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13.4.08

TORTURADOR E ASSASSINO

É o chamado óbvio ululante: torturadores seriais, atuando em órgãos de repressão mais afeitos à brutalidade do que à sofisticação (como os da da ditadura militar de 1964/85), tendiam a tornar-se também assassinos, seja por descontrole emocional, seja em razão de "acidentes de trabalho".

Então, Carlos Alberto Brilhante Ustra, que já está em vias de ser oficialmente declarado "torturador", deverá passar à História também como "assassino", a partir de nova ação que começou a tramitar na Justiça de São Paulo.

Tudo indica que vá se tornar um caso único de cidadão cuja condição de torturador e assassino, embora reconhecida pela Justiça, será desacompanhada de punição pelos crimes que cometeu.

Mas, o opróbrio talvez seja o pior castigo para quem teme tanto o veredicto implacável da História, que dele tentou escapar escrevendo livros torpes para denegrir suas vítimas. Em vão: só ingênuos e rancorosos acreditam nas versões de carrascos.

Seguem trechos da notícia "Justiça acolhe ação contra coronel acusado de tortura na ditadura", publicada na Folha de S. Paulo de 13/04/2008, de autoria do repórter Rubens Valente.

"O juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo, acolheu o pedido de abertura de uma ação que pretende declarar a responsabilidade do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, 75, pela morte do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, aos 23 anos, em julho de 1971, no interior do DOI (Destacamento de Operações de Informações), unidade do Exército localizada na rua Tutóia, na capital paulista.

"É a segunda vez, desde o fim da ditadura (1964-1985), que a Justiça brasileira aceita averiguar atos específicos de um oficial durante o regime.

"No primeiro processo, aberto no ano de 2005, Ustra também foi acusado de responsabilidade por supostas torturas no DOI. Movida por cinco membros de uma mesma família (Maria Amélia de Almeida Teles, César Augusto Teles, Janaína de Almeida Teles, Edson Luiz de Almeida Teles e Criméia Alice Schmidt de Almeida), a ação tramita.

"Luiz Merlino, que trabalhou na Folha da Tarde, do Grupo Folha, e no Jornal da Tarde, era membro do POC (Partido Operário Comunista), grupo que, em determinado momento dos anos 60/70, passou a apoiar a luta armada contra a ditadura. Contudo, ele nunca foi acusado formalmente pelos militares de participar de alguma ação armada. Foi preso em Santos (SP), poucos dias após voltar de uma viagem à França, onde passara cerca de seis meses em conversas com dirigentes comunistas franceses.

"Segundo depoimentos de ex-presos políticos, Merlino morreu em decorrência de uma sessão de tortura que se prolongou por várias horas num pau-de-arara (em que a vítima é obrigada a ficar com as pernas e os braços amarrados e dobrados). A versão oficial divulgada pelo DOI à época foi de 'suicídio' - Merlino teria se jogado na frente de um caminhão. A missa de sétimo dia da morte de Merlino reuniu cerca de 770 jornalistas na catedral da Sé, segundo a imprensa da época.

"A nova ação judicial contra Ustra foi movida pela cientista social Angela Maria Mendes de Almeida, 69, que foi mulher de Merlino, e pela irmã do jornalista, Regina Maria Merlino Dias de Almeida, 64.

"'O único objetivo é que se tenha toda a verdade, o que realmente aconteceu com o meu irmão, que foi assassinado em torturas bárbaras na época da ditadura. A verdade, a retratação', disse Regina, que nega a intenção de posteriormente buscar reparação financeira.

"A decisão do juiz, tomada no último dia 4, põe em xeque a aplicação da Lei da Anistia, datada de 1979. Segundo Abrão, 'o assunto não trata de privilégio decorrente da lei de anistia, mas disciplina ação de natureza imprescritível'.

"Ustra (...) foi um dos mais destacados oficiais da ditadura nos embates com a esquerda. Após chefiar o DOI paulista, foi chefe da seção de operações do poderoso CIE (Centro de Informações do Exército), em Brasília.

"No período em que comandou o DOI, entre 1970 e 1974, passaram por suas mãos cerca de 2.000 presos (...). Segundo documento divulgado pela Folha no ano 2000, 47 militantes políticos presos pelo DOI haviam sido mortos até junho de 1975. A unidade havia prendido 2.355 pessoas."

3 comentários:

Carlos Henry disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Igor Ojeda disse...

Olá Celso,
Sobre o mesmo caso, uma matéria no Brasil de Fato, em dois links:

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/a-ditadura-no-banco-dos-reus

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/guido-rocha-o-testemunho-da-dor

Um abraço

celsolungaretti disse...

Removi comentários que eram apenas formas para entrar em contato comigo, visando entrevistas e pesquisas.

No entanto, vale um esclarecimento: não publico bobagens de direitistas que tentam me contestar com demagogia barata que absorvem nos sites fascistas.

Quando alguém apresenta uma argumentação inteligente, por mais contrária que seja à minha, boto no ar.

Mas, quem só traz slogans brucutus, que os leve para outro lugar. Aqui não é lixeira.

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