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26.10.15

VEJA UM VÍDEO QUASE DESCONHECIDO SOBRE O EPISÓDIO QUE GEROU A GREVE DE FOME DOS "QUATRO DE SALVADOR"

Aos poucos vão aparecendo na internet peças como este vídeo, que permitem montar o quebra-cabeças de uma das raras greves de fome bem sucedidas no Brasil --e, exatamente por isto, muito menos lembrada do que as, por um motivo ou outro, terminadas em desistência, como as de Lula e outros sindicalistas do ABC, de D. Flávio Cappio, de Anthony Garotinho e de Cesare Battisti.

Tive a oportunidade de contribuir para tal vitória, quando militantes nordestinos iniciaram o protesto de supetão  e fiz esforços desesperados para conseguir repercussão na imprensa, vital para que atingissem seu objetivo. 

Por ser inconveniente para a direita derrotada e a esquerda omissa, a greve de fome dos quatro de Salvador (dentre cinco presos em flagrante: Antonio Prestes de Paula, Cícero Araújo, Jari José Evangelista, José Wellington Diógenes e Marcos Wilson Lemos. Não me lembro nem consegui agora determinar qual deles ficou de fora do protesto) foi convenientemente relegada ao esquecimento. É mais fácil encontrarmos registros cuja ótica é policialesca, limitada ao assalto e prisão, como este aqui.

Daquela vez muitos se furtaram ao dever da solidariedade: houve quem se distanciasse completamente e quem não fizesse tudo que podia/deveria.
O erro: tentarem reeditar a luta armada... em 1986!


Mesmo assim, os esforços bem-intencionados frutificaram -- ainda que de forma dramática, a duríssimas penas.

Para reconstituir o episódio, aproveitarei, primeiramente, trechos da tese de pós-graduação em História de Lucas Porto Marchesini Torres, na Universidade  Federal da Bahia, A questão financeira é uma questão política, cuja íntegra vocês podem acessar aqui:

"Em abril de 1986, cinco homens foram presos após tentativa frustrada de assalto à agência Canela do Banco do Brasil na capital da Bahia, Salvador. Depois de um rápido cerco policial, tiros disparados por ambas as partes e alguma negociação, aos cinco assaltantes restaram poucas opções. O automóvel Voyage que os aguardava de frente ao banco, roubado e com placa fria, tornara-se inatingível para a fuga. Cercados, renderam-se. Entregaram suas armas (dois revólveres calibre 32, dois 38 e uma pistola automática Lugger), mais outras que haviam tomados aos seguranças, uma sacola de dinheiro contendo aproximadamente 230 mil cruzados e alguns objetos pessoais dos clientes (relógios, pulseiras, etc.). 

Do primeiro contato direto que tiveram com os policiais surgiu a necessidade de revelarem aquilo que deveria ter sido mantido em segredo e era escamoteado pelos contornos que os cinco detidos pretendiam, até então, dar àquele assalto. Algemados e submetidos, por medo de serem confundidos (e tratados como) bandidos comuns ou membros da Falange Vermelha, apressaram-se em assumir: 'somos todos petistas!'.
Apolônio de Carvalho, dirigente do PCBR voltando do exílio. 

Ao buscarem diferenciar-se dos criminosos ditos comuns, esclareceram que com o assalto desejavam levantar fundos em ajuda à Nicarágua sandinista, para onde o dinheiro seria enviado ou financiaria a viagem deles para lá como trabalhadores voluntários. Tais alegações alçaram essa ocorrência incomum ao noticiário nacional, com grande destaque, e as páginas em que apareceu não eram as policiais.

Na década de 1990 um pequeno documentário foi realizado com os presos. Introduzido por "Soy louco por ti America", de Caetano Veloso e Capinam, (...) Marcos foi recolado à frente da agência onde foi preso para recontar sua versão, agora não mais para agentes policiais. (...) Primeiro registrou demonstrações de coragem e capacidade do grupo, conscientes de como deviam se comportar naquele momento de tensão, sem perder o controle da situação. À porta do banco, segundo Marcos, a imprensa era amiga, salvaguardando a vida dos assaltantes; em seguida, se tornou inimiga, deturpando declarações dos presos. 

