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15.12.15

"A GRANDE CRISE DO CAPITALISMO VIRÁ QUANDO CHEGAR A CATÁSTROFE AMBIENTAL"

Pesadelos da ficção-científica virarão realidade?
"A grande crise do capitalismo virá quando chegar a catástrofe ambiental. Penso que haverá desastres cada vez mais frequentes e profundos. Haverá um momento de virada na história, uma espécie de barbárie ou alguma forma de regulação global dos mercados. (...)

Não sei quando isso acontecerá, mas essa será a crise de fundo do capitalismo: destruir as condições de sua própria existência, destruindo o ambiente, modificando condições que nunca deveriam ter sido modificadas."

A previsão é de Michael Burawoy, presidente da Associação Internacional de Sociologia.

Fez-me lembrar a tese soturna de Friedrich Engels: se uma classe dominante consegue perpetuar relações de produção condenadas, que estão travando o desenvolvimento das forças produtivas, acaba ensejando o advento da barbárie.

Assim, quando a escravidão se tornou anacrônica e contraproducente, era Spartacus e seus gladiadores que encarnavam a possibilidade de, mediante sua erradicação, o Império Romano ascender a um degrau superior de civilização. Ao derrotá-los, Roma tirou de cena os únicos sujeitos históricos capazes de darem uma resposta positiva à contradição existente.
A estagnação ensejou a barbárie

Detida a revolução que a transformaria  por dentro, fazendo-a evoluir, sobreveio a estagnação, o enfraquecimento e, finalmente, a destruição por parte dos que vinham  de fora  e expressavam um estágio de desenvolvimento há muito superado por Roma. O relógio da História andou para trás.

Agora, podemos estar diante de uma situação semelhante. O capitalismo se torna cada vez mais pernicioso e destrutivo, porque esgotou seu papel histórico e tem sobrevida parasitária.

Desenvolveu enormemente as forças produtivas, permitindo que a humanidade finalmente ultrapassasse a barreira da necessidade; hoje estão dadas as condições para a produção de tudo aquilo de que cada habitante do planeta necessita para uma existência digna.

Mas, tendo como prioridade máxima o lucro e não o atendimento das necessidades humanas, desperdiça criminosamente tal potencial, impõe uma desnecessária e embrutecedora penúria a parcela considerável da humanidade, provoca turbulências econômicas cada vez mais frequentes, multiplica as agressões ambientais e malbarata os recursos naturais finitos dos quais depende a sobrevivência de nossa espécie.
Sopa dos pobres na Grande Depressão

Por enquanto, graças aos mimos que proporciona aos que participam do sistema (ao preço da exclusão de tantos outros seres humanos), à avassaladora eficiência tecnológica e à manipulação científica das consciências por parte de sua nefanda indústria cultural, tem conseguido evitar a revolução -- cada vez mais necessária e premente. Até quando?

Marcuse acreditava numa resposta provinda de quem estivesse fora do sistema, não submetido à sua lógica unidimensional, que exclui alternativas e veda o espírito crítico.

É exatamente o que começa a suceder, como, aliás, está bem caracterizado nestas outras afirmações do sociólogo Burawoy:
"Estive em Barcelona e vi os indignados. Agora também em Wall Street. São muito similares. Resistem a se engajar no sistema político, em levantar temas políticos...
Burawoy: momento de virada da História.
Todos esses movimentos refletem uma era de exclusão. (...) O centro de gravidade desses movimentos são os excluídos, os desempregados, estudantes semi-empregados, juventude desempregada, até membros precários da classe média. É um conglomerado de grupos diferentes todos vivendo um estado de precariedade porque foram excluídos da possibilidade de ter uma posição estável [dentro do sistema, pois esta se tornou] um privilégio para poucos. 
...É um movimento muito fluido e flexível. (...) Há espontaneidade, flexibilidade. É fascinante. Aparecer, desaparecer. É parte de sua força e de sua fraqueza.
...os participantes são de esquerda, são radicais democratas participativos, que preferem estruturas horizontais a verticais. Protestam contra o capitalismo que enxergam ao seu redor".
Mas, esses pequenos Davis serão suficientes para derrotar o terrível Golias dos dias atuais? Provavelmente, não.
Catástrofes levarão seres humanos a se unirem

No entanto, a barbárie também ronda as fronteiras do império --não mais na forma de contingentes humanos, mas sim das forças de destruição que o capitalismo engendrou contra si, mas se abaterão sobre nós todos.

