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30.9.12
ARTE MORTA À MOSTRA NOS MAUSOLÉUS DA AV. PAULISTA
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29.9.12
QUEM CHOCOU O OVO DA SERPENTE?
O trabalho de conclusão de curso da minha esposa foi sobre a Igreja Universal.
As informações que ela coletou e algumas que nâo pôde utilizar por motivos vários --principalmente para evitar retaliações contra suas fontes, pois se trata de gente perigosa-- me chocaram. Ofereci-o até, como livro, a duas editoras católicas, que não quiseram comprar a briga.
Também me incomoda que as evidências gritantes de crimes, contidas nas denúncias de promotores e numa série de reportagens irrefutáveis que O Estado de S. Paulo publicou em meados da década retrasada, não tenham desembocado em condenações e em medidas efetivas para proteger as vítimas --as que são privadas até do último centavo e as que perdem a saúde ou a vida por acreditarem em orientação médica de quem não é médico.
Pude, ainda, constatar que Edir Macedo é muito eficiente naquilo a que se propôs, o que o torna personagem das mais temíveis ao estender seus tentáculos para a política.
Então, fiquei estarrecido e indignado ao ler a notícia abaixo da Folha de S. Paulo, confirmando que, independentemente do efeito Russomanno, o PT continuará favorecendo o crescimento do partido da Igreja Universal, cuja criação foi estimulada pelo Lula.
É o que nunca me passou pela garganta no caso do ex-presidente: ele raciocina unicamente em função de conveniências políticas imediatas e menores. Quer que o PT vença eleições, pouco ligando para o fato de que um partideco reacionário por ele estimulado poderá um dia se tornar um partidão de características nazistóides e com influência extremamente nefasta na política brasileira.
Muitos colocam Lula nas alturas porque conduziu o PT à Presidência da República e colocou algumas migalhas a mais na mesa dos pobres.
Omitem, no entanto, que seu pragmatismo tosco levou à desideologização e descaracterização do PT, privando o Brasil de um partido revolucionário que poderia torná-lo um país igualitário, ao invés de um dos mais desiguais do planeta; e um país que oferecesse qualidade de vida ao seu povo, ao invés do que ostenta Índice de Desenvolvimento Humano tão ínfimo.
Governando numa conjuntura internacional extremamente favorável ao Brasil, Lula fez bem menos do que poderia, pois cumpriu religiosamente o pacto firmado com o grande capital em 2002, no sentido de manter as linhas mestras da política econômica neoliberal de FHC.
Está na hora de tomarmos dos capitalistas para distribuirmos ao povo, ao invés de apenas distribuirmos ao povo a merreca de que os capitalistas admitam abrir mão.
Delfim Netto, outro que Lula jamais deveria aceitar como companheiro de jornada, dizia, no tempo da ditadura, que era preciso esperarmos pacientemente o bolo crescer, para que depois pudesse ser dividido.
As informações que ela coletou e algumas que nâo pôde utilizar por motivos vários --principalmente para evitar retaliações contra suas fontes, pois se trata de gente perigosa-- me chocaram. Ofereci-o até, como livro, a duas editoras católicas, que não quiseram comprar a briga.
Também me incomoda que as evidências gritantes de crimes, contidas nas denúncias de promotores e numa série de reportagens irrefutáveis que O Estado de S. Paulo publicou em meados da década retrasada, não tenham desembocado em condenações e em medidas efetivas para proteger as vítimas --as que são privadas até do último centavo e as que perdem a saúde ou a vida por acreditarem em orientação médica de quem não é médico.
Pude, ainda, constatar que Edir Macedo é muito eficiente naquilo a que se propôs, o que o torna personagem das mais temíveis ao estender seus tentáculos para a política.
Então, fiquei estarrecido e indignado ao ler a notícia abaixo da Folha de S. Paulo, confirmando que, independentemente do efeito Russomanno, o PT continuará favorecendo o crescimento do partido da Igreja Universal, cuja criação foi estimulada pelo Lula.
É o que nunca me passou pela garganta no caso do ex-presidente: ele raciocina unicamente em função de conveniências políticas imediatas e menores. Quer que o PT vença eleições, pouco ligando para o fato de que um partideco reacionário por ele estimulado poderá um dia se tornar um partidão de características nazistóides e com influência extremamente nefasta na política brasileira.
Muitos colocam Lula nas alturas porque conduziu o PT à Presidência da República e colocou algumas migalhas a mais na mesa dos pobres.
Omitem, no entanto, que seu pragmatismo tosco levou à desideologização e descaracterização do PT, privando o Brasil de um partido revolucionário que poderia torná-lo um país igualitário, ao invés de um dos mais desiguais do planeta; e um país que oferecesse qualidade de vida ao seu povo, ao invés do que ostenta Índice de Desenvolvimento Humano tão ínfimo.
Governando numa conjuntura internacional extremamente favorável ao Brasil, Lula fez bem menos do que poderia, pois cumpriu religiosamente o pacto firmado com o grande capital em 2002, no sentido de manter as linhas mestras da política econômica neoliberal de FHC.
Está na hora de tomarmos dos capitalistas para distribuirmos ao povo, ao invés de apenas distribuirmos ao povo a merreca de que os capitalistas admitam abrir mão.
Delfim Netto, outro que Lula jamais deveria aceitar como companheiro de jornada, dizia, no tempo da ditadura, que era preciso esperarmos pacientemente o bolo crescer, para que depois pudesse ser dividido.
Já
cresceu, mas continuamos vendo a divisão por um binóculo. Enquanto
permanecermos de braços cruzados, esperando a boa vontade dos que
usurpam os frutos do trabalho alheio, não passaremos de pobres coitados.
