Celso Lungaretti (*)
A saída do Exército Brasileiro de onde nunca deveria ter entrado foi o único acontecimento auspicioso da comédia de erros que virou tragédia no morro carioca da Providência.
Tudo começou quando Marcelo Crivella, ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, apostou numa reciclagem dos barracos das favelas como trampolim para a Prefeitura do Rio de Janeiro – à qual pretende chegar com o apoio do vice-presidente José Alencar (seu colega de partido no PRB) e a benção do Governo Federal.
O caráter eleitoreiro desse empreendimento não escapou ao veterano analista político Zuenir Ventura, de O Globo, que o denunciou no ano passado. Com a desfaçatez habitual, Crivella retrucou: “Gostaria que o cronista me explicasse como se pode fazer uma obra de interesse público sem que tenha interesse político”.
Relembrando as farpas então trocadas, Ventura comenta: “Não sou político, nem engenheiro, como o ex-bispo, mas acho que a melhor maneira de ‘servir ao público’ não é, p. ex., pagar mais caro pelo que se faz supostamente em seu benefício. Só mesmo a credulidade do Exército e a prodigalidade do presidente Lula com nosso dinheiro para não suspeitar de um projeto em que o custo para reformar uma casa (R$ 22 mil) é mais da metade do preço de construí-la por inteiro (R$ 32 mil)”.
A revista Veja, que – é importante ressalvar – não tem mais a credibilidade de outrora, apontou outras impropriedades: “Desde 2004, Crivella usa o Cimento Social como promessa de suas campanhas. Foi a equipe do senador que fez o projeto e elaborou o cadastro dos beneficiados, embora a obra de 16 milhões de reais seja paga com dinheiro do Tesouro Nacional. Há denúncias de favorecimento a fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus. E também de que foram escolhidas as casas mais visíveis das movimentadas avenidas próximas da favela.
Pouco leal, José Alencar agora joga toda a responsabilidade nas costas do presidente Lula, como se constata na entrevista que deu a Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, em 23/06:
- Há dois anos, o Crivella levou essa idéia ao presidente Lula. Eu estava presente. O Lula gostou muito. Passou para o Ministério das Cidades, que deu os encaminhamentos.
Indagado sobre como o Exército foi incluído nesse pacote, ele lavou as mãos, emporcalhando as alheias:
- Nosso partido, o PRB, não tem esse poder de convencimento, de uma força militar fazer algo que não queira. Isso tudo passou pelo presidente Lula.
Qual era, afinal, o motivo da relutância do Exército em executar essa tarefa? Simplesmente o de que sua missão constitucional não é policiar cidades nem servir de guarda-costas para empreiteiras. Os comandantes tinham plena consciência do desgaste a que exporiam a corporação.
Como ressaltou o senador José Sarney, o Exército não honrou suas tradições ao aceitar uma incumbência descabida, contrariamente ao que fazia no passado, quando se recusava a caçar escravos fugidos por considerar que isso cabia a capitães-do-mato e não a militares.
O resultado foi terrível. Agindo com a truculência que lhe-é costumeira quando atua junto a comunidades carentes, não teve desta vez a sorte que preservou sua missão no Haiti de incidentes mais graves.
Uma patrulha militar suspeitou de três jovens que voltavam de uma balada, submetendo-os (arbitrariamente, é sempre bom repetir) a uma revista cujo resultado foi nulo: o volume sob a camisa de um deles não era arma nem drogas.
Houve bate-boca. O oficial que comandava a patrulha (tenente) os deteve por desacato. Seu superior (capitão) mandou soltá-los. O tenente, inconformado, desacatou a ordem. Foram barbaramente torturados e executados a sangue-frio (um deles recebeu 26 tiros).
A versão oficial é a de que o tenente os entregou a traficantes de outro morro. A versão alternativa é a de que algum deles sucumbiu às torturas no quartel (como acontecia freqüentemente na ditadura de 1964/85) e os militares decidiram assassinar os outros dois, montando uma farsa para atenuar suas responsabilidades.
Ambas deixam a imagem do Exército em frangalhos. Além dos detalhes mais gritantes, há os fatos de que um tenente ignorou olimpicamente a decisão de um capitão; um capitão não teve a mínima curiosidade em verificar se sua ordem havia sido cumprida; e o comandante Militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira Filho, diante de um acontecimento de tal gravidade, preferiu continuar em férias na Europa do que vir descascar o abacaxi.
O Governo Lula, como sempre faz quando dá um passo em falso, bateu cabeça e demorou vários dias para curvar-se à evidência dos fatos. Ao invés de acatar a liminar solicitada pela Defensoria Pública da União e concedida pelo Tribunal Regional Federal, entrou com um recurso que só teve o efeito de prolongar a exposição negativa dele próprio, de Crivella e do Exército.
Só quando a Justiça Eleitoral foi obrigada a intervir embargando as obras, pois se tornara de conhecimento público que a equipe de Crivella havia capitalizado o projeto Cimento Social em folhetos e material de campanha, o ministro da Defesa Nelson Jobim, finalmente, deu a ordem de retirada das tropas.
Resta saber se ele reconsiderou a posição que antes defendia, de criar-se um respaldo legal para a utilização de militares em missões policiais: "É claro que as Forças Armadas têm obrigações com a segurança. Mas para isso é preciso mudar a lei. Da última vez que o Exército participou, ainda estão aí centenas de processos. É preciso prevenir isso. Até julho teremos o assunto estudado e uma nova lei até o fim do ano".
Ou seja, ele considerava que o erro cometido em março/2006 não havia sido a operação atrabiliária e desastrada com que os militares tentaram recuperar armas roubadas de um quartel em São Cristóvão (RJ), mas o fato de que aqueles cidadãos cujos direitos foram atingidos (até com saques!) receberão agora as indenizações pertinentes.
Esperamos que esta última crise aclare as idéias de Jobim: as Forças Armadas são a pior opção para o combate a traficantes e outros criminosos que se ocultam no meio de populações carentes, pois transformar essas comunidades em campos de batalha acarreta sempre vítimas inocentes. Governos não podem dispor a bel-prazer da vida dos cidadãos.