Marcos, à sua maneira, apostou na caracterização do grupo como ingênuo e idealista. “Eu contava com apenas 22 anos”, disse demonstrando sua juventude presumidamente imatura. Reputou suas duas grandes influências na vida, àqueles que o estimularam a perseguir seu ideal revolucionário: “Rubens Lemos, meu pai, que foi preso político na década de 1970, e Ernesto Che Guevara”.

A sentença não foi igual para todos. José Wellington, Jari, Marcos e Cícero foram apenados com treze anos e dez meses de reclusão, mais o pagamento de uma multa no valor de 21 mil cruzeiros. Prestes de Paula e Telson, com sete anos e dez meses, mais 12 mil cruzeiros de multa.
O prestígio do sandinismo estava no auge entre nós  

Após a definição da sentença, havia pouco a fazer. Os militantes perderam o espaço que tinham na imprensa e suas aparições ali tornaram-se rarefeitas.

Individualmente, tentaram benefícios que certamente os ajudaram a resistir à vida na prisão. A partir de 1987, três deles conseguiram liberação da Justiça para estudar fora do presídio. Marcos ingressou no curso de Filosofia, José Wellington em Direito (para mais adiante especializar-se na área criminal) e Telson frequentou curso técnico de soldador oferecido pelo Senai. Os demais se dedicaram ao artesanato dentro da prisão".

OS LULUS INOFENSIVOS E O CACHORRO LOUCO

Para complementar, eis narrativa que fiz em Náufrago da Utopia (Geração Editorial, 2005), único livro que parece ter abordado a greve de fome. 

[Vale, ainda, acrescentar que os cinco acabaram sendo expulsos do PT, que não lhes deu chance de apresentar  defesa e só se preocupou com os danos à sua imagem pública, não movendo uma palha para evitar que sofressem arbitrariedades na prisão.]

Como escrevi boa parte do Náufrago na 3ª pessoa, refiro-me a mim mesmo pelo pseudônimo que então utilizava para driblar a censura do regime militar: André Mauro.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa:
Rubens Lemos tivera seus dentes arrancados pela ditadura
"André chega atrasado para a reunião da Cacimba, numa tarde de sábado. O grupo literário se distribui por cadeiras e pelo chão do quarto. A palavra está com um visitante ilustre: Rubens Lemos, jornalista, poeta e velho militante comunista. André cumprimenta a todos, pede desculpa pelo atraso e se acomoda. Rubens continua expondo o problema que o trouxe a São Paulo.

Seu filho e outros companheiros foram presos ao assaltarem um banco na capital baiana, alguns meses atrás. Dinheiro para a revolução, uma prática que já parecia extinta. Por serem todos petistas, a imprensa fez estardalhaço. E o partido, temendo que esse fato fosse explorado na campanha eleitoral, voltou as costas aos chamados quatro de Salvador.

O PT está obsessivamente empenhado em livrar-se da imagem de reduto dos antigos terroristas.

Na primeira eleição de que participou, em 1982, a lei eleitoral só permitia a exibição, no horário gratuito da TV, do currículo e foto de cada candidato. Os aspirantes petistas a deputados eram quase todos originários da resistência à ditadura — e orgulhavam-se disso, fazendo questão de destacar a condição de ex-presos políticos.

A direita, por sua vez, aproveitou ao máximo para insuflar preconceitos. Colocava em circulação piadas tipo “os candidatos do PT não estão mostrando currículos, mas sim folhas corridas e boletins de ocorrência”...

Então, na eleição de 1986, o que o partido mais queria era dar a volta por cima, projetando uma imagem de respeitabilidade. Quando a prisão dos quatro de Salvador ameaçou relacionar o PT com as expropriações outrora praticadas pela vanguarda armada, foi um deus-nos-acuda!
Lemos: "Foi um golpe brutal".

Além de negar qualquer apoio a esses militantes, a tendência majoritária começou a reprimir e expurgar as correntes radicais abrigadas em suas fileiras. Pertencer simultaneamente à Articulação e ao PT continuou in, mas ser da Convergência Socialista e do PT virou out. Porta da rua é serventia da casa.

