Fiquei chocado com esta notícia tão sucinta da Folha de S. Paulo deste domingo (22):
"O governo espanhol aprovou anteontem uma lei que restringe o atendimento médico público a imigrantes ilegais, que terão acesso apenas aos serviços básicos: emergência, maternidade e atendimento médico infantil.Com a medida, o governo espera deixar de gastar € 500 mil neste ano. Desde 2000, o país não vive uma mudança tão radical na política sanitária, quando uma reforma na lei dava acesso às especialidades médicas somente aos imigrantes empregados".
Enquanto
o jornalão paulista noticiou de forma telegráfica, a maioria dos
veículos passou batida. Nem sequer na busca virtual encontrei grande
coisa.
Quem ainda é capaz de raciocinar e sentir como ser humano leu assim:
"O governo espanhol, para não despender um punhado de euros, decidiu entregar à morte pessoas (gente como a gente, pouco importando em qual país nasceram!), que têm doenças graves e requerem tratamento médico continuado".
Eu,
que nunca tive condições financeiras para fazer as viagens com as quais
sonhava, recebo uma melancólica compensação: fortíssimos motivos para
concluir que não teriam valiado a pena.
Caso
dos crimes impunes e dos deboches escancarados de Berlusconi, de seus
pogroms contra imigrantes, da indiferença ou anuência do cidadão comum
italiano face à perseguição infame contra Battisti. A Itália foi um
afeto que se encerrou para mim nos últimos anos. Pensava nela como um
país repleto de compassivos Mastroiannis; percebi não ter sido por acaso
que se prostrou a Mussolini.
Agora
é a Espanha que desfaz minhas ilusões, tratando os fugitivos da miséria
como lixo, tal qual outras nações vitimadas pelas crises cíclicas do
capitalismo. Na hora de sacrificar gente para salvar bancos, os
estrangeiros são sempre alvos preferenciais; e, mais ainda, os
imigrantes ilegais. "Primeiro os meus" é a lógica da xenofobia ignóbil,
da mesquinhez e da pequenez.
Nem
sequer na heróica Catalunha, que em outras posturas difere do restante
da Espanha, parece vicejar a solidariedade para com os coitadezas do
mundo.
Como cantou Vandré, "a vida não mudava/ mudando só de lugar".
A
desumanidade é global sob o capitalismo. Não há oásis. O que existe
são, aqui e ali, pessoas ainda movidas pela solidariedade e compaixão,
lutando para evitar que o homem seja o lobo do homem.
Estas pessoas carregam as esperanças de (e da) humanidade.
LEIA TAMBÉM, NO BLOGUE NÁUFRAGO DA UTOPIA (clique p/ abrir):É DEFINITIVO: TENTAREI ABRIR UMA NOVA FRENTE DE ATUAÇÃO
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