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19.7.10

UM ÍNDIO QUE NÃO SERVE PARA CACIQUE

Quando o deputado federal Índio da Costa (DEM/RJ) foi anunciado como vice de José Serra, andou se falando que o motivo seria a notoriedade supostamente adquirida como relator da Lei da Ficha Limpa.

Para mim continuava um desconhecido, e bem pouco ilustre. Tive de buscar informações sobre ele nos Googles e Yahoos da vida. O mais significativo foramsuas contribuições ao folclore político:
  • discursou na Câmara Federal pedindo a proibição de coxinhas e pirulitos em cantinas escolares;
  • apresentou na Câmara Municipal carioca projeto de lei para que fossem multados os cidadãos que dessem esmola a pedintes;
  • tentou proibir o comércio ambulante nas ruas do Rio, o que eliminaria da paisagem carioca os tradicionais vendedores de mate e biscoito de polvilho.
Logo conclui que não passava de um novo Enéas Carneiro.

Aliás, a tal Lei da Ficha Limpa é uma besteirinha digna do barbudo que berrava "meu nome é Enéas!": apenas vai tumultuar o processo eleitoral e desperdiçar espaços do noticiário com escaramuças inócuas e inúteis. [Para quem quiser saber mais, recomendo meu artigo O povo como objeto, não sujeito, das mudanças; e o de Ana Helena Tavares, Quando a limpeza não cheira bem.]

Também cheguei a escrever que o tal Índio da Costa não passava de um Fernando Collor em miniatura.

No fundo, isso me ocorreu mais por causa do visual jovem e dinâmico -- na minha avaliação, o fator determinante de sua inclusão na chapa de Serra.

Por quê? Porque o ex-presidente da UNE, pessoalmente, dá a impressão de que hoje só serve para presidir asilo.

Fiquei chocado com sua entrada na sabatina da Folha de S. Paulo: caminhando meio encurvado, sisudo, parecia bem mais acabado e, até mesmo, fisicamente menor do que imagina quem o vê na TV.

O público, cuja grande maioria era de seus admiradores, demorou alguns constrangedores segundos para decidir se era ele mesmo, Serra, quem tinha adentrado o palco. Aí começaram a soar, timidamente, os aplausos.

Então, para contrabalançar a aparência nada exuberante nem vigorosa do Serra, colocaram ao lado dele um sujeito com jeitão de surfista Zona Sul do Rio. Fica parecendo um papai bem gasto com um filho garotão.

Será que vai funcionar? Na sociedade do espetáculo e da falsidade, tudo é possível.

Só que os caras pálidas esqueceram de contar ao Índio o que dele se esperava: exibir a estampa que o Grande Espírito lhe deu e nada dizer além de obviedades e platitudes, porque tirocínio político Tupã não lhe concedeu.

Numa entrevista ao portal Mobiliza PSDB, entretanto, ele quis mostrar-se um vice de verdade -- e, verdadeiramente, fez pensarmos num aspirante a Mussolini ou Salazar dos trópicos.

É mesmo um Collor em miniatura -- mais direitista ainda do que o original.

Acusou o PT de ligação com o narcotráfico, com a guerrilha das Farc e com o que "há de pior", expondo-se a uma óbvia interpelação judicial que o obrigaria a provar as afirmações ou reconhecer tê-las feito levianamente.

E, como se tivesse uma bola de cristal que não apresentou ao distinto público, antecipou que Dilma Rousseff, uma vez eleita, vai apoiar-se em remanescentes do escândalo do mensalão (leia-se Zé Dirceu). Eis as frases:
"Quem nos garante que no dia seguinte à eleição ela não vai fazer o que no Brasil é comum entre criatura e criador? Dá um chute no Lula e vai governar sozinha, com as garras do PT por trás dela."

"Em janeiro, se a Dilma é [sic] eleita, o Lula volta para casa. Mas o PT fica, com todos aqueles mensaleiros. O Lula tem poder sobre eles, mas eles têm muito poder sobre a Dilma."
Finalmente, como moleque exibido a vangloriar-se de proezas imaginárias, disse que, durante visita a Cuba, fazia questão de mostrar a todos uma revista provocativa (qual, a Veja?):
"Ia para tudo que era canto com ela debaixo do braço. Até queria ser preso, para ver como é que era lá em Cuba essa história que tanto falam. Mas é um horror aquilo. Vocês não podem imaginar. Coitado do cubano!"
As bobagens prosseguiram no Twiter, com Índio da Costa assim reagindo à observação de Dilma de que ele seria "um vice caído do céu":
"Para uma atéia, deve ser duro ter um adversário que cai do céu".
Também a acusou de "dissimular sobre religião". E o melhor veio no fim:
"Ela nem consegue olhar nos olhos do eleitor. É uma esfínge [sic] do pau oco."
Para devorá-lo, a esfinge não precisaria nem propor um enigma difícil. Pedir-lhe que decifrasse a expressão "santo do pau oco" já seria suficiente...

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