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26.11.08

OS MORTOS CONVENIENTES... E OS OUTROS

Meu ex-colega de ECA/USP, Augusto Nunes, escreveu (ver aqui) sobre um militante da ALN executado por seus companheiros em 1971.

Foi um erro terrível? Foi, claro. Nenhum verdadeiro revolucionário pode admitir que, mesmo durante uma luta de resistência à tirania, decisão tão extrema seja tomada enquanto perdurar a mínima dúvida sobre a culpa do acusado.

Quanto a justiçamentos em regime democrático, são simplesmente inconcebíveis e inaceitáveis. Ponto final.

Chocou-me, principalmente, saber que Márcio Leite de Toledo não teve o direito de se defender no tribunal revolucionário convocado para julgar o seu caso. Continuou cumprindo normalmente suas tarefas de militante, alheio ao que estava ocorrendo. Depois, foi emboscado e morto.

É óbvio que poderiam tê-lo convocado para o julgamento, dando-lhe a oportunidade de pronunciar-se sobre as suspeitas (não certezas) que havia contra ele. É como minha organização, a VPR, certamente procederia.

Mas, não se pode omitir, como Nunes faz, a situação catastrófica que a ALN vivia nos estertores da luta armada, tendo seus quadros dizimados dia a dia, já que a ditadura partira para o extermínio sistemático dos quadros da resistência.

A VPR não quis acreditar que o cabo Anselmo fosse espião e pagou um preço altíssimo por isto.

A ALN executou quem não era espião, mas parecia ser (acreditava-se que ele tivesse entregado à repressão Joaquim Câmara Ferreira, causando sua morte).

Trata-se de ocorrências deploráveis, mas recorrentes, nas lutas travadas em circunstâncias dramáticas, contra inimigos muito mais poderosos, como foram os casos da resistência ao nazi-fascismo na Europa e ao totalitarismo de direita no Brasil.

Márcio Leite de Toledo indubitavelmente merece as lágrimas por ele derramadas.

Mas também as merecem os revolucionários que sofreram torturas atrozes e depois foram abatidos como cães, em aparelhos clandestinos da repressão como a Casa da Morte de Petrópolis (RJ). Foi onde evaporaram meus queridos companheiros José Raimundo da Costa e Heleny Ferreira Telles Guariba.

E é repulsivo perceber que as tribunas da grande imprensa estão escancaradas para artigos como esse, mas blindadas contra os que evocam os episódios igualmente dramáticos dos companheiros que foram martirizados pelo regime militar.

A mídia anda burguesa como nunca. Recebendo, às vezes, uma pequena ajuda de esquerdistas que não tiveram coragem de pegar em armas quando esta era a única opção que restava, sob o festival de horrores do AI-5.

Continuam despeitados até hoje, por não terem ousado ir até onde fomos. E tudo fazem para desmerecer nossa luta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse "argumento" é velho, e já foi utilizado pela Direita durante o Estado Novo, para condenar Luis Carlos Prestes no infame Tribunal de Segurança Nacional por ter ordenado a morte da companheira do então Secretário Geral, que ele suspeitava ser agente da polícia de Filinto Müller. Nenhuma morte merece regozijo, mas quando se pensa na brutalidade das sevícias da polícia brasileira no rescaldo de 1935, que levaram Harry Berger à loucura, dava para agir de qualquer outro modo? Se você suspeita, a partir de indícios bastante razoáveis, como chefe de um grupo de pessoas caçadas pela polícia política, que alguém do seu grupo está entregando seus companheiros à tortura, estupro e morte, dá para fazer outra coisa a não ser tentar neutralizar uma ameaça destas "by all means necessary"?

Arthur Golgo Lucas disse...

Celso:

Seria interessante que, conhecendo a VPR por dentro, editasses o verbete correspondente na Wikipédia para melhorar a qualidade das informações lá presentes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vanguarda_Popular_Revolucion%C3%A1ria

A Wikipédia tem que ter formato enciclopédico, não pode jamais ser panfletária. Se ninguém com conhecimento adequado sobre o tema aparecer lá para aparar as arestas, aquele verbete permanecerá com a estrutura de um panfleto conservadoríssimo.

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