"Liberdade é sempre, fundamentalmente, a liberdade de quem discorda de nós."
A máxima de Rosa Luxemburgo jamais deve ser esquecida. É a vacina e o antídoto contra o despotismo.
Então, peço aos dirigentes cubanos que reconsiderem sua decisão sobre a blogueira dissidente Yoani Sánchez.
Como ela não está sob prisão domiciliar, tem o direito de viajar ao Brasil e para onde mais quiser, quando quiser.
É totalmente inconcebível e inaceitável que ela haja pedido autorização para deixar Cuba 18 vezes, e nas 18 vezes a tenham negado.
De resto, eu prefiro que a pressão seja de esquerdistas autênticos (sem vezo autoritário) sobre o governo cubano. Não da presidente Dilma, do Senado, nem mesmo de parlamentares bem (Suplicy) ou mal intencionados.
Não é uma questão entre nações, mas sim de visões diferentes sobre como deve ser exercido o poder popular. Então, revolucionários devem se posicionar como revolucionários, não em nome de seus países.
Só em casos extremos --impedir uma execução grotesca e bestial como a de Sakineh Ashtiani, p. ex.-- é que se justifica a intervenção de governos.
Acredito que a justiça social possa coexistir com a liberdade e com o respeito aos direitos humanos. Os que pensam como eu, que enderecem suas mensagens aos governantes cubanos. São eles os destinatários corretos.
ISTO É YOANI SÁNCHEZ
"O rumor de que amanhã, sexta-feira, Raúl Castro poderia anunciar uma flexibilização a estas restrições de entrada e saída não me deixa dormir. Em quatro anos meu passaporte se encheu de vistos para outras nações, porém carece de uma só permissão para que eu possa transpor essa insularidade. Dezoito negativas de viagem é demais; parece mais uma vingança pessoal do que o exercício de alguma regulamentação burocrática.
Tenho minha bagagem preparada desde há muito. A roupa que contém foi amarelando com o tempo, os presentes que levaria para os amigos caducaram ou passaram de moda, as comunicações que iria ler ao vivo em certos eventos perderam a atualidade. Porém a maleta continua me olhando de um canto da casa.
Quando viajamos? Imagino que suas rodas gastas me interrogam. E só atino em lhe responder que talvez esta sexta-feira num parlamento – sem poder real – alguém decrete a devolução de um direito de que sempre deveria desfrutar.
No caso de que a esperada 'reforma migratória' seja anunciada, provarei seus limites no aeroporto, em frente à guarita que tantos temem. Minha maleta e eu estamos prontas. Dispostas a comprovar se o guarda apertará o botão que abre a porta para a sala de espera ou se chamará a segurança para que me tirem do lugar".
E, pelo menos quanto ao direito de viajar para onde quiser, não há como negar que está coberta de razão. Quem quiser realmente ajudar Cuba, que tente convencer seus governantes a abandonarem estas práticas indefensáveis aos olhos das pessoas civilizadas. Elas dão péssima imagem à revolução.
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