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30.3.11

UM PROGRAMA PARA A ESQUERDA DO SÉCULO 21

Quando a esperança aquecia corações e
iluminava mentes: Primavera de Paris...
Um dos grandes diferenciais da minha atuação na internet, em relação a outros articulistas de esquerda, é ir além desse maniqueísmo tosco a que muitos deles reduzem os acontecimentos políticos, numa época em que nada é tão simples como parece.

P. ex., o evidente interesse das potências ocidentais em derrubar o ditador líbio Muammar Gaddafi fez os desnorteados de esquerda, em nome do antiimperialismo, correrem a alinhar-se, explicita ou implicitamente, com um dos tiranos mais brutais e repulsivos do planeta.

Aí vem a Inteligência da Otan e assinala a presença de integrantes da Al Qaeda e da milícia xiita Hizbollah entre os revoltosos. Ué, mas Al Qaeda e Hizbollah não são  mocinhos  para a esquerda brasileira? E os insurgentes não são  teleguiados pela CIA?

Depois, ficamos sabendo que o grande aliado ocidental de Gaddafi é, nada mais, nada menos, do que o neofascista-mor Silvio Berlusconi.

Tanto que Franco Frattini, o ministro italiano do Exterior, empenha-se em salvar a vida e a liberdade do ditador, tentando encontrar um país africano que aceite receber esse traste e não se disponha a entregá-lo, como merece, ao Tribunal Penal Internacional, para que seja julgado como o foram os criminosos de guerra nazistas em Nuremberg.

Resumo da opereta: quem participa desse jogo político rasteiro e promíscuo do sistema -- ou, dizendo de uma forma mais sofisticada, da realpolitik -- tem a consistência ideológica da gelatina. Move-se por interesses, embora os fantasie com retórica oportunista de esquerda, centro ou direita.

...Primavera de Praga...
Mas nós, os revolucionários, não podemos chafurdar nessa lama, sob pena de sermos vistos pelos explorados apenas como  mais do mesmo.

Ou seja, cabe-nos defender, intransigentemente, princípios, ao invés de copiarmos o que há de pior no utilitarismo político dos inimigos -- como a postura estadunidense de que certos ditadores são grandes fdp's, mas são  nossos  fdp's.

Não, os verdadeiros revolucionários repudiamos a todos e quaisquer ditadores, até porque é assim que pensam e sentem os melhores seres humanos, dos quais não podemos nos dissociar, se quisermos tê-los ao nosso lado na investida contra os podres poderes do planeta.

Hoje somos uma minoria pouco significativa. Precisamos desesperadamente romper o isolamento atual, voltando a representar uma alternativa de poder em escala mundial.

Mas, na era da internet, ou direcionamos nossa atuação para os homens com mente aberta e espírito crítico, ou para os sectários fanatizados. Não há meio termo.

E é mais do que tempo de optarmos definitivamente pelos primeiros e a eles endereçarmos nossas mensagens, instando-os a cerrar fileiras conosco para a salvação da espécie humana (sob gravíssima ameaça de ser extinta pela ganância capitalista) e acenando-lhes com a perspectiva de concretização das duas maiores bandeiras da humanidade através dos tempos: a liberdade e a justiça social.
...e a contestação à Guerra do Vietnã.

Em 1968, éramos capazes de sensibilizar os corações e convencer as mentes porque erguíamos as bandeiras corretas e travávamos o bom combate.

O desafio é reatarmos os fios da História, tendo como referecial  aquele último grande marco por nós atingido -- e avançarmos.

Podem-se cortar muitas flores, mas não impedir a chegada da primavera. 

28.3.11

GENOCÍDIO DO ARAGUAIA: "RECEBEMOS ORDEM PARA MATAR TODOS. E MATAMOS"

"A ordem era atirar primeiro, perguntar depois"
Merece nosso reconhecimento a revelação, na edição dominical da Folha de S. Paulo (27/03), das diretrizes da Marinha ordenando a eliminação dos guerrilheiros do Araguaia.

Mas, justiça seja feita, foi a combativa revista IstoÉ quem primeiramente trouxe a comprovação irrefutável de que as Forças Armadas brasileiras haviam executado, de forma sistemática,  os guerrilheiros do Araguaia já rendidos, em sua edição nº 2036 (12/11/2008).

Tratou-se da reportagem A Tropa do Extermínio, baseada em documentos secretos fornecidos e entrevista concedida por José Vargas Jiménez -- que, como sargento, participara da chamada Operação Marajoara.