Os párias ficaram numa situação extremamente vulnerável — e os policiais, contrários à redemocratização do País, não desperdiçaram a chance. Agentes da Polícia Federal começaram a levá-los a outros Estados, sem mandado judicial nem comunicação a seus advogados, para serem mostrados a testemunhas de todos os assaltos a bancos ocorridos em passado recente.

Nem mesmo a Ordem dos Advogados do Brasil obtinha permissão para dar assistência aos prisioneiros nessas praças e acompanhar os reconhecimentos. Havia uma intenção óbvia de inculpá-los de tantos delitos quanto fosse possível.

A gota d’água foi o telefonema recebido por Rubens Lemos na rádio de Natal em que comandava um programa esportivo, alertando-o de que os explosivos recentemente roubados de uma pedreira se destinariam à simulação de uma revolta no presídio de Salvador; no meio da confusão, os quatro seriam assassinados.

Lemos fez essa denúncia no ar, abortando — se havia — tal plano. Quatro decidiram entrar em greve de fome a partir de segunda-feira. Dois dias antes, não há nenhum esquema de imprensa estruturado para fazer com que seu protesto repercuta nas principais capitais do País.

O comitê de solidariedade paulista é imediatamente formado. E André aceita ficar com a missão mais difícil: colocar a greve de fome no noticiário...

Começa enviando um comunicado à imprensa para cientificá-la da greve. Ninguém publica.

Convence Lemos a escrever uma carta emocionada à população brasileira, afirmando que, em face de seus (reais) problemas cardíacos, delega ao povo a missão de assegurar a sobrevivência do filho Cícero, caso não possa fazê-lo pessoalmente. Ninguém publica.

Visita deputados, redações, agências noticiosas. Na do Governo Federal, a Empresa Brasileira de Notícias, quem o atende é um agente do Serviço Nacional de Informações travestido de jornalista. Fazendo-lhe uma ameaça velada:
José Wellington Diógenes hoje é advogado
— O tempo não está bom para os presos políticos e muito menos para quem já esteve preso. Se for pra jaula de novo, é bem provável que nunca mais saia. Ou ir direto pra baixo da terra...
Tem melhor sorte nos contatos com os correspondentes estrangeiros, que enviam algumas linhas a seus veículos. Mas é pouco para incomodar o governo brasileiro.

A cada dia, aumenta a apreensão no comitê de solidariedade. André atua em tempo integral, atirando em todas as direções.

Procura o procurador Hélio Bicudo, que já entrevistara para uma revista, e pede ajuda. Bicudo lhe dá uma apresentação para a Cúria Metropolitana de São Paulo. Acaba conseguindo uma carta anódina na Igreja, na linha de que por piores que hajam sido seus crimes, esses presos devem ter seus direitos respeitados. Ninguém publica.

Faz idêntica gestão na OAB, obtém uma carta igualmente cautelosa e também a distribui inutilmente aos jornalistas.

Manda um fax pessoal a todos os diretores-proprietários de veículos da grande imprensa, alertando-os de que, caso persista o boicote às notícias sobre a greve de fome, frustrando quaisquer chances de atendimento das reivindicações, caberá a eles a responsabilidade por qualquer tragédia que venha a ocorrer.

Quando já não sabe mais o que fazer ou a quem recorrer, o colunista que escreve sobre o Rio de Janeiro na página de Opinião da Folha de S.Paulo, Newton Rodrigues, dedica todo seu espaço daquele dia ao assunto. Diz que recebeu do jornalista Lungaretti uma denúncia consistente sobre violação dos direitos humanos dos quatro de Salvador, tendo repassado-a ao ministro da Justiça, Fernando Lyra.
Bobby Sands, mártir irlandês.

André, que enviara o dossiê a Newton Rodrigues apenas por causa das posições libertárias que este assumia na coluna diária e do seu passado de resistência ao golpe de 1964, fica então sabendo que o veterano jornalista faz parte do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (...). Um golpe de sorte, no momento exato! Os quatro, segundo os médicos, começam a correr riscos mais graves!

No dia seguinte, Rodrigues relata a seqüência do caso: o ministro determinou ao governador da Bahia, Waldir Pires, que tome as providências cabíveis para que a greve de fome tenha um desfecho humanitário.