Revolucionário existe para tornar o povo o sujeito da História. A diferença é enorme com os que querem mantê-lo na eterna dependência de homens providenciais, votando no partido que lhe oferece um tiquinho a mais do que as outras forças políticas, ao invés de exigir tudo a que tem direito.
Eis o esclarecedor texto do repórter Bernardo Mello Franco:
O PT pretende poupar a Igreja Universal de ataques caso Fernando Haddad passe ao segundo turno contra o líder Celso Russomanno (PRB), cujo partido é controlado pela denominação.
Os petistas temem uma retaliação da TV Record ao governo Dilma Rousseff e devem usar o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), para negociar um pacto de não agressão na disputa.
Além disso, o ex-presidente Lula costurou a aproximação entre o PT e a igreja do bispo Edir Macedo e incentivou a criação da sigla aliada.
O vínculo do partido de Russomanno com a igreja do bispo Edir Macedo tem sido usado por José Serra (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB) como principal arma contra o líder das pesquisas.
Haddad, no entanto, tem evitado a polêmica. Limita-se a criticar, de forma genérica, o uso de máquinas religiosas em campanhas rivais.
"Nossa linha será desconstruir Russomanno pela ausência de propostas, sem entrar nessa coisa de igreja", diz o deputado estadual Simão Pedro, que integra a coordenação da campanha petista.
Bispo licenciado da Universal e ex-executivo da Record, o presidente do PRB, Marcos Pereira, diz estar "certo" de que o PT não usará a igreja contra seu candidato.
"Eles já optaram por não fazer isso", afirma. "Se o PT tentar dizer que as nossas propostas são falhas, é aceitável. O que não pode é levar essa questão da religião."
Revolucionário existe para tornar o povo o sujeito da História. A diferença é enorme com os que querem mantê-lo na eterna dependência de homens providenciais, votando no partido que lhe oferece um tiquinho a mais do que as outras forças políticas, ao invés de exigir tudo a que tem direito.
Eis o esclarecedor texto do repórter Bernardo Mello Franco:
O PT pretende poupar a Igreja Universal de ataques caso Fernando Haddad passe ao segundo turno contra o líder Celso Russomanno (PRB), cujo partido é controlado pela denominação.
Os petistas temem uma retaliação da TV Record ao governo Dilma Rousseff e devem usar o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), para negociar um pacto de não agressão na disputa.
Além disso, o ex-presidente Lula costurou a aproximação entre o PT e a igreja do bispo Edir Macedo e incentivou a criação da sigla aliada.
O vínculo do partido de Russomanno com a igreja do bispo Edir Macedo tem sido usado por José Serra (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB) como principal arma contra o líder das pesquisas.
Haddad, no entanto, tem evitado a polêmica. Limita-se a criticar, de forma genérica, o uso de máquinas religiosas em campanhas rivais.
"Nossa linha será desconstruir Russomanno pela ausência de propostas, sem entrar nessa coisa de igreja", diz o deputado estadual Simão Pedro, que integra a coordenação da campanha petista.
Bispo licenciado da Universal e ex-executivo da Record, o presidente do PRB, Marcos Pereira, diz estar "certo" de que o PT não usará a igreja contra seu candidato.
"Eles já optaram por não fazer isso", afirma. "Se o PT tentar dizer que as nossas propostas são falhas, é aceitável. O que não pode é levar essa questão da religião."
27.9.12
FOLHETO SECUNDÁRIO
FOLHETO PRINCIPAL
ENCAIXOTANDO RUSSOMANNO
O bom jornalista Gilberto Dimenstein tocou num ponto interessante em seu artigo Russomanno está debochando?. Mas, nossas conclusões diferem um pouco.
Comecemos pelo Dimenstein:
Comecemos pelo Dimenstein:
"Geralmente (quase sempre, aliás) planos de governo e promessas de campanha quase se confundem em sua inutilidade. São apenas peças para atrair votos. Muitas das 'propostas' são elaboradas não por técnicos, mas por marqueteiros.
Uma vez eleito, o candidato é limitado pela realidade dos números --e os eleitores logo esquecem, afinal, resignam-se, 'todos os políticos são iguais'. Celso Russomanno, porém, parece estar conseguindo debochar ainda mais o que já é debochado.
Cobrado nos debates por não ter um programa, requentou (isso para ser generoso) um programa que entregou, por obrigação, ao tribunal eleitoral. Nenhuma --e nenhuma aqui não é força de expressão-- meta detalhada em números.
Algumas possibilidades, todas complicadas para quem se diz defensor dos direitos do consumidor:
- Ele não imaginava que iria tão longe na disputa eleitoral e que seria cobrado nos debates;
- Não acha plano de governo importante;
- Não acha que o eleitor ache plano de governo importante. E, portanto, tanta faz como tanto fez;
- Não dispõe de gente qualificada para, no mínimo, inventar um plano de governo.
Deveríamos inventar um Código de Defesa do Eleitor".
Russomanno deve mesmo ser combatido como o pior
dos candidatos à Prefeitura paulitana, nem tanto pelo que é --não passa
de um oportunistazinho que, por si só, nunca voaria alto--, mas por
servir como cavalo de Tróia para Edir Macedo, este sim um vilão considerável, daqueles que constroem impérios do mal. Versão brasileira do satânico Dr. Moon.
Todos os alarmes já deveriam ter soado quando se verificou a união de algumas empresas religiosas que, via de regra, competem encarniçadamente pelos otários a serem depenados.
Todos os alarmes já deveriam ter soado quando se verificou a união de algumas empresas religiosas que, via de regra, competem encarniçadamente pelos otários a serem depenados.
Se
os vendilhões do templo somarem permanentemente as forças, como já
fazem suas bancadas no Congresso, muita coisa ruim poderá acontecer.
