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31.8.11

MINISTRA MARIA DO ROSÁRIO REPUDIA ELOGIOS DA ROTA À DITADURA

A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosario, ficou indignada ao tomar conhecimento da retórica ditatorial adotada no site do 1º Batalhão de Choque da Polícia Militar (Rota), abrigado no Portal do Governo de São Paulo:
"Eu me senti aviltada por isso, uma página oficial de um governo estadual, no período democrático, que faz uma homenagem à deposição de um presidente legitimamente eleito [João Goulart]. Tenho certeza de que o governador Geraldo Alckmin vai tomar as providências que se impõem".
Segundo ela, trata-se de "uma estrutura do Estado de São Paulo, não se pode comemorar o golpe, não se pode comemorar a violação do estado democrático de direito, sob pena de se plantar novas violações". Maria do Rosário prometeu discutir o assunto pessoalmente com Alckmin.

A Rota também se ufana do papel por ela desempanhado na perseguição aos resistentes que pegaram em armas contra a ditadura e o terrorismo de estado implantados pelo golpe militar de 1964.

Venho questionando tal aberração desde outubro de 2008. Já encaminhei denúncia formal a três governadores -- José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin --, além de conseguir que Serra fosse indagado a este respeito na sabatina da Folha de S. Paulo, durante a última campanha presidencial. Mais recentemente, o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) fez uma interpelação a Alckmin.

O valoroso companheiro Ivan Seixas, também veterano da Resistência à ditadura militar, vem acompanhando passo a passo esta pequena cruzada. Foi dele a iniciativa de levantar o assunto em audiência pública a que Maria do Rosário compareceu na Assembléia Legislativa de São Paulo.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que somente a Polícia Militar poderia se manifestar sobre o tema. Procurada pela reportagem de O Globo, a PM não se posicionou.

"Não nos contentamos com o cinismo daqueles que escreveram a história oficial. Devemos agir diante disso", afirmou a ministra, concluindo:
"Construir a democracia é uma tarefa cotidiana. Me incomoda que, todos os dias, no jornal, haja novos elogios ao período da ditadura militar, inclusive à Rota, como se naquele tempo tivéssemos mais segurança ou direitos que hoje. Quando eu vejo elogios ao período da ditadura militar e vejo na página de governo um batalhão que se orgulha de ter participado da deposição de um presidente eleito e pelos massacres promovidos pela violência de Estado, vejo que temos muito que afirmar".

ASSINE AQUI A PETIÇÃO ON LINE PELA SUPRESSÃO DOS ELOGIOS  AO GOLPISMO, 
À DITADURA E AO TERRORISMO DE ESTADO NA PÁGINA VIRTUAL DA ROTA

29.8.11

GRANDE DOUTOR: LEVANTA, SACODE A POEIRA E DÁ A VOLTA POR CIMA!

No palanque das diretas, anunciado por Osmar Santos
Ótima notícia é a alta de Socrates Brasileiro.

Parafraseando a inesquecível frase com que George Foreman esquivou-se de comparar os geniais Muhammad Ali e Joe Louis ("Não sei dizer se Ali foi o maior peso-pesado de todos os tempos, mas, sem dúvida, foi o melhor cidadão que já lutou boxe"), eu diria que o doutor foi o melhor cidadão que já se tornou grande futebolista.

Antes dele, os craques eram quase todos vaquinhas de presépio dos cartolas -- vis parasitas que vicejam à sombra das chuteiras imortais, para, da arte dos boleiros, extraírem grana, prestígio e poder.

Mesmo os que tinham espírito mais crítico e independente, evitavam dizer o que realmente pensavam da engrenagem mafiosa do futebol. Afonsinho, rara exceção, não teve a carreira que seu talento prefigurava, exatamente por haver ousado trombetear a nudez do rei.

O que Sócrates conseguiu foi impressionante: não só venceu como jogador (apesar do submundo do futebol e a venal imprensa caudatária terem insistentemente tentado desmoralizá-lo), como conseguiu unir o elenco do Corinthians em torno de suas idéias e impô-las aos dirigentes do clube.

Parabéns pelo novo gol, doutor!
Lembrem-se: ainda estávamos sob ditadura. A  democracia corinthiana  (o direito de os atletas participarem da tomada de decisões que os afetavam, como a necessidade ou não de concentração antes dos jogos) servia como modelo e cartão de visitas da democracia  em si. Havia um conteúdo político maior, subjacente à afirmação da dignidade profissional dos jogadores.

E, exatamente como Muhammad Ali, teve Sócrates a grandeza de dispor-se a um grande sacrifício pessoal em nome de suas convicções.

Ali perdeu o cinturão, muita grana e alguns dos melhores anos da carreira de um pugilista por recusar-se a servir como relações públicas para a agressão estadunidense ao povo vietnamita -- atitude que justificou com argumentos religiosos, mas cujo motivo maior ficou evidenciado na frase "Vietcong nenhum me chama de nigger  [pejorativo muito usado pelos racistas dos EUA]".

