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27.2.10

VIÚVAS DA DITADURA CONTAM UM CONTO E ACRESCENTAM MIL PONTOS


Há vários anos o Ternuma e demais sites fascistas mantém no ar um artigo propagandístico e falacioso intitulado O Fracassado Sequestro do Cônsul dos EUA, transcrição provavelmente literal de um daqueles famigerados Inquéritos Policiais Militares da ditadura de 1964/85, que hoje são considerados mero entulho autoritário: por estarem contaminados pela prática generalizada da tortura, não têm valor nem em termos legais, nem como documentação histórica.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos e o Ministério Público Federal têm sido extremamente omissos ao não tomarem providências para evitar que a memória dos resistentes mortos e a dignidade dos vivos continuem sendo atingidas pelas calúnias, injúrias e difamações assacadas pelas viúvas da ditadura.

A internet tem esse poder de concretizar o sonho de Goebbels: martelar tanto uma mentira que ela acaba passando por verdade.

Assim, p. ex., um dos ícones da extrema-direita, Olavo de Carvalho, atacou-me em 2007 com uma catalinária ridícula, não só na argumentação, como na informação.

Incompetente até para colher dados nas buscas virtuais, ele supôs que eu fosse ex-prefeito de Jacupiranga (!) e proprietário da Geração Editorial (!!). Veiculou amplamente seu samba do olavo doido, que pipocou em toda a mídia fascista.

Minha réplica foi tão contundente que ele, assustado, deu continuidade à polêmica unicamente no Diário do Comércio (SP). Nem no seu próprio site postou mais.

Resultado: houve três artigos de cada lado e, como eu resumi no título do texto final, o OC entrou como leão e saiu como cão, inapelavelmente derrotado. Se alguém duvidar, pode ler todas as peças aqui.

Pois bem, até hoje os fascistinhas aprendizes escrevem que o OC detonou o ex-prefeito de Jacupiranga, ignorando totalmente a existência dos cinco outros artigos desse debate.

Noutro arremedo de ataque, um milico de pijamas me qualificou de "capanga do Lamarca". Quem conhece os fatos da minha militância sabe que nada estaria mais distante da realidade, mas o rótulo continua sendo utilizado pela maioria dos direitistas que tentam depreciar meu trabalho. E por aí vai.

A VERSÃO E O FATO

Voltando ao panfleto sobre o sequestro fracassado, um desses fascistinhas virtuais o colou há duas semanas, na íntegra, numa comunidade de esquerda do Orkut, a Ditadura Militar. Acabei participando da discussão, até para deixar registrada a enorme diferença que há entre o fato e a versão.

Eis a versão:
"Confiantes no sucesso do seqüestro, a UC solicitou ao CN que elaborasse, antecipadamente, um comunicado que seria entregue às autoridades logo após a ação. Juarez Guimarães de Brito (...) incumbiu o responsável pelo Setor de Inteligência, Celso Lungaretti (...), de redigir o 'Comunicado Número Um', documento que veio a se tornar um libelo irretorquível contra as sandices comunistas:

"'O Cônsul norte-americano em Porto Alegre (Curtis Cutter) foi seqüestrado às ... horas do dia ... de Março pelo Comando 'Carlos Marighella' da Vanguarda Popular Revolucionária. Esse indivíduo, ao ser interrogado, confessou suas ligações com a CIA, Agência Central de Inteligência, órgão de espionagem internacional dos Estados Unidos e revelou vários dados sobre a atuação da CIA no território nacional e sobre as relações dessa agência com os órgãos de repressão da ditadura militar. Ficamos sabendo, entre outras coisas, que a CIA trabalha em estreita ligação com o CENIMAR, fornecendo inclusive orientação a esse último órgão, sobre os métodos de tortura mais eficazes a serem aplicados nos prisioneiros. A CIA e o CENIMAR sofrem a concorrência do SNI, sendo que essa rivalidade é tão acentuada que em certa data um agente da CIA foi assassinado na Guanabara por elementos do SNI. Esse informe foi cuidadosamente abafado pela ditadura, mas o depoimento do Agente Cutter, nosso atual prisioneiro, permitiu que o trouxéssemos a público'."
Eis o fato, conforme o relatei no Orkut:
"Minha única participação nesse caso foi ter escrito, a pedido do Juarez Guimarães de Brito, o texto de um comunicado que a VPR deixaria no local do sequestro, explicando que precisava recorrer a esse expediente para libertar militantes que estavam sendo barbaramente torturados e corriam sério risco de ser assassinados nos cárceres da ditadura.

"Nunca soube quem era o alvo, nem o estado em que se daria a ação. Apenas me informaram que abortou, porque um dos comandantes operacionais não conseguira organizar corretamente a apropriação de um veículo que seria necessário.

"O Ladislau Dowbor e a Maria do Carmo Brito se queixaram de que mais valia ter comprado o veículo e realizado a ação..."
FOLHETINS MALUCOS

E completei:
"Este é um dos muitos casos em que os inquéritos militares distorceram totalmente a verdade. Quem é torturado tende a falar aquilo que os torturadores mostram estar querendo ouvir. Então, os IPMs da ditadura parecem ficção barata. Em ações realizadas por cinco companheiros, eles inculpam dez, e assim por diante.

"Outra falácia a meu respeito é que eu teria sido jurado de um tribunal revolucionário. Nunca participei de nenhum, nem soube que a VPR houvesse realizado algum durante meu tempo efetivo de militância (de abril/1969 a abril/1970, quando fui preso).

"Ou seja, em cima desses IPMs fantasiosos, os sites fascistas produzem verdadeiros folhetins malucos.

"Fica claro, ainda, que eles estão de posse de muitos arquivos da repressão que deveriam ter sido entregues ao Estado brasileiro."
Companheiros da comunidade Ditadura Militar chegaram a colocar em dúvida a própria existência do plano de sequestro, por só terem ouvido falar nele a partir de relatos do inimigo.

Discordei, mesmo porque não considero o plano, em si, algo de que devamos nos envergonhar, muito pelo contrário, nas circunstâncias de um regime de exceção como o que havia no Brasil em 1970:
"Tínhamos companheiros para libertar e eu jamais deixarei de defender que, para salvar a vida e preservar a integridade física de revolucionários, era/é aceitável sequestrarem-se diplomatas.

"Mas, o problema são as informações inconfiáveis dos inquéritos militares, (...) que serviam como instrumento de guerra psicológica para o regime.

"Caso do tal comunicado sobre o interrogatório do cônsul. Afirmo enfaticamente que, não só não foi redigido por mim, como tenho a absoluta certeza de que não foi redigido por companheiro nenhum.

"A VPR jamais emitia comunicados falseando a realidade. Não fazia parte da nossa cultura e de nossos valores. Acreditávamos em conquistar o respeito das massas exatamente falando a verdade, enquanto os inimigos mentiam."
E não seria mais simples negar a existência de factóides como esse, já que não passou de um sequestro-que-não-houve, igual ao do Delfim Netto pela VAR-Palmares?
"...a minha posição é de que a verdade, ainda mais depois de tanto tempo (quatro décadas!), deva ser inteiramente revelada. Sou a favor da absoluta transparência. Revolucionário não esconde o que faz, nem faz o que depois não pode assumir.

"Se o que fizemos era justificável (como neste caso), devemos assumir e justificar.

"Se erramos, devemos fazer autocrítica, ainda que tardia.

"Mas não ocultarmos episódios debaixo do tapete. Quem procede assim é a direita. Nós temos obrigação de sermos mais honestos e dignos do que eles".

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