Por último, é importante denunciarmos e repudiarmos a campanha que os totalitários explícitos e implícitos desenvolvem contra as práticas civilizadas, principalmente o respeito aos direitos humanos.
Não faltaram indivíduos ignóbeis (até na imprensa!) para satanizarem as vítimas da Providência, omitindo que, à luz do Direito, eram totalmente inocentes, pois jamais haviam sido condenadas pela Justiça. Passagens pela polícia, por suspeitas não confirmadas, nada significam em termos legais nem podem ser argüídas contra ninguém. Há um indisfarçável preconceito nos que trombeteiam contra favelados aquilo que jamais ousariam trazer à baila num caso envolvendo pessoas de classe média, p. ex.
O que houve foi somente isto: três cidadãos brasileiros, em pleno usufruto de seus direitos constitucionais, sofreram torturas atrozes e foram abatidos como cães, em função da sordidez dos poderosos e da omissão dos servis.
Serão mortos sem sepultura, como tantos e tantos outros em nosso sofrido País, até que consigamos construir aqui uma democracia de verdade. A de hoje é um escárnio para os que, arriscando a vida, a integridade física e a sanidade mental, conseguiram que o estado de Direito fosse restabelecido em nosso país.
* Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista, escritor e ex-preso político. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
25.6.08
18.6.08
FORA, EXÉRCITO!
Celso Lungaretti (*)
O que há de tão inusitado no fato de que militares, direta ou indiretamente, causaram a morte de três favelados que não haviam cometido crime nenhum, exceto o de não lamberem suas botas?
Durante a ditadura de 1964/85, assassinatos muito mais escabrosos foram por eles cometidos às dezenas, evidenciando que, quando desafiados, é mesmo com tal truculência e bestialidade que alguns de nossos militares reagem.
Também não será novidade nenhuma a existência de ligações perigosas entre integrantes das Forças Armadas e a criminalidade – isto se foram mesmo os traficantes que torturaram e executaram aqueles pobres coitados.
Não deve ser descartada a hipótese de que se trate apenas de uma manobra diversionista, visando repartir com civis uma culpa exclusiva dos fardados -- mesmo porque o relato da mãe de um deles, que garante ter visto o filho caído e ensanguentado no quartel, traz logo à lembrança o acobertamento das circunstâncias da morte de Vladimir Herzog e tantos outros durante os anos de chumbo.
Enfim, prevalecendo a versão oficial, vale recordar o emblemático episódio da equipe de torturadores da PE da Vila Militar (RJ), que, na década de 1970, incorreu em associação, seguida de disputa de mercado, com contrabandistas, para compensar o esgotamento do vantajoso filão do combate à subversão, que lhe valia gordas propinas de empresários direitistas e o direito de rapinagem dos bens dos resistentes mortos ou detidos.
Como qualquer instituição, o Exército Nacional não tem apenas o paradigma por ele escolhido (Caxias). No outro extremo há o Capitão Aílton Guimarães Jorge, que conspurcou a farda duas vezes: como torturador e como contraventor.
O pior é que, mesmo tendo sido comprovado seu envolvimento com os contrabandistas, foi absolvido por seus pares. Não o expulsaram das Forças Armadas nem mandaram a julgamento na Justiça Civil, como seriam os procedimentos cabíveis. Deixaram que saísse do Exército pela porta da frente e fosse logo bater na porta dos fundos da fortaleza do bicheiro Tio Patinhas, iniciando a meteórica carreira que o transformou num dos reis da loteria zoológica e do bingo no Rio de Janeiro.
O que separa o Exército de Caxias do Exército do Capitão Guimarães não são desvios de conduta (o eufemismo que estão usando para justificarem o atual episódio chocante), mas sim desvios de função.
Como atestam os muitos escândalos e negociatas ocorridos (e encobertos pelo manto da censura) durante a última ditadura, os militares não são imunes à corrupção que atinge o resto da sociedade. Enquanto ficam restritos à sua missão constitucional, esperando nos quartéis a hora de defenderem a Nação contra inimigos externos, mantêm-se razoavelmente a salvo desse contágio.
No entanto, ao saírem da caserna para policiar favelas ou a sociedade como um todo, podem tornar-se uma monstruosidade: criminosos especificamente treinados para a guerra e detentores do monopólio do uso legal da força.
Foi por isso que em abril de 2007, quando o governador Sérgio Cabral mandou ofício ao presidente Lula pedindo a ajuda das Forças Armadas para “assegurar a lei e a ordem na região metropolitana do Rio”, eu adverti que haveria “os inevitáveis episódios chocantes” e que o Estado não tinha “o direito de dispor a bel-prazer da vida dos favelados inocentes” (artigo Em abril Cabral descobre... os quartéis!, 12/04/07).
A reação da sociedade, principalmente dos defensores dos direitos humanos, tem evitado que se consagre essa política de delegar aos militares a manutenção da ordem interna – desastrosa sempre que a tentaram implantar. Daí o subterfúgio de requisitar-se o Exército para fornecer segurança ao projeto Cimento Social no morro da Previdência, um exercício de relações-públicas visando preparar o caminho para o desejo de Cabral se tornar realidade.
Pois bem, o tiro saiu pela culatra e, em vez de agradecida, aquela comunidade carente está gritando “Fora, Exército!”.
As primeiras reações oficiais, entretanto, foram as piores possíveis: lágrimas de crocodilo em novo exercício de relações-públicas (o pedido de desculpas às famílias da vítima) e, o que realmente conta, os esforços do Executivo para preservar a iniciativa funesta, não acatando a sábia liminar concedida pela Justiça.
Três cidadãos torturados e mortos até agora não foram suficientes para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desista de enfiar pela goela da sociedade adentro o desvio de função dos militares. Quantas outras atrocidades serão necessárias?
* Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista e escritor.
O que há de tão inusitado no fato de que militares, direta ou indiretamente, causaram a morte de três favelados que não haviam cometido crime nenhum, exceto o de não lamberem suas botas?
