Comecei a estudar no Cursinho do Grêmio em 1968, mas a participação nos movimentos contestatórios acabou prevalecendo sobre os projetos de conquistar um lugar ao sol na sociedade capitalista.
Decidi que queria mesmo era meu lugar ao sol num Brasil solidário e justo, que o capitalismo jamais propiciaria.
Fiquei, entretanto, tempo suficiente naquela instituição -- cujos proprietários e professores eram estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP -- para constatar que sua prioridade era formar cidadãos conscientes e dotados de espírito crítico, capazes de vencer os desafios da vida e não apenas de transpor a barreira do vestibular.
Finda minha sofrida passagem pela luta armada, quando juntava os cacos para seguir vivendo após meus sonhos maiores terem sido postergados por décadas, sem que sequer se vislumbrasse a luz no fim do túnel, fui buscar no Equipe Vestibulares o necessário para ingressar numa faculdade de Jornalismo.
Cisão do Cursinho do Grêmio, também o Equipe incutia nos alunos o interesse em irem muito além do estritamente necessário para o vestibular. Não era só o como que importava, havia uma infinidade de porquês sendo colocados, discutidos, aprofundados.
Contra essa visão do ensino como instrumental para a compreensão do mundo e participação crítica na sociedade, vicejou uma outra, utilitária, mesquinha, castradora: a linha de montagem de robozinhos chamada Curso Objetivo.
Usando e abusando de recursos da nascente informática, o Objetivo sistematizou o levantamento do que já havia caído em vestibulares e a projeção do que provavelmente cairia no seguinte, martelando na cabeça dos alunos esses retalhos de conhecimento por meio de shows-aulas, com os recursos audiovisuais e as performances canastrônicas dos professores servindos para tornar menos intragável a chatice. Decoreba modernizada, enfim.
Esta didática que desvirtuava a Educação foi alavancada pela redução do vestibular a um mero exercício de fincar cruzinhas em questões de múltipla escolha.
A ditadura sabia a quem lhe convinha facilitar o ingresso no curso superior: as chances dos c.d.f., dos esforçados mas não brilhantes, eram maximizadas por esses exames grotescos, em detrimento da capacidade de raciocínio e da criatividade -- as quais, não por acaso, eram características marcantes dos insatisfeitos com o regime.
E, como o Objetivo tinha bons resultados quantitativos para trombetear, sua metodologia Frankenstein ocupou espaços cada vez maiores no mercado, aplicada por si e pelos outros cursinhos que a copiaram.
Depois de alguns anos, entretanto, o ensino superior começou a despertar desse pesadelo, reintroduzindo questões dissertativas no vestibular, para preencher suas salas de aula com algo mais do que laranjas mecânicas.
O tempo passou, o país se redemocratizou, vivemos uma nova realidade, mas o leopardo não perde as pintas, nem o Objetivo deixa de corporificar a pior mentalidade capitalista aplicada ao ensino.
Assim é que, em anúncios de página inteira veiculados neste domingo (25) nos jornalões, crava: Objetivo cria escola só para bons alunos.
E, em letras garrafais, reproduz citações de uma daquelas matérias jornalísticas louvaminhas que são contratadas e detalhadas nos Departamentos Comerciais da grande imprensa, chegando às redações como tarefas a serem cumprida seguindo as especificações da bula.
É fácil identificá-las, pelo inconfundível estilo levanta-a-bola-do-enfocado, inclusive fornecendo dados que direcionem a clientela ao paraíso retratado:
Lendo esse repulsivo informe publicitário, veio-me à lembrança a apresentação de Cruz de Ferro (1977), monumento cinematográfico de Sam Peckinpah, conjugando ótimas imagens de arquivo do III Reich com uma musiquinha nazista cantada por crianças...
Decidi que queria mesmo era meu lugar ao sol num Brasil solidário e justo, que o capitalismo jamais propiciaria.