Eis os trechos mais marcantes:
"Pela primeira vez surge um documento do Exército brasileiro comprovando que os militares enfrentaram os militantes do PCdoB no Araguaia (1972/1975) com ordem para matar. Chamado de Normas Gerais de Ação - Plano de Captura e Destruição, o documento, de 5 de setembro de 1973, elaborado pelo Centro de Informação do Exército (CIEx), ao qual IstoÉ teve acesso, relaciona os 'terroristas traidores da nação' que deveriam ser 'destruídos'.
 Em outubro de 1973, este documento estava na mochila do então 3º sargento José Vargas Jiménez, quando desembarcou de um avião militar Hércules C-130, na base militar de Marabá (PA), e subiu em um caminhão do Exército rumo ao quilômetro 68 da Rodovia Transamazônica para combater na Operação Marajoara - a terceira e derradeira fase da Guerrilha do Araguaia. O verbo 'destruir' redigido no documento, segundo Vargas, hoje 1º tenente da reserva, é um eufemismo para matar. 'A ordem era exterminar', afirmou Vargas à IstoÉ.
Os papéis agora revelados pelo tenente da reserva José Vargas Jiménez mostram como os militares montaram a Operação Marajoara para destruir totalmente os guerrilheiros do PCdoB no Araguaia.
Primeiro, eles prenderam e torturaram os camponeses que moravam nas diversas localidades relacionadas no documento. Com isso, reuniram informações e 'ganharam' apoio da população na luta contra os insurgentes.
O Vargas de 1973 e o documento
secreto que ele entregou à IstoÉ
 A seguir, os militares entraram na mata sem uniforme para caçar e exterminar os comunistas.  (...) Primeiro foram mortos os comandantes da guerrilha.
Em 14 de outubro de 1973, os militares deram início ao que Vargas chama de 'fase do extermínio'. No documento que o então sargento carregava, agora revelado por IstoÉ, está detalhado quem era quem no esquema insurgente. "Tínhamos um álbum de fotos, nomes e área (região) onde atuavam, além de seus destacamentos", lembra o militar.
Chamado de Plano de Captura e Destruição, o relatório, na primeira página, identificava os grupos de guerrilheiros que deveriam ser abatidos, por prioridade. A chamada comissão militar da guerrilha deveria ser dizimada em primeiro lugar. 'Eles eram prioridade 1', diz Vargas.
Com a relação nas mãos, os militares se embrenharam na floresta e a matança começou. 'Numa caminhada pela região de Caçador, encontrei três corpos de guerrilheiros abandonados na mata. Um deles era o André Grabois, filho de um dos líderes dos comunistas. Um outro, um mateiro, um de meus soldados decepou-lhe o dedo, tirou a carne, e colocou o osso num colar', afirma o tenente da reserva.
Vargas também se recorda que em 24 de novembro, depois de um tiroteio, outros corpos foram abandonados. 'Como não conseguimos identificar um deles, recebemos ordens pelo rádio para decapitar e cortar as mãos do inimigo, para identificação. Os outros corpos foram abandonados por lá. É claro que os animais os comeram. Nós não tínhamos obrigação de carregar corpo de guerrilheiro e nem de enterrá- los', diz. Segundo Vargas, quando as fotos não eram suficientes para identificar os abatidos, suas cabeças e mãos eram cortadas para posterior reconhecimento na Base de Marabá.
O Vargas de 2008 ainda
justificava a tortura
No dia de Natal de 1973, um combate exterminou oito integrantes da comissão militar do PCdoB. (...) Um mês depois, em São Domingos das Latas, Vargas capturou  Piauí, como era conhecido o estudante de medicina Antônio de Pádua Costa. Piauí havia assumido o comando do principal destacamento dos guerrilheiros depois do massacre do Natal. '
Esse eu peguei na mão, depois de uma luta', conta o militar. 'Eu o entreguei vivo ao CIEx. Mas ele consta na lista de desaparecidos políticos', afirma.
A caçada final aos comunistas começou em 1º de outubro de 1973. (...) A tropa de Vargas embarcou rumo a Bacaba, uma das duas bases militares na região, situada ao norte da área de combate, as margens da Transamazônica. A outra base militar era a de Xambioá, ao sul, próximo ao atual Estado do Tocantins. Partindo das duas bases, fizeram um cerco aos moradores e guerrilheiros.
Entrando de casa em casa, os militares colecionaram prisões de camponeses. (...) Nas bases militares, os camponeses eram submetidos a todo tipo de tortura. 'Eles eram colocados descalços em pé em cima de latas, só se apoiando com um dedo na parede, tomavam telefones -- tapas nos ouvidos -- e choques elétricos', conta o militar. "Prendi mais de 30", contabiliza. "Um deles eu coloquei nu em um pau-de-arara, com o corpo lambuzado de açúcar, em cima de um formigueiro".
A crueza na descrição da carnificina prosseguiu na entrevista de Vargas, da qual constam estas outras  pérolas:
"A ordem era atirar primeiro, perguntar depois. Recebemos ordem para matar todos. E matamos. Se algum guerrilheiro sobreviveu à terceira fase, foi porque colaborou com a gente e ganhou uma nova identidade".
A denúncia da IstoÉ foi lembrada em protesto
contra assassinatos do Morro da Providência
"Primeiro, prendemos todos os homens da região. Criamos um Grupo de Autodefesa , formado por moradores bem remunerados, que nos ajudavam entregando os comunistas. Depois que matamos os comandantes da guerrilha, os outros ficaram perambulando famintos pela selva. Numa tática de desmoralização, quando eles eram capturados, eles eram amarrados pelo pescoço e expostos pelas ruas dos vilarejos. (...) Desfilamos com o corpo de Oswaldão, o líder máximo deles, dependurado num helicóptero. Foi o fim do mito".
 "Torturar é normal numa guerra. Para obter informações, você tem que apelar, fazer uma tortura, senão o cara não conta. Não existe lei numa guerra. Você mata ou morre. A tortura nunca vai acabar. É assim que funciona".

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27.3.11

PRETO NO BRANCO: MARINHA ORDENOU EXECUÇÕES NO ARAGUAIA

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De vez em quando a Folha de S. Paulo se lembra de que é um jornal e cumpre a função da imprensa, revelando a seu público aquilo que as autoridades tentam ou tentaram esconder.

Caso do excelente trabalho de jornalismo investigativo de João Carlos Magalhães, Maria Clara Cabral, Matheus Leitão e Rainer Bragon, autores da reportagem Marinha ordenou a morte de militantes no Araguaia em 1972.

Se já não havia dúvida nenhuma de que a ordem nas 2ª e 3ª campanhas do Araguaia era matar os guerrilheiros mesmo quando eles fossem aprisionados com vida, agora também ficou definitivamente provado que tal ordem partiu dos altos escalões e não foi nenhuma iniciativa autônoma de  aloprados  no palco da ação.

Eis os trechos principais (os grifos são todos meus):
"Documentos escritos pelo Comando da Marinha revelam que havia a determinação prévia de matar os integrantes da Guerrilha do Araguaia, e não apenas derrotar o maior foco da luta armada contra a ditadura militar.

Os papéis, de setembro de 1972, relatam a preparação da Operação Papagaio, uma das principais ofensivas das Forças Armadas contra o grupo criado pelo PC do B entre Pará, Maranhão e a região norte de Goiás, que hoje é o Estado do Tocantins.

A documentação a que a Folha teve acesso faz parte do acervo da Câmara dos Deputados. Era confidencial até 2010, mas foi liberado para consulta pública.

'A FFE [Força dos Fuzileiros da Esquadra] empenhará um grupamento operativo na região entre Marabá e Araguaína para, em ação conjunta com as demais forças amigas, eliminar os terroristas que atuam naquela região', afirmam duas 'diretivas de planejamento'.

Uma delas é assinada por Edmundo Drummond Bittencourt, comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais. A outra foi escrita pelo contra-almirante Paulo Gonçalves Paiva. Nas duas, a ordem de 'eliminar' os guerrilheiros surge no item 'conceito das operações".
A ordem era eliminar: estes
foram alguns dos eliminados.
 Os textos também dizem que seriam feitas ações para 'impedir os terroristas que atuam na margem daquele rio de transporem-no para a margem leste, eliminando-os ou aprisionando-os'.
A oposição entre 'eliminar' e 'aprisionar' confirma que o primeiro se refere à morte dos militantes, disse o historiador Jean Rodrigues Sales, autor de A Luta Armada Contra a Ditadura Militar (ed. Perseu Abramo).

'No episódio de repressão à militância armada, a política deliberada de assassinatos jamais foi admitida de forma oficial', disse Sales.

Segundo Criméia Schmidt de Almeida, ex-guerrilheira e estudiosa do conflito, 'realmente [ainda] não havia registro disso [determinação prévia para matar]'.

Para Taís Morais, coautora com Eumano Silva de Operação Araguaia (Geração Editorial), 'militar não escreve ordem que não deve ser cumprida'.

As 'diretivas' corroboram relatos de testemunhas do conflito, segundo as quais, nos anos seguintes, comunistas foram mortos mesmo depois de serem presos.

Ainda não foi produzida uma narrativa oficial sobre a luta armada durante a ditadura -- um dos objetivos da Comissão da Verdade, que o governo quer instituir.
 Procurado na terça-feira, o Ministério da Defesa afirmou que, por não ter tempo de encontrar os documentos, não os comentaria"
Resumo da opereta: acabam de ser pulverizadas, espetacularmente, todas as objeções das viúvas da ditadura, dos discípulos do totalitarismo e das avestruzes por conveniência, contra as investigações da Comissão da Verdade. Há mesmo muito que o povo brasileiro precisa saber sobre um dos períodos mais infames da História deste país.

