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3.9.12

MANIFESTO DA CANDIDATURA DO LUNGARETTI

Faltando pouco mais de um mês para as eleições municipais, é o momento de eu ter uma conversa franca com os companheiros que acompanham minha atuação nas redes sociais. A aposta que fiz só resultará se eu receber o apoio de quem trava o bom combate ou com ele simpatiza. Pelos meios rotineiros de se fazer campanha política, minha chance é nenhuma.

Depois dos dramáticos anos de 2004 e 2005, quando, desempregado e cinquentão, atravessei uma terrível crise financeira  e tive de lutar desesperadamente para que a Comissão de Anistia respeitasse seus próprios critérios de priorização dos casos a serem julgados --pois, àquela altura, a reparação de vítima da ditadura militar era a tábua de salvação que me restava--, comecei o ano de 2006 com perspectivas bem diferentes.

O recebimento da minha pensão me permitiu voltar à tona. E o esclarecimento de episódios polêmicos do passado, culminando no lançamento do meu livro Náufrago da Utopia, me devolveu credibilidade para fazer o que sempre sonhara: desempenhar um papel nas lutas do presente. 

Lutar contra o arbítrio fardado nunca fora o objetivo último dos revolucionários da minha geração: apenas o imediato, naquele momento em que a reconquista da liberdade era condição  sine qua non  para tudo mais. 

Ficáramos devendo a construção de um país igualitário e justo, meta que continua não só inalcançada como longínqua: apesar de algumas políticas sociais que atenuaram a miséria,  o Brasil continua sendo uma das nações mais desiguais, subjugadas aos interesses do grande capital e submetidas aos caprichos dos poderosos, em todo o planeta.

Ao longo destes seis anos e meio de atuação virtual sistemática, tive a enorme satisfação de contribuir para a salvação do companheiro Cesare Battisti, na luta que algumas dezenas de idealistas solidários travamos contra os reacionários de dois continentes e a tendenciosíssima indústria cultural.

Também superei várias tentativas de intimidação, fiz o que estava ao meu alcance para reentronizar a defesa dos direitos humanos como um valor fundamental para os revolucionários e fui dos primeiros a alertar contra a escalada autoritária em São Paulo, identificando-a desde o nascedouro como balão de ensaio dos que tentam reinstaurar o totalitarismo.

O convite do PSOL para disputar uma vereança me seduziu, principalmente, por três motivos:
  • a necessidade de quebrarmos a espinha dos reacionários em São Paulo, ainda mais depois dos três gravíssimos episódios recentes (a blietzkrieg para escorraçar a pontapés os dependentes químicos, liberando a cracolândia para os especuladores imobiliários; a barbárie desencadeada pelo mesmíssimo motivo no Pinheirinho, incluindo a morte de um idoso, após ser sequestrado pelas autoridades para que a imprensa não tomasse conhecimento de quão bestialmente fora agredido; e a ocupação militar da USP, lembrando os piores tempos da ditadura);
  • a oportunidade de dar maior amplitude às minhas lutas, já que a imprensa tudo faz para circunscrever-me à internet (negando-me não só oportunidade para exercer profissionalmente meu ofício, como o de, tanto na condição de leitor quanto na de personagem histórico, reagir à sua desinformação programada, restabelecendo a verdade em episódios nos quais meu direito de fazê-lo é indiscutível); e
  • a possibilidade de alavancar minha principal cruzada atual, no sentido de que nos reconheçamos, em PRIMEIRO LUGAR, como membros do CAMPO DA ESQUERDA ANTICAPITALISTA,  acima de siglas e divisões que só convêm aos nossos inimigos de classe.
É algo que aprendemos da pior maneira possível nos  anos de chumbo. Perdemos tempo imenso disputando espaço uns com os outros, em função de questões que verdadeiramente não interferiam nas tarefas imediatas (como o caráter socialista ou nacional-popular da revolução)  e só nos unimos à beira do abismo, quando a correlação de forças se tornara francamente desfavorável para nós.

Lamento constatar que hoje o quadro se repete: para confrontarmos com mínima chance de êxito as poderosas máquinas políticas dos conservadores/reacionários, dos reformistas e dos fisiológicos, precisaríamos ao menos estar unidos. Continuamos pulverizados.

O que nos impede de formarmos uma frente anticapitalista? Por que não aproveitamos a lição da maior das vitórias que a esquerda brasileira conquistou nos últimos anos, exatamente a do Caso Battisti e obttida exatamente porque a solidariedade falou mais alto do que a mesquinhez?

No fundo, padecemos por não levarmos às últimas consequências o que pregamos. Se tivéssemos em conta que o partido revolucionário só se afirma nas etapas finais do processo de libertação da sociedade e não nas iniciais, não daríamos tanta importância a nossas legendas atuais, que são meros instrumentos para cumprirmos as tarefas desta fase, não merecendo zelo idêntico ao que a galinha dedica a seus pintinhos...

Que importa, afinal, a quantidade de governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores que cada um de nossos partidos detenha sob o capitalismo? O PT fez até presidente da República, três vezes, mas não fez a revolução brasileira avançar.

Então, é mais do que hora de passarmos a priorizar a conquista de posições no Executivo e no Legislativo para o CAMPO DA ESQUERDA COMO UM TODO E NÃO PARA CADA AGREMIAÇÃO EM PARTICULAR. Em termos práticos, tudo fazermos para contarmos com um número cada vez maior de representantes da esquerda, e os melhores possíveis (não qualquer jogador de futebol ou besteirinha de TV apenas pelo critério de ser conhecido...).

E de vermos a obtenção desses mandatos como parte das nossas táticas, não como fim estratégico. Servem para acumularmos força e, neste sentido, eles são importantes, mas não vitais

Isto não nos exime de os exercermos com dignidade e empenho. Pelo contrário, como constituem uma espécie de cartão de visitas pelo qual o cidadão comum nos julgará, temos de nos desincumbir de maneira exemplar, em termos de acuidade política, produtividade e integridade pessoal. 

Devemos evidenciar para a opinião pública que os revolucionários não nos dedicamos à politicalha medíocre dos que querem apenas garantir reeleições, não nos mancomunamos com a fisiologia, não abdicamos dos nossos valores em nome de governabilidade nenhuma e não deixamos jamais de defender os fracos contra os poderosos. 

Então, por me considerar um dos melhores quadros para desempenhar tal papel num contexto em que nossas forças ainda são muito inferiores às dos inimigos de classe e as características pessoais às vezes nos permitem obter vitórias improváveis, peço o apoio dos companheiros de esquerda, indistintamente, pois a contribuição que eu posso dar também é indistinta: beneficiará a toda a esquerda revolucionária.

Acredito na necessidade de nos contituírmos como campo de esquerda e quero contribuir na teoria e na prática para tanto, lançando na Câmara Municipal as mesmas pontes que Carlos Giannazi (PSOL), Adriano Diogo (PT) e Lecy Brandão (PCdoB) estabeleceram na Assembléia Legislativa, ao colocarem a afinidade ideológica acima de considerações menores. 

Não somos pequenos comerciantes disputando mercado. Somos companheiros numa empreitada de importância transcendental, por objetivos muito maiores do que cada um de nós. É assim que temos de nos enxergar.

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