Da mesma forma, Sócrates abriria mão de muita grana italiana se tivesse a oportunidade de contribuir para a reconstrução democrática do Brasil. Foi o que jurou num ato público da campanha das diretas-já, no Vale do Anhangabaú (SP): comprometeu-se solenemente a, caso fosse aprovada a emenda Dante de Oliveira, recusar a estratostérica proposta da Fiorentina.

Tenha vida longa, doutor. Ainda precisamos de você... e muito!

O AMARGOR E A ESPERANÇA

Jornal publica, com o apoio de um vídeo, que policiais deixaram bandidos agonizantes sem socorro, mandando-os estrebucharem de uma vez.

Os leitores, em expressiva maioria, aplaudem os policiais e criticam o jornal (extremamente criticável por outros motivos, mas certo desta vez).

Militar toma o poder num país árabe e impõe uma tirania pessoal, com tinturas anticolonialistas para dourarem a pílula. No entanto, o arbítrio, as torturas e assassinatos de opositores eram os mesmíssimos dos regimes de gorilas latino-americanos como Pinochet.

Muitos esquerdistas brasileiros tomam as dores do tirano, lamentando sua derrubada porque os revoltosos têm apoios discutíveis... embora seja indiscutível que o povo queria mesmo é ver-se livre do clã que o oprimia há 42 anos, enquanto seus membros ostentavam repulsivos privilégios de nababos.

No fundo, são dois exemplos de um mesmo comportamento: pessoas que abdicam de serem boas, justas, nobres e dignas. Preferem ser amargas, más, rancorosas e vingativas. Optam por jogar a civilização no lixo, apoiando a imposição da força bruta e abrindo as portas para a barbárie.

Mas, nem a criminalidade será extinta com o extermínio dos bandidos (outros tomarão seu lugar, indefinidamente), nem a revolução mundial avançará um milímetro com a esquerda apoiando tiranos execráveis. Quem é guiado pelo amargor, apenas se coloca no mesmo plano do mal que combate, abdicando da superioridade moral e desqualificando-se para liderar o povo na busca de soluções reais.

No caso dos esquerdistas desnorteados, eles esquecem que os podres poderes se sustentam exatamente na descrença dos homens quanto às possibilidades de mudar o mundo.

Céticos, eles se tornam impotentes. Cabe a nós devolvermo-lhes as esperanças.

Nunca teremos recursos materiais equiparáveis aos do capitalismo. Nosso verdadeiro trunfo é personificarmos tais esperanças -- principalmente a de que a justiça social e a liberdade venham, enfim, a prevalecer.

Ao apoiarmos um Gaddafi, sinalizamos para o homem comum que ele só tem  isso  a esperar de nós. Quem, afora fanáticos, quererá dedicar sua vida à construção... de uma ditadura?!

Então, ou falamos o que faz sentido para os melhores seres humanos (os únicos que conseguiremos trazer para nosso lado no atual estágio da luta) ou continuaremos falando sozinhos, sem força política para sermos verdadeiramente influentes.

23.8.11

QUEM TEM OLHOS NA NUCA NÃO VÊ A PRIMAVERA CHEGANDO

Cada vez que apresento análises alternativas aos clichês esquerdistas dominantes, recebo uma enxurrada de críticas de certos companheiros, como se fosse um herege contestando mandamentos divinos...

O marxismo nem sequer existiria se o velho barbudo não tivesse ousado lançar sua visão alternativa aos clichês anarquistas dominantes. Mas, o vezo autoritário enraizou-se de tal forma na esquerda durante o pesadelo stalinista que nunca mais conseguimos nos livrar dele por completo.

Daí a facilidade com que o inimigo afasta de nós os cidadãos dotados de espírito crítico: ao defendermos com tanto ardor regimes execráveis e execrados como o de Gaddafi, damos todos os pretextos para sua máquina de propaganda trombetear que nosso objetivo último seria estabelecer tiranias. E a indústria cultural deita e rola em cima de nós.

Comigo não, violão. A despeito de quaisquer pressões dos que encaram o futuro com a nuca, continuarei tentando discernir o que está à frente e oferecer melhores opções ao movimento revolucionário do que as hoje prevalescentes.

Pois, queiramos ou não, é o capitalismo que domina o mundo e nós vimos perdendo terreno desde a segunda metade da década de 1980.

Está na hora de começarmos a virar esse jogo. E não será com Husseins, Gaddafis, al-Assads e Ahmadinejads que recolocaremos a revolução mundial em pauta.

Pois, é disto que se trata: regimes híbridos em países isolados são facilmente cercados e inviabilizados pelas potências capitalistas, o que acaba forçando-os, para sobreviverem, a incidirem em distorções de todo tipo. Tornam-se mais úteis para o inimigo como espantalhos do que para nós como cartões de visita.

