Celso Lungaretti (*)
Cada vez que acontece um acidente de grandes proporções como a explosão do Airbus da TAM, o volume de informações despejado sobre os cidadãos comuns é tamanho que a maioria deles não consegue situar-se nesse emaranhado de imagens, falas e textos com relevâncias e pertinências desiguais.
A espetacularização levada a cabo pela mídia vem ao encontro dos instintos mórbidos de seus públicos-alvos e lhes fornece catarse. As discussões no ar ou no papel são apenas parte do show, devendo saturar todos os espaços durante alguns dias e, tão-logo ocorra novo episódio momentoso, ceder lugar a outras, que igualmente não levarão a lugar nenhum. Os culpados não recebem a devida punição nem são tomadas providências à altura. A vida humana vale muito pouco no Brasil.
Como destacou a colunista Eliane Catanhêde, da Folha de S. Paulo, o que aconteceu neste 17 de julho não passou de mais uma tragédia anunciada: “não pode ser pura coincidência o maior acidente da história acontecer exatamente em Congonhas , no dia seguinte à derrapagem de um pequeno avião da Pantanal. É o aeroporto mais congestionado do país, há décadas se sabe que é inviável e os relatórios oficiais já acendiam o sinal amarelo havia meses. Qualquer um sabe disso, no governo civil, na Aeronáutica, na Infraero, na Anac, nas companhias. Mas ficaram todos esperando ocorrer o pior”.
Quando o Boeing da Gol se chocou com o jato da Legacy, o Brasil inteiro ficou conhecendo as péssimas condições de trabalho a que eram submetidos os controladores de vôo. Por mais que se queira atirar a culpa para o outro lado do oceano, ficou evidenciada, de forma gritante, nossa incúria com a segurança dos passageiros e tripulações.
Todos sabemos que, quase dez meses depois, os problemas então constatados estão longe de terem sido resolvidos. Morreram 154 pessoas... em vão? E serão também em vão as quase 200 mortes de agora?
O ponto comum nas grandes tragédias brasileiras é sempre o mesmo: governos e empresas reduzem custos insensatamente, jogando com a vida dos cidadãos. Dinheiro é mais importante do que seres humanos, na lógica capitalista levada às últimas conseqüências.
Tanto que a ganância flagrantemente criminosa, como no caso das empreiteiras responsáveis pelo desabamento da estação de metrô Pinheiros, nunca leva os autores ao banco dos réus, para responderem pelo que realmente cometeram: assassinatos.
* Celso Lungaretti é jornalista, escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
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18.7.07
CRõNICA DE MAIS UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA
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3 comentários:
muito bom muito inspirador
infelizmente é em uma situação que eu particularmente não ostaria de estar comentando.
todos estão consternados com mais esse ato de falta de decencia de nossas autores, que ao não tomar providencias levam ao perigod e vida muitas pessoas inocentes. esse é um crime cruel que não deve ficar em pune.
Perfeita análise.Somos tratados como palhaços pelo governo e empresas aereas.
Celso, li seu "Naufrago da Utopia" e realmente gostei de ter contato com os "anos de chumbo" pelas palavras de quem estava lá.
Abraços!
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