Afinal, têm um exército de zumbis para colocar nas ruas, o que hoje
falta a quase todos os partidos, inclusive os de esquerda.
Hitler também era insignificante quando começou a discursar em cervejarias, daí ter sido tão subestimado. Deu no que deu.
E
alguns de seus truques estão sendo bisados, como a demonização de
qualquer grupo como espantalho contra o qual unir o rebanho. Naquele
tempo eram os judeus, agora são os devotos do cultos afrobrasileiros, os
gays, os defensores do direito das mulheres ao aborto, etc. Nada se
cria, tudo se copia.
Mesmo assim, sou obrigado, por minhas convicções, a fazer uma meia-defesa do Russomanno: plano de governo não tem mesmo importância nenhuma!
Hitler também era insignificante quando começou a discursar em cervejarias, daí ter sido tão subestimado. Deu no que deu.
Intolerância: o príncipio... |
Mesmo assim, sou obrigado, por minhas convicções, a fazer uma meia-defesa do Russomanno: plano de governo não tem mesmo importância nenhuma!
Trata-se
de uma das muitas imposturas que a indústria cultural martela na cabeça
dos eleitores, no sentido de reduzir as eleições a um mero cotejo de
bonequinhos de ventríloquos a recitarem o blablablá dos marqueteiros,
propostas mirabolantes e miudezas paroquiais.
O governador Geraldo Alckmin, evidentemente, não colocou na sua proposta de governo que detonaria os coitadezas da cracolândia e do Pinheirinho, nem que concederia à PM licença para matar (salvo no período eleitoral, quando, para salvar as aparências, age como acaba de agir: substituiu sofregamente um comandante da Rota que ele mesmo empossara e de cujos antecedentes --envolvimento no Massacre do Carandiru-- tinha a obrigação de estar ciente, não podendo alegar surpresa quando ocorre um mais do que previsível aumento da taxa de homicídios oficializados).
O que deveria realmente ser considerado pelos eleitores é o programa do partido. Havendo um comprometimento com valores políticos e ideológicos bem definidos, o papel do eleito seria esforçar-se ao máximo para traduzir tais princípios na prática administrativa.
Mas, claro,
não interessa ao sistema fortalecer os partidos, pois os de esquerda
teriam consistência muito maior. Então, a lavagem cerebral midiática é
toda ela no sentido de personalizar a escolha.
O que vem ao encontro da cultura consumista: assim como se opta por uma marca de sabão, opta-se por um candidato. E ambos são embalados e promovidos da mesmíssima forma.
Então, melhor do que cobrar um plano de governo do Russomanno seria cobrar-lhe uma explicação pormenorizada sobre o que o atraiu no programa do PFL, no do PSDB, no do PPB/PP e no do PRB, já que são partidos com diretrizes e ideologias bem diferentes; por que saiu de um e ingressou no outro; se o atual é definitivo ou será trocado ao sabor das conveniências, etc.
Duvido que ele conseguisse encontrar alguma argumentação plausível para justificar sua ziguezagueante trajetória, típica de quem é movido pela ambição e por convicções.
O governador Geraldo Alckmin, evidentemente, não colocou na sua proposta de governo que detonaria os coitadezas da cracolândia e do Pinheirinho, nem que concederia à PM licença para matar (salvo no período eleitoral, quando, para salvar as aparências, age como acaba de agir: substituiu sofregamente um comandante da Rota que ele mesmo empossara e de cujos antecedentes --envolvimento no Massacre do Carandiru-- tinha a obrigação de estar ciente, não podendo alegar surpresa quando ocorre um mais do que previsível aumento da taxa de homicídios oficializados).
O que deveria realmente ser considerado pelos eleitores é o programa do partido. Havendo um comprometimento com valores políticos e ideológicos bem definidos, o papel do eleito seria esforçar-se ao máximo para traduzir tais princípios na prática administrativa.
...e o fim. |
O que vem ao encontro da cultura consumista: assim como se opta por uma marca de sabão, opta-se por um candidato. E ambos são embalados e promovidos da mesmíssima forma.
Então, melhor do que cobrar um plano de governo do Russomanno seria cobrar-lhe uma explicação pormenorizada sobre o que o atraiu no programa do PFL, no do PSDB, no do PPB/PP e no do PRB, já que são partidos com diretrizes e ideologias bem diferentes; por que saiu de um e ingressou no outro; se o atual é definitivo ou será trocado ao sabor das conveniências, etc.
Duvido que ele conseguisse encontrar alguma argumentação plausível para justificar sua ziguezagueante trajetória, típica de quem é movido pela ambição e por convicções.
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Rota
25.9.12
SAMPA QUER ELEGER UM NOVO CONSERVADOR. ARGH!
O jornalista Paulo Francis estava certíssimo ao qualificar a sociedade de consumo de inferno pamonha, ou bocó. Acertou na mosca.
Até a segunda metade do século passado, as criticadas elites procuravam, pelo menos, tornar o cidadão comum melhor do que era. Podia-se, claro, discordar do tipo de melhora que tinham em mente, mas não do conceito de que nossa jornada na Terra deva ser evolutiva. Não nascemos prontos, construímo-nos ao longo da vida.
A sociedade de consumo modificou para pior, bem pior, tal equação.
Os homens deixaram de ser tratados como cidadãos. Passaram a ser encarados, isto sim, como consumidores. Não são mais gente, são mercado.
Então, não se questionam mais seus desejos. Se alguém estiver querendo comprar, haverá alguém disposto a vender. Literalmente tudo, seja às escâncaras ou por baixo do pano.
Em termos psicológicos, isto significa, simplesmente, que as pessoas são mantidas numa eterna infância. Não superam mais o narcisismo inicial. Não encontram mais a justa medida entre o que querem e o que podem. Não aprendem que sua felicidade depende da felicidade dos outros, que sua satisfação e seu prazer serão muito mais completos se compartilhados.