Durante a ditadura de 1964/85, assassinatos muito mais escabrosos foram por eles cometidos às dezenas, evidenciando que, quando desafiados, é mesmo com tal truculência e bestialidade que alguns de nossos militares reagem.
Também não será novidade nenhuma a existência de ligações perigosas entre integrantes das Forças Armadas e a criminalidade – isto se foram mesmo os traficantes que torturaram e executaram aqueles pobres coitados.
Não deve ser descartada a hipótese de que se trate apenas de uma manobra diversionista, visando repartir com civis uma culpa exclusiva dos fardados -- mesmo porque o relato da mãe de um deles, que garante ter visto o filho caído e ensanguentado no quartel, traz logo à lembrança o acobertamento das circunstâncias da morte de Vladimir Herzog e tantos outros durante os anos de chumbo.
Enfim, prevalecendo a versão oficial, vale recordar o emblemático episódio da equipe de torturadores da PE da Vila Militar (RJ), que, na década de 1970, incorreu em associação, seguida de disputa de mercado, com contrabandistas, para compensar o esgotamento do vantajoso filão do combate à subversão, que lhe valia gordas propinas de empresários direitistas e o direito de rapinagem dos bens dos resistentes mortos ou detidos.
Como qualquer instituição, o Exército Nacional não tem apenas o paradigma por ele escolhido (Caxias). No outro extremo há o Capitão Aílton Guimarães Jorge, que conspurcou a farda duas vezes: como torturador e como contraventor.
O pior é que, mesmo tendo sido comprovado seu envolvimento com os contrabandistas, foi absolvido por seus pares. Não o expulsaram das Forças Armadas nem mandaram a julgamento na Justiça Civil, como seriam os procedimentos cabíveis. Deixaram que saísse do Exército pela porta da frente e fosse logo bater na porta dos fundos da fortaleza do bicheiro Tio Patinhas, iniciando a meteórica carreira que o transformou num dos reis da loteria zoológica e do bingo no Rio de Janeiro.
O que separa o Exército de Caxias do Exército do Capitão Guimarães não são desvios de conduta (o eufemismo que estão usando para justificarem o atual episódio chocante), mas sim desvios de função.
Como atestam os muitos escândalos e negociatas ocorridos (e encobertos pelo manto da censura) durante a última ditadura, os militares não são imunes à corrupção que atinge o resto da sociedade. Enquanto ficam restritos à sua missão constitucional, esperando nos quartéis a hora de defenderem a Nação contra inimigos externos, mantêm-se razoavelmente a salvo desse contágio.
No entanto, ao saírem da caserna para policiar favelas ou a sociedade como um todo, podem tornar-se uma monstruosidade: criminosos especificamente treinados para a guerra e detentores do monopólio do uso legal da força.
Foi por isso que em abril de 2007, quando o governador Sérgio Cabral mandou ofício ao presidente Lula pedindo a ajuda das Forças Armadas para “assegurar a lei e a ordem na região metropolitana do Rio”, eu adverti que haveria “os inevitáveis episódios chocantes” e que o Estado não tinha “o direito de dispor a bel-prazer da vida dos favelados inocentes” (artigo Em abril Cabral descobre... os quartéis!, 12/04/07).
A reação da sociedade, principalmente dos defensores dos direitos humanos, tem evitado que se consagre essa política de delegar aos militares a manutenção da ordem interna – desastrosa sempre que a tentaram implantar. Daí o subterfúgio de requisitar-se o Exército para fornecer segurança ao projeto Cimento Social no morro da Previdência, um exercício de relações-públicas visando preparar o caminho para o desejo de Cabral se tornar realidade.
Pois bem, o tiro saiu pela culatra e, em vez de agradecida, aquela comunidade carente está gritando “Fora, Exército!”.
As primeiras reações oficiais, entretanto, foram as piores possíveis: lágrimas de crocodilo em novo exercício de relações-públicas (o pedido de desculpas às famílias da vítima) e, o que realmente conta, os esforços do Executivo para preservar a iniciativa funesta, não acatando a sábia liminar concedida pela Justiça.
Três cidadãos torturados e mortos até agora não foram suficientes para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desista de enfiar pela goela da sociedade adentro o desvio de função dos militares. Quantas outras atrocidades serão necessárias?
* Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista e escritor.
13.6.08
OPERAÇÃO TICO-TICO
Celso Lungaretti
O pugilista cubano Erislandy Lara acaba de desertar pela segunda vez de seu país, informa a Folha de S. Paulo desta sexta-feira (13/06).
Quando da tentativa anterior, durante os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, uma ação da Polícia Federal brasileira, digna de estado policial, o recambiou contra sua vontade para Cuba.
Ele e o outro boxeador, Guilhermo Ringodeaux, tiveram suas carreiras autoritariamente interrompidas pelo estado cubano, que não admitiu sequer suas participações nas seletivas para os Jogos Olímpicos de Pequim.
O ex-campeão mundial amador Lara fugiu agora para a Alemanha, assinando contrato com a firma Arena Box-Promotion, que não só lhe forneceu infra-estrutura para a fuga, como entregou um bônus de aproximadamente US$ 125 mil.
Balanço final:
1) Lara e Ringodeaux não passavam mesmo de dois mercenários, seduzidos pelos gângsteres do box internacional;
2) Em agosto/2007 foram coagidos a retornar a Cuba pelas autoridades brasileiras, que burlaram flagrantemente o direito de asilo;
3) O Brasil nenhuma providência tomou contra as retaliações que ambos sofreram depois em Cuba, onde receberam tratamento de párias e foram impedidos de exercer sua profissão.
Na ocasião alertei que, sendo a instituição do asilo muitíssimo mais importante do que os personagens menores desse episódio menor, deveria ter sido preservada. Não era o caso de mandá-la às favas apenas porque o Lula queria fazer um favor ao Fidel.
Revolucionários (e também os países que se dão ao respeito próprio) pautam suas decisões por princípios. Repúblicas das bananas é que sequestram e deportam cidadãos outras nações para atender a pedidos de compadres.