"VI MUITOS QUE FICAVAM SEM 
AS UNHAS, SEM PARTE DA ORELHA, FRACOS 
DE TANTO PERDER SANGUE"

E, para se ter uma idéia das monstruosidades perpetradas no Araguaia, eis um interessante relato colocado no ar pelo Folha.com em agosto de 2008 (não saiu na edição impressa), quando ex-recrutas, que participaram por obrigação daquelas operações, contaram o que ocorreu. Os grifos, claro, são meus:
"'Logo que chegamos lá, fomos avisados de que ou matávamos ou morríamos. Não tivemos escolha', diz o presidente da Associação Brasileira dos Ex-Combatentes do Araguaia no Piauí, João Batista de Oliveira, 59. 'Fomos vítimas, até mais do que os guerrilheiros, porque fomos enganados', afirma. 'Que reconheçam que não somos carrascos. Os carrascos eram os generais'.
 "...[os recrutas] pensavam que iriam fazer apenas mais uma manobra regular. Só no meio da viagem até Xambioá (TO), quando passavam por Grajaú (MA), é que ficaram sabendo que se tratava de um combate real. (...) 'Só soube quando entregaram munição real para a gente. Se fosse só uma manobra, aquilo não era necessário', diz Raimundo Pereira dos Santos, 56.

"...os ex-militares dizem ter ficado em grupos separados, de 13 a 15 homens cada um, interconectados por um sistema de rádio, de onde vinham as ordens. 'Ainda hoje lembro os dizeres da transmissão: 'É para calcinar o cipó'. Calcinar era matar, cipó eram os guerrilheiros', afirma Guilherme Xavier Neto, 60

"...os ex-combatentes entrevistados (...) dizem que a violência era produzida pelos oficiais de carreira do Exército.

'Vi muitos que ficavam sem as unhas, sem parte da orelha, fracos de tanto perder sangue nos interrogatórios', diz Oliveira. 'Quando um era morto, o corpo era pendurado no helicóptero num saco de estopa e exibido na cidade, para fazer medo. Depois, enterrado numa cova rasa ou jogado no rio. Com certeza, a maioria dos que ainda buscam corpos de parentes não vai encontrar nada'."

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25.3.11

A LEI DA FICHA LIMPA, A HEMORRAGIA E OS ESPARADRAPOS

Nunca apoiei a Lei da Ficha Limpa, pois detesto paliativos e, mais ainda, simulacros de soluções.

Vivemos sob o sistema capitalista, cujo primeiro e único mandamento é enriquecei!.

Sem complemento nenhum. É só enriquecei!, mesmo.

Pouco importa se por meios éticos, amorais ou imorais. Isto é irrelevante. O capitalismo a todos lança numa corrida de ratos atrás da riqueza, status e poder, pisando em quem atrapalhar a escalada.

Há ainda certas leis vetustas, anticapitalistas. Como aquela proibindo que se assassine o concorrente direto para tirá-lo do caminho.

Mas, quem enriqueceu geralmente consegue escapar das grades, seja com subornos bem colocados, seja recorrendo ao estoque infinito de medidas protelatórias que a Justiça lhes faculta e os luminares do Direito estão sempres prontos para sugerir.

Mais: só tolos não percebem que Executivo e Legislativo hoje pouco mais são do que Poderes decorativos, pois sua liberdade de ação acaba onde começa a imposição dos ditâmes do grande capital.

Bancos estão entre o que há de mais parasitário, pernicioso e predatório em nossa sociedade. O que aconteceria se Dilma Rousseff e os nobres parlamentares decidissem estatizar o sistema financeiro, confiscando o que foi arrancado do povo para devolvê-lo ao povo? Não durariam um dia nas suas funções.

Pois, mais do que qualquer cláusula pétrea da Constituição, prevalece o princípio de que nada será feito contra os interesses dos realmente poderosos. E revoguem-se  os que  dispuserem em contrário, como revogaram  Allende, João Goulart e tantos outros...

O Executivo nada mais faz do que gerenciar o País para os capitalistas. O Legislativo discute o sexo dos anjos e aprova aquilo que lhe compete aprovar, depois de concluídas as barganhas de praxe.

Se afastarmos os corruptos mais ostensivos, só conseguiremos fazer com que os demais sofistiquem o  modus operandi.

Eu era um novato na imprensa do Palácio dos Bandeirantes quando do Fora Collor!. Jamais esquecerei a avaliação de um colega que lá trabalhava há décadas:
 "O único pecado do PC Farias foi desconhecer as práticas adotadas por seus iguais dos centros políticos importantes. Todos cometem os mesmíssimos delitos. Só que, em São Paulo, caixa 2 jamais emite cheques, paga tudo em dinheiro vivo, para não deixar digitais espalhadas por aí. O caipirão das Alagoas não sabia disto..."
Então, sempre que ouço falar em acabarmos com a corrupção sob o capitalismo, a imagem que me vem à mente é a de cidadãos a enxugar gelo para todo o sempre e esforçando-se se ao máximo para crerem que fazem algo útil...

Se quisermos estabelecer o primado da moralidade, teremos de dar um fim ao sistema econômico fundado no enriquecei! e instaurar outro em que o valor supremo seja o bem comum, com cada indivíduo dando sua melhor contribuição para a felicidade de todos.

O resto são fúteis tentativas de estancar hemorragia com esparadrapos. 

18.3.11

CESARE BATTISTI COMPLETA 4 ANOS COMO PRISIONEIRO POLÍTICO NO BRASIL

Hoje é 18 de março, dia em que o escritor Cesare Battisti completa seu quarto ano de prisão injustificada, iníqua e abusiva no Brasil.

Desde o primeiro momento, foi vítima da sanha inquisitorial de quem deveria deixar suas paixões de lado ao vestir a toga... mas não o faz.

Pois, no caso de alguém que levava existência pacífica, regrada e produtiva desde 1981, tendo constituído família e se projetado nas letras, o que cabia, para garantir sua entrega à Itália caso o pedido de extradição fosse julgado procedente, era a colocação em liberdade vigiada. Nada mais.

Assim teriam agido se ele fosse um banqueiro crapuloso qualquer, não um digno e idealista homem de esquerda, a quem a mais repulsiva ultradireita italiana tenta imolar como símbolo de uma pretensa vitória sobre os ideais libertários que sacudiram o mundo em 1968 e anos seguintes. [A última palavra não está dada, podem-se arrancar muitas flores, mas, jamais, impedir a chegada da primavera!]

Evidentemente, quem o estigmatizava para mais facilmente condenar, preferiu a captura desnecessariamente espetaculosa e o confinamento numa  casa dos mortos  brasiliense (a Superintendência da Polícia Federal, horrível depósito de presos no qual permaneceu por mais de um ano, até ser transferido para o bem menos opressivo Centro Penitenciário da Papuda).

Aí, em janeiro de 2009, o então ministro da Justiça Tarso Genro lhe assegurou o direito de residir e trabalhar em paz no Brasil, a salvo da  vendetta  dos neofascistas italianos e do ex-serviçal da Cosa Nostra empenhado em superar os piores deboches de Calígula.

Pela lei e pela jurisprudência brasileiras, era tudo de que Battisti precisava para sair do pesadelo kafkiano em que o atiraram.

Mas, o empenho de dois ministros gritantemente reacionários do Supremo Tribunal Federal fez com que todos os trâmites fossem distorcidos no caso de Cesare.

Nem a produção do mais tendencioso relatório de um ministro do Supremo em todos os tempos foi, contudo, suficiente para tirar a decisão final das mãos de quem sempre a deu no Brasil: o presidente da República.

E Luiz Inácio Lula da Silva, no último dia do seu governo, reafirmou a soberania nacional, tão vilipendiada pela turba linchadora italiana.

