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11.10.10

A DISPUTA É ENTRE O CAMPO PROGRESSISTA E O REACIONÁRIO

O primeiro debate eleitoral de presidenciáveis no 2º turno foi tão melancólico que levei bom tempo até reunir coragem para me defrontar com ele.

Não passou de uma sucessão exasperante de ninharias superdimensionadas, pegadinhas, má fé e má postura.

Foi anedótico, p. ex., José Serra pretender que poucas e desimportantes privatizações sob governos petistas equivaleriam à avalanche de privatizações sob Fernando Henrique Cardoso (nos seus dois mandatos presidenciais e como ministro da Fazenda de Itamar Franco).

Mais inteligente teria sido ele dizer que quem iniciou as privatizações, afinal, foi Fernando Collor (o qual, aliás, é o estranho mais estranho no ninho dos aliados do Governo Lula!).

Também a Dilma não ocorreram as melhores réplicas em vários momentos, como quando Serra comparou os ex-presidentes da República que o apoiam àqueles que a apoiam.

Bastaria ela lembrar que tem o apoio do presidente Lula, mais bem avaliado e querido pelo povo do que os quatro citados juntos.

Quando Serra se diz um homem coerente com seu passado, está pedindo que lhe atirem na cara o fato de que, como ex-presidente da UNE, jamais poderia ter determinado a invasão da Cidade Universitária pela truculenta tropa de choque da PM, revivendo os piores tempos da ditadura militar.

Aliás, no momento em que Dilma sofre acusações tão falaciosas, fico pasmo com a não colocação no ar das chocantes agressões a estudantes e professores paulistas durante o governo de Serra.

OS CACIQUES DA DITADURA E SEU ÍNDIO

Também é totalmente incongruente com seu passado de exilado político o apoio que recebe do DEM, a quarta denominação do partido criado para dar sustentação à ditadura militar:  já se chamou Arena, PDS e PFL, sem nunca conseguir fazer com que esquecêssemos os tempos em que respaldava o mais grotesco arbítrio e as piores atrocidades.

Por conta dessa aliança Serra teve de engolir um sapo descomunal, a escolha de Índio da Costa para seu vice. A retórica do dito cujo parece saída diretamente dos sites ultradireitistas, lembrando o primarismo iletrado  e destrambelhado dos Ustras e Bolsonaros da vida.

Mesmo assim, na batalha dos currículos maquilados por marqueteiros, das promessas vazias e da satanização do adversário, Serra leva ligeira vantagem, por ter mais chão nessa estrada.

Será suficiente para contrabalançar a enorme popularidade do Lula?

A óbvia tendenciosidade da mídia golpista faz temer que um factóide exagerado ao máximo acabe funcionando, depois de tantos que se mostraram inócuos. A Folha  de S. Paulo e a Veja garimpam sofregamente tal factóide.

Então, já passou da hora da campanha de Dilma sair do terreno que favorece ao adversário e focar as diferenças ideológicas.

Chega de ajudar a burguesia a impingir a ilusão de que presidentes são homens providenciais que tudo  podem, decidem, fazem e acontecem.

Há muito tempo o PT deveria estar tratando esta eleição como uma disputa entre o campo progressista e o reacionário, entre um projeto político que contempla alguns interesses populares e outro totalmente subjugado ao capitalismo, inclusive no que ele tem de mais selvagem.

Estava certíssimo Plínio de Arruda Sampaio quando enfatizava estar representando seu partido na eleição. Para a esquerda, isto é o bê-a-bá: seus candidatos não são  capos  mussolinescos, mas expressão de um coletivo. Não é uma disputa de individualidades, e sim de forças políticas, econômicas e sociais.

Então, ao colocar em dúvida o cumprimento das promessas de Serra, deveria Dilma dizer claramente que seu adversário é refém dos interesses mais predatórios e retrógrados, de forma que, quando tiver de optar entre eles e o povo, ficará contra o povo, como ficou contra os universitários que nada mais faziam do que repetir os passos por ele mesmo dados no comecinho da sua jornada.

Só Dilma e o PT poderão resgatar essa campanha da vala comum em que os demotucanos e sua brigada virtual neofascista a estão atirando.

Eles não têm nada de diferente a oferecer, pois a burguesia nada de substancial quer conceder e resistirá com unhas e dentes às tentativas de limitarmos seus lucros escandalosos e impedirmos que continue produzindo  desigualdade social tão aberrante. Então,  os serviçais da burguesia se limitam a desconstruir tudo, na esperança de se tornarem herdeiros de uma terra arrasada.

Se depender dos demotucanos, a política continuará sendo a da entropia, da marcha para a destruição.

Só o PT e as forças de esquerda poderão trazer esperanças para o povo.

Mas, adotando uma postura bem diferente, muito mais para  Lula-lá  do que para  Lulinha paz & amor.

A atual é um salto no escuro, com riscos enormes de redundar em terrível derrota e gravíssimo retrocesso.

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