Quem até hoje recrimina -- justificadamente -- a Operação Condor, não poderia ter fechado os olhos a essa "Operação Tico-Tico".
O pugilista cubano Erislandy Lara acaba de desertar pela segunda vez de seu país, informa a Folha de S. Paulo desta sexta-feira (13/06).
Quando da tentativa anterior, durante os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, uma ação da Polícia Federal brasileira, digna de estado policial, o recambiou contra sua vontade para Cuba.
Ele e o outro boxeador, Guilhermo Ringodeaux, tiveram suas carreiras autoritariamente interrompidas pelo estado cubano, que não admitiu sequer suas participações nas seletivas para os Jogos Olímpicos de Pequim.
O ex-campeão mundial amador Lara fugiu agora para a Alemanha, assinando contrato com a firma Arena Box-Promotion, que não só lhe forneceu infra-estrutura para a fuga, como entregou um bônus de aproximadamente US$ 125 mil.
Balanço final:
1) Lara e Ringodeaux não passavam mesmo de dois mercenários, seduzidos pelos gângsteres do box internacional;
2) Em agosto/2007 foram coagidos a retornar a Cuba pelas autoridades brasileiras, que burlaram flagrantemente o direito de asilo;
3) O Brasil nenhuma providência tomou contra as retaliações que ambos sofreram depois em Cuba, onde receberam tratamento de párias e foram impedidos de exercer sua profissão.
Na ocasião alertei que, sendo a instituição do asilo muitíssimo mais importante do que os personagens menores desse episódio menor, deveria ter sido preservada. Não era o caso de mandá-la às favas apenas porque o Lula queria fazer um favor ao Fidel.
Revolucionários (e também os países que se dão ao respeito próprio) pautam suas decisões por princípios. Repúblicas das bananas é que sequestram e deportam cidadãos outras nações para atender a pedidos de compadres.
Quem até hoje recrimina -- justificadamente -- a Operação Condor, não poderia ter fechado os olhos a essa "Operação Tico-Tico".
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11.6.08
1968-2008: DA PRIMAVERA FLORIDA AO INVERNO DA DESESPERANÇA
A ditadura militar de 1964/85 intimidou reitores, diretores, alunos e professores, criando um ambiente irrespirável nas escolas.
Primeiro foram os expurgos, a caça às bruxas.
Depois que a poeira baixou, veio a fase da paranóia: quem estava em instituições ou cursos tidos como de esquerda, sabia ser vigiado o tempo todo, por espiões infiltrados nas salas-de-aula. Todo cuidado era pouco.
No entanto, até por falta de capacidade intelectual -- imaginem só, o coronel Jarbas Passarinho chegou a ser ministro da EDUCAÇÃO!!! --, os governos militares não conseguiram implantar a filosofia educacional fascistóide que seria condizente com sua visão de mundo. Causaram mais males no varejo que no atacado.
Pior mesmo foi a mercantilização do ensino que veio em seguida, com a imersão total do Brasil no capitalismo globalizado. Deixaram de existir estudantes, no sentido real do termo. Foram substituídos por consumidores ávidos por adquirir diplomas e outras certificações, com o único objetivo de agregar valor a seu currículo profissional.
Nem mesmo a ditadura conseguiu suprimir a tradicional missão da educação, de capacitar os cidadãos para refletirem sobre o mundo em que vivem. A sociedade de consumo logrou este feito.
Agora, as escolas formam apertadores de parafusos, com uma formação especializada que lhes permite executar mal e mal suas tarefas numa determinada profissão -- e mais nada. Que terra arrasada!
Quando cursei a Escola de Comunicações e Artes da USP, na década de 1970, os dois primeiros anos eram de formação geral, de forma que extraíamos ensinamentos riquíssimos da sinergia com os colegas de outras vocações (jornalismo x música, p. ex.). Esse respiradouro foi fechado, com a especialização agora sendo imposta desde o primeiro dia.
Disciplinas fundamentais para adquirirmos um conhecimento mais crítico e globalizante foram praticamente banidas dos currículos -- começando pela filosofia, que nos permite estabelecer conexões entre os várias abordagens da realidade, habituando-nos a pensar o todo, as partes e as interações entre ambos.
E que dizer do latim, vital para a compreensão de como os idiomas evoluíram e se diferenciaram a partir de uma base comum?! Como é triste ver brasileiros macaquearem sofregamente o falar estrangeiro e não mostrarem o menor interesse na jornada evolutiva que está por trás dele!
Nossa máxima culpa -- É terrível o sentimento de culpa que minha geração carrega, por haver se deixado dizimar na luta armada, ficando praticamente fora de cena quando a sociedade brasileira se reconfigurava ao longo da década de 1970 -- para pior, infinitamente pior.
Então, os que de gênios tinham muito pouco (mas possuíam ganância e oportunismo em excesso), puderam concretizar sem maior resistência seu objetivo de substituir qualificação por memorização mesmerizada, franqueando as universidades a uma legião de zumbis do sistema.
Mas, nem tudo está perdido. Emblematicamente, desde o ano passado o movimento estudantil vem dando sinais de vida e ensejando esperanças de que o retrocesso, afinal, seja detido e voltemos a caminhar para a frente. Exatamente como em 1967, quando as setembradas foram a primeira reação marcante à imensa prostração que se abateu sobre os idealistas após o êxito da quartelada.
Ainda há tempo para 2008 seguir a trilha de 1968. E não foi pouco já se ter conseguido derrubar um reitor que, imbuído da imoralidade do "enriquecei!" capitalista, emasculou o templo do saber.
Quando um terremoto destruiu a infra-estrutura com que o Chile contava para sediar o Mundial de Futebol de 1962, um grande dirigente esportivo andino liderou o esforço para reerguer-se tudo em tempo recorde, tendo proferido uma frase célebre: "porque nada tenemos, lo haremos todo".
Em matéria de educação, é mais ou menos essa a situação. Nada mais temos, então precisamos construir tudo de novo... com 1968 como referencial.
Primeiro foram os expurgos, a caça às bruxas.