Marx sonhava com uma onda revolucionária varrendo o planeta. É uma hipótese que se tornará cada vez mais viável com o agravamento das crises cíclicas do capitalismo (as quais, mais dia, menos dia, desembocarão numa depressão talvez ainda mais terrível que a da década de 1930) e com as catástrofes ambientais que se avizinham.

Se há um sentimento comum à maioria dos povos, neste início do século 21, é o repúdio a governos que achatam os governados. Até nos países árabes, como bem destaca Vladimir Safatle no seu ótimo artigo desta 3ª feira, Outro jogo, é "sintomático que a palavra mais usada seja  respeito":
"Seus levantes (...) foram em nome do fim de uma mistura entre opressão política e desencanto econômico".
Trocando "opressão política" por "falta de verdadeira representatividade política", pode-se dizer o mesmo das revoltas européias. O povo quer respeito e quer o fim dos sacrifícios inúteis que o capitalismo putrefato lhe impõe, embora ainda não tenha consciência de que são inerentes ao sistema capitalista e só acabarão quando ele acabar.

A internet, principalmente, está sacudindo o marasmo secular. Há cada vez mais frações da massa se descobrindo como gente, "que é para brilhar, não para morrer de fome", na bela frase de Caetano Veloso.

E se recusando a ser "povo marcado, povo feliz", como disse o Zé Ramalho, completando o raciocínio do seu guru Geraldo Vandré, de que "gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente".

É entendendo, harmonizando-nos com e passando a expressar esse sentimento  tão difuso quanto poderoso, que reconstruiremos a esquerda, tornando-a novamente capaz de sacudir o mundo -- e não lambendo a bota de tiranos.

22.8.11

FIM DE UMA TIRANIA

Tripoli em festa: contra imagens não há argumentos
No jogo de xadrez, as peças menores são sacrificadas em nome da vitória final. É comum a partida acabar sem que reste um peão sequer no tabuleiro.

Na vida, isto é inconcebível e inaceitável. Se não priorizarmos a existência humana como valor supremo, propiciaremos o advento da barbárie.

Para os revolucionários, mais ainda. Existimos para defender os peões, não os reis ameaçados.

Então, é simplesmente grotesco e indefensável o alinhamento de qualquer esquerdista com déspotas como o que está sendo derrubado na Líbia e o que precisa ser derrubado na Síria.

Devemos, sim, fazer tudo que pudermos para evitar que sejam substituídos por outros tiranos e/ou joguetes dos EUA e de Israel.

Pode um revolucionário identificar-se com ISTO?!
Mas, estendermo-lhes as mãos significa trairmos nossa missão, conforme foi brilhantemente enunciada por Marx.

Cabe-nos conduzir a humanidade a um estágio superior de civilização, sentenciou, com máxima clareza, o velho barbudo. Não acumpliciarmo-nos com retrocessos históricos. Jamais!

Absolutismo, feudalismo, estados teocráticos, tiranias pessoais, tudo isso foi merecidamente para a lixeira da História. E é lá que deve permanecer.

Nosso compromisso é com a construção de uma sociedade que concretize, simultaneamente, as duas maiores aspirações dos homens através dos tempos: a justiça social e a liberdade.

Muammar Gaddafi e Bashar al-Assad, brutais genocidas, não nos aproximaram dessa sociedade um milímetro sequer. São carniceiros comparáveis a Átila e Gengis Khan.

Todos deveríamos manter deles a mesma distância que mantivemos de Pol Pot a partir do momento em que ficaram comprovadas, sem sombra de dúvida, as características monstruosas do regime do Khmer Vermelho.

21.8.11

30 ANOS SEM GLAUBER ROCHA, GLADIADOR DEFUNTO MAS INTACTO

Nesta 2ª feira (22) se completam 30 anos da morte do baiano Glauber Rocha, o maior cineasta brasileiro de todos os tempos.

Tudo nele era trepidante, tempestuoso. Depois de realizar um filme apenas promissor sobre misticismo e consciência social (Barravento, 1962), deu um salto incrível de qualidade em apenas um ano, obtendo consagração instantânea com Deus e o Diabo na Terra do Sol, parábola delirante sobre cangaceiros e fanáticos.

O espanto e a admiração foram tão intensos que poucos críticos perceberam se tratar de um filme um tanto desequilibrado: a primeira parte, em que o casal de camponeses  Manoel  (Geraldo Del Rey) e  Rosa  (Yoná Magalhães) ingressa no rebanho do   Santo Sebastião (ersatz de Antônio Conselheiro) é muito inferior à segunda, a da passagem de ambos pelo cangaço. E não só porque o ótimo Othon Bastos deu um banho de interpretação como  Corisco, enquanto Lídio Santos (Sebastião) era amadoresco e tinha carisma zero.

Aliás, o  Corisco  glauberiano foi o melhor cangaceiro que o cinema brasileiro criou, em mais de uma dezena de filmes. Um personagem contraditório e explosivo, ora se vendo como um instrumento de São Jorge ("o santo do povo"), ora barbarizando o sertão qual endemoniado, para vingar a morte de Lampião.  