André e o comitê de solidariedade são informados de que o governador baiano oferece aos presos a garantia de não serem mais sequestrados pela Polícia Federal para reconhecimentos arbitrários, além de estar disposto a permitir que estudem ou trabalhem durante o dia, somente pernoitando na prisão.

Mas os quatro, empolgados com a mobilização de estudantes de Salvador em seu favor, pretendem prolongar a greve de fome por mais dois dias. Querem arriscar ainda mais a vida para desfrutar seu momento de glória, depois de terem sido vilipendiados pela própria esquerda!

André compreende seus sentimentos, mas considera o êxito político mais importante do que o desagravo pessoal. Então, na reunião do comitê, ele é incisivo:
— Estávamos sem perspectiva nenhuma e a vitória praticamente caiu do céu. Não podemos permitir, de jeito nenhum, que ela se transforme em derrota.
Decide-se mandar um ultimato a Salvador: ou os quatro saem imediatamente da greve, ou o comitê de apoio paulista vai mandar um comunicado a todos os jornais expressando sua discordância dessa postura.

É um blefe pois, a julgar pelos precedentes, ninguém publicaria. Mas, surte efeito. Depois de mais de uma semana sem alimentarem-se, os quatro são socorridos e se restabelecem plenamente.

Como recompensa por ter agido enquanto o PT se omitia, André recebe um insulto insólito do dirigente petista Rui Falcão:
— O Lungaretti e os quatro de Salvador são todos cachorros loucos!"
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20.10.15

UM ROTEIRO PARA O BRASIL SAIR DA CRISE

Só os tacanhos e os que têm muito a perder não percebem/admitem que a saída civilizada do impasse político que ora imobiliza o Brasil, fazendo agravar-se cada vez mais nossa pior crise econômica desde a hiperinflação do Sarney, exigirá concessões das várias partes, pois nenhuma é forte o suficiente para impor sua hegemonia. 

Então, trago aqui um roteiro plausível para tanto, de antemão reconhecendo que os péssimos atores que dominam a cena política dificilmente terão grandeza e despojamento para assumirem suas responsabilidades. Mas, temos sempre de tentar:
  • a fratura exposta da total discordância do Partido dos Trabalhadores com a política econômica neoliberal ora praticada deveria ser levada à consequência óbvia, com o PT anunciando sua saída do governo e a disposição de encabeçar a oposição de esquerda à presidente Dilma Rousseff;
  • Dilma, por sua vez, ficaria com as mãos livres para apoiar-se nas forças que têm real afinidade ideológica com suas diretrizes econômicas, o PSDB e o PMDB (mais os coadjuvantes de sempre, que gravitam automaticamente na órbita do poder);

  • neste sentido, ela poderia deixar o PT e, p. ex., reingressar no PDT, que certamente receberia de braços abertos a caneta presidencial, mesmo sabendo que Leonel Brizola estaria se revirando na cova.
Ou seja, sem renúncia, sem impeachment nem golpe (seja ele branco ou sanguinário), o Brasil se desvencilharia das amarras dos liliputianos, passando a cuidar do que realmente importa para o povo sofredor: o reaquecimento da economia. [Tenho ouvido rumores de que, depois de 970 mil trabalhadores terem perdido o emprego entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, a divulgação dos dados do terceiro trimestre trará números ainda mais acachapantes, com cerca de 1,4 milhão de pobres coitados atirados na rua da amargura. Num país pobre como o nosso, algo assim desgraça e mata muita gente.]

O PT resgataria sua alma, livrando-se do mico de ser obrigado a respaldar medidas econômicas das quais é ferrenho adversário desde o nascedouro. E sua volta à oposição recolocaria Lula na disputa presidencial de 2018, pois a atual derrocada econômica está pulverizando suas chances.

O PSDB e o PMDB conquistariam o que sempre quiseram, o poder. Talvez adiante percebessem que administrar uma economia em frangalhos não é exatamente um grande negócio...

Dilma obteria o que mais tem buscado nos últimos meses, sua prioridade máxima e praticamente única: escapar do impeachment e terminar o seu mandato. Teria, claro, de conformar-se com a redução do seu poder real, mas seria o preço justo a pagar por tê-lo exercido de forma tão atabalhoada e incompetente. Na condição de rainha da Inglaterra, desempenharia um papel à altura dos seus predicados e não teria como causar maiores estragos.