Depois que a poeira baixou, veio a fase da paranóia: quem estava em instituições ou cursos tidos como de esquerda, sabia ser vigiado o tempo todo, por espiões infiltrados nas salas-de-aula. Todo cuidado era pouco.
No entanto, até por falta de capacidade intelectual -- imaginem só, o coronel Jarbas Passarinho chegou a ser ministro da EDUCAÇÃO!!! --, os governos militares não conseguiram implantar a filosofia educacional fascistóide que seria condizente com sua visão de mundo. Causaram mais males no varejo que no atacado.
Pior mesmo foi a mercantilização do ensino que veio em seguida, com a imersão total do Brasil no capitalismo globalizado. Deixaram de existir estudantes, no sentido real do termo. Foram substituídos por consumidores ávidos por adquirir diplomas e outras certificações, com o único objetivo de agregar valor a seu currículo profissional.
Nem mesmo a ditadura conseguiu suprimir a tradicional missão da educação, de capacitar os cidadãos para refletirem sobre o mundo em que vivem. A sociedade de consumo logrou este feito.
Agora, as escolas formam apertadores de parafusos, com uma formação especializada que lhes permite executar mal e mal suas tarefas numa determinada profissão -- e mais nada. Que terra arrasada!
Quando cursei a Escola de Comunicações e Artes da USP, na década de 1970, os dois primeiros anos eram de formação geral, de forma que extraíamos ensinamentos riquíssimos da sinergia com os colegas de outras vocações (jornalismo x música, p. ex.). Esse respiradouro foi fechado, com a especialização agora sendo imposta desde o primeiro dia.
Disciplinas fundamentais para adquirirmos um conhecimento mais crítico e globalizante foram praticamente banidas dos currículos -- começando pela filosofia, que nos permite estabelecer conexões entre os várias abordagens da realidade, habituando-nos a pensar o todo, as partes e as interações entre ambos.
E que dizer do latim, vital para a compreensão de como os idiomas evoluíram e se diferenciaram a partir de uma base comum?! Como é triste ver brasileiros macaquearem sofregamente o falar estrangeiro e não mostrarem o menor interesse na jornada evolutiva que está por trás dele!
Nossa máxima culpa -- É terrível o sentimento de culpa que minha geração carrega, por haver se deixado dizimar na luta armada, ficando praticamente fora de cena quando a sociedade brasileira se reconfigurava ao longo da década de 1970 -- para pior, infinitamente pior.
Então, os que de gênios tinham muito pouco (mas possuíam ganância e oportunismo em excesso), puderam concretizar sem maior resistência seu objetivo de substituir qualificação por memorização mesmerizada, franqueando as universidades a uma legião de zumbis do sistema.
Mas, nem tudo está perdido. Emblematicamente, desde o ano passado o movimento estudantil vem dando sinais de vida e ensejando esperanças de que o retrocesso, afinal, seja detido e voltemos a caminhar para a frente. Exatamente como em 1967, quando as setembradas foram a primeira reação marcante à imensa prostração que se abateu sobre os idealistas após o êxito da quartelada.
Ainda há tempo para 2008 seguir a trilha de 1968. E não foi pouco já se ter conseguido derrubar um reitor que, imbuído da imoralidade do "enriquecei!" capitalista, emasculou o templo do saber.
Quando um terremoto destruiu a infra-estrutura com que o Chile contava para sediar o Mundial de Futebol de 1962, um grande dirigente esportivo andino liderou o esforço para reerguer-se tudo em tempo recorde, tendo proferido uma frase célebre: "porque nada tenemos, lo haremos todo".
Em matéria de educação, é mais ou menos essa a situação. Nada mais temos, então precisamos construir tudo de novo... com 1968 como referencial.
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4.6.08
TRIBUTO A UM IMPRESCINDÍVEL: D. PAULO EVARISTO ARNS
"Há homens que lutam um dia, e são bons;
há outros que lutam um ano, e são melhores;
há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.
Porém há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis."
(“Os Que Lutam”, Bertold Brecht)
A grande imprensa só destaca os personagens quando eles estão realizando coisas, completando décadas disso e daquilo ou morrendo. Vai daí que um homem como D. Paulo Evaristo Arns está há 10 anos longe dos holofotes e é quase desconhecido das novas gerações.
Pior: alguns jovens formam seu conceito sobre ele a partir do que lêem nos textos repulsivos da propaganda neo-integralista, apontando-o como principal inspirador da política de direitos humanos “que só protege os bandidos”...
Então, em vez de esperar que surja o que os jornalistas chamamos de gancho, uma justificativa qualquer para falar de D. Paulo, vou fazê-lo unicamente porque se trata de um daqueles imprescindíveis a que se referiu Brecht. Neste Brasil da ganância e da competição que o capitalismo globalizado está engendrando, é fundamental evocarmos exemplos como este, até como antídoto.
Cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, D. Paulo está com 87 anos, é um homem combalido e tem problemas de audição – decorrentes, esclarece, de ferimentos sofridos quando de uma tentativa de seqüestro num país latino-americano (pretendiam obter, em troca, a liberdade de um chefão do narcotráfico).
A entrevista que fiz há algum tempo com D. Paulo permanece atual, daí eu estar reproduzindo aqui seus principais trechos Não quis privar os leitores da oportunidade de conhecer-lhe a história a partir de suas próprias palavras, que tive o privilégio de escutar numa ensolarada tarde de dia útil, no convento franciscano que fica ao lado da tradicional Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
No final, apesar de sua dificuldade de locomoção, fez questão de percorrer comigo o longo caminho até o corredor. E se despediu com uma frase marcante: "Precisamos contar essas histórias [do que aconteceu neste país durante a ditadura militar] às novas gerações. É importante que elas saibam de tudo isso!"
A missão do educador – Muitos programas pioneiros, na linha da inserção social, foram introduzidos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) entre novembro/1970 e maio/1998, período em que, como arcebispo metropolitano de São Paulo, D. Paulo foi Grão Chanceler da instituição.