Outro grande acerto de Glauber foi o contraponto de  Corisco: o jagunço  Antônio das Mortes  (o papel da vida do grandalhão Maurício do Valle).

Antônio  mata cangaceiros e beatos a soldo do latifúndio, mas acredita estar desimpedindo o caminho para a libertação do povo, pois este deverá travar sua grande cruzada "sem a cegueira de Deus [Sebastião] e do diabo [Corisco]" - motivo pelo qual ele liquida os dois.

É o conceito que encerra o filme: a morte de  Corisco  tira  Manoel  da órbita messiânica do Bem e do Mal. Em fuga, ele corre e o oceano parece vir ao seu encontro, realizando a profecia de  Sebastião: "o sertão vai virar mar e o mar virar sertão". É claro que Glauber tinha em mente os altos mares da revolução.

O que veio, entretanto, foi o golpe militar. E a imensa depressão causada pela derrota foi expressa/purgada na obra-prima seguinte de Glauber, Terra em Transe (1967), sobre o confronto entre o político populista  Felipe Vieira  (José Lewgoy) e o direitista  Porfirio Diaz  (Paulo Autran) num país fictício com todo o jeitão de Brasil, culminando numa quartelada que tem total apoio da empresa estrangeira dominante.

Entre os dois está colocado o poeta  Paulo Martins (Jardel Filho), representando uma intelectualidade oscilante e confusa, mas que, no momento da decisão, lança-se à luta contra o golpismo (o maquiavélico  Diaz,  evidentemente, foi inspirado no  corvo  Carlos Lacerda).

É uma contundente autocrítica da esquerda brasileira transposta para as telas. O que se discute, basicamente, são os erros cometidos pelo Partido Comunista e o apoio oportunista a um político que não era verdadeiramente revolucionário nem estava à altura do momento histórico. Quando  Vieira  evita resistir para que não seja derramado "o sangue das massas", é João Goulart que está falando pela boca dele.

E, de certa forma, trata-se de um filme premonitório: o poeta não aceita a perspectiva de viver debaixo das botas e provoca a própria morte, em nome do "triunfo imortal da justiça e da beleza". Foi mais ou menos o que fizemos nos anos seguintes, ao lançarmo-nos numa luta impossível de ser vencida -- embora, claro, não nos movesse nenhuma propensão ao suicídio, mas sim a esperança de libertar nosso povo. Tínhamos  fé cega na justeza de nossos ideais, mas a faca amolada, quem a possuía era o inimigo...

O ciclo se fechou com O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1968), um filme feito com a consciência de que era iminente o confronto armado entre a esquerda e a ditadura.

Foi uma profissão de fé na revanche histórica dos humilhados e ofendidos.   

Antônio das Mortes  entra em parafuso, repensa o papel que vinha cumprindo e acaba se reposicionando na trincheira correta, ao lado de um professor ligeiramente inspirado no médico Che Guevara (Othon Bastos) e dos fantasmas do cangaço, de Canudos e de Palmares, todos numa santa união contra o coronelismo personificado por Jofre Soares.  Finalmente, São Jorge crava sua lança no dragão.

Fora das telas, entretanto, quem acabou vencendo foi a besta-fera. E Glauber, como o  Paulo Martins  de Terra em Transe, não reencontrou seu caminho, nem inspiração, em meio à pasmaceira e ao medo.

Fez filmes repetitivos e dispensáveis, até chegar ao fundo do poço: o caótico, no mau sentido, A idade da Terra (1980), tão sem rumo no espaço que o Glauber passou quase um ano tentando montá-lo, até que, por imposição da Embrafilme, entregou qualquer coisa para exibição num festival. Comentei, então, que podíamos entrar e sair no trecho que quiséssemos, dava no mesmo...

Chegou até a levar seu estilo nervoso, com câmara na mão, à TV, fazendo intervenções  criativas  num programa dominical do SBT. Só que, estando aquelas  ousadias  meio gastas, ele foi encarado mais como atração bizarra.

No Festival de Brasília de 1978, o curta-metragem estava começando quando alguém começou a gritar no escuro:
- Aqui é o Glauber Rocha, falando em nome das aberturas democráticas [a "distensão lenta, gradual e progressiva" do ditador Geisel]. Vim para denunciar o maior dedo-duro da História do  Brasil, que é fulano [nominou o então presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal].
Os espectadores o calaram com apupos e berros de "respeita o trabalho dos outros!". Foi embora furibundo.

No dia seguinte, ouvi o acusado. Ele disse que o problema do Glauber era apenas não ter recebido uma subvenção com a qual contava.

Telefonei também ao Glauber, pedindo-lhe uma entrevista. Ele marcou para o começo da tarde, no seu hotel... e decolou para o RJ na hora do almoço.