19.10.15

DILMA E O DILÚVIO

Dilma não pede mais a benção do padrinho ... 
Na semana passada, o que há de mais representativo e influente no PT fritou Joaquim Levy como nunca. Ainda assim, Dilma Rousseff declarou que o manterá como ministro da Fazenda. Por quê?

Porque os interesses do partido e da presidenta são conflitantes neste momento.

Como o Juquinha que só pensava em sexo, a Dilma só pensa em evitar o impeachment. Seu ego descomunal impregna cada decisão que toma. Pactuará com o pior demônio do inferno, se for necessário. Mas não admite a perspectiva sair do Palácio do Planalto pela porta dos fundos.

Então, com a popularidade no fundo do poço e cada vez mais mal amada pela esquerda, agarra-se como uma náufraga na única boia que julga poder salvá-la: o grande capital.

Foram os endinheirados que exigiram o arrocho fiscal e Dilma teme que, expelido Levy, parte deles cerre fileiras com a oposição e a outra parte apenas assista ao espetáculo, não movendo uma palha para evitar o impedimento presidencial. Então, ela bate o pé: que fique Levy e que se dane o povo brasileiro! 

Pois a recessão não cessará de agravar-se enquanto não for retirado o bode da sala... quer dizer, do governo. Um milhão de coitadezas foram para a rua da amargura. Quantos mais terão de pagar pela irredutibilidade da Dilma?
...e desautorizou publicamente Rui Falcão.

Já o Lula e o Rui Falcão, ao abrirem o jogo (e o fogo) contra Levy, priorizam a sobrevivência do PT, pois a recessão o está destruindo. Quanto mais tempo persistir a indefinição atual, maior será o estrago. 

Ser identificado pelos trabalhadores como o partido responsável pela pior penúria das últimas décadas deverá causar verdadeiros desastres eleitorais. A perda da hegemonia nas ruas foi só um trailer do que está para vir.

Então, os grãos petistas estão fazendo pressão máxima para que a Dilma desista da guinada à direita e reassuma as bandeiras históricas do partido, mesmo que isto venha a ser a gota d'água para o impeachment.

E a presidenta a eles resiste porque coloca sua autoimagem acima do País, do partido, do seu ídolo de ontem e do seu padrinho de hoje, dos ideais que longinquamente a levaram a pegar em armas, dos clássicos marxistas que leu e esqueceu, das agruras dos desempregados e do desespero dos miseráveis, acima até de Deus (caso nele acredite). 

16.10.15

VALE TUDO PARA DESQUALIFICAR BICUDO, ATÉ ATRIBUIR-LHE SENILIDADE!!!

O homem que derrotou o Esquadrão da Morte...
Eartigo publicado nesta 5ª feira (15/10) no Brasil 247, a colunista Tereza Cruvinel ignorou não só as boas práticas jornalísticas como as mais elementares noções de civilidade, educação, respeito pessoal e deferência para com as pessoas idosas, ao indagar, já no título, se Bicudo está senil?.

E, no primeiro parágrafo, consumou a tentativa de desqualificação de um dos maiores heróis da resistência jurídica à ditadura militar, lastreada tão somente no preconceito em relação à sua idade (93 anos), já que não aponta nele nenhum comportamento característico da senilidade, apenas reprovando suas opiniões. Ou seja, pretendeu intimidá-lo por dele discordar, e o fez lançando uma suspeição que não tinha competência para lançar, já que não é médica: 
"Um homem lúcido como ele sempre foi não diria os disparates que disse, em entrevista ao Estadão, se tivesse perfeito domínio de suas faculdades mentais. O jurista Hélio Bicudo disse que 'o PT tomou conta do judiciário. É o PT que está decidindo o que acontece no STF. Quem foi que colocou esses ministros no tribunal? Foi o PT. Eles (ministros) não irão julgar nada contra o PT'".
Sem entrar no mérito da independência ou não de cada um dos ministros do STF empossados desde 2003, é perfeitamente cabível um cidadão lúcido suspeitar que o partido no poder favoreça candidatos simpáticos a seus interesses.
...e sua detratora.

