minuciosamente as torturas a que havia sido submetido; depois, reiterei a denúncia ao jornal Zero Hora e à revista Veja, em plena ditadura. De resto, creio ser supérfluo relembrar minhas lutas dos seis últimos anos, quando, tendo recuperado minha credibilidade, pude finalmente cumprir o papel para o qual estava qualificado.

E a qualidade do Chico de Assis como escritor e sua integridade como lutador do bom combate evidenciam-se cristalinamente no seu ótimo livro de memórias políticas A trilha do labirinto (Inojosa Editores, 1993, relançado em 2008 pela Editora Bagaço).

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