As catástrofes ambientais que assolarão o planeta nas próximas décadas certamente levarão os seres humanos a unirem-se na luta pela sobrevivência.

Isto para não citarmos outros pesadelos, como os terroristas islâmicos, que em tudo e por tudo lembram as invasões bárbaras, pois corporificam o retrocesso histórico, a volta a um estágio inferior da evolução da humanidade. E poderão causar imenso dano se, p. ex., voltarem seus ataques suicidas contra instalações nucleares. Em se tratando de fanáticos religiosos, tudo é possível.

O certo é que, se escaparmos da destruição total, será o momento em que os seres humanos remanescentes, obrigados a tomar seu destino nas mãos, poderão dar um novo rumo à economia e à sociedade, que vão ser obrigados a reconstruir.

Por enquanto, o futuro é uma completa incógnita --inclusive a existência ou não de um futuro para a humanidade. A única certeza: assim como na canção célebre de Neil Young, estamos saindo do azul e entrando nas trevas.

Quiçá saiamos delas regenerados.

6.12.15

A MELHOR SAÍDA DO ATOLEIRO EM QUE NOS DEBATEMOS: NOVA ELEIÇÃO.

Marina Silva dificilmente diz coisas importantes, mas desta vez deu uma bola dentro:
"...se de fato os recursos da Petrobras foram usados pela campanha da presidente e do vice-presidente, o correto é que ambos os indicados possam ter o processo anulado".
Então, ela defende a cassação do mandato de Dilma pelo Tribunal Superior Eleitoral ao invés do seu impedimento pelo Congresso Nacional.

Eu diria que, levando-se em conta o significado maior da Justiça e não apenas sua letra, Dilma tanto merece ser impedida por causa do estelionato eleitoral quanto cassada em função das muitas irregularidades e abusos de poder cometidos na campanha eleitoral de 2014, que vão desde o citado financiamento com recursos de origem criminosa até as pedaladas fiscais, que maquilaram o descontrole das contas públicas.

Mas, o estelionato eleitoral, embora gravíssimo por distorcer totalmente o resultado do pleito, não foi tipificado como motivo de impeachment pelos jenios que pariram a Constituição de 1988. E a percepção popular, por sinal equivocada, é de que o impedimento só se justificaria se Dilma tivesse também passado a mão na grana, o que ela não fez.

Havia, sim, o saque da Petrobrás por parte de um esquema criminoso, ela estava mais do que ciente disto mas preferiu olhar para o outro lado a fim de não se indispor com figuras poderosas do seu partido. Numa democracia de verdade, sendo ela presidente da República ou premiê, jamais escaparia da degola. Por aqui, prosperaria a versão simplista de golpe das elites e o País não reencontraria a paz.

Então, crime eleitoral seria uma forma mais branda de o País livrar-se de uma presidente de crassa incompetência, que agarra-se compulsivamente ao cargo mas não tem a mínima ideia do que fazer com ele nem oferece esperança alguma ao povo sofredor, daí estar nos arrastando para a mais terrível depressão econômica em todos os tempos.

Outra significativa vantagem: o descrédito de nosso sistema político aos olhos da cidadania é tamanho que, mais do que nunca, urge dar ao povo a certeza de que a remoção de Dilma atendeu aos interesses maiores dos brasileiros, sem que ninguém possa alegar de que se tratou apenas de uma armação em benefício do PMDB e do PSDB.

Pela via do TSE, uma nova eleição presidencial será realizada num prazo de 90 dias. Uma possibilidade que não deveria assustar o PT, pois poderia escalar seu melhor quadro para a disputa. E o Brasil ficaria sabendo se o prestígio de Lula sobreviveu aos escândalos de corrupção e ao catastrófico desempenho de sua pupila na Presidência.

Mas, parecem ser coisa nossa tanto a relutância em promover as mudanças mais necessárias e prementes --quase sempre postergadas até o elástico estar prestes a arrebentar-- quanto a opção pelos pactos de elite nos grandes momentos, reduzindo o povo à condição de eterno coadjuvante.

Em 2014, o marqueteiro João Santana pareceu Goebbels redivivo.
Teríamos uma emancipação de verdade com os inconfidentes, mas acabamos ficando com uma independência pra inglês ver. Sairíamos da ditadura militar pela porta da frente com a aprovação da emenda das diretas-já, mas tivemos de nos resignar com o conluio que garantiu, num colégio eleitoral nauseabundo, a eleição de um presidente inofensivo e de um vice que, até a véspera, era capacho dos militares.

