A hipótese de Joaquim Barbosa deixar o Supremo Tribunal Federal e candidatar-se à Presidência da República me dá calafrios.
Não pelos motivos que afligem os petistas. Estou longe de encarar o JB como Satã com chifres e rabo pontiagudo.
Acompanhando com muita atenção, de fio a pavio, as quatro longas sessões de julgamento do Caso Battisti, avaliei JB como um homem alinhado basicamente com as posições de esquerda.
Mostrava-se muito sensível às questões sociais e raciais (claro!). E, num momento em que suas dores nas costas lhe causavam visível sofrimento, não arredava pé do campo de batalha, intervindo firmemente nos momentos cruciais. Enquanto Marco Aurélio Mello se destacava como o mais articulado dos ministros que se opunham aos linchadores, JB era o mais inflamado.
Contrastava vivamente com Gilmar Mendes e Cezar Peluso, que se evidenciavam em cada afirmação e em cada votação como homens de direita; e cuja orientação básica, em outros casos, era invariavelmente conservadora/reacionária.
Como relator do processo do mensalão, contudo, JB desde o início deixou transparecer que não aliviaria para os réus.
Por quê? Aqui só podemos ficar no terreno das conjeturas, se quisermos fazer uma análise e não produzir um panfleto de desqualificação.
O certo é que ele não procedeu assim por convicções direitistas. Parafraseando a frase marcante do filme Os suspeitos, o maior truque do PT é fingir que continua revolucionário e todos os seus adversários são reacionários.
Foi um erro gravíssimo dos petistas colocarem JB nessa vala comum. Tornaram-no um inimigo figadal.
Pelas reações exacerbadas de JB quando imagina estar sendo menosprezado por outros ministros, salta aos olhos que, tendo enfrentado enormes dificuldades para chegar aonde chegou, seu amor próprio inchou como balão. Um balão que explode na cara do primeiro que ousar pôr em dúvida seus méritos.
Quando, já presidindo o STF, passou a conduzir o julgamento do mensalão como uma espécie de cruzada pessoal contra os réus, ocorreram-me duas interpretações opostas:
- JB detesta os abusos dos poderosos e poderia estar considerando de suma importância a punição exemplar de personagens que normalmente escapam incólumes;
- mas, poderia também ter-se deslumbrado com os holofotes interesseiros apontados na sua direção, passando a fazer o que dele a grande imprensa espera para, com o beneplácito dela, brilhar cada vez mais.
Se tiver mesmo sido picado pela mosca azul, que Deus nos acuda!
Pois não me convencem as projeções simplistas segundo as quais, detendo hoje 15% das intenções de voto, ele só serviria para evitar que a eleição presidencial se decidisse no 1º turno. Num cenário como o atual, de descontentamento difuso e enorme frustração com os políticos tradicionais, o eleitorado tende a voltar-se para outsiders que representem, ou pareçam representar, a alternativa a tudo que está aí.
As chances de JB seriam bem reais. E, como a memória dos brasileiros é curta, poucos levariam em conta os terríveis precedentes de quem ascendeu ao poder embandeirado no combate à corrupção e pairando acima de partidos e ideologias.
O homem da vassoura acabou foi varrendo a democracia para a lixeira.
O caçador de marajás teve de sair sob vara pela porta dos fundos, caso contrário seria ele o cassado.
Se partidos no poder costumam subjugar-se aos interesses dominantes, mantendo intocada a dominação burguesa, homens messiânicos no poder até agora só geraram instabilidade e turbulências.
Os primeiros têm se limitado a administrarem as miudezas do varejo, enquanto o poder econômico dá as cartas no atacado. Os segundos conseguiram piorar o que já era péssimo.
Um presidente neófito na política e sem jogo de cintura, cujo temperamento mercurial se manifesta com indesejável frequência, seria um terceiro salto no escuro, depois de quebrarmos as pernas duas vezes..
Repito: que Deus nos acuda!
P.S.: Na noite de 6ª feira (14), a Veja colocou no ar as chamadas de capa de sua edição 2.361, incluindo a da entrevista com Joaquim Barbosa, cuja íntegra só seria conhecida na manhã de sábado (15), quando da entrada da revista nas bancas. A informação de que JB considera chegada a hora de aposentar-se do Supremo, destacada pelo site Brasil 247, provocou alvoroço nas redes sociais. Somada à recente interpelação do ex-presidente Lula a JB, foi interpretada como indício seguro de uma candidatura presidencial. Daí eu ter escrito um artigo contemplando tal hipótese.
JB, na verdade, declarou que está próximo de completar 11 anos no STF e, como defende um mandato de 12 anos para os ministros, resolveu preparar sua saída. Admitiu a possibilidade de candidatar-se a um cargo eletivo em 2018, mas disse ter recusado duas propostas de partidos que o queriam já para as eleições do presente ano.
Mesmo assim as dúvidas persistem, pois o timing de sua aposentadoria coincide com o prazo que ele tem para deixar a Justiça e ingressar num partido, em tempo de disputar o próximo pleito; e não coincide com o término dos 12 anos que ele considera ideais para os ministros.
Como a Veja não costuma dar ponto sem nó...
P.S.: Na noite de 6ª feira (14), a Veja colocou no ar as chamadas de capa de sua edição 2.361, incluindo a da entrevista com Joaquim Barbosa, cuja íntegra só seria conhecida na manhã de sábado (15), quando da entrada da revista nas bancas. A informação de que JB considera chegada a hora de aposentar-se do Supremo, destacada pelo site Brasil 247, provocou alvoroço nas redes sociais. Somada à recente interpelação do ex-presidente Lula a JB, foi interpretada como indício seguro de uma candidatura presidencial. Daí eu ter escrito um artigo contemplando tal hipótese.
JB, na verdade, declarou que está próximo de completar 11 anos no STF e, como defende um mandato de 12 anos para os ministros, resolveu preparar sua saída. Admitiu a possibilidade de candidatar-se a um cargo eletivo em 2018, mas disse ter recusado duas propostas de partidos que o queriam já para as eleições do presente ano.
Mesmo assim as dúvidas persistem, pois o timing de sua aposentadoria coincide com o prazo que ele tem para deixar a Justiça e ingressar num partido, em tempo de disputar o próximo pleito; e não coincide com o término dos 12 anos que ele considera ideais para os ministros.
Como a Veja não costuma dar ponto sem nó...
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