Mas, todos os que curtimos intensamente o sonho de 1968 ficamos fora do eixo naquela terrível década subsequente - uns mais, outros menos.

Prefiro recordar o Glauber que lavou a minha alma com os três filmes que, até hoje, melhor expressaram o transe brasileiro.

Cai como uma luva, para ele próprio, a estrofe de Mário Faustino que Glauber encaixou em Terra em transe, como um tributo ao seu personagem que também termina como poeta suicida:
"Não conseguiu firmar o nobre pacto
entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o facto
da vitória do caos sobre a vontade
augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura)"

17.8.11

DITADOR SÍRIO É CLONE DE PINOCHET

Bashar al Assad: a mesma carranca...
O ditador sírio Bashar al Assad esmera-se em imitar, detalhe por detalhe, o carniceiro chileno Augusto Pinochet: seu regime genocida não só liquidou o Victor Jara do seu país, como está despejando presos políticos em estádios de futebol.

Compositor e cantor de músicas que combinavam ritmos folclóricos com mensagens de protesto, Jara lembrava muito o nosso Geraldo Vandré, também assassinado por uma ditadura bestial, embora por outros meios: dele só exterminaram a alma, deixando o corpo a perambular como zumbi.

Já do expoente máximo da  Nueva Canción Chilena  os militares ensandecidos tiraram também a vida.

pinochetazzo  o surpreendeu na universidade, sendo lá sequestrado pelas tropas golpistas, juntamente com outros alunos e professores.

Levaram-no ao Estádio Chile (não confundir com o Estádio Nacional do Chile), onde eram amontoados os seguidores do presidente legítimo Salvador Allende. Uma boa idéia dos horrores que lá tiveram lugar é dada no filme O Desaparecido - um grande mistério (d. Costa Gravas,  1982), cujas sequências mais chocantes são as que mostram as pilhas de cadáveres dos cidadãos executados pelos fascistas.

A versão mais difundida da morte de Jara é a que aparece em outro filme, Chove Sobre Santiago (1976), do chileno Helvio Soto: ele é desafiado a cantar para seu público, reunido nas arquibancadas do estádio sinistro -- e o faz. Então, os verdugos o espancam até a morte.

Seu corpo foi exumado em 2009, quando ficou comprovado que realmente esmagaram-lhe as mãos a coronhadas.

Teve seus restos mortais atirados num matagal de beira de estrada, mas acabaram sendo encontrados e levados à câmara mortuária. Depois que a esposa o identificou, foi enterrado no Cemitério Geral de Santiago.

...e a mesma bestialidade de Pinochet.
Enfim, tratou-se de um destino bem semelhante ao que acaba de ter o músico sírio responsável pelo  hino  das manifestações contra a tirania do seu país -- cujo título, numa tradução livre, seria 'Pede pra sair, Basher'.

O cadáver do autor da canção, Ibrahim Qashoush, apareceu boiando num rio, no início do mês passado.

Agora, chega a notícia de que as tropas do ditador sírio estão invadindo casas num distrito sunita do porto de Latakia, prendendo pessoas às centenas e as levando para os estádios da Cidade Esportiva de al-Raml, sede dos Jogos Mediterrâneos na década de 1980.

"Os estádios da Cidade Esportiva estão servindo de abrigo para refugiados, para impedir que eles fujam de Latakia e, tal qual vimos em outras cidades atacadas, também como um centro de detenção", disse o diretor do observatório Rami Abdelrahman à agência Reuters.

Os relatos de torturas provêm de todos os lados. Só não foram confirmadas, por enquanto, execuções nos estádios-masmorras.

É só o que falta para Bashar al Assad igualar-se a Pinochet em tudo e por tudo.

Quanto à presidente Dilma Rousseff, o que falta é ela confirmar a alardeada priorização dos direitos humanos, repudiando a ditadura síria com a mesma firmeza adotada em relação à congênere iraniana.

Afinal, para quem é ou foi revolucionário(a), não importa o sexo da vítima ou se a forma de execução é particularmente cruel (caso do apedrejamento). Temos o dever moral de nos posicionar contra as matanças, a barbárie e o despotismo em si mesmos, sob quaisquer circunstâncias e independentemente das conveniências econômicas.

15.8.11

COMANDANTE JONAS? PRESENTE! AGORA E SEMPRE!

Nesta 2ª feira (15), às 19 horas, a Câmara Municipal de São Paulo conferirá postumamente o título de Cidadão Paulistano a Virgílo Gomes da Silva, o  Jonas, dirigente da Ação Libertadora Nacional que foi um dos  mortos sem sepultura  da ditadura militar.

Preso em 1969 pelo braço militar da repressão, acabou sofrendo um dos  acidentes de trabalho  que marcaram o período: sucumbiu à violência exacerbada do primeiro dia de detenção.