Ao mesmo tempo, os objetos de consumo pelos quais tanto anseiam nunca são plenamente satisfatórios. E as vítimas da engrenagem infernal do sistema passam a vida inteira correndo atrás do que jamais obtêm, adquirindo o que não precisam e trabalhando sofregamente sem que haja justificativa real para tanto estresse e tanto enfarte.
Este é o motivo maior do declínio da esquerda nas últimas décadas. O que oferecíamos era uma perspectiva de sociedade melhor, na qual as pessoas se tornariam melhores: era o ideal do homem novo.
Os consumistas passam a vida apaixonados pelo próprio umbigo e querendo ter o mundo como espelho, pois anseiam pateticamente por verem-se nele refletidos. Não o pretendem melhorar, o que gostariam é de melhorar a própria posição numa sociedade desumana e injusta. Vai daí que hoje são bem poucos os que se dispõem a dedicar a vida aos grandes ideais.
Há meio século a Escola de Frankfurt previu que chegaríamos exatamente a este inferno pamonha, no qual os indivíduos perderiam o controle sobre suas próprias vidas, sem nem mesmo atinarem com os motivos de sua infelicidade, mesmerizadas pela influência atordoante da indústria cultural.
O que fazer? --indagaria Lênin.
Herbert Marcuse apostava que tal manipulação cientificamente implementada seria capaz de evitar que a maioria formasse uma consciência crítica, mas não que acontecessem, em determinadas circuntâncias, explosões espontâneas de revolta. Não dá para represar-se tudo. E as contradições insolúveis do capitalismo estão aí para fornecerem os estopins de tais explosões espontâneas; caso da crise econômica global.
Como nós, da esquerda, devemos nos comportar nos intervalos entre tais explosões espontâneas, nas marés vazantes, quando as massas não estiverem dispostas a nos acompanharem em voos mais altos?
É uma questão crucial.
Podemos manter a coerência com nossos ideais e, mesmo não influindo decisivamente nos acontecimentos políticos, continuarmos contestando as injustiças sociais, as formas mais sofisticadas de exploração do homem pelo homem que hoje predominam, a desumanização que o capitalismo promove e barbárie à qual nos conduz. Assim, estaremos nos qualificando para liderar contingentes mais amplos quando estes acordarem do coma induzido pelo sistema.
Há os que preferem combater o monstro com as armas do monstro, acreditando que não se tornarão monstruosos. No entanto, acabam é igualando-se ao que combatem. Não mudam o mundo; são mudados pelo mundo.
Até a segunda metade do século passado, as criticadas elites procuravam, pelo menos, tornar o cidadão comum melhor do que era. Podia-se, claro, discordar do tipo de melhora que tinham em mente, mas não do conceito de que nossa jornada na Terra deva ser evolutiva. Não nascemos prontos, construímo-nos ao longo da vida.
A sociedade de consumo modificou para pior, bem pior, tal equação.
Os homens deixaram de ser tratados como cidadãos. Passaram a ser encarados, isto sim, como consumidores. Não são mais gente, são mercado.
Então, não se questionam mais seus desejos. Se alguém estiver querendo comprar, haverá alguém disposto a vender. Literalmente tudo, seja às escâncaras ou por baixo do pano.
Em termos psicológicos, isto significa, simplesmente, que as pessoas são mantidas numa eterna infância. Não superam mais o narcisismo inicial. Não encontram mais a justa medida entre o que querem e o que podem. Não aprendem que sua felicidade depende da felicidade dos outros, que sua satisfação e seu prazer serão muito mais completos se compartilhados.
Ao mesmo tempo, os objetos de consumo pelos quais tanto anseiam nunca são plenamente satisfatórios. E as vítimas da engrenagem infernal do sistema passam a vida inteira correndo atrás do que jamais obtêm, adquirindo o que não precisam e trabalhando sofregamente sem que haja justificativa real para tanto estresse e tanto enfarte.
Este é o motivo maior do declínio da esquerda nas últimas décadas. O que oferecíamos era uma perspectiva de sociedade melhor, na qual as pessoas se tornariam melhores: era o ideal do homem novo.
Os consumistas passam a vida apaixonados pelo próprio umbigo e querendo ter o mundo como espelho, pois anseiam pateticamente por verem-se nele refletidos. Não o pretendem melhorar, o que gostariam é de melhorar a própria posição numa sociedade desumana e injusta. Vai daí que hoje são bem poucos os que se dispõem a dedicar a vida aos grandes ideais.
Há meio século a Escola de Frankfurt previu que chegaríamos exatamente a este inferno pamonha, no qual os indivíduos perderiam o controle sobre suas próprias vidas, sem nem mesmo atinarem com os motivos de sua infelicidade, mesmerizadas pela influência atordoante da indústria cultural.
O que fazer? --indagaria Lênin.
Herbert Marcuse apostava que tal manipulação cientificamente implementada seria capaz de evitar que a maioria formasse uma consciência crítica, mas não que acontecessem, em determinadas circuntâncias, explosões espontâneas de revolta. Não dá para represar-se tudo. E as contradições insolúveis do capitalismo estão aí para fornecerem os estopins de tais explosões espontâneas; caso da crise econômica global.
Como nós, da esquerda, devemos nos comportar nos intervalos entre tais explosões espontâneas, nas marés vazantes, quando as massas não estiverem dispostas a nos acompanharem em voos mais altos?
É uma questão crucial.
Podemos manter a coerência com nossos ideais e, mesmo não influindo decisivamente nos acontecimentos políticos, continuarmos contestando as injustiças sociais, as formas mais sofisticadas de exploração do homem pelo homem que hoje predominam, a desumanização que o capitalismo promove e barbárie à qual nos conduz. Assim, estaremos nos qualificando para liderar contingentes mais amplos quando estes acordarem do coma induzido pelo sistema.
