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7.6.10

BALANÇO DO EPISÓDIO DA FLOTILHA

Em tempos de Copa do Mundo, o resultado do último confronto entre Israel e pacifistas foi uma goleada. O estado judeu atacou de forma destrambelhada a flotilha de ajuda humanitária a Gaza e ficou com a defesa tão exposta que os adversários marcaram gols à vontade.

O mundo inteiro já chegou a conclusões definitivas:
  • Israel cometeu óbvios crimes ao abordar o comboio em águas internacionais, ao assassinar pelo menos nove estrangeiros no curso de uma ação ilegal, ao agredir vários outros, ao sequestrar os sobreviventes, ao mantê-los presos por alguns dias e ao despachá-los para onde não optaram por ir;
  • o bloqueio do Gueto de Gaza (em tudo e por tudo semelhante ao Gueto de Varsóvia...) é criminoso e aberrante, devendo ser levantado o quanto antes.
A alegação de que os assassinos israelenses estariam exercendo legítima defesa, ao encherem de balas vítimas que não portavam armas de fogo, é risível.

Nem que a flotilha tivesse invadido seu território faria sentido, pois o emprego desmedido de força salta aos olhos.

Em alto mar, então, nem há o que discutir. Os coitados tinham todo direito de reagir ao ataque de piratas; e estes, nenhum de acrescentar uma atrocidade a uma ilegalidade.

Houve quem levantasse uma questão cabível: o que Israel fez foi uma ação pirata ou um ato de guerra?

Como a embarcação atacada tinha bandeira turca, formalmente o segundo enquadramento é o mais correto.

Mas, como se tratava de uma missão humanitária internacional, a agressão de Israel se deu contra o mundo civilizado como um todo, e não especificamente contra a Turquia. Considero que andou certo o governo turco ao não levar o episódio às últimas consequências, declarando guerra a Israel, como poderia ter feito.

Agora, o estado judeu, também de forma risível, nega-se a aceitar a participação de outras nações ou organismos na investigação do episódio.

Pretende fazê-la sozinho, com o propósito de acobertamento, claro. A Turquia está certíssima em interpretar tal atitude como uma admissão de culpa.

Pelos mesmos motivos expostos acima, o país formalmente agredido tem todo direito formal de liderar as investigações. O pleito da Turquia procede.

Mas, como o ataque se deu em águas internacionais e a vítima foi uma missão humanitária integrada por cidadãos de vários países, a investigação deveria competir mesmo é à ONU.

Continua valendo o que eu afirmei na semana passada:
"Respaldado no poder econômico e de mídia de judeus do mundo inteiro, Israel aplica, há décadas, a lei do mais forte.

"A ONU terá de agir da mesma maneira, se quiser ser respeitada: fazendo valer a força maior de que teoricamente dispõe.

"Para começar, exigindo o imediato levantamento do bloqueio israelense a Gaza.

"Depois, impondo a rigorosa apuração desse episódio de pirataria em alto mar, seguida da não menos rigorosa punição dos responsáveis."
Não tenho dúvidas de que um relatório elaborado pela ONU condenará Israel de forma tão enfática quanto o fez o de Richard Goldstone, sobre o genocídio praticado contra os palestinos de Gaza na virada de 2008 para 2009.

Nem de que será aprovado, como sempre, por esmagadora maioria.

Mas, produzir efeitos concretos é outra história.

Como assinalou o colunista Jânio de Freitas, em dia inspirado (A cara e a alma):
"Se há mais de quatro décadas nenhuma das tantas e diferentes tentativas de pacificação da área prosperou, (...) é bastante lógico que o fundamento do problema esteja em um fator influente sobre toda a área ou sobre partes decisivas dela.

"Tal fator existe. Tem cara e tem alma. Sua cara é o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, uma cara cínica, apta a adotar ares de seriedade e de cumprimento compungido do dever, quando põe em prática os atos mais abjetos. Sua alma é de testa de ferro, de guarda-costas matador, de agente duplo, de traficante.

"Tais características do Conselho de Segurança ativam-se a cada vez que um dos seus cinco integrantes permanentes [EUA, Rússia, França, Inglaterra e China] invoca o direito de veto a uma resolução proposta por um dos 15 membros...

"(...) Dominante, há mais de 40 anos a direita belicista de Israel não precisa pensar em conter suas ambições territoriais e de dominação; nem em possíveis fórmulas de convívios sem beligerância na região, respeito aos acordos internacionais sobre práticas toleradas e crimes de guerra, violações de direitos, respeito a fronteiras e a águas internacionais.

"Israel é uma população dividida em relação ao que o país faz, mas é um país de mãos livres para fazer o que quiser. E faz, implícita e explicitamente autorizado pela assegurada cobertura da maior potência mundial".
Então, em última análise, é Barack Obama quem decidirá se Israel vai ou não continuar cometendo impunemente as piores truculências.

Obama terá de optar entre suas conveniências políticas domésticas, num país em que o apoio dos judeus ricos e da mídia que eles controlam decide eleições, e o respeito à Justiça e ao Direito nas relações internacionais. Nem mais, nem menos.

Temo que ainda não seja desta vez que os EUA dirão: "Sim, nós podemos... ser justos".

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