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14.8.09

PCI COMETEU TRAIÇÃO EXTREMA AOS IDEAIS REVOLUCIONÁRIOS (resposta a Maierovitch)

Após resistir bravamente ao fascismo, PCI utilizou métodos fascistas contra os "ultras"


Prezado Paulo Henrique,

também cometo meus versos, então fico honrado ao ser tratado como "Ungaretti" pelo sr. Maierovitch.

Mas, não descendo do poeta Giuseppe, e sim de Baptista Lungaretti, colono italiano que sofreu uma retaliação mascarada de justiça por, defendendo o pai ancião das agressões de um fazendeiro e seus capangas, acabar matando o irmão do presidente Campos Sales.

E não ofendi ninguém ao registrar que o sr. Maierovitch havia deixado sem resposta a acusação que Battisti lhe fizera.

De resto, seria humanamente impossível eu verificar a veracidade do que o escritor italiano me contou. Segundo ele, acusações inconsistentes, com que o procurador Stoparo flertou mas acabou não colocando nos processos, estariam pipocando na coluna de Maierovitch.

Como jornalista, não posso ir além deste ponto: ele disse.

Como homem vivido e experiente em perceber o que vai no íntimo dos interlocutores, acrescento que foi absolutamente sincero ao afirmar isto. Olho no olho, nunca me enganei. Ou é verdade ou Battisti crê que o seja.

Para felicidade do sr. Maierovitch, ele poderá colocar tudo em pratos limpos aqui mesmo, quando Battisti for libertado. Tenho a certeza de que meu país não é qualquer república das bananas que aceite imposições arrogantes do 1º mundo.

Convivendo com injustiças desde muito cedo, permito-me duvidar de que, como o sr. Maierovitch aventou, Battisti conseguisse obter o reconhecimento de sua inocência por parte de quem o condenou à revelia e depois ignorou a evidência, atestada por uma das mais respeitadas peritas francesas, de que havia sido representado por advogado adverso (pois defendia um delator premiado cujos interesses, obviamente, conflitavam com os dele), mediante procuração falsificada, já que a assinatura antecedia de vários anos o texto acrescentado.

Quanto à decisão do Conare, o sr. Maierovitch omite a importantíssima revelação que o ministro Tarso Genro fez à Folha de S. Paulo (acessar aqui) e reiterou na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal sobre o Caso Battisti: foi ele, Tarso, quem recomendou ao secretário-executivo do Conare Luiz Paulo Barreto "que votasse contra o refúgio em caso de empate". A justificativa: "não quero que pensem que eu não tenho coragem política e decência moral para decidir um assunto conflituoso como esse".

Então, bastaria Genro ter feito recomendação oposta (ou nada ter recomendado, como seria o correto) para o refúgio ser deferido, tirando da Itália e dos defensores da posição italiana um de seus principais trunfos propagandísticos -- pois, na verdade, a função do Conare é meramente consultiva e nada impedia que Genro, como instância final, tivesse outro entendimento.

Quanto à advertência que o chefe do escritório de Brasília do Alto Comissariado para Refugiados da ONU teria recebido de seus superiores, gostaria que o sr. Maierovitch a apresentasse, para conhecermos exatamente o seu teor. Eu me baseei numa informação de domínio público, que poderia ser checada por qualquer interessado. O correto é que haja reciprocidade.

A denúncia que Bobbio fez das irregularidades cometidas pelos tribunais italianos durante os anos de chumbo fala por si. Prisões preventivas que poderiam durar mais de dez anos! Nem no Brasil de Médici o arbítrio foi tão longe.

Subsistem, também, as denúncias de torturas que foram consistentemente apresentadas a organismos internacionais na década de 1970 e motivaram gestões destes junto ao Estado italiano. Tal será, como eu antecipei, um dos pontos principais da defesa de Battisti quando o STF apreciar o caso.

O relato da operação jurídico-midiática que a Itália desenvolveu para arrancar da França uma mudança de postura em relação a perseguidos políticos é, decerto, o ponto alto do livro Minha Fuga Sem Fim (Martins, 2007), de Cesare Battisti. Mostra quão desigual é o enfrentamento entre Estado e meros cidadãos. E dá uma boa pista sobre o que ocorreu no Brasil no início deste ano.

Por último, acompanhando o jornalismo atentamente e/ou o exercendo há quatro décadas, nunca vi uma faina tão obsessiva num veículo da grande imprensa quanto a da CartaCapital para tentar forçar a extradição de Battisti. Matérias negativas, dezenas delas, inclusive em várias edições consecutivas. Sempre com a assinatura de Mino Carta e de Walter Maierovitch.

Compreendo que dirigentes e simpatizantes comunistas, como Giorgio Napolitano e Mino Carta, queiram a qualquer preço calar quem lhes atira na cara o papel infame que o PCI desempenhou durante o compromisso histórico, aliando-se à corrupta e mafiosa Democracia-Cristã contra os esquerdistas autênticos e inspirando-lhes reações desatinadas e inaceitáveis, é certo, mas compreensíveis diante da traição extrema aos ideais revolucionários que presenciaram, estarrecidos.

Pior ainda, os Giorgios e Minos não se conformam quando um escritor respeitado vem a público apontar este detalhe ignóbil: os excessos praticados na repressão aos ultras não provieram dos democratas-cristãos mas sim dos comunistas, que haviam adquirido experiência com guerrilhas na resistência ao fascismo e a utilizaram, paradoxalmente, para aprimorar o que faziam os fascistas.

Só não entendo os motivos que levam o sr. Maierovitch a secundar Mino Carta nessa cruzada rancorosa. E, pensando bem, não faço questão de entender.

Atenciosamente,

Celso Lungaretti
  • Obs. 1: esta mensagem respondeu à tréplica de Maierovitch
  • Obs. 2: o texto inicial da polêmica está aqui; e minha duas contestações estão, juntas, aqui

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