Há os que preferem combater o monstro com as armas do monstro, acreditando que não se tornarão monstruosos. No entanto, acabam é igualando-se ao que combatem. Não mudam o mundo; são mudados pelo mundo.
CANDIDATURAS IDEOLÓGICAS x CANDIDATURAS DE CONSUMO
Se o que os eleitores queriam era um monstro... |
Na eleição paulistana, o produto assim determinado como o de maior aceitação potencial no mercado seria um candidato ao mesmo tempo novo e conservador.
Isto explica o empenho do Lula em impor o Fernando Haddad, que nem de longe tem a cara do PT, mas se encaixa na imagem do novo.
O PMDB também apostou numa figura de galã de telenovela, Gabriel Chalita.
O PSDB pensou que desse para maquilar o (hoje) conservador José Serra, fazendo-o parecer bem mais novo do que é. Botou-o para pedalar, para subir em skates, para bater pênaltis, etc., mas a mágica besta não funcionou: ele quase caiu do skate, isolou o sapato e mergulhou o ridículo, tornando-se o alívio cômico da campanha na internet.
Como já tinha a preferência de cabresto dos evangélicos zumbificados e dos videotas acostumados a vê-lo posar de paladino dos consumidores, o novo conservador para o qual o eleitorado está pendendo é Celso Russomanno.
Pior: com parcela substancial de votos tradicionalmente petistas.
Então, é hora de o PT fazer uma profunda reflexão sobre se compensou abandonar as candidaturas ideológicas e aderir às candidaturas de consumo.
...encontraram: esta imagem atesta o acerto da escolha. |
Agora, o candidato petista é propagandeado da mesmíssima forma e faz as mesmíssimas promessas mirabolantes dos centristas, direitistas e dos meros fisiológicos. Não tem mais sequer os cabos eleitorais voluntários, precisa contratar tarefeiros.
Então, quando a figura não convence, como o insosso Haddad, o atual eleitorado petista migra insensivelmente para um antípoda ideológico como o Russomanno.
E, se um dia houver crise grave, nestes tristes trópicos em que o golpismo nunca se torna prática definitivamente sepultada, jamais lutará pelo governante que escolheu.
O grande Plínio de Arruda Sampaio certa vez colocou o dedo na ferida: valeu a pena o PT ter chegado à Presidência com o compromisso de manter intocada a política econômica neoliberal, ou seja, limitado a gerenciar os negócios capitalistas como um FHC o faria?
Da mesma forma, não seria melhor, vencendo ou perdendo a eleição, educar o eleitorado, tentando convencê-lo de que precisa, isto sim, de um contestador, pouco importando se novo ou velho? Pois, prostrando-nos desta forma aos humores momentâneos das massas, o que faremos quando a maré for fascista? Escolheremos um candidato que seja clone do Mussolini?!
Há dois milênios, Jesus Cristo já dizia que não: "O que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mateus, 26:16).
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Plínio de Arruda Sampaio
24.9.12
O QUE ESTARÁ EM JOGO NO 1º TURNO
Quando decidi disputar minha primeira eleição aos 62 anos --idade que já terei completado no 1º turno--, levei em conta fatores:
Só por ter chamado a atenção para esta postura fundamental, minha campanha terá valido a pena.
Igualmente importante está sendo a ênfase que dou à união da esquerda anticapitalista, pois hoje só conseguiremos exercer uma influência marcante no processo político se atuarmos como bloco. Seria exagero dizer que unidos venceremos, mas, com certeza, somando forças obteremos algumas vitórias, ponto de partida para sairmos da atual condição de coadjuvantes.
Desunidos, pelo contrário, perderemos todas as paradas. Rivalidades clubísticas pertencem ao universo das torcidas de futebol, não ao nosso. O que conta, para nós, é o objetivo maior de transformação da sociedade.
Neste sentido, proponho uma reflexão sobre as três candidaturas que encabeçam as pesquisas eleitorais.
Vencedor, José Serra manteria a parceria fascistizante com o governador Geraldo Opus Dei Alckmin. Seria mais do mesmo. Mais tropas de choque na USP, mais Pinheirinhos, mais pobres e doentes sendo escorraçados para favorecer os grandes empreendedores imobiliários (aqueles que financiam generosamente a campanha de quase todos os candidatos promissores do sistema).
Celso Russomanno agregaria um componente ainda mais nefasto ao processo, além dos balões de ensaio totalitários que têm marcado os sucessivos governos dos tucanos e seus aliados: a emergência de um perigosíssimo populismo de direita. É um pesadelo pensarmos no que acontecerá se as más bandeiras estiverem sendo carregadas, na periferia e nos bairros pobres, pelo exército de zumbis cegamente submissos aos pastores eletrônicos.
Os vendilhões do templo, ao menos, limitavam-se a tocar seus negócios. A versão atual vai além, vandalizando templos umbandistas, perseguindo gays, querendo impor à sociedade uma tutela moral medievalista... e hostilizando a esquerda, como fez ao chantagear a presidente Dilma Rousseff. A bancada evangélica condicionou seu apoio ao projeto de criação da Comissão da Verdade à não participação de veteranos da resistência no colegiado. Jesus Cristo e sua vara estão fazendo muita falta...
Quanto a Fernando Haddad, que os companheiros da esquerda petista reflitam friamente: pode-se dele esperar uma firme oposição à escalada autoritária ou ficará no habital meio termo dos governos do PT no século 21? Ele é homem, p. ex., para desmontar o dispositivo de estado policial que Kassab sorrateiramente implantou, começando pela imediata exoneração dos 30 subprefeitos (num total de 31) que são oficiais da reserva da PM?