Isto ainda não foi suficiente para o autor do relatório desmoralizado, que, agora no novo papel de presidente do STF, passou a ganhar tempo na esperança de ter êxito numa nova prestidigitação, forçando mais uma virada de mesa legal.

Então, ao invés de libertar de imediato Battisti, que era a única atitude que lhe cabia tomar, preferiu mantê-lo em PRISÃO CLAMOROSAMENTE  ILEGAL e, como tal, denunciada por nossos mais eminentes juristas.

Desde janeiro de 2009 Cesare Battisti é vítima de evidente PERSEGUIÇÃO JUDICIAL.

Desde a decisão de Lula, está sendo mantido sob inequívoco SEQUESTRO.

E assim se roubaram quatro anos da vida de um homem, em nome de acontecimentos longínquos e de uma sentença espúria, verdadeiro linchamento togado a que Battisti foi submetido durante o  macartismo à italiana  dos anos de chumbo -- aquele período escabroso da história dessa grande nação, no qual, dentre outras aberrações, as torturas eram acobertadas, as leis retroagiam e as prisões preventivas podiam durar mais de uma década (!).

Como bem disse o Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional, Cesare Battisti somos todos nós -- os cidadãos sujeitos a ser privados da liberdade, ao arrepio da lei e desconsiderando a jurisprudência, como consequência do ARBÍTRIO de perseguidores poderosos.

Lembrem-se: os que permanecem cegos, surdos e mudos diante das injustiças que Battisti sofre poderão algum dia debater-se num mesmo labirinto, sem ninguém solidário para lhes apontar a saída.

16.3.11

WIKILEAKS: CIAS. ENERGÉTICAS JAPONESAS ENCOBRIAM PROBLEMAS

"Um despacho de 2008 da embaixada dos Estados Unidos em Tóquio revela o descontentamento e preocupação de uma importante figura política japonesa em relação à política nuclear de seu país. No documento, era informado que o governo encobria informações sobre acidentes nucleares, além de ocultar os custos e problemas associados a esse ramo da indústria.

A conversa entre Taro Kono e um grupo diplomático norte-americano teria ocorrido em outubro daquele ano, durante um jantar. O relatório (...) foi obtido pelo site WikiLeaks e publicado pelo Guardian.

O deputado Kono, um dos principais líderes do Partido Liberal-Democrata, que governou o país de 1995 a 2009 e, portanto, estava no poder no momento do encontro, mirou suas críticas na atuação do Ministério da Economia, Comércio e Indústria, responsável pelo setor nuclear no país, e nas companhias energéticas japonesas. No documento, ele fazia forte oposição à estratégia energética e nuclear japonesa, especialmente em relação a questões como custos e segurança.

Segundo os documentos, o deputado acusou o ministério de sonegar e selecionar informações do setor a serem repassadas aos parlamentares de acordo com seu próprio interesse. No despacho, Kono também teria demonstrado grande preocupação com os resíduos de energia nuclear coletados pelas empresas, já que o Japão não possui nenhum local de armazenamento permanente dos resíduos de alto nível.

O documento indicava outra grande preocupação do deputado, que relacionou os armazenamentos temporais com a alta atividade sísmica do país, e alertava sobre a possibilidade e do risco dos materiais serem filtrados em águas subterrâneas em caso de terremoto.

O deputado teria relatado que as companhias energéticas japonesas ocultavam diversos problemas...

...Perguntado sobre a influência das companhias energéticas no país, Kono assegurou que uma rede de televisão realizou uma entrevista com ele, repleta de críticas ao setor, e que seria apresentada em três partes. Mas, após o primeiro programa, ela se viu obrigada a cancelar a exibição, pois as empresas ameaçaram cancelar o patrocínio à rede".
Novamente se confirma o que eu afirmei no meu post de três dias atrás:
"Para quem não engole os contos da carochinha do sistema, salta aos olhos que as usinas nucleares jamais serão totalmente seguras.
 Trata-se de mais uma opção que o capitalismo impõe à humanidade, a partir de um enfoque em que a relação custo/benefício é tudo e a vida das vítimas, nada".
Interesses empresariais prevaleceram sobre o imperativo de se preservar a existência humana. O lucro pesa mais do que a vida. Governos são corrompidos. Informações vitais, sonegadas. Emissoras de TV, coagidas a calar denúncias.

E assim, o país mais castigado até hoje por bombardeios atômicos agora se vê ameaçado de passar por horrores semelhantes em função de um mais do que previsível acidente nuclear.

Se é discutível a operação de usinas nucleares nos mais remotos desertos, sua instalação em áreas povoadas só pode ser qualificada como um crime contra a humanidade.

E pensar que, sob o primado da ganância, ainda se maximizaram os riscos para que as companhias energéticas multiplicassem seus ganhos!

O capitalismo há muito deveria ter sido substituído por uma forma de organização da sociedade fundada na cooperação entre os homens para a promoção do bem comum -- única possibilidade  de sobrevivência da humanidade num planeta superpovoado e com recursos naturais finitos.

Agônico e putrefato, ameaça provocar o extermínio da espécie humana, com a conjugação de catástrofes naturais decorrentes das alterações climáticas e catástrofes nucleares das quais os terremotos, tsunamis, furacões, inundações, etc., serão o estopim.

Os avisos nos estão sendo todos dados. Se demorarmos a despertar para a magnitude dos desafios que enfrentamos, poderemos começar a reagir só quando a situação já tiver chegado a um ponto de não retorno.


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14.3.11

RP DA BARBÁRIE DÁ ENTREVISTA DESASTROSA

O pior assessor de imprensa do mundo está no Brasil para defender o apedrejamento até a morte de Sakineh Ashanti (dir.), verdadeiramente por adultério e alegadamente por homicídio (acusação inventada pelo estado teocrático do Irã depois que o mundo inteiro repudiou a punição bestial e arcaica).

Trata-se do chefe de Imprensa do Governo do Irã e um dos principais conselheiros presidenciais, Ali Akbar Javanfekr (esq.) que, entrevistado por Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, disse tudo que precisava dizer para os inimigos brotarem como cogumelos.

SOBRE O BRASIL
"Esse não é o caminho correto [criticar direitos humanos], é um caminho que não tem fim. Existem 2.500 Sakinehs nas prisões brasileiras, acusadas de homicídio. Nos EUA, uma mulher foi executada recentemente. Se a presidente está preocupada, também podia criticar os EUA." COMENTÁRIO: CRITICAR OS DIREITOS HUMANOS É REALMENTE UM CAMINHO SEM FIM... NO IRÃ, QUE OS INFRINGE SISTEMATICAMENTE. DE RESTO, COMO BRASILEIRO, CONSIDERO UM INSULTO COLOCAR NO MESMO PLANO OS PROCESSOS POR HOMICÍDIO DE MEU PAÍS E A FALSIDADE COM QUE OS AIATOLÁS ENSANDECIDOS TENTARAM JUSTIFICAR O INJUSTIFICÁVEL. E A FORMA COMO JAVANFEKR SE REFERE À NOSSA PRESIDENTE É TÃO DESRESPEITOSA QUE ELE DEVERIA SER CONVIDADO A RETIRAR-SE IMEDIATAMENTE DO BRASIL

SOBRE O HOLOCAUSTO
"Se o Holocausto é uma realidade histórica, por que não se permite que seja estudado? Qualquer pessoa que questiona é logo condenada. Devemos ficar preocupados com a distorção da história." COMENTÁRIO: O HOLOCAUSTO É UMA VERDADE HISTÓRICA QUE SÓ OS FANÁTICOS MAIS DELIRANTES PÕEM EM DÚVIDA. DEVE, SIM, SER CRITICADO O USO E ABUSO DO HOLOCAUSTO, POR PARTE DE ISRAEL, COMO ÁLIBI PARA MASSACRAR OUTROS POVOS. MAS, QUE O HOLOCAUSTO EXISTIU, EXISTIU.