Faremos, pelo menos uma vez, a coisa certa, dando ao povo a chance de corrigir a besteira que cometeu em 2014, quando acreditou cegamente na máquina de propaganda dos discípulos de Goebbels?

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3.12.15

VICTOR LULENSTEIN OPTOU POR DESTRUIR SUA CRIATURA IMPERFEITA

A facção dilmista tudo fez para que o PT salvasse Eduardo Cunha no Conselho de Ética, pois este era o preço a ser pago para que o dito cujo não tocasse adiante o impeachment presidencial.

A facção lulista tudo fez para que o PT detonasse Cunha, com a consequência óbvia.

Qual a lógica?

Quanto maior for a duração da agonia de Dilma, mais se acentuará a desmoralização do partido, pulverizando as chances de Lula na eleição de 2018.

Se ela cair depressa haverá uma mexida no quadro e, caso o novo governante fracasse, é bem possível que Lula volte daqui a três anos nos braços do povo, erigido em salvador da Pátria.

Então, como na novela célebre de Mary Shelley e no filme ora em cartaz, Victor Frankenstein (ou seria Lulenstein?) optou por destruir sua criatura imperfeita.

A SEQUELA DO ESTELIONATO ELEITORAL: O BRASIL ESTÁ INGOVERNÁVEL HÁ 11 MESES.

Não sendo jurista, prefiro me manifestar sempre em consonância com o espírito de Justiça, que Platão dizia ser inerente ao ser humano.

Desde que Dilma Rousseff foi reeleita por pequena margem –38,16% dos eleitores votaram nela, 35,74% em Aécio Neves e 26,10% (abstenções, brancos e nulos) não se animaram a votar em ninguém–, considero sua vitória ilegítima.

O motivo, claro, é o clamoroso estelionato eleitoral. Quantos dos seus 54.501.117 eleitores a teriam escolhido se soubessem que, assim agindo, não estariam escapando do aperto de cinto e das vacas magras? 

A propaganda enganosa petista foi muito eficiente em convencer os incautos de que os adversários abririam as portas do inferno enquanto Dilma botaria pra correr os demônios da ganância. 

Mas, quando ela empossou um neoliberal como ministro da Fazenda, autorizando-o a socar goela dos brasileiros adentro um ajuste recessivo, os perfumes caros de Dilma não conseguiram mais encobrir o odor de enxofre: nem o mais crédulo dos otários é capaz de acreditar que ela só decidiu dar tal guinada de 180º após o 5 de outubro, dia do 2º turno. 

É repulsivo que, em 2014, se tenha cometido tamanha vigarice com o eleitorado, como se o relógio da História houvesse voltado a 1945, quando uma frase deturpada do brigadeiro Eduardo Gomes (ele jamais afirmou que não precisava do voto dos marmiteiros) foi espalhada pelo País inteiro, tendo considerável peso na vitória do general Eurico Gaspar Dutra.

Ao longo dos 11 meses deste desastroso 2º mandato de Dilma foram intensas as pressões da facção lulista e de quase toda a esquerda, no sentido de que ela exonerasse Joaquim Levy e passasse a governar de acordo com as bandeiras históricas do partido; mas encontraram sempre ouvidos moucos. Quem faz a cabeça dela é Luís Carlos Trabuco, o presidente do Bradesco, que nos momentos cruciais aconselha Dilma a continuar arrastando o Brasil para o inferno, de braços dados com o trapalhão Levy.

Então, como ela teimosamente resiste a cumprir as promessas de campanha e isto já gerou a pior recessão brasileira em décadas, com tendência a agravar-se cada vez mais, o processo de impeachment é muito bem-vindo: ou vai fazer com que seja um presidente de direita a governar segundo o ideário da direita, deixando de confundir os brasileiros e de destruir a esquerda, ou forçará Dilma a uma correção de rumo indispensável para salvar seu mandato.

Quanto ao impeachment ter ou não embasamento legal, é paradoxal que o hiper-estelionato eleitoral por ela cometido não constitua motivo suficiente para seu impedimento, mas um mini-estelionato talvez preencha os requisitos constitucionais: trata-se das pedaladas fiscais, que também serviram para iludir o eleitorado, pois a maquilagem das contas públicas impediu que seu descontrole servisse de munição de campanha para os adversários.

Mas, isto é uma discussão para juristas, e a experiência histórica nos ensina que impeachment é uma decisão eminentemente política tanto que a justificativa alegada para o de Fernando Collor acabou não subsistindo no Supremo Tribunal Federal, que, contudo, só a rechaçou quando a perda do mandato já era fato consumado e superado.

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