Então, repito minha exortação do 1º turno de 2010: quem vê no capitalismo o principal entrave à felicidade dos homens e a maior ameaça à sobrevivência da humanidade, tem de ser coerente, prestigiando os candidatos que assumem explicitamente posição contrária à desigualdade capitalista e favorável à transformação revolucionária: Carlos Giannazi (PSOL), Ana Luíza (PSTU) e Anaí Caproni (PCO).
Voto útil pode fazer sentido no 2º turno, para barrar uma candidatura nefasta como o foi a de José Serra e seu vice troglodita na última eleição presidencial, apoiada até pelas viúvas da ditadura.
Mas, é importante priorizarmos, no 1º turno, o crescimento da esquerda autêntica em São Paulo, até para servir como estímulo à adoção de uma postura mais combativa por parte do próprio PT --o qual, vale lembrar, ficou devendo reações bem mais contundentes às blitzkriegs da dupla Alckmin/Kassab.
- políticos, principalmente o imperativo de lutarmos contra o processo de fascistização em São Paulo, que tende a servir como modelo para todo o País;
- pessoais, por tratar-se de uma oportunidade para furar o bloqueio macartista que a grande imprensa me impõe, como profissional e como personagem histórico; e
- o caráter didático que minha campanha poderia ter, ao resgatar valores essenciais da esquerda da minha geração, hoje quase esquecidos.
Só por ter chamado a atenção para esta postura fundamental, minha campanha terá valido a pena.
Igualmente importante está sendo a ênfase que dou à união da esquerda anticapitalista, pois hoje só conseguiremos exercer uma influência marcante no processo político se atuarmos como bloco. Seria exagero dizer que unidos venceremos, mas, com certeza, somando forças obteremos algumas vitórias, ponto de partida para sairmos da atual condição de coadjuvantes.
Desunidos, pelo contrário, perderemos todas as paradas. Rivalidades clubísticas pertencem ao universo das torcidas de futebol, não ao nosso. O que conta, para nós, é o objetivo maior de transformação da sociedade.
Neste sentido, proponho uma reflexão sobre as três candidaturas que encabeçam as pesquisas eleitorais.
Vencedor, José Serra manteria a parceria fascistizante com o governador Geraldo Opus Dei Alckmin. Seria mais do mesmo. Mais tropas de choque na USP, mais Pinheirinhos, mais pobres e doentes sendo escorraçados para favorecer os grandes empreendedores imobiliários (aqueles que financiam generosamente a campanha de quase todos os candidatos promissores do sistema).
Celso Russomanno agregaria um componente ainda mais nefasto ao processo, além dos balões de ensaio totalitários que têm marcado os sucessivos governos dos tucanos e seus aliados: a emergência de um perigosíssimo populismo de direita. É um pesadelo pensarmos no que acontecerá se as más bandeiras estiverem sendo carregadas, na periferia e nos bairros pobres, pelo exército de zumbis cegamente submissos aos pastores eletrônicos.
Os vendilhões do templo, ao menos, limitavam-se a tocar seus negócios. A versão atual vai além, vandalizando templos umbandistas, perseguindo gays, querendo impor à sociedade uma tutela moral medievalista... e hostilizando a esquerda, como fez ao chantagear a presidente Dilma Rousseff. A bancada evangélica condicionou seu apoio ao projeto de criação da Comissão da Verdade à não participação de veteranos da resistência no colegiado. Jesus Cristo e sua vara estão fazendo muita falta...
Quanto a Fernando Haddad, que os companheiros da esquerda petista reflitam friamente: pode-se dele esperar uma firme oposição à escalada autoritária ou ficará no habital meio termo dos governos do PT no século 21? Ele é homem, p. ex., para desmontar o dispositivo de estado policial que Kassab sorrateiramente implantou, começando pela imediata exoneração dos 30 subprefeitos (num total de 31) que são oficiais da reserva da PM?
Então, repito minha exortação do 1º turno de 2010: quem vê no capitalismo o principal entrave à felicidade dos homens e a maior ameaça à sobrevivência da humanidade, tem de ser coerente, prestigiando os candidatos que assumem explicitamente posição contrária à desigualdade capitalista e favorável à transformação revolucionária: Carlos Giannazi (PSOL), Ana Luíza (PSTU) e Anaí Caproni (PCO).
Voto útil pode fazer sentido no 2º turno, para barrar uma candidatura nefasta como o foi a de José Serra e seu vice troglodita na última eleição presidencial, apoiada até pelas viúvas da ditadura.
Mas, é importante priorizarmos, no 1º turno, o crescimento da esquerda autêntica em São Paulo, até para servir como estímulo à adoção de uma postura mais combativa por parte do próprio PT --o qual, vale lembrar, ficou devendo reações bem mais contundentes às blitzkriegs da dupla Alckmin/Kassab.
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22.9.12
"F...-SE O MUNDO!" DEIXOU DE SER GRACEJO
Primeiro
vieram os alertas de que as alterações climáticas convulsionariam o
planeta, ameaçando a própria sobrevivência da espécie humana.
Depois, os que lucram com as práticas causadoras do aquecimento global e da dilapidação de recursos essenciais para continuarmos a existir, contra-atacaram com uma verdadeira blietzkrieg de propaganda enganosa.
Depois, os que lucram com as práticas causadoras do aquecimento global e da dilapidação de recursos essenciais para continuarmos a existir, contra-atacaram com uma verdadeira blietzkrieg de propaganda enganosa.
No
capitalismo todos se vendem, até cientistas. Então, não foi difícil
encontrar quem preferisse um bom saldo bancário do que boas perspectivas
para os pósteros. É a velha história do "eu não me chamo Raimundo".
