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Apesar da superioridade artística de Caravaggio ... |
No sábado ensolarado, fui ao chamado vão do Masp para gravar uma última imagem para a eleição 2012: candidatos do PSOL balançando os braços ao som do jingle de campanha.
Fizeram
umas 30 tomadas para depois escolherem a melhor, com a câmara
percorrendo, de extremo a extremo, a fileira de companheiros.
Não sei se
na que aproveitarem estarei sendo focalizado no instante final, quando
emendei no gesto de "vem pra cá!" a saudação do Poder Negro e do dr.
Sócrates.
Foi inspiração de momento. Deu vontade de
fazer, fiz, para deixar bem claro qual o tipo de chamamento que estou
fazendo. É para a luta que eu chamo as pessoas, sempre...
Embora fosse de manhã, dividimos espaço com centenas de interessados na exposição Caravaggio e seus seguidores, pelo último dia em cartaz.
Não
sou nenhum obtuso insensível às artes plásticas; admiro muitas obras e
já divulguei pintores e galerias. Mas, nunca ficaria tanto tempo numa
fila para ver o original de uma tela que está ao alcance de uns cliques
no computador.
Talvez porque não me sinta à vontade em
museus e pinacotecas. Há veneração respeitosa no ar, como nas igrejas.
Jamais pertenci a esse time.
Num daqueles ridículos questionários para fins eleitorais, taquei umbandista
como minha religião. Verdadeiramente não tenho nenhuma, nem certeza
aboluta da existência ou inexistência de Deus.
Mas, como os cultos
afrobrasileiros sofrem frequentes ataques dos hitlerzinhos zumbis e
sempre curti os pontos de umbanda como música, resolvi não ficar em cima
do muro. Mesmo porque, se eu decidisse adotar alguma religião, seria
alegre, cheia de ritmos e de cores, jamais uma das soturnas. Sou chegado
à vida, não à morte.
Enquanto esperava que a tropa se reunisse, resolvi distribuir meus folhetos para os que esperavam que a bilheteria abrisse.
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...os Delacroix são melhor inspiração para nós. |
Encontrei um nariz empinado atrás do outro, como se estivesse tentando entregar-lhes um verme.
E
mentiam: "Não voto aqui". Ninguém votava em São Paulo. Mas, como eu não
vira nenhum ônibus de excursão despejando estetas, desconfiei.
Tirei
a prova dos nove: a alguns que recusavam, expliquei que não era nenhum
tarefeiro de partido, mas sim o próprio candidato, defensor dos direitos
humanos há 45 anos. Aí pegavam.
Irritado, deixei
escapar da mão um folheto que veio rasgado; tive preguiça de o apanhar.
Veio um chato atrás e ironicamente me devolveu com um "o senhor deixou
cair".
Ah, bom! O perfil ficou completo.
São
pessoas que descreem da política e da própria possibilidade de mudarmos
as relações de poder no mundo; não movem uma palha para tornarmos
realidade as utopias; querem apenas fazer parte da torre de marfim de
uma sociedade desigual e desumana; ter seus êxtases em público para
serem admirados pelos iguais; e aliviar a consciência com besteirinhas
como a separação de vidros e plásticos nas lixeiras, como se dependesse
dessas miudezas a salvação do planeta.
Meu maior sonho
é ver outra primavera como a de 1968, quando a arte estava nas ruas e
nós a tomávamos nas mãos, empunhando-a como bandeira.
Com
uma pontinha de esperança de que ainda terei a chance de entrar no Masp
e fazer o que Godard fez naquele Festival de Cannes que coincidiu com
a primavera de Paris: "derrubar as prateleiras/ as estátuas, as estantes,/ as vidraças, louças, livros, sim!"
Até
lá, procurarei minha turma nos saraus da periferia, que é onde a arte
está viva e fervilhante. Não nos mausoléus da avenida Paulista. |
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