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8.10.08

RESISTIR É PRECISO

Desde janeiro de 2007 disponibilizo meus artigos semanais neste blog O Rebate. E, em agosto de 2008, passei a fazer comentários mais ligeiros sobre os principais acontecimentos, diariamente, no blog Náufrago da Utopia.

Embora só tivesse enunciado isto formalmente no mês passado, o que eu fiz, desde o primeiro momento, foi tentar provar que se pode ser revolucionário no século 21, sem resvalar para o jacobinismo (ou seja, respeitando os direitos humanos) nem para o fanatismo (ou seja, praticando o pensamento crítico).

Embora tenha conquistado algum prestígio virtual, continuo quase ignorado pela grande imprensa, que não me ouve nem mesmo quando produz matérias sobre assuntos aos quais estou intimamente ligado, não me contrata, nem me publica. O máximo que tenho obtido são espaços nas seções de leitores para protestar contra as desinformações mais gritantes.

Mas, como disse um jornalista amigo ao resenhar o Náufrago da Utopia, eu sou um sujeito muito teimoso. Passei 34 anos sem desistir de estabelecer a verdade sobre injustiças que sofri como preso político, até que consegui. E estou há quase dois anos tentando provar que as análises corretas podem impor-se a despeito da evidente má vontade da mídia patronal e da mídia chapa-branca, bem como do culto à certificação que se consolidou no Brasil nas últimas décadas.

Apenas me graduei em jornalismo, nunca fiz pós nem MBA, jamais suportei jornadas caça-níqueis de atualização, tendo detestado cada minuto que nelas passei como repórter, cumprindo determinadas pautas. A exemplo dos revolucionários de outrora, fui sempre buscar por mim mesmo o conhecimento que me fazia falta.

Quem acompanha meu trabalho sabe que tenho média de acertos bem maior que a dos me(r)dalhões do sistema. E que corro muito mais riscos do que eles.

Foi o que fiz no último dia 2 de julho, quando a turbulência nos mercados apenas começava. Em meu artigo CRÔNICA DA ESTAGFLAÇÃO ANUNCIADA ( http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/2008/07/crnica-da-estagflao-anunciada.html ), não tive dúvidas em antecipar a gravidade da tempestade que se formava, nem em reabilitar as análises marxistas sobre crises cíclicas do capitalismo, tão desacreditadas pelos economistas a serviço da manutenção do status quo:

"...a alternância de fases de expansão e retração econômicas marca o capitalismo desde o seu início. Por que desta vez seria diferente? De onde os doutos economistas tiraram a idéia de que o crescimento agora seria ininterrupto? Isto me parece mais expressão de desejo do que análise isenta.

"...A desigualdade (...) continuou caracterizando o capitalismo, com a agravante de que os formidáveis avanços científicos e tecnológicos das duas últimas décadas criaram plenas condições para proporcionar-se a cada habitante do planeta o suficiente para uma existência digna.

"Em vez disso, o que houve foi um incremento ad absurdum das atividades parasitárias, totalmente inúteis para o ser humano, cuja expressão mais conspícua, claro, são os bancos, amos e senhores do capitalismo atual.

"E, para que os bens e serviços continuassem sendo consumidos independentemente do poder aquisitivo insuficiente dos consumidores, expandiu-se a oferta de crédito também ad absurdum. Então, desde as nações até as famílias passaram a operar com as contabilidades mais insensatas, em que as contas nunca fecham e os débitos, impagáveis, são sempre empurrados para o futuro.

"É sobre esse pano-de-fundo de artificialidade básica que se projeta a atuação dos grandes especuladores do mercado financeiro, cujo campo de ação foi enormemente ampliado pelo advento da internet.

"Atribuir-lhes (ou às autoridades que não os policiaram suficientemente) a responsabilidade pela estagflação anunciada é tão falacioso agora quanto, p. ex., na quebra da Bolsa em 1929. O nome do vilão sempre foi outro: capitalismo."

Que cada um julgue se eu andei certo ou errado ao anunciar que estávamos às vésperas de uma nova crise cíclica do capitalismo, com a única diferença de que os recursos atuais possiblitaram que ela fosse represada por mais tempo do que no passado (tendendo, portanto, a ter virulência bem maior).

No entanto, já houve manifestação semelhante por parte de um autor respeitável. No final de setembro, o historiador Eric Hobsbawm, que escreveu A Era da Revolução, A Era do Capital, A Era do Império e A Era dos Extremos, afirmou estar havendo “um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista”, provocado, principalmente, pela ocorrência de “uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado”. E acrescentou:

"É claro que qualquer 'retorno a Marx' será essencialmente um retorno à análise de Marx sobre o capitalismo e seu lugar na evolução histórica da humanidade – incluindo, sobretudo, suas análises sobre a instabilidade central do desenvolvimento capitalista que procede por meio de crises econômicas autogeradas com dimensões políticas e sociais." [o que não passa de uma forma rebuscada de proclamar a atualidade das análises marxistas sobre as crises cíclicas do capitalismo...]

De minha parte, continuarei teimosamente oferecendo análises que o sistema desconsidera e não são lastreadas em autoridade certificada de nenhuma espécie.

E, se mais sites e portais se fecharem para mim como se fecharam todas as portas da grande imprensa, ainda assim vocês poderão acompanhar o meu trabalho nos dois blogs, dia após dia.

Resistir é preciso.

3 comentários:

ismar disse...

Força, companheiro.

Teus artigos muito bons.

Grande abraço

Fernando Claro Dias disse...

Ilustríssimo Sr. Celso,

Tudo bem?

Eu não vi o enterro de Marx acontecer ainda que vários pasquins tenham noticiado.
Há trinta e cinco anos no mercado livreiro ainda não canso de ver a obra desse moço, Karl Marx, e sobre o marxismos ser consumida, comprada e vendida em grande escala.
Assim tenho a certeza de que minha suposta alucinação e delírio tenha acontecido no imaginário e nas instâncias mais ocultas do EU daqueles que sempre tentaram matar e fazer calar este barbudo do
século XIX que se impõe através de métodos de análises ora econômica, ora filosófica para o mundo atual.
De nada adianta pedir que tanto ele quanto você e alguns outros por aí - Brasil adentro e Brasil afora, não retornem a incomodar os que estão bem acomodados à mesa para os grandes banquetes.
Pense, escreva e publique. Faça a sua parte. Os insistentes consumidores, ávidos por boas análises irão aparecer, um por um, sem pressa nem empurrões, ou não.
Abraço,
Fernando Claro

Sandra Fayad disse...

Celso,
Li atentamente seu artigo REAÇÕES TÍMIDAS E TARDIAS A UMA HECATOMBE ANUNCIADA publicado na ABDIC. Concordo totalmente que as crises são cíclicas. O que muda são os momentos e as desculpas para "fabricar" lucros. Agora, o primeiro-ministro inglês propõe revisão das regras de comércio internacional que, de fato, já são mais que sexagenárias, alegando que o sistema financeiro não pode ficar acima dos próprios governos. Lembra de quando era a Igreja que ditava as regras? Quem será que vai assumir o comando agora?

Parabéns pela análise!

S a n d r a F a y a d
http://www.sandrafayad.prosaeverso.net/

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