Mesmo
quando "f...-se o mundo!" deixou de ser gracejo, tornando-se
possibilidade concreta.
Veio Fukushima e poucos notaram que as inundações e terremotos causados pelos distúrbios do clima poderão ter efeito semelhante em qualquer usina nuclear do planeta. São bombas-relógio que armamos para nós mesmos. Passamos tanto tempo temendo que o fim do mundo viesse com as superpotências iniciando uma guerra atômica e não nos demos conta de que a radiação poderá se abater sobre nós... por acaso.
Mas, os grandes poluidores e os grandes devastadores continuam auferindo grandes lucros. Já as chances de haver um século 22 deixaram de ser grandes e diminuem cada vez mais.
E ainda há quem acredite que uma campanha eleitoral deva centrar-se em miudezas paroquiais, quando deveríamos, isto sim, estar tentando deter a marcha da insanidade, na economia e no clima.
Eis um novo alerta, desta vez do colunista Marcelo Leite, da Folha de S. Paulo. Faz lembrar um filme agourento do mestre Robert Altman, Quinteto (1979), sobre os estertores da humanidade sob uma nova Era Glacial. Leiam e reflitam:
Veio Fukushima e poucos notaram que as inundações e terremotos causados pelos distúrbios do clima poderão ter efeito semelhante em qualquer usina nuclear do planeta. São bombas-relógio que armamos para nós mesmos. Passamos tanto tempo temendo que o fim do mundo viesse com as superpotências iniciando uma guerra atômica e não nos demos conta de que a radiação poderá se abater sobre nós... por acaso.
Mas, os grandes poluidores e os grandes devastadores continuam auferindo grandes lucros. Já as chances de haver um século 22 deixaram de ser grandes e diminuem cada vez mais.
E ainda há quem acredite que uma campanha eleitoral deva centrar-se em miudezas paroquiais, quando deveríamos, isto sim, estar tentando deter a marcha da insanidade, na economia e no clima.
Eis um novo alerta, desta vez do colunista Marcelo Leite, da Folha de S. Paulo. Faz lembrar um filme agourento do mestre Robert Altman, Quinteto (1979), sobre os estertores da humanidade sob uma nova Era Glacial. Leiam e reflitam:
"Seis dias atrás, o oceano Ártico alcançou um recorde notado por pouca gente. A calota de gelo que flutua sobre ele, na região do polo Norte, encolheu para a menor área já registrada: 3,4 milhões de km² (para comparar, o território do Brasil tem 8,5 milhões de km²).
...são fortes os indícios (...) de uma tendência para sobrar cada vez menos gelo.
Essa tendência foi prevista por sucessivos relatórios do vilipendiado Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, nos quais se apontava que o aquecimento global seria mais rápido e intenso no hemisfério Norte. Só que as projeções do IPCC indicavam um Ártico livre de gelo no verão ali por 2100, e agora parece cada vez mais provável que esse evento descomunal ocorra já nesta década.
Por trás da aparente aceleração estaria o 'feedback positivo' temido por climatologistas, ou seja, uma tendência que se realimenta de si própria -uma reação em cadeia.
Menos gelo significa uma área menor de superfície branca para refletir a luz do sol, radiação que passa a ser absorvida pela água escura. Mais quente, o oceano forma menos gelo, e assim por diante.
...um Ártico sem gelo tumultuaria o clima no hemisfério Norte. Paradoxalmente, prevê-se que seus invernos fiquem mais rigorosos.
Por isso, se lá por dezembro ou janeiro caírem nevascas gigantes na Europa ou nos EUA, fique esperto com os murmúrios de que o aquecimento global é pura farsa".
TEXTOS RECENTES DO BLOGUE DIÁRIO DE CAMPANHA DO LUNGARETTI (clique p/ abrir):
UMA CANDIDATURA CONTRA A FASCISTIZAÇÃO
QUEM É BURRO, PEDE A DEUS QUE O MATE E AO DIABO QUE O CARREGUE
CINZAS EM SETEMBRO
UMA CANDIDATURA CONTRA A FASCISTIZAÇÃO
QUEM É BURRO, PEDE A DEUS QUE O MATE E AO DIABO QUE O CARREGUE
CINZAS EM SETEMBRO
TEXTOS RECENTES DO BLOGUE NÁUFRAGO DA UTOPIA (clique p/ abrir): O CANDIDATO MAIS HILÁRIO DE SAMPA: TIRIRICA-COVER
veja QUE IMUNDÍCIE!
É PROIBIDO PROIBIR AS CAÇADAS DO PEDRINHO
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21.9.12
UMA CANDIDATURA CONTRA A FASCISTIZAÇÃO
Agora vou discorrer
Quem sabe tudo e diz logo
Fica sem nada a dizer"
(Gilberto Gil, Roda)
Restando
apenas uma quinzena de campanha eleitoral, chega a hora de dizer
exatamente a que venho e por que nela estou. A sinceridade é sempre o
melhor caminho.
Eterno
otimista, durante o Caso Battisti eu superestimei o papel da internet
como ferramenta para o bom combate. Pensei que continuaria obtendo a
mesma repercussão nas lutas vindouras.
As
decepções se sucederam: a ocupação militar da USP, que representa um
retrocesso aos tempos nefandos da ditadura de 1964/85; a higiene social
na Cracolândia, desumanidade a serviço da especulação imobiliária; e a
barbárie no Pinheirinho, que em qualquer país civilizado acarretaria o
impeachment do principal culpado, o governador do estado.
Parte da esquerda não quis reagir à altura, nos três episódios. Eu muito tentei e me esforcei, mas não obtive resultados concretos. E estou com os três entalados na garganta até hoje.