Logo que se tornou o principal responsável pelos rumos dessa universidade, D. Paulo fez primeira visita ao Conselho da PUC. E disse: "Não quero uma escola de 2º grau melhorada. O que me interessa é que vocês façam uma pós que dê bons professores para todos os lugares do Brasil; e que todas as teses e tudo o que vocês discutirem além da escola se refira ao povo e ajude o povo. Que isso seja a norma daqui para a frente".
Os resultados não tardaram, diz D. Paulo. "A Arquidiocese se organizou em pastorais diferentes – p. ex., a Operária, a da Terra, a do Trabalhador –, então eu consegui que a Faculdade de Direito se interessasse em ir, durante a semana ou no sábado, à periferia e ver como se poderia ajudar essa população e quais os problemas reais da periferia. A mesma coisa aconteceu com a assistência social, que, aliás, está trabalhando nessa linha até hoje, com métodos sempre novos e recebendo apoio da Europa e de outros lugares, com uma eficiência muito grande."
Hoje, essas iniciativas pioneiras da PUC/SP encontraram muitos seguidores e há um sem-número de empresas e instituições esforçando-se para dar uma contribuição positiva à sociedade.
Ofícios para vítimas da ditadura – "Os estudantes da USP me procuraram em 1973 quando um colega [Alexandre Vannucchi Leme] foi assassinado pelos órgãos de segurança. Os estudantes se reuniram, uns 10 mil, e mandarem representantes à minha casa, à noite, para que eu fosse lá falar aos alunos. Eu disse que era melhor reunir os estudantes, mas não dava para fazer no campus da universidade, porque ele estava cercado por policiais e oficiais do Exército.
"Então, decidi fazer na catedral. Eu disse: 'Na catedral, nós falamos o que queremos, e nós falaremos aos estudantes. Encham a catedral de estudantes e de povo, que nós diremos a verdade'. E foi o que eles fizeram. Às 15h, eu fui lá, fiz aquele ato solene em favor do estudante e celebrei a missa para o falecido. Fiz o sermão sobre o 'não matarás!', o mandamento central dos 10 mandamentos. Foi sobre isso que eu falei para eles, e eles participaram, vivamente, da missa e de toda manifestação religiosa posterior.
"Depois, em 75, foi a vez do Herzog; em 76, a do Manuel Fiel Filho; e em 79, a do Santo Dias, quando recebemos de 150 mil a 200 mil pessoas, que andaram desde a igreja de Nossa Sra. da Consolação. A multidão foi engrossando. Ao chegar na Catedral da Sé, não cabia nem na igreja nem na praça, então nós fizemos uma cerimônia mais curta, mas muito mais participada por todos os operários."
Missa de 7º dia de Vladimir Herzog – Foi celebrada na Catedral da Sé, simultaneamente, por religiosos de três confissões: a católica (D. Paulo), a judaica (rabino Henry Sobel) e a protestante (reverendo James Wright).
"Quando o Herzog foi assassinado – lembra D. Paulo –, em 1975, os jornalistas me pediram que houvesse um ato ecumênico na catedral. Os judeus fazendo o ato deles em hebraico, portanto, não na língua que compreendêssemos. Foi impressionante e muito bonito."
[Modesto, D. Paulo evitou comentar que sua decisão foi um ato de enorme coragem. Primeiramente, porque a alta hierarquia católica não viu com simpatia sua iniciativa de oficiar missa ao lado de um rabino e de um reverendo. Depois, por ser um desafio frontal à ditadura militar, que o presidente Geisel engoliu, pedindo apenas a D. Paulo que segurasse seus radicais, “enquanto eu seguro os meus”. Finalmente, por ter, em nome de ideal de justiça e solidariedade cristãs, corrido o risco da ocorrência de tumultos e mortes que teriam um peso devastador em sua consciência de religioso. Graças a ele, foi viabilizado o ato que acabou se tornando um divisor de águas: a partir dessa vitória sobre a intimidação, a ditadura começou sua lenta, mas irreversível, marcha para o fim.]
Invasão da PUC em 1977 – "Eu estava em Roma quando o Erasmo Dias, então secretário da Segurança do estado de São Paulo, invadiu a PUC sem dizer ou ter motivo nenhum. Os estudantes estavam em exame e os policiais destruíram mais de 2 mil cópias de documentos, estragaram o refeitório, danificaram os instrumentos musicais e até derrubaram um professor no chão.
"Eu fui chamado às pressas de Roma e, na manhã seguinte, já dei uma declaração ao desembarcar no aeroporto, dizendo que 'na PUC só se entra prestando exame vestibular, e só se entra na PUC para ajudar o povo e não para destruir as coisas'. Depois, nós fizemos toda uma reação contra eles e toda uma manifestação junto aos estudantes."
Eleição direta para reitor da PUC – "No início dos anos 80, nós queríamos nos opor ao regime totalitário que estava vigorando no Brasil e provar que funcionários, professores e alunos são igualmente capazes de escolher o diretor, o reitor ou o presidente da instituição.
"Antes eu reunia o conselho de cada classe, para ter uma certa democracia entre os professores, e pedia que me indicassem o nome. Achei que era pouca democracia. Então, pedi à reitora e aos três vice para haver uma escolha entre todos os alunos, que eu aceitaria o resultado e mandaria para a aprovação de Roma.
"E Roma aprovou imediatamente. Então, foi a primeira eleição dentro de uma universidade pontifícia católica e, também, foi a primeira vez que se escolheu um reitor entre todos os funcionários, alunos e professores."
Contratação de professores perseguidos – "O minstro da Justiça ordenou a expulsão de vários professores da Universidade de São Paulo. Então a reitora da PUC me telefonou perguntando se podia admiti-los entre nós. Eu disse: 'Não só pode como deve, porque são excelentes professores e patriotas'.
"O Florestan Fernandes até escreveu um artigo me agradecendo. Ele ficou satisfeito porque pôde dirigir os estudantes da pós-graduação na PUC da maneira mais livre possível.