SOBRE OS GAYS
"Na República Islâmica do Irã, não há. Nossa visão sobre esse tema é diferente da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento... vi que no Carnaval [brasileiro] foram distribuídos 90 milhões de preservativos, e isso é muito feio. Não é a favor da saúde da humanidade." COMENTÁRIO: TUDO DE QUE NÃO PRECISAMOS SÃO LIÇÕES DE INTOLERÂNCIA. VÁ INSUFLAR PRECONCEITOS NOUTRA FREGUESIA!

SOBRE A LIBERDADE ARTÍSTICA
"Temos milhares de cineastas trabalhando no Irã, produzindo filmes, ganhando prêmios em festivais internacionais. Se um deles [Jafar Panah] pratica um crime que tem punição pela lei, será que é uma restrição das atividades do cineasta? Ser cineasta significa ter imunidade? Esse senhor praticou um ato ilegal. COMENTÁRIO: VERDADEIROS ARTISTAS PROPÕEM VISÕES ALTERNATIVAS ÀS OFICIAIS [O "ATO ILEGAL" QUE O LEVOU À MASMORRA, ANTES MESMO DE INICIAR AS FILMAGENS!!!]. ASSIM COMO O ADULTÉRIO DE SAKINEH, O QUE PANAH FEZ SÓ DESPERTA REAÇÃO TÃO BIZARRA EM NAÇÕES QUE AINDA NÃO SAIRAM DAS TREVAS MEDIEVAIS.

13.3.11

HUMANIDADE REDESCOBRE O RISCO DE TRAGÉDIAS NUCLEARES

O mês é outubro e o ano, 1962. Em todos os países há pessoas com o ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à beira do pânico.

Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki, quando mais de 200 mil seres humanos foram imolados, parte instantaneamente, parte após lenta e terrível agonia. 

Havia concreta possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.

É que os EUA, ao obterem provas fotográficas da existência de silos de mísseis soviéticos em Cuba, deram um ultimato à URSS, exigindo sua imediata remoção.

A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que os norte-americanos haviam iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba, despachou uma frota que o tentaria romper.

Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da guerra nuclear entre duas nações que acumulavam poder destrutivo suficiente para exterminar a espécie humana.

Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em que construíram sofregamente abrigos nucleares em suas casas.

A histeria coletiva inspirou um episódio magistral da série de TV Além da Imaginação, sobre vizinhos que, ao confraternizarem numa festa, recebem a notícia de que a guerra atômica pode estar começando.

O único que havia transformado seu porão em abrigo, nele entrincheira-se com a família, negando acesso aos demais, por não haver mantimentos, água e espaço físico para tanta gente.

Quando os outros estão pondo abaixo a porta, empunhando tacos de beisebol e outras armas improvisadas, chega o desmentido: rebate falso. Mas, suas reações primitivas e egoístas durante a emergência revelara a todos como eles realmente eram, sob o verniz da hipocrisia social.

KRUSCHEV OBTÉM CONCESSÕES.
KENNEDY, HOLOFOTES

A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.
Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis similares que haviam instalado na Turquia. Comprometeram-se, ainda, a nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e exilados cubanos haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos Porcos. Eram estes os acontecimentos que haviam motivado os soviéticos a exibirem também o muque.

Kruschev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada dos mísseis, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.

De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação telefônica direta (o famoso  telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes dos pequenos problemas virarem grandes crises.

Nos EUA e em grandes capitais européias, houve júbilo incontido. Cidadãos festejavam nas praças e parques, lotavam os bares. Casais redescobriram a atração sexual, estranhos iam para a cama depois de trocarem duas palavras [O número de crianças nascidas nove meses depois foi muito superior ao habitual...].

A explosão de vida sucedeu aos augúrios de morte. Emblematicamente, a música até então ignorada de quatro jovens de Liverpool decolaria para a consagração mundial, tornando-se a trilha sonora da maior revolução de costumes que o mundo já vivenciou.

CHERNOBIL: FORAM 6,6 MILHÕES
OS CONTAMINADOS

Se diminuiu consideravalmente a ameaça de que a  guerra fria  entre EUA e URSS se tornasse quente e radioativa, nem por isso a energia atômica deixou de provocar pesadelos e paranóias.

Em abril de 1986, um acidente nuclear na usina soviética de Chernobil, na Ucrânia, liberou uma nuvem de radioatividade que atingiria a URSS, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.

Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, expondo 6,6 milhões de pessoas e tornando necessárias a evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil habitantes.

A ONU computou 56 mortes decorrentes do acidente na primeira década, estimando que outras 4 mil ainda viriam a ocorrer, em função do câncer causado nessas pessoas; o Greenpeace retrucou que esses números eram bem inferiores aos reais. A usina foi desativada.

THREE MILE ISLAND INSPIROU O FILME 
"SÍNDROME DA CHINA"

Anteriormente, o acidente no reator de Three Mile Island já levara 140 mil moradores do condado de Dauphin, na Pensilvânia, a abandonarem a região.

Essa central nuclear sofreu fusão parcial em março de 1979, devido a falha do equipamento decorrente ao mau estado do sistema técnico, além de erro operacional. Tinha havido redução de custos, prejudicando a manutenção e troca de equipamentos. Os encarregados não se demonstraram suficientemente capacitados para lidar com a emergência.

O susto e os transtornos motivaram o lançamento de uma campanha contra a energia nuclear nos EUA: No Nukes, com a participação de músicos famosos como Jackson Browne, Bonnie Raitt e Graham Nash.

E o episódio inspirou o filme Síndrome da China (1979 - d. James Bridges), sobre repórter (Jane Fonda) e cinegrafista (Michael Douglas) de TV que, ao fazerem reportagem numa usina nuclear, suspeitam que presenciaram uma ameaça de vazamento radioativo, acabando por obter a confirmação de um engenheiro honesto (Jack Lemmon).

FUKUSHIMA COMPROVA: USINAS JAMAIS 
SERÃO 100% SEGURAS

Agora, a usina japonesa Fukushima 1, que teoricamente deveria suportar terremotos e tsunamis, aguentou bem um terremoto muito intenso, mas não o tsunami que veio em seguida.

Especula-se que a água do tsunami tenha provocado uma falha no sistema de esfriamento do reator.

Ou seja, com o terremoto, o trabalho da usina foi interrompido automaticamente, mas o reator precisava ser esfriado.

Isto deveria ser feito por um sistema de energia alternativa que, no entanto, falhou ao ser atingido pelo tsunami, colocando a usina, em função do superaquecimento do reator, na rota da explosão.

Antes mesmo do acidente, quando se tentava reduzir a pressão excessiva no reator da central nuclear, vapores radioativos já estavam sendo liberados para o meio ambiente.

Só quando a situação estiver totalmente sob controle se poderão dimensionar os efeitos, saber quantas pessoas foram atingidas e com que gravidade. 

