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1.10.13

EU NÃO COMPACTUO COM A SATANIZAÇÃO DO JOAQUIM BARBOSA

Negros altaneiros incomodam os racistas enrustidos
Detesto as satanizações, aquelas campanhas orquestradas de desqualificação moral que foram para a lixeira da História juntamente com o cadáver fedorento do stalinismo, mas agora estão de volta, exumadas pelas  piores vertentes da esquerda na era da internet. Quem disse que Goebbels não influenciou também o nosso lado?

O caso de Joaquim Barbosa é emblemático. Ministro do Supremo Tribunal Federal que, em quase todos os temas, tem sempre assumido posições próximas às nossas (é sensível à justiça social e combate sistematicamente os abusos e privilégios dos poderosos), ele está sendo erigido em grande vilão pela rede virtual petista e seus satélites, em função da forma como relatou o processo do  mensalão.

Isto seria passável se o atacassem apenas e tão somente pelo que lhes fez doerem os calos. Mas não, transformam-no num espantalho em tempo integral, atribuindo-lhe um reacionarismo que nunca teve e até projetos políticos que jamais deu mostras de acalentar.

O  grande truque do diabo  é fingir que não existem homens de esquerda indignados com aquilo que o  mensalão  representa: o recurso às maracutaias costumeiras dos políticos convencionais, para garantir governabilidade da mesmíssima maneira: subornando a escória parlamentar para com ela formar maiorias espúrias.

A direita, cinicamente, extrai dividendos políticos do ocorrido, mas é a esquerda que mais motivos tem para o repudiar, já que sua credibilidade sofreu duro golpe. Cansei de responder, em cada palestra, a pergunta que alguém invariavelmente me fazia: todos vocês, da geração 68, são iguais aos mensaleiros?

A esquerda virtual já aclamou Barbosa, lembram? 
Ademais, tais práticas desmoralizantes foram adotadas para o governo ganhar votações que não fizeram verdadeiramente avançar a revolução brasileira. O PT, há mais de uma década, vem apenas gerenciando o capitalismo para os capitalistas. É, no máximo, reformista, tendo há muito abdicado de quaisquer veleidades revolucionárias.

Valeu a pena pagar um preço tão alto por tão pouco? E quem não releva os pecados dos  anjos caídos é necessariamente um direitista?

Na semana passada, quando a correspondente de O Estado de S. Paulo em Washington foi detida na Universidade de Yale, houve até quem trombeteasse as quatros ventos que Barbosa pedira a ação policial, baseando-se apenas em suposições e deixando mais do que evidenciada sua antipatia pelo personagem. Jornalistas se tornam Sherlocks de araque para engrossarem a horda de linchadores. Que lástima!

Nota da universidade, contudo, esclareceu que Claudia Trevisan, mesmo sabendo que estava proibida a presença de repórteres no seminário do qual Barbosa iria participar, tentou driblar os seguranças. Mas foi pilhada e, quando perguntaram o que fazia naquela ala vedada ao público, mentiu: respondeu que estava procurando um amigo com o qual marcara encontro.

Ora, sendo os estadunidenses tão paranóicos em relação a atentados terroristas, é de estranhar-se que a tenham prendido e algemado?

Mesmo cá na  patriamada, infinitamente mais tolerante, em minha atuação jornalística eu sempre evitei recorrer a falsidades para furar tais bloqueios. Nunca os aceitei passivamente, mas utilizava estratagemas como o de buscar atalhos que não passassem por portarias ou empinar o nariz e entrar com ares de poucos amigos, como se fosse uma autoridade com todo direito de estar lá. 

A mesma covardia se constata nos linchamentos morais  
Às vezes os porteiros e seguranças se deixavam intimidar e não questionavam a minha presença; quando, contudo, algum o fazia, eu revelava honestamente o meu propósito e acatava o inevitável  convite  para me retirar.

Forçar a barra implicaria... o risco de ser preso e algemado. Um risco aceitável por uma causa, mas não por uma reportagem rotineira.

Enfim, foi mesmo chato o constrangimento imposto à Trevisan, mas o Barbosa não teve absolutamente nada a ver com isso. E, claro, a suspeição injusta repercutiu muito mais na internet do que o esclarecimento do episódio.

Do Barbosa, sempre me lembrarei em primeiro lugar de ele haver resistido com unhas e dentes aos inquisidores no Caso Battisti, posicionando-se contra a extradição em todas as votações.

Este sim era um episódio que opunha, nitidamente, direita e esquerda --e Barbosa não hesitou em colocar-se ao nosso lado.

No processo do  mensalão  nem de longe existe tal nitidez. E é uma covardia o linchamento moral a que submetem o Barbosa, extrapolando todos os limites do razoável e do verossímil, além de levarem ao paroxismo a falta de civilidade. Chegam a reprovar-lhe o fato de manter-se em pé diante de interlocutores, como se fosse postura majestática e não uma forma de atenuar as dores que sente na coluna!

Eu não me omito: tenho a coragem de confrontar todos e quaisquer rolos compressores, sempre que eles estiverem destruindo reputações leviana e utilitariamente, como agora.

Fico com Rosa Luxemburgo e não abro: a verdade é revolucionária!

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