Ainda mais depois de tanto haver sido dito que, para conquistar a vaga, Luiz Fux teria enganado alguns grãos petistas, levando-os a crerem que ele ajudaria a absolver os mensaleiros.

Acredito, enfim, que Cruvinel tenha infringido o Estatuto do Idoso:
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:
          Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
Bicudo concorreu para este desfecho 
E também o Código Penal:
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:             
§ 3º  Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
Como leigo que sou, não tenho a mínima pretensão de esgotar a análise jurídica dessa ofensa.  É ao Ministério Público.que compete tal tarefa.

O que não exime a Cruvinel da obrigação moral de retratar-se o quanto antes, pedindo desculpas a Bicudo por ter escrito como qualquer sem noção, e não como uma jornalista.

8.10.15

DILMA DEVERIA RENUNCIAR IMEDIATAMENTE!

O governo Dilma sofreu derrota acachapante no Tribunal de Contas da União, por irresponsabilidade fiscal.

Certamente sofrerá outra no Tribunal Superior Eleitoral, por financiamento ilícito da campanha presidencial de 2014.

A probabilidade de impedir que o processo de impeachment seja aberto na Câmara Federal é remotíssima.

E a economia brasileira continuará indo de mal a pior enquanto os parlamentares estiverem decidindo o impedimento ou não da presidenta. Quantos deles se manterão fiéis a um governo moribundo, arriscando-se a receberem o troco do eleitorado na eleição seguinte? Há alguma dúvida quanto ao desfecho da chanchada?

Se Dilma insistir em remar contra a corrente, apenas aumentará sua quota de desastres e vexames, dando aos adversários a oportunidade de comemorarem outros triunfos marcantes até a apoteose final. 

Deveria renunciar. Imediatamente. Pois, quanto mais tempo refugar, mais reforçará a impressão de haver sido chutada.

E a esquerda tem é de curvar-se à evidência do fato de que, depois de tantas lambanças cometidas, Dilma não tem mais salvação. Ela mesma pavimentou o caminho para seu defenestramento, principalmente ao evitar confrontos efetivos com o capitalismo mas pretender corrigi-lo em alguns detalhes, com pulos do gato que deram errado, acabando por colocar a economia em parafuso.

Depois, reelegendo-se quando a situação já era gravíssima, cometeu um erro pior ainda: acreditou que a volta à ortodoxia bastasse para fazer tudo entrar de novo nos eixos.

Mas, como já acontecera no Governo João Goulart, a guinada à direita não funcionou porque os endinheirados jamais confiariam nela plenamente e a esquerda passou a desconfiar dela por estar-se mancomunando com o grande capital. 

Perdeu o apoio dos únicos que poderiam dar-lhe uma mão forte nesta hora e não ganhou nada em troca. Como eu cansei de alertar, se não demitisse o Joaquim Levy, acabaria morrendo abraçada com ele. Podem encomendar dois caixões.

O impeachment, no entanto, não é nenhum fim do mundo. Caberá à esquerda fazer um profundo processo de autocrítica, reagrupar suas forças e travar novas batalhas, como estas:
  • favorecer a impugnação da chapa de 2014 como um todo, para que seja convocada nova eleição presidencial ao invés de a transição ser decidida num conchavão entre PMDB, PSDB e forças subalternas; 
  • posicionar-se frontalmente contra todas as iniciativas que visem equilibrar as contas públicas sangrando os trabalhadores, os pobres e os indefesos.
Pois, após o tsunami Dilma.2, a tendência óbvia é a de que o novo governo seja articulado pela direita. E dela só podemos esperar mais do mesmo neoliberalismo que Joaquim Levy tentou socar-nos goela adentro, com a única diferença de que provavelmente será vendido de forma mais hábil, por um economista de primeiro time, ao invés do pobre coitado que o Luís Carlos Trabuco induziu a Dilma a empossar.

Em suma, a luta continuará. Com a vantagem de que a esquerda vai poder reassumir sua verdadeira identidade, livrando-se do mico de defender o mandato de uma presidente com cuja política econômica jamais poderia compactuar.

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