"Quanto ao Paulo Freire, eu fui a Genebra para convencê-lo a voltar ao Brasil, depois de 10 anos de exílio. Garanti que eu iria cuidar da chegada dele aqui. E mandei toda a nossa Comissão de Justiça e Paz, que eram mais de 40 pessoas, junto com amigos, para recebê-lo em Campinas.
"De fato a polícia o prendeu, mas, depois de duas horas de interrogatório, eles viram que todos estavam contra eles e soltaram o Paulo Freire, que ficou conosco, com uma grande amizade comigo, até o momento da sua partida."
Convicções e esperanças – Sobre o Governo Lula, antes mesmo da crise do mensalão, D. Paulo já mostrava uma ponta de apreensão, ao se dizer esperançoso de que “o Brasil não perca esta ocasião e não afunde o barco em vez de conduzi-lo a uma margem da terra onde haja outra terra e outro céu, como diria a Sagrada Escritura; onde haja outra possibilidade de sonhar e outra possibilidade de viver com dignidade, mas para todas as pessoas e não só para uma parte".
E, inquirido sobre o menor engajamento atual da Igreja às causas sociais, ele finalizou com uma mensagem de esperança: "A Igreja é o povo. Se o povo se mobiliza bem, a Igreja também se mobiliza. Então, é preciso unir esses dois conceitos, o povo de Deus e o povo, simplesmente. Nós precisamos caminhar para a fraternidade, para uma possibilidade de todos serem respeitados como filhos de Deus e irmãos uns dos outros".
Não há como retratar a grandeza de um D. Paulo Evaristo Arns numa única entrevista. Faltou dizer, p. ex., que ele criou a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo e foi o grande artífice do projeto Brasil: Nunca Mais (livro sobre as violações de direitos humanos durante o regime militar), integrando também o movimento Tortura Nunca Mais, dele decorrente.
O principal, no entanto, é que suas gestões junto às autoridades salvaram a vida e evitaram a tortura de resistentes, no pior momento da ditadura.
Fiel ao espírito da igreja das catacumbas, foi o pastor que tudo fez para que seu rebanho sobrevivesse a um tempo de lobos. Um imprescindível.
há outros que lutam um ano, e são melhores;
há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.
Porém há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis."
(“Os Que Lutam”, Bertold Brecht)
A grande imprensa só destaca os personagens quando eles estão realizando coisas, completando décadas disso e daquilo ou morrendo. Vai daí que um homem como D. Paulo Evaristo Arns está há 10 anos longe dos holofotes e é quase desconhecido das novas gerações.
Pior: alguns jovens formam seu conceito sobre ele a partir do que lêem nos textos repulsivos da propaganda neo-integralista, apontando-o como principal inspirador da política de direitos humanos “que só protege os bandidos”...
Então, em vez de esperar que surja o que os jornalistas chamamos de gancho, uma justificativa qualquer para falar de D. Paulo, vou fazê-lo unicamente porque se trata de um daqueles imprescindíveis a que se referiu Brecht. Neste Brasil da ganância e da competição que o capitalismo globalizado está engendrando, é fundamental evocarmos exemplos como este, até como antídoto.
Cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, D. Paulo está com 87 anos, é um homem combalido e tem problemas de audição – decorrentes, esclarece, de ferimentos sofridos quando de uma tentativa de seqüestro num país latino-americano (pretendiam obter, em troca, a liberdade de um chefão do narcotráfico).
A entrevista que fiz há algum tempo com D. Paulo permanece atual, daí eu estar reproduzindo aqui seus principais trechos Não quis privar os leitores da oportunidade de conhecer-lhe a história a partir de suas próprias palavras, que tive o privilégio de escutar numa ensolarada tarde de dia útil, no convento franciscano que fica ao lado da tradicional Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
No final, apesar de sua dificuldade de locomoção, fez questão de percorrer comigo o longo caminho até o corredor. E se despediu com uma frase marcante: "Precisamos contar essas histórias [do que aconteceu neste país durante a ditadura militar] às novas gerações. É importante que elas saibam de tudo isso!"
A missão do educador – Muitos programas pioneiros, na linha da inserção social, foram introduzidos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) entre novembro/1970 e maio/1998, período em que, como arcebispo metropolitano de São Paulo, D. Paulo foi Grão Chanceler da instituição.
Logo que se tornou o principal responsável pelos rumos dessa universidade, D. Paulo fez primeira visita ao Conselho da PUC. E disse: "Não quero uma escola de 2º grau melhorada. O que me interessa é que vocês façam uma pós que dê bons professores para todos os lugares do Brasil; e que todas as teses e tudo o que vocês discutirem além da escola se refira ao povo e ajude o povo. Que isso seja a norma daqui para a frente".
Os resultados não tardaram, diz D. Paulo. "A Arquidiocese se organizou em pastorais diferentes – p. ex., a Operária, a da Terra, a do Trabalhador –, então eu consegui que a Faculdade de Direito se interessasse em ir, durante a semana ou no sábado, à periferia e ver como se poderia ajudar essa população e quais os problemas reais da periferia. A mesma coisa aconteceu com a assistência social, que, aliás, está trabalhando nessa linha até hoje, com métodos sempre novos e recebendo apoio da Europa e de outros lugares, com uma eficiência muito grande."
Hoje, essas iniciativas pioneiras da PUC/SP encontraram muitos seguidores e há um sem-número de empresas e instituições esforçando-se para dar uma contribuição positiva à sociedade.
Ofícios para vítimas da ditadura – "Os estudantes da USP me procuraram em 1973 quando um colega [Alexandre Vannucchi Leme] foi assassinado pelos órgãos de segurança. Os estudantes se reuniram, uns 10 mil, e mandarem representantes à minha casa, à noite, para que eu fosse lá falar aos alunos. Eu disse que era melhor reunir os estudantes, mas não dava para fazer no campus da universidade, porque ele estava cercado por policiais e oficiais do Exército.