"O acidente que aconteceu no Japão vai fazer todo mundo repensar o uso de usinas nucleares", prevê um especialista, o engenheiro Aquilino Senra Martinez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para quem não engole os contos da carochinha do sistema, salta aos olhos que as usinas nucleares jamais serão totalmente seguras.

Trata-se de mais uma opção que o capitalismo impõe à humanidade, a partir de um enfoque em que a relação custo/benefício é tudo e a vida das vítimas, nada.

12.3.11

NOVA CRISE MILITAR OU VELHAS CHANTAGENS TOTALITÁRIAS?

É compreensível que partam do Exército as iniciativas para enquadrar a Comissão Nacional da Verdade: parafraseando a frase imortal de um ex-ministro da Justiça sobre um ex-torturador, foi a Arma que, durante os  anos de chumbo, mais emporcalhou com o sangue de suas vítimas as fardas que deveria honrar.

Assim é que, conforme revelou O Globo, o Comando do Exército elaborou no mês passado um documento de críticas à Comissão da Verdade, endossado a seguir pela Marinha e Aeronáutica. Eis alguns trechos:
O Brasil vive hoje situação política, econômica e mundial completamente diferente do momento histórico em que os fatos ocorreram. (...) Passaram quase 30 anos do fim do governo chamado militar e muitas pessoas que viveram aquele período já faleceram; testemunhas, documentos e provas praticamente perderam-se no tempo, é improvável chegar-se realmente à verdade dos fatos. Assim sendo, a criação de uma Comissão da Verdade não faz mais sentido, considerando que o Brasil superou muito bem essa etapa da sua história quando comparado a outros países do continente, que até hoje vivem conseqüências negativas de períodos históricos similares".

O argumento da reconstrução da História parece tão somente pretender abrir ferida na amálgama nacional, o que não trará benefício, ou, pelo contrário, poderá provocar tensões e sérias desavenças ao trazer fatos superados à nova discussão".
Os militares admitem que as famílias dos desaparecidos políticos têm o direito de buscarem seus restos mortais, mas parecem querer o impossível, ou seja, que a evocação desses dramas chocantes não provoque a justa indignação dos homens de bem e alimente anseios por justiça:
O que não cabe é valer-se de causa nobre para promover retaliações políticas e manter acesa questão superada".
PANOS QUENTES - Surpreendido com a divulgação ampla desse panfletinho produzido para mobilizar contingentes reacionários e intensificar pressões de bastidores, o representante da caserna no Ministério, Nelson Jobim, fez com que sua Assessoria de Comunicação Social emitisse nota de esclarecimento, bem na linha  panos quentes. Eis o mais significativo:
1 - O texto a que se refere a reportagem de O Globo não foi encaminhado ao Ministério da Defesa no mês passado, como menciona a reportagem. Os trechos constantes da matéria são, na verdade, retirados de informação enviada pelo Exército à Assessoria Parlamentar do Ministério da Defesa no mês de setembro de 2010" [Curioso documento este, que, segundo O Globo, é datado de fevereiro de 2011, mas supostamente teria sido escrito cinco meses antes... Enfim, nada muda, exceto que os militares teriam contestado a autoridade do presidente da República anterior e não da atual];
5 - Há um entendimento perfeito entre os ministros da Defesa, da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos no encaminhamento da matéria, com a qual as Forças Armadas estão em absoluta consonância" [Acredite quem quiser];

6 - A busca da memória é um compromisso assumido de forma definitiva por todos os integrantes do Ministério da Defesa e das Forças Armadas" [Assim como as raposas são as melhores guardiãs de galinheiros].
A presidente Dilma Rousseff, que está longe de ser ingênua, não engoliu tais arremedos de explicações e, nesta 6ª feira (11/03) quis saber de Jobim quais as circunstâncias em que o documento foi elaborado e as providências [nenhuma, evidentemente] tomadas pelo ministro da Defesa.

Além de insistir no blablablá evasivo da nota, Jobim garantiu a Dilma que a situação interna estava superada.[Sabe-se lá o que mais foi dito e acertado, pois as versões que nos chegam de reuniões deste tipo são sempre expurgadas e maquiladas...]

De qualquer forma, o episódio evidencia que a insubmissão militar continua existindo e que os altos comandantes das Forças Armadas, depois de terem pressionado fortemente os Poderes da República no sentido de que os responsáveis pelas atrocidades dos anos de chumbo continuassem impunes, agora exigem ainda mais: que os crimes sejam esquecidos!

OVO DA SERPENTE - Então, só me resta lembrar uma exortação que enderecei a Lula em circunstâncias semelhantes. Aplica-se perfeitamente à Dilma, pois continua sendo a postura mais indicada para lidar com os remanescentes e as viúvas da ditadura, almas penadas que têm nos quartéis o seu  umbral:
 ...não repita o trágico erro de João Goulart!
Jango assumiu o poder em função da resistência do povo e dos escalões inferiores das Forças Armadas, que abortaram o golpe de Estado em curso. Nem sequer precisaria ter aceitado o casuísmo parlamentarista, pois os conspiradores já estavam derrotados.

E, mesmo quando o povo lhe restituiu a Presidência plena, não tomou nenhuma atitude contra o núcleo golpista. Pelo contrário, omitiu-se quando os comandantes fascistas expurgavam as Forças Armadas, punindo e isolando os bravos sargentos e cabos que haviam frustrado a quartelada de 1961.

Deu no que deu: o golpe tentado em 1961 foi repetido, dessa vez com êxito, em 1964.

Então, (...) esmague o ovo da serpente enquanto é tempo! Os totalitários não são hoje maioria nas Forças Armadas, nem de longe. Pague para ver, que as tropas deixarão a alta oficialidade falando sozinha.

Como comandante supremo das Forças Armadas, faça o que precisa ser feito...

O quadro político está sempre sujeito a mudanças: adiante, as medidas saneadoras poderão custar muito sofrimento".

SOBRE O MESMO ASSUNTO, LEIA TAMBÉM:
"O GLOBO" ENTREGA O REPRESENTANTE DA DIREITA TOTALITÁRIA NO PODER

11.3.11

DENÚNCIA GRAVÍSSIMA DE LUNGARZO CONTRA O PRESIDENTE DO STF

A intenção de Peluso seria maximizar o
efeito negativo para a imagem de Battisti


"Quantas outras falácias, invencionices e versões fictícias haverá naquele processo da extradição 1085?! Em qualquer país onde o Judiciário tenha um mínimo de decoro, um voto como esse teria sido imediatamente anulado."

O desabafo é de Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional, referindo-se ao relatório que o ministro Cezar Peluso  preparou para o julgamento do pedido de extradição do escritor Cesare Battisti no Supremo Tribunal Federal, em 2009.

Segundo Lungarzo narra no artigo "Inverdade" evidente do relator do Caso Battisti (acessar aqui), ele e a escritora/arqueóloga Fred Vargas, cada qual por seu lado, constataram que Peluso atribuiu o assassinato do açougueiro Lino Sabbadin a dois autores diferentes, em trechos distintos do relatório.