Fiquei, entretanto, tempo suficiente naquela instituição -- cujos proprietários e professores eram estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP -- para constatar que sua prioridade era formar cidadãos conscientes e dotados de espírito crítico, capazes de vencer os desafios da vida e não apenas de transpor a barreira do vestibular.
Finda minha sofrida passagem pela luta armada, quando juntava os cacos para seguir vivendo após meus sonhos maiores terem sido postergados por décadas, sem que sequer se vislumbrasse a luz no fim do túnel, fui buscar no Equipe Vestibulares o necessário para ingressar numa faculdade de Jornalismo.
Cisão do Cursinho do Grêmio, também o Equipe incutia nos alunos o interesse em irem muito além do estritamente necessário para o vestibular. Não era só o como que importava, havia uma infinidade de porquês sendo colocados, discutidos, aprofundados.
Contra essa visão do ensino como instrumental para a compreensão do mundo e participação crítica na sociedade, vicejou uma outra, utilitária, mesquinha, castradora: a linha de montagem de robozinhos chamada Curso Objetivo.
Usando e abusando de recursos da nascente informática, o Objetivo sistematizou o levantamento do que já havia caído em vestibulares e a projeção do que provavelmente cairia no seguinte, martelando na cabeça dos alunos esses retalhos de conhecimento por meio de shows-aulas, com os recursos audiovisuais e as performances canastrônicas dos professores servindos para tornar menos intragável a chatice. Decoreba modernizada, enfim.
Esta didática que desvirtuava a Educação foi alavancada pela redução do vestibular a um mero exercício de fincar cruzinhas em questões de múltipla escolha.
A ditadura sabia a quem lhe convinha facilitar o ingresso no curso superior: as chances dos c.d.f., dos esforçados mas não brilhantes, eram maximizadas por esses exames grotescos, em detrimento da capacidade de raciocínio e da criatividade -- as quais, não por acaso, eram características marcantes dos insatisfeitos com o regime.
E, como o Objetivo tinha bons resultados quantitativos para trombetear, sua metodologia Frankenstein ocupou espaços cada vez maiores no mercado, aplicada por si e pelos outros cursinhos que a copiaram.
Depois de alguns anos, entretanto, o ensino superior começou a despertar desse pesadelo, reintroduzindo questões dissertativas no vestibular, para preencher suas salas de aula com algo mais do que laranjas mecânicas.
O tempo passou, o país se redemocratizou, vivemos uma nova realidade, mas o leopardo não perde as pintas, nem o Objetivo deixa de corporificar a pior mentalidade capitalista aplicada ao ensino.
Assim é que, em anúncios de página inteira veiculados neste domingo (25) nos jornalões, crava: Objetivo cria escola só para bons alunos.
E, em letras garrafais, reproduz citações de uma daquelas matérias jornalísticas louvaminhas que são contratadas e detalhadas nos Departamentos Comerciais da grande imprensa, chegando às redações como tarefas a serem cumprida seguindo as especificações da bula.
É fácil identificá-las, pelo inconfundível estilo levanta-a-bola-do-enfocado, inclusive fornecendo dados que direcionem a clientela ao paraíso retratado:
"O Objetivo criou uma escola apenas para bons alunos. O Colégio Integrado Objetivo tem o mesmo endereço da tradicional unidade Paulista (avenida Paulista, 900) (...)O ridículo chega a ponto de o texto citado apresentar como verdades irrefutáveis as alegações do Objetivo sobre os motivos de tão prodigioso colégio, que se propõe a isolar os geniozinhos para melhor moldá-los como raça superior, não figurar bem no Enem.
"A mensalidade (cerca de R$ 1.600) e a carga horária não mudam. A diferença é que no Colégio Integrado, criado em 2008, só entra aluno com nota alta. Além disso, ele oferece aulas extras para os alunos no período da tarde e os professores são 'especiais'."
Lendo esse repulsivo informe publicitário, veio-me à lembrança a apresentação de Cruz de Ferro (1977), monumento cinematográfico de Sam Peckinpah, conjugando ótimas imagens de arquivo do III Reich com uma musiquinha nazista cantada por crianças...
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