Mais tarde, na virada de 1970 para 1971, as Forças Armadas decidiram exterminar os militantes que não admitiam ver eventualmente trocados por diplomatas; passaram a encaminhá-los a centros clandestinos de tortura, sem oficializar a prisão. Lá lhes arrancavam informações e depois os executavam, dando sumiço nos cadáveres.

Em 1969 a intenção ainda não era matar, embora isto frequentemente decorresse da bestialidade dos torturadores.

Eis o relato do também ex-preso político Francisco Gomes da Silva:
Meu irmão Virgílio Gomes da Silva foi preso e morto no DOI-Codi (Operação Bandeirantes), em 29 de setembro de 1969. Virgílio era militante da ALN e estava sendo procurado pelos órgãos da repressão, aparecendo inclusive em cartazes com fotografia onde se lia  Procura-se.
Eu fui preso no dia 28 do mesmo mês de setembro, tendo passado por várias sessões de tortura, quando no dia 29, Virgílio chegou no mesmo local, ou seja Operação Bandeirantes, algemado, tendo sido preso pela equipe do Capitão Albernaz (eu, pela equipe do  Raul Careca). Eu estava sendo interrogado quando ouvi os gritos de Virgílio, que chegou algemado e estava sendo espancado, quando levou um chute no rosto, que se abriu e comecou a jorrar sangue.

Continuaram os gritos de Virgílio que estava sendo torturado para que entregasse os companheiros. Ele recusava-se a delatar e reagia xingando os torturadores. Acredito que Virgílio chegou ao DOI-Codi por volta de 11h da manhã, tendo sido assassinado por volta das 21h. O corpo foi mostrado ao Celso Horta, também preso político. Virgílio foi morto pendurado no  pau-de-arara.

Mais ou menos meia hora depois que eu soube da morte de Virgílio, através de um outro preso, o Capitão Albernaz dirigiu-se a mim, informando que Virgílio havia fugido. Ouvi comentários na prisão que os torturadores haviam retirado os olhos de Virgílio, bem como seus testículos.

Mais tarde fui transferido para o Dops e lá, um delegado cujo nome não me recordo, falou que Virgílio havia sido enterrado na quadra do Dops no cemitério de Vila. Formosa.
 Mais ou menos um ano depois, minha mãe e meu irmão Vicente foram ao cemitério de Vila Formosa e souberam através de um funcionário o local onde Virgílio estava enterrado, tendo se dirigido ao referido local que, entretanto, estava fortemente vigiado pela polícia militar, sendo que os policiais determinaram que se afastassem e não voltassem mais ao local. Os jornais publicaram que Virgílio estava foragido, quando, na verdade, já estava morto.
Seus restos mortais, certamente removidos em seguida, nunca foram encontrados.

As provas da morte por tortura, sim, em 2004, no Arquivo do Estado de São Paulo: um laudo do Instituto Médico Legal de São Paulo, feito àquela época, com a foto de Virgílio depois de morto e suas impressões digitais. Sobre tal laudo aparece um aviso escrito à mão, com a frase "Não deve ser informado", o que comprova ter havido uma ordem para o desaparecimento do corpo e o acobertamento do homicídio.


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PEQUENAS TRAGÉDIAS
TO BE OR NOT TO BE, THAT'S THE QUESTION

8.8.11

É PRECISO REAFIRMARMOS: TORTURA NUNCA MAIS!

Vamos supor que um cidadão decente tome conhecimento da existência de um prisioneiro submetido há nove anos ao confinamento mais impiedoso e destrutivo, na maior parte do tempo sob o famigerado  Regime Disciplinar Diferenciado, assim descrito por Carlos Lungarzo, professor universitário que há mais de três décadas milita na Anistia Internacional:
"O RDD é um simples sistema de tortura, que se diferencia do clássico por não haver utilização de ação direta sobre o corpo da vítima, mas cujos efeitos são comparáveis.

O RDD restabelece oficialmente a tortura, (...) só que sob a hipocrisia de evitar a palavra tortura. Os efeitos dolorosos (que são procurados pelo torturador) estão todos presentes no RDD: isolamento de som, ausência de luz natural ou hiperluminosidade, bloqueio de funções motrizes com a mecanização de todos os movimentos do preso (como portas que são abertas de fora, e que impedem o detento girar uma maçaneta, contribuindo para a atrofia muscular), perda da noção de tempo e obliteração da memória em curto e médio prazos, o que acaba mergulhando a pessoa numa autismo irreversível.
 ...A prisão perpétua normal pode acabar algum dia. Mas ninguém pode repor-se de um suicídio ou de uma psicose profunda irreversível".
Isto indignaria qualquer ser humano digno deste nome e, muito mais, um militante de esquerda.

Mas, e se a vítima de tal tratamento cruel e degradante se chamar Mauricio Hernández Norambuena?

Aí poderá pesar mais o fato de o chileno Norambuena ser um personagem histórico com o qual boa parte da esquerda brasileira não aceita ter a mais remota identificação.