O que se seguiu foi chocante:
"Fred Vargas mostrou a inconsistência a Peluso, que, obviamente, não respondeu e até, junto com outras indignadas 'excelências', ACUSOU A ARQUEÓLOGA DE INTERFERIR NA JUSTIÇA BRASILEIRA!!!"
Eis como Lungarzo avalia a atuação de Peluso:
"Ele atribuía a Battisti ter matado fisicamente a Sabbadin, ou seja, ter feito os disparos mortais com sua própria mão, e no mesmo voto, páginas depois, atribuía o mesmo fato a outra pessoa, da qual Battisti teria sido, segundo o tribunal de Milão, apenas escolta.
Lungarzo vê "intenção deliberada"
de atribuir o crime a Battisti
"Não se trata de uma falsidade factual, como dizer que Battisti estava em Roma, quando, em verdade estava em Milão...

Trata-se de uma oposição lógica, que só pode ser produto de uma intenção deliberada de culpar Cesare pela morte do açougueiro".
 Indagando-se sobre "por que Peluso inventou esta estória, que nenhuma fonte Italiana menciona", Lungarzo só vê uma explicação: 
"Obviamente, o objetivo é produzir um maior impacto adverso sobre Battisti. QUALQUER PESSOA ACHA MAIS IMPRESSIONANTE QUE ALGUÉM TENHA MATADO UMA VÍTIMA COM SUAS PRÓPRIAS MÃOS, QUE SABER QUE FOI SÓ CÚMPLICE".
Na sua avaliação,  "nem os próprios juízes italianos foram capazes de acusar Battisti numa forma tão escandalosamente falsa".

10.3.11

AFINIDADE COM GADDAFI REVELA O LADO 'MONSTRO' DOS 'MÉDICOS' LIBERAIS

Está devastadora a coluna desta 5ª feira do Clóvis Rossi, Liberais só com a vida alheia, sobre a saia justa em que ficaram dois dos papas do pensamento econômico burguês, em função de sua promiscuidade com a ditadura Gaddafi.

Sobre Anthony Giddens, que formulou e difundiu o conceito de "terceira via" (opção ao viés estatizante da velha social-democracia e ao liberalismo econômico impiedoso), Rossi constata:
"Giddens (...) queria menos intervenção do Estado na economia, o que se tornou, de resto, o pensamento hegemônico no planeta. Mas tolerava, ao dialogar com Gaddafi, a pior forma de intervenção do Estado, que é a de decidir quem vive e quem morre, quem é torturado e quem é banido".
O colunista não foi menos contundente com Howard Davies, bom parceiro de Gaddafi quando dirigia a London School of Economics:
"Davies é um caso ainda mais extremado de ojeriza à intervenção estatal...

Pelos negócios feitos com a Líbia de Gaddafi, já como diretor da LSE, vê-se que Davies não parece, a exemplo de Giddens, abominar também o poder do Estado (no caso, o líbio) de matar, prender, torturar, exilar, etc".
A conclusão é antológica:
"... no Brasil, uma penca de liberais tem o mesmo tipo de comportamento: ficam horrorizados se o Estado avança na economia, mas estavam ao lado da ditadura quando ela avançou sobre a vida dos brasileiros".
Resta saber o que farão os patrões do veterano jornalista, pois a carapuça serve perfeitamente para os Frias, conforme a própria Folha de S. Paulo admitiu no seu caderno comemorativo do 90º aniversário ("A Folha apoiou o golpe militar de 1964, como praticamente toda a grande imprensa brasileira", etc.)..

Provavelmente, farão de conta que não é com eles...

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SOBRE O MESMO ASSUNTO, LEIA TAMBÉM: 
JORNALISTAS DA BBC SÃO AS NOVAS VÍTIMAS DA BESTIAL DITADURA LÍBIA
UMA DITADURA É UMA DITADURA É UMA DITADURA

2.3.11

EXPULSÃO DE BATTISTI É UMA HIPÓTESE INACEITÁVEL

Uma tocaia para Battisti? é o título do novo artigo do companheiro Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional.

Ele também ficou apreensivo com as declarações do advogado geral da União, Luís Inácio Adams, no sentido de que, uma vez confirmada pelo STF a decisão brasileira de não extraditar Cesare Battisti, o escritor, como estrangeiro em situação irregular, possa vir a ser obrigado a deixar o País.

Após lembrar episódios históricos em que perseguidos políticos foram atraídos para emboscadas em outras nações e então aprisionados ou liquidados, Lungarzo avalia:
"...não afirmo, mas também não descarto que a eventual expulsão de Battisti do Brasil, mesmo que esteja fantasiada por um acordo com outro país que não possua convênio de extradição com a Itália, pode ser uma cilada.

Negar isto a priori é ter uma visão idealizada da política, algo que foi muitas vezes ironizado pelos presidentes brasileiros, que sempre entenderam que direitos humanos e negócios costumam ser incompatíveis".
Não nego isto a priori mas, dentro da linha editorial que tracei para mim, prefiro ficar sempre no mais tangível:
  • Adams pode ter emitido uma opinião pessoal ou, como parte de uma articulação de bastidores, haver lançado um balão de ensaio, visando aferir as reações a este possível desfecho (cujo pretexto seria a maximização da importância de um detalhe ínfimo e irrelevante em se tratando de perseguidos políticos, qual seja o de Battisti não estar com a documentação em ordem ao ingressar no País);
  • então, se os militantes humanitários não nos posicionarmos com a máxima firmeza contra tal hipótese, crescerá a possibilidade de ser, imoralmente, adotada uma linha de ação muito atrativa para os que gostam de ficar em cima do muro (Battisti não seria extraditado nem Lula desautorizado, pontos fundamentais para a esquerda, mas também não permaneceria no Brasil, foco principal da grita direitista);
  • mesmo Battisti desembarcando incólume num país que garantisse sua segurança, ainda assim seria fincada uma cunha na nobre tradição brasileira de acolherem-se indiscriminadamente os perseguidos políticos de outras nações, ficando um saldo dos mais negativos para o futuro.
Então, minhas conclusões são as mesmíssimas do Lungarzo:
"Qualquer que seja o motivo, a saída do país de alguém insanamente procurado por uma sociedade militarizada e policialesca no apogeu da ressurreição do fascismo, é muito perigosa e deve ter, como mínimo, garantias internacionais incontestáveis...

As organizações e movimentos em defesa de Battisti, que hoje são muitas, devem se unir para colocar esta possibilidade junto ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas".

ARTIGO DO LUNGARZO: "UMA TOCAIA PARA BATTISTI?"

UMA TOCAIA PARA BATTISTI?

Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional

Na década de 90, Massimo D’Alema, premiê da Itália, armou uma tocaia para o líder curdo Abdullah Öcalan, quando este estava sendo perseguido pela Turquia. Em combinação com Ozel Kuvvetler Komutanlik (Comando de Forças Especiais da Turquia), a Mossad israelense, e a CIA, atraiu a Öcalan, que estava exilado na Rússia, com a promessa de asilo político.

Chegado a Itália, a Turquia entrou com um pedido de extradição, em 1998, durante cujo processo foi defendido pela brilhante advogada alemã Britta Böhler. Como o tribunal italiano não aprovou a extradição, d’Alema manteve o líder curdo no país, mas protelou indefinidamente sua promessa de asilo. 

Apesar de sua arbitrariedade jurídica, a península possui certos limites que são desconhecidos no Brasil e, portanto, o premier obedeceu aparentemente a proibição do tribunal. No entanto, antes a indefinição de sua situação, Öcalam saiu da Itália, sendo seguido pelos três serviços de inteligência, que o capturaram na Kenya e o entregaram aos turcos.

