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18.12.11

POBRE SANTOS! POBRE BRASIL!

Foi constrangedor: os jogadores santistas aparentemente hipnotizados --diria até bestificados-- pelo privilégio de estarem assistindo tão de perto a um show dos melhores futebolistas do mundo.

O placar de 4x0 para o Barcelona foi justíssimo.

E que craque extraordinário é Xavi, capaz de dar aquela matada de bola acrobática para depois colocar Messi cara a cara com Rafael!

O técnico Mano Menezes tem de se indagar: o que ele faria para não levar o baile que Muricy Ramalho levou?

Esperar o adversário atrás e apostar nos contra-ataques, com os espanhóis, não será solução.

De resto, se a ficha ainda não caíra para alguém, agora até o mais fanático dos patrioteiros é obrigado a reconhecer: não somos mais os reis do futebol.

O melhor time que o Brasil formou em muitos anos foi presa facílima para o Barcelona, que novamente manteve a posse de bola por mais de 70% do tempo, fez o que quis e quando quis, construiu sua goleada como quem tira o doce de uma criança e perdeu outras chances claríssimas de gol, inclusive mandando duas bolas nas traves do atônito Rafael.
Muricy Ramalho teve o seu dia...
Vamos ver se, uma vez na vida, tiramos as lições corretas da (acachapante) derrota, ao invés de nos consolarmos puerilmente com chavões tipo "faltou garra" e "o Neymar  pipocou". 

Não é hora de queimarmos as poucas esperanças que temos de dar a volta por cima. 

Se dependesse da opinião de torcedores frustrados, o Gerson  canhotinha de ouro  nunca mais vestiria a camisa da Seleção depois de desperdiçar um pênalti em 1964, tornando-se o bode expiatório da derrota diante da Argentina por 0x3 em pleno Pacaembu. Ainda bem que o tínhamos regendo a orquestra brasileira em 1970!

O certo é que, afora os grandes craques com que então contávamos, possuíamos em 1958 e 1962 um esquema de jogo menos convencional, com Zagallo recuando para ajudar o meio de campo e depois avançando como ponta-esquerda clássico, misto de 4-3-3 com 4-2-4.

Em 1970 fomos além, com o quadrado mágico de Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino, quatro jogadores em rotação, podendo ocupar e aproveitar qualquer espaço que surgisse.

Mas, a partir daí empacamos. 

Não assimilamos o  futebol total  que começou a se desenhar desde a  laranja mecânica   de 1974. Tornamo-nos defensivistas, pateticamente cautelosos, acreditando sempre que, segurando tudo lá atrás, nossos talentos decidiriam as partidas com suas estocadas.

Ainda ganhamos duas Copas do Mundo --sem, contudo, deslumbrarmos o mundo.

Em 1994, pela primeira vez, a taça nos veio sem uma vitória na final: depois de 120 minutos de sonolento 0x0, superamos a Itália na disputa em pênaltis, mais apropriada para  peladas  domingueiras.  

...de José Mourinho.


Superioridade real se evidenciava quando havia a disputa de jogo extra. A  loteria dos pênaltis  pode premiar o menos ruim (1994) ou propiciar uma enorme injustiça (2006).

Em 2002 foi a única vez em que a  nova escola brasileira   funcionou a contento --mas, num Mundial de entressafra, no qual nenhuma das grandes forças estava inspirada.

Quando o estilo Barcelona   se impôs, o futebol brasileiro despencou de vez.

Faltam-nos zagueiros habilidosos, capazes de retomar a bola e saírem jogando.

São anacrônicos e ridículos os nossos meio-campistas recuados, que só sabem cumprir razoavelmente a função defensiva.

E carecemos desesperadamente de jogadores cerebrais no meio de campo, que ditem o ritmo da equipe e municiem os atacantes de forma a receberem a bola com apenas um ou dois zagueiros os marcando, não uma tropa.

O superestimado Muricy Ramalho não decifrou o enigma da esfinge: nem conseguiu evitar as jogadas agudas do Barcelona, nem conseguiu fazer com que seus atacantes levassem real perigo (só ameaçaram em lances esporádicos, e mais por erros dos catalães).

Teve o Brasileirão inteiro para preparar o Santos, mas seu time chegou despreparado à partida mais importante desde 1963.

Então, temos de repensar muitas coisas e, nas categorias de base, fazer um trabalho direcionado para a gestação dos  maestros  que deixamos de produzir.

Duas semanas depois da morte do grande doutor da bola e da democracia, tivemos um atestado eloquente de como nos fazem falta, hoje, os Sócrates.

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