Ele pegou em armas contra a ditadura de Augusto Pinochet e não as depôs quando sua pátria se redemocratizou. Adiante, liderou o sequestro do publicitário Washington Olivetto em São Paulo, cujo resgate seria em dinheiro (uma heresia para os guerrilheiros daqui, pois só admitíamos o recurso à prática hedionda do sequestro em circunstâncias extremas, para salvar companheiros da tortura e da morte - "vida se troca por vida" era nosso lema).

Por mais que seus defensores aleguem motivação idealista, há forte possibilidade de que o objetivo fosse apenas o proveito pessoal.

Foi o que concluiu o Supremo Tribunal Federal, ao autorizar a extradição de Norambuena -- não consumada apenas porque o Chile se recusou a reduzir sua pena (prisão perpétua) ao máximo admitido pelo Brasil (30 anos).

Carlos Lungarzo e eu estamos nos posicionando -- e conclamando os companheiros e as pessoas com espírito de justiça a se posicionarem -- pelo cumprimento da sentença de Norambuena em condições aceitáveis numa democracia, bem como pela imediata extinção do aberrante e fascistóide RDD.

Não se trata de solidariedade revolucionária nem de uma convicção íntima de que o preso seja inocente, como no Caso Battisti. Longe disto. Ambos reconhecemos a culpa de Norambuena e não questionamos o veredicto judicial. Mas, nem um cão merece o tratamento que lhe estão impondo.

Precisamos ter a coragem de defender os princípios e valores corretos, mesmo que isto possa nos acarretar impopularidade.

Em 1914, quando a avassaladora máquina de propaganda burguesa exacerbava os sentimentos belicosos das massas e mesmo alguns líderes socialistas preferiam oportunisticamente apoiar  seus  governos no esforço guerreiro, Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo tiveram a dignidade de, arriscando-se até ao fuzilamento, exortarem os trabalhadores a não atirarem nos seus irmãos de outros países.

Da mesma forma, perderemos toda autoridade moral para exigirmos a punição dos torturadores dos  anos de chumbo  se consentirmos na tortura maquilada que Norambuena está sofrendo e na tortura convencional que continua a grassar em escala desmedida nas delegacias e presídios brasileiros.

A tortura que devemos repudiar é toda e qualquer tortura, não apenas a que atinge aqueles com quem simpatizamos.

SOBRE O MESMO ASSUNTO, LEIAM TAMBÉM O ARTIGO 
DE CARLOS LUNGARZO BRASIL: TORTURAS MEDIEVAIS

4.8.11

JOBIM: SUA REMOÇÃO DEMOROU UMA ETERNIDADE

A menos que acontença o improvável e Nelson Jobim ressurja das cinzas, este será meu último artigo a seu respeito.

A situação por ele criada, com suas seguidas, inconsequentes e inaceitáveis incontinências verbais, teve o único desfecho possível: a demissão.

Mas, o pior malefício que ele cometeu dificilmente será desfeito.

Foi Jobim quem, numa reunião ministerial decisiva, confrontou Tarso Genro e Paulo Vannuchi, encabeçando a corrente contrária à revisão da Lei de Anistia. Para opróbrio do Brasil, tal posição acabou prevalecendo.

Em plena ditadura militar, os altos escalões do arbítrio concederam um habeas corpus preventivo a si próprios (mandantes) e a seus esbirros (torturadores), para evitar que se fizesse justiça quando da redemocratização do País.

Absurdamente, a Nova República, presidida por um lambe-botas dos antigos déspotas,  esqueceu  o festival de horrores que a antecedeu.

Os dois Fernandos e o inapetente Itamar Franco deixaram tudo como estava no que tange a punições, embora FHC tenha, pelo menos, instituído as comissões de Anístia e de Mortos e Desaparecidos Políticos, para apurarem os crimes e injustiças do período de exceção, concedendo reparações aos sobreviventes e aos herdeiros das vítimas.

A chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder reavivou as esperanças de que tanto as bestas-feras, quanto os canalhas que removeram suas focinheiras, respondessem finalmente por seus atos.

Mas, com participação decisiva de Nelson Jobim, o Ministério resolveu, no final de 2007, que o Governo Federal não proporia a revisão da anistia de 1979.

Um ano mais tarde, quando a questão chegou à Justiça, a posição da União, expressa por sua Advocacia Geral, foi de que a Lei de Anistia colocara uma pedra sobre o assunto. E, todas as vezes em que a AGU foi chamada a dar seu parecer, alinhou-se com a impunidade.

Não é de estranhar-se que o Congresso Nacional tenha olimpicamente ignorado o assunto; e que o Supremo Tribunal Federal, em 2010, haja ratificado o entendimento do Executivo.

Até hoje, não se conseguiu desatar o nó atado em 2007 por Jobim e os ministros reacionários e/ou pusilâmines que lhe garantiram maioria.