A forma em que o governo brasileiro e sua base parlamentar aguentou estoicamente as provocações e injúrias italianas (salvo em alguns poucos casos, dos quais vou mencionar apenas Genro, Suplicy e Eduardo Cardoso, advertindo porém que há alguns outros), faz pensar numa possível afinidade de conduta. 

O artigo publicado hoje por Celso Lungaretti, escrito com notável clareza e neutralidade, mostra que a Advogacia Geral da União está induzindo de maneira “suave” a ideia de que Cesare Battisti deve ser liberado e colocado fora do País, usando como pretexto a falta de documentos, o que, paradoxalmente, não foi obstáculo para muitos refugiados (entre os quais me incluo), que estávamos sem documentos durante a ditadura militar. 

Quero deixar claro, após ter citado Lungaretti, que minha denúncia nesta matéria, não compromete a opinião do colega e amigo. Pelo que eu entendo, Celso considera injusto e perigoso a expulsão do país de um homem que está sendo perseguido por uma matilha de chacais raivosos. Entretanto, e embora sem nenhum prova factual, eu me permito ir mais longe. 

Todos sabemos que, salvo algumas figuras excecionais dentro do governo e sua base de apoio, os políticos, mesmo aqueles considerados confusamente “de esquerda”, queriam livrar-se do “problema Battisti” e não executar um ato humanitário ou de justiça.

Portanto, não afirmo, mas também não descarto que a eventual expulsão de Battisti do Brasil, mesmo que esteja fantasiada por um acordo com outro país que não possua convênio de extradição com a Itália, pode ser uma cilada.

Negar isto a priori é ter uma visão idealizada da política, algo que foi muitas vezes ironizado pelos presidentes brasileiros, que sempre entenderam que direitos humanos e negócios costumam ser incompatíveis. 

Quero salientar que a Itália é um dos mestres mundiais neste tipo de cilada, como o mostra o conhecido exemplo da DSSA. Aliás, foi uma fonte de aprendizado para a Argentina, cuja última ditadura chegou a sequestrar refugiados de países tão diferentes como a França, a Espanha, a Venezuela e o Peru. O italiano Stefano delle Chiaie, um dos terroristas mais completos e produtivos do planeta, foi assessor da ditadura de Videla entre 1976 e 1978.

Brasil e os Direitos Humanos - Apesar de que a ditadura brasileira não foi a mais truculenta do continente, no entanto, o desprezo pelos direitos humanos e sua sistemática violação no Brasil, tanto durante os governos autoritários como durante os democráticos, é um fato que alarma permanentemente a comunidade humanitária internacional. 

De todos os países da área, o Brasil é o único, junto com a Honduras, que não deu nenhum passo na direção de julgar, condenar ou, pelo menos, registrar memória dos atos de genocídio e tortura cometidos durante a ditadura. Mais ainda: o país é o recordista absoluto na proteção explícita aos criminosos de estado daquele período. 

É verdade que, na Argentina, o corrupto governo de Raul Alfonsín, respaldado depois pelo sistema neofascista e delinquencial de Carlos Menem, fez aprovar a um parlamento mercenário duas leis que davam imunidade aos torturadores (1986 e 1987), mas a comunidade de direitos humanos lutou durante 18 anos para reverter a situação, sendo que atualmente quase um 5% dos criminosos militares mais graduados estão presos. 

No Brasil, o acórdão do STF protegendo os torturadores possui um caráter que para o sistema judicial brasileiro parece ser definitivo, pois o tribunal desafia a condenação da CIDH da OEA e a crítica generalizada da comunidade de direitos humanos, tanto nacional como internacional. 

Além disso, talvez não seja necessário lembrar as numerosas chacinas, numa proporção desconhecida em outros países ocidentais, e a provocativa proteção dada a seus autores (Carajás, Carandiru, Dorothy Stang, os fiscais do trabalho escravo, Vigário Geral, Candelária, e assim até o infinito). A história continua com o massacre permanente nos morros do Rio, agora enriquecido pela colaboração do exército. 

Apesar das numerosas organizações de DH que operam no país, e da coragem de grupos de diverso tipo que integram mais de 400 ONGs, o aparato político-jurídico consegue facilmente impedir qualquer avanço de política de DH, como aconteceu como o excelente PNDH 3, e a gestão também excelente de Paulo Vannuchi. Além disso, não parece existir apenas um sentimento de banalidade sobre o valor da vida e o sofrimento humano, como também certa vaidade em relação com ela. 

O ex-presidente Lula ironizou numerosas vezes sobre os DH, acusou de criminosos os dissidentes políticos cubanos, se mostrou indeciso e até tolerante com os aberrantes crimes dos fanáticos iranianos e dilatou ao máximo a libertação de Battisti, num gesto que pode ter sido produto da cautela ou da preocupação, mas agora parece coincidir com a intenção de expulsar o escritor italiano do país, insinuada pela AGU. 

O Brasil é um dos poucos países ocidentais, salvo os EEUU, onde fazem grande sucesso filmes que exaltam a tortura, cujos elaboradores mereceram os parabéns das autoridades. O caráter pacífico e cordial do povo brasileiro não deve fazer esquecer que os que realmente têm voz são os herdeiros do passado escravocrata, sejam propriamente os grandes barões, sejam os imigrantes com forte identidade europeizante e fascista, aos quais se deveu a fundação do Integralismo no país.

O fato não é surpreendente. Como disse num artigo anterior, Brasil estava em 2009 estava além do posto 120º em número de asilados por cápita. A celeridade mostrada na proteção a ditadores, genocidas e ex membros das SA, não deve considerar-se sintoma de uma vocação protetora. 

Conclusões - Como todos sabemos, podem existir provas sobre fatos passados, mas não existem provas sobre fatos futuros. Portanto, não pretendo provar que há uma conspiração contra Battisti. Apenas penso que é uma alternativa com alta probabilidade.

Se Battisti for deslocado, por exemplo, a Marrocos, país que não tem tratado de extradição com a Itália e, durante a longa viagem fosse sequestrado por um comando desconhecido, o Brasil poderá aduzir que não podia suspeitar desse fato. Não se precisa nenhum conhecimento político nem militar para chegar a esta conclusão. Os filmes de espionagem não são pura fantasia, e muitos deles estão tomados da própria experiência de agentes secretos experientes. 

Não descarto uma razão mais singela: que o governo queira se livrar da presença do refugiado, como demonstraram todas as forças mais conservadoras do país, e ficou em evidência durante o tortuoso processo de seu julgamento. Nenhum governo aceitaria uma invasão de seus poderes pelo STF tão mansamente, se tivesse empenho em cumprir os princípios básicos do direito humanitário. 

Qualquer que seja o motivo, a saída do país de alguém insanamente procurado por uma sociedade militarizada e policialesca no apogeu da ressurreição do fascismo, é muito perigosa, e deve ter, como mínimo, garantias internacionais incontestáveis. Após o sequestro de Öcalam, a comunidade curda agitou toda Europa com seus protestos, mas já era tarde. Pelo menos, o líder curdo está vivo e até pode ser indultado. Lembremos a história da Europa para perceber que o fascismo e o stalinismo nunca tiveram essa tendência. 

As organizações e movimentos em defesa de Battisti, que hoje são muitas, devem se unir para colocar esta possibilidade junto ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
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