Faltando
pouco mais de um mês para as eleições municipais, é o momento de eu ter
uma conversa franca com os companheiros que acompanham minha atuação
nas redes sociais. A aposta que fiz só resultará se eu receber o apoio
de quem trava o bom combate ou com ele simpatiza. Pelos meios rotineiros
de se fazer campanha política, minha chance é nenhuma.
Depois
dos dramáticos anos de 2004 e 2005, quando, desempregado e cinquentão,
atravessei uma terrível crise financeira e tive de lutar
desesperadamente para que a Comissão de Anistia respeitasse seus
próprios critérios de priorização dos casos a serem julgados --pois,
àquela altura, a reparação de vítima da ditadura militar era a tábua de
salvação que me restava--, comecei o ano de 2006 com perspectivas bem
diferentes.
O
recebimento da minha pensão me permitiu voltar à tona. E o
esclarecimento de episódios polêmicos do passado, culminando no
lançamento do meu livro Náufrago da Utopia, me devolveu credibilidade para fazer o que sempre sonhara: desempenhar um papel nas lutas do presente.
Lutar
contra o arbítrio fardado nunca fora o objetivo último dos
revolucionários da minha geração: apenas o imediato, naquele momento em
que a reconquista da liberdade era condição sine qua non para tudo mais.
Ficáramos
devendo a construção de um país igualitário e justo, meta que continua
não só inalcançada como longínqua: apesar de algumas políticas sociais
que atenuaram a miséria, o Brasil continua sendo uma das nações mais
desiguais, subjugadas aos interesses do grande capital e submetidas aos
caprichos dos poderosos, em todo o planeta.
Ao
longo destes seis anos e meio de atuação virtual sistemática, tive a
enorme satisfação de contribuir para a salvação do companheiro Cesare
Battisti, na luta que algumas dezenas de idealistas solidários travamos
contra os reacionários de dois continentes e a tendenciosíssima
indústria cultural.
Também
superei várias tentativas de intimidação, fiz o que estava ao meu
alcance para reentronizar a defesa dos direitos humanos como um valor
fundamental para os revolucionários e fui dos primeiros a alertar contra
a escalada autoritária em São Paulo, identificando-a desde o nascedouro
como balão de ensaio dos que tentam reinstaurar o totalitarismo.
O convite do PSOL para disputar uma vereança me seduziu, principalmente, por três motivos:
- a necessidade de quebrarmos a espinha dos reacionários em São Paulo, ainda mais depois dos três gravíssimos episódios recentes (a blietzkrieg para escorraçar a pontapés os dependentes químicos, liberando a cracolândia para os especuladores imobiliários; a barbárie desencadeada pelo mesmíssimo motivo no Pinheirinho, incluindo a morte de um idoso, após ser sequestrado pelas autoridades para que a imprensa não tomasse conhecimento de quão bestialmente fora agredido; e a ocupação militar da USP, lembrando os piores tempos da ditadura);
- a oportunidade de dar maior amplitude às minhas lutas, já que a imprensa tudo faz para circunscrever-me à internet (negando-me não só oportunidade para exercer profissionalmente meu ofício, como o de, tanto na condição de leitor quanto na de personagem histórico, reagir à sua desinformação programada, restabelecendo a verdade em episódios nos quais meu direito de fazê-lo é indiscutível); e
- a possibilidade de alavancar minha principal cruzada atual, no sentido de que nos reconheçamos, em PRIMEIRO LUGAR, como membros do CAMPO DA ESQUERDA ANTICAPITALISTA, acima de siglas e divisões que só convêm aos nossos inimigos de classe.
É algo que aprendemos da pior maneira possível nos anos de chumbo.
Perdemos tempo imenso disputando espaço uns com os outros, em função de
questões que verdadeiramente não interferiam nas tarefas imediatas
(como o caráter socialista ou nacional-popular da revolução) e só nos
unimos à beira do abismo, quando a correlação de forças se tornara
francamente desfavorável para nós.
Lamento
constatar que hoje o quadro se repete: para confrontarmos com mínima
chance de êxito as poderosas máquinas políticas dos
conservadores/reacionários, dos reformistas e dos fisiológicos,
precisaríamos ao menos estar unidos. Continuamos pulverizados.
O
que nos impede de formarmos uma frente anticapitalista? Por que não
aproveitamos a lição da maior das vitórias que a esquerda brasileira
conquistou nos últimos anos, exatamente a do Caso Battisti e obttida
exatamente porque a solidariedade falou mais alto do que a mesquinhez?
No
fundo, padecemos por não levarmos às últimas consequências o que
pregamos. Se tivéssemos em conta que o partido revolucionário só se
afirma nas etapas finais do processo de libertação da sociedade e não
nas iniciais, não daríamos tanta importância a nossas legendas atuais,
que são meros instrumentos para cumprirmos as tarefas desta fase, não
merecendo zelo idêntico ao que a galinha dedica a seus pintinhos...
Que
importa, afinal, a quantidade de governadores, senadores, deputados,
prefeitos e vereadores que cada um de nossos partidos detenha sob o capitalismo? O PT fez até presidente da República, três vezes, mas não fez a revolução brasileira avançar.
Então, é mais do que hora de passarmos a priorizar a conquista de posições no Executivo e no Legislativo para o CAMPO DA ESQUERDA COMO UM TODO E NÃO PARA CADA AGREMIAÇÃO EM PARTICULAR.
Em termos práticos, tudo fazermos para contarmos com um número cada vez
maior de representantes da esquerda, e os melhores possíveis (não
qualquer jogador de futebol ou besteirinha de TV apenas pelo critério de
ser conhecido...).
E
de vermos a obtenção desses mandatos como parte das nossas táticas, não
como fim estratégico. Servem para acumularmos força e, neste sentido, eles são importantes, mas não vitais.
Isto
não nos exime de os exercermos com dignidade e empenho. Pelo contrário,
como constituem uma espécie de cartão de visitas pelo qual o cidadão
comum nos julgará, temos de nos desincumbir de maneira exemplar, em
termos de acuidade política, produtividade e integridade pessoal.
Devemos
evidenciar para a opinião pública que os revolucionários não nos
dedicamos à politicalha medíocre dos que querem apenas garantir
reeleições, não nos mancomunamos com a fisiologia, não abdicamos dos
nossos valores em nome de governabilidade nenhuma e não deixamos jamais
de defender os fracos contra os poderosos.
Então,
por me considerar um dos melhores quadros para desempenhar tal papel
num contexto em que nossas forças ainda são muito inferiores às dos
inimigos de classe e as características pessoais às vezes nos permitem
obter vitórias improváveis, peço o apoio dos companheiros de esquerda,
indistintamente, pois a contribuição que eu posso dar também é
indistinta: beneficiará a toda a esquerda revolucionária.
Acredito
na necessidade de nos contituírmos como campo de esquerda e quero
contribuir na teoria e na prática para tanto, lançando na Câmara
Municipal as mesmas pontes que Carlos Giannazi (PSOL), Adriano Diogo
(PT) e Lecy Brandão (PCdoB) estabeleceram na Assembléia Legislativa, ao
colocarem a afinidade ideológica acima de considerações menores.
Não
somos pequenos comerciantes disputando mercado. Somos companheiros numa
empreitada de importância transcendental, por objetivos muito maiores
do que cada um de nós. É assim que temos de nos enxergar.
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