Foi naquele momento que Jobim, prestando um enorme desserviço à Nação, desqualificou-se irremediavelmente para o Ministério. Sua remoção demorou uma eternidade.

JOBIM RISES AGAIN: ATACA MINISTRAS E DIZ QUE LULA É BOCA SUJA

Esta imagem NÃO é da série
"Jim das Selvas". Só parece.
Confesso: não vi o Roda Viva com o porta-recados dos milicos no Ministério. O "Vai! Vai! Vai! Não vou!" jobiniano já me cansou. Na categoria  pastelão, prefiro os Irmãos Marx.

Mais abnegado, o Jânio de Freitas assistiu e relata:
"...Jobim pôde dissimular à vontade, sempre precisando, a cada pergunta não desejada, 'voltar um pouco mais atrás' e enveredar por uma historiada que nunca chegou à resposta pedida.

Quem são os idiotas, afinal? Lá veio uma enrolação incompreensível, puxada de décadas, sem nexo e sem fim. E o seu texto metido no original da Constituição ao revisá-lo, qual é? 'É preciso voltar mais atrás', e nada. Por que a Avibrás, uma empresa bem equipada e competente, está de fora nos planos para a indústria de defesa? Nada...

E ainda os chutes: 'Pela mata, [contrabandista, presume-se] não passa, quem conhece a Amazônia como eu conheço, sabe disso'.
Se fosse assim, não haveria extrativistas de castanhas e de seringueiras, madeireiros e nem sequer índios. Jobim conhece a periferia de umas trilhas militares, nunca participou de expedição floresta adentro, não sabe que a mata amazônica é das mais transitáveis. Assim em diante.
A dissimulação sem cobrança deu-se bem".
Só discordo da última frase. Eu e muitos articulistas destacamos que foram das mais incompreensíveis suas juras de amor eterno à presidente Dilma Rousseff no Roda Viva, com Jobim parecendo querer conservar o cargo depois de tornar imperativa sua demissão ao declarar que os arquivos secretos da ditadura evaporaram, que os outros ministros são idiotas e que votou em José Serra na última eleição.

Dilma já perdeu três oportunidades de se livrar do pior ministro herdado de Lula.

Esta imagem NÃO é do filme "Apertem
os cintos... o piloto sumiu". Só parece.
Tem a quarta agora, pois, na revista Piauí que chegará às bancas nesta 6ª feira (05/08), ele qualifica as negociações sobre o sigilo eterno dos documentos oficias como "muita trapalhada" e deprecia novamente colegas do Ministério, no caso Ideli Salvatti ("muito fraquinha") e Gleisi Hoffmann ("nem sequer conhece Brasília").

Além disto, novamente faz salamaleques para FHC ("O Lula diz palavrão, o Fernando é um lorde") e ainda se vangloria de haver dado um calaboca na própria Dilma, quando esta lhe indagou se José Genoíno seria útil no Ministério da Defesa.

"Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu" -- teria sido sua resposta.

Não vou discutir a utilidade do Genoíno. Mas, a inutilidade da presença do Jobim no Ministério é gritante.

2.8.11

E A PRÓXIMA MÚSICA VAI PARA...

...NELSON JOBIM, QUE É RUIM DO COMEÇO AO FIM!

"O homem que diz 'dou', não dá!
Porque quem dá mesmo, não diz.
O homem que diz 'vou', não vai!
Porque quando foi, já não quis.
O homem que diz 'sou', não é!
Porque quem é mesmo 'é', não sou.
O homem que diz 'tou, não 'tá!
Porque ninguém 'tá quando quer.

Coitado do homem que cai
no canto de Ossanha, traidor!
Coitado do homem que vai
atrás de mandinga de amor...

Vai! Vai! Vai! Vai! Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai! Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai! Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai! Não Vou!"
(Vinicius de Moraes e Baden
Powell, Canto de Ossanha)

Nelson Jobim -- dito ministro da Defesa mas, na verdade, um mero porta-recados da caserna nos últimos Ministérios --, desde o ano passado vinha confidenciando aos íntimos que pretendia deixar o cargo em meados de 2011.

Fazia todo sentido, então, ele qualificar os outros ministros de "idiotas" e trombetear, sem motivo aparente, ter votado em José Serra na última eleição. Ou seja, não passariam de provocações, para ser mandado embora e sair posando de vítima.

No Roda Viva desta 2ª feira, entretanto, ou ele desconversou, ou está lelé da cuca. Vejam o que disse:
"A presidente é quem decide essas coisas. Se puder continuar, tudo bem. Se não puder, tudo bem".
"Sou ministro por prazer. Desejo continuar a fazer o que estou fazendo"
"A presidente Dilma é extraordinária. Minha relação com ela é ótima. Ela tem uma grande visão de Estado, uma visão de futuro".
"Não tenho nenhum problema, nenhuma dificuldade [com Dilma]".
Meu conselho à presidente é: manda logo esse baratinado ir cantar seu "Canto de Ossanha" noutra freguesia!
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