"Então, decidi fazer na catedral. Eu disse: 'Na catedral, nós falamos o que queremos, e nós falaremos aos estudantes. Encham a catedral de estudantes e de povo, que nós diremos a verdade'. E foi o que eles fizeram. Às 15h, eu fui lá, fiz aquele ato solene em favor do estudante e celebrei a missa para o falecido. Fiz o sermão sobre o 'não matarás!', o mandamento central dos 10 mandamentos. Foi sobre isso que eu falei para eles, e eles participaram, vivamente, da missa e de toda manifestação religiosa posterior.
"Depois, em 75, foi a vez do Herzog; em 76, a do Manuel Fiel Filho; e em 79, a do Santo Dias, quando recebemos de 150 mil a 200 mil pessoas, que andaram desde a igreja de Nossa Sra. da Consolação. A multidão foi engrossando. Ao chegar na Catedral da Sé, não cabia nem na igreja nem na praça, então nós fizemos uma cerimônia mais curta, mas muito mais participada por todos os operários."
Missa de 7º dia de Vladimir Herzog – Foi celebrada na Catedral da Sé, simultaneamente, por religiosos de três confissões: a católica (D. Paulo), a judaica (rabino Henry Sobel) e a protestante (reverendo James Wright).
"Quando o Herzog foi assassinado – lembra D. Paulo –, em 1975, os jornalistas me pediram que houvesse um ato ecumênico na catedral. Os judeus fazendo o ato deles em hebraico, portanto, não na língua que compreendêssemos. Foi impressionante e muito bonito."
[Modesto, D. Paulo evitou comentar que sua decisão foi um ato de enorme coragem. Primeiramente, porque a alta hierarquia católica não viu com simpatia sua iniciativa de oficiar missa ao lado de um rabino e de um reverendo. Depois, por ser um desafio frontal à ditadura militar, que o presidente Geisel engoliu, pedindo apenas a D. Paulo que segurasse seus radicais, “enquanto eu seguro os meus”. Finalmente, por ter, em nome de ideal de justiça e solidariedade cristãs, corrido o risco da ocorrência de tumultos e mortes que teriam um peso devastador em sua consciência de religioso. Graças a ele, foi viabilizado o ato que acabou se tornando um divisor de águas: a partir dessa vitória sobre a intimidação, a ditadura começou sua lenta, mas irreversível, marcha para o fim.]
Invasão da PUC em 1977 – "Eu estava em Roma quando o Erasmo Dias, então secretário da Segurança do estado de São Paulo, invadiu a PUC sem dizer ou ter motivo nenhum. Os estudantes estavam em exame e os policiais destruíram mais de 2 mil cópias de documentos, estragaram o refeitório, danificaram os instrumentos musicais e até derrubaram um professor no chão.
"Eu fui chamado às pressas de Roma e, na manhã seguinte, já dei uma declaração ao desembarcar no aeroporto, dizendo que 'na PUC só se entra prestando exame vestibular, e só se entra na PUC para ajudar o povo e não para destruir as coisas'. Depois, nós fizemos toda uma reação contra eles e toda uma manifestação junto aos estudantes."
Eleição direta para reitor da PUC – "No início dos anos 80, nós queríamos nos opor ao regime totalitário que estava vigorando no Brasil e provar que funcionários, professores e alunos são igualmente capazes de escolher o diretor, o reitor ou o presidente da instituição.
"Antes eu reunia o conselho de cada classe, para ter uma certa democracia entre os professores, e pedia que me indicassem o nome. Achei que era pouca democracia. Então, pedi à reitora e aos três vice para haver uma escolha entre todos os alunos, que eu aceitaria o resultado e mandaria para a aprovação de Roma.
"E Roma aprovou imediatamente. Então, foi a primeira eleição dentro de uma universidade pontifícia católica e, também, foi a primeira vez que se escolheu um reitor entre todos os funcionários, alunos e professores."
Contratação de professores perseguidos – "O minstro da Justiça ordenou a expulsão de vários professores da Universidade de São Paulo. Então a reitora da PUC me telefonou perguntando se podia admiti-los entre nós. Eu disse: 'Não só pode como deve, porque são excelentes professores e patriotas'.
"O Florestan Fernandes até escreveu um artigo me agradecendo. Ele ficou satisfeito porque pôde dirigir os estudantes da pós-graduação na PUC da maneira mais livre possível.
"Quanto ao Paulo Freire, eu fui a Genebra para convencê-lo a voltar ao Brasil, depois de 10 anos de exílio. Garanti que eu iria cuidar da chegada dele aqui. E mandei toda a nossa Comissão de Justiça e Paz, que eram mais de 40 pessoas, junto com amigos, para recebê-lo em Campinas.
"De fato a polícia o prendeu, mas, depois de duas horas de interrogatório, eles viram que todos estavam contra eles e soltaram o Paulo Freire, que ficou conosco, com uma grande amizade comigo, até o momento da sua partida."
Convicções e esperanças – Sobre o Governo Lula, antes mesmo da crise do mensalão, D. Paulo já mostrava uma ponta de apreensão, ao se dizer esperançoso de que “o Brasil não perca esta ocasião e não afunde o barco em vez de conduzi-lo a uma margem da terra onde haja outra terra e outro céu, como diria a Sagrada Escritura; onde haja outra possibilidade de sonhar e outra possibilidade de viver com dignidade, mas para todas as pessoas e não só para uma parte".
E, inquirido sobre o menor engajamento atual da Igreja às causas sociais, ele finalizou com uma mensagem de esperança: "A Igreja é o povo. Se o povo se mobiliza bem, a Igreja também se mobiliza. Então, é preciso unir esses dois conceitos, o povo de Deus e o povo, simplesmente. Nós precisamos caminhar para a fraternidade, para uma possibilidade de todos serem respeitados como filhos de Deus e irmãos uns dos outros".
Não há como retratar a grandeza de um D. Paulo Evaristo Arns numa única entrevista. Faltou dizer, p. ex., que ele criou a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo e foi o grande artífice do projeto Brasil: Nunca Mais (livro sobre as violações de direitos humanos durante o regime militar), integrando também o movimento Tortura Nunca Mais, dele decorrente.
O principal, no entanto, é que suas gestões junto às autoridades salvaram a vida e evitaram a tortura de resistentes, no pior momento da ditadura.
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