Não
só pelo que eles têm de incompatíveis com tudo em que acredito e com
todos os valores que prego. Mas, também, por saber que são apenas a
ponta de um iceberg. O perigo é muito maior do que a maioria supõe.
Desde o Cansei!
venho alertando: São Paulo é o principal laboratório de testes e
aprimoramento do totalitarismo que a extrema-direita gostaria de
implantar no País.
As viuvas da ditadura e os cuervos
por elas criados haviam participado, como efetivos secundários, da
tentativa de impedimento do presidente Lula por conta do escândalo do mensalão, como forma de evitar sua reeleição.
Quem
conduziu o espetáculo, contudo, foram os tucanos, seus aliados e a
imprensa que caninamente os serve. E se tratava apenas de meio-golpe, objetivando não a instalação de uma ditadura, mas apenas a recondução ao poder, na eleição seguinte, dos derrotados em 2002.
Lula,
contudo, segurou a onda. E, logo no início do segundo mandato, a
direita troglodita mostrou suas garras, tentando reeditar o figurino
golpista de 1964 com uma versão 2007 da Marcha da família, com Deus, pela liberdade. A partir daí, São Paulo assumiria a vanguarda... da incubação do ovo da serpente.
Do fiasco retumbante do Cansei!
os golpistas extraíram a mesma lição de 1961 (quando a resistência do
governador gaúcho Leonel Brizola e dos subalternos das Forças Armada
frustrou o complô direitista para impedir a posse do vice-presidente
João Goulart): recuaram, reagruparam suas forças e estão se preparando
bem melhor para a próxima tentativa.
Então,
o que temos visto em São Paulo, nos últimos cinco anos, são sucessivos
balões de ensaio para se testar a resistência da sociedade a um novo
totalitarismo.
As sucessivas intimidações e vandalizações que os herdeiros de Erasmo Dias promoveram na USP saíram baratas.
O dantesco escorraçamento a pontapés dos dependentes químicos que vegetavam no centro velho, idem.
Mas, a brutal repressão da Marcha da Maconha pegou tão mal que os brutamontes fardados se viram obrigados a recuar, saindo moralmente derrotados.
O
impacto ainda mais negativo do festival de arbitrariedades no
Pinheirinho, culminando no sequestro de um idoso para que a imprensa não
constatasse seu estado lastimável após o espancamento sofrido (a ponto
de duas semanas depois ele falecer), deve ter feito soar um sinal de
alarme no QG golpista. Estão sendo evitadas as ações que possam causar impacto equivalente.
O que não impede a Polícia Militar paulista de continuar atuando como força exterminadora, segundo o modelo sinistro do mate primeiro e maquile depois!. Com o aval e defesa entusiástica do governador adepto do ideário do Opus Dei.
Os episódios de mortes de suspeitos por alegada resistência à prisão
se multiplicam, com a cumplicidade da imprensa que não os denuncia como
as chacinas que são. Em tiroteios reais há feridos e mortos, não apenas
mortos. Quando todas as testemunhas morrem, é porque foram executadas.
Simples assim.
O controle (talvez seja melhor dizer terror) policial nos bairros pobres chega a abater-se até sobre os inocentes saraus dos jovens, mais uma vez evocando os anos de chumbo, quando as forças auxiliares da ditadura vandalizavam teatros e agrediam atores.
E
a existência de uma articulação mais ampla, direcionada para o estado
policial, evidencia-se na insólita designação de oficiais da reserva da
PM para gerirem 30 das 31 subprefeituras da capital paulista.
Quem conhece a cultura dessa corporação, satelizada pelas Forças Armadas durante o período do arbítrio, sabe muito bem o que isto representa. Até recentemente, sua unidade mais truculenta, a Rota, mantinha no portal do Governo paulista um elogio explícito ao golpismo, só o deletando sob vara da ministra de Direitos Humanos.
Quem conhece a cultura dessa corporação, satelizada pelas Forças Armadas durante o período do arbítrio, sabe muito bem o que isto representa. Até recentemente, sua unidade mais truculenta, a Rota, mantinha no portal do Governo paulista um elogio explícito ao golpismo, só o deletando sob vara da ministra de Direitos Humanos.
O dispositivo golpista já está montado em São Paulo, devendo servir como modelo para outras cidades e estados. A oportunidade golpista, contudo, ainda não surgiu.
Pode
demorar anos --foram quase três, entre o fracasso de agosto/1961 e o
sucesso em abril/1964-- ou nem sequer se apresentar. A desconstrução da
imagem do PT a partir do julgamento do mensalão
talvez torne desnecessária uma virada de mesa; os grupos cujos
interesses estão sendo contrariados poderão, eventualmente, atingir seus
objetivos pela via eleitoral.
Mas, não é confortável vivermos com uma lâmina de guilhotina pendente sobre a cabeça.
Então,
o sentido maior da minha candidatura é este: tendo a internet sido
insuficiente para esmagarmos o ovo de serpente que incumbaram em São
Paulo, tanto que o ofídio não só nasceu como se fortalece cada dia mais,
resolvi ir à luta em outras frentes. Pois assumo como minha grande
missão atuar com eficiência e contundência contra esta ameaça que tenho
visto crescer e já fazer bastante mal, além de prenunciar ocorrências
muito mais graves.
Mas,
perguntarão os leitores, por que eu? Não sou o candidato de esquerda
mais douto, nem o mais enraizado nos movimentos sociais, muito menos o
mais popular --admito-o francamente.
No
entanto, por um destino insólito, tive de lutar sozinho durante muito
tempo e aprendi a travar batalhas de opinião nas circunstâncias mais
adversas, seja para salvar em 1986 os quatro de Salvador
que faziam greve de fome sem o apoio de quase ninguém, seja para obter
em 2005 uma anistia à qual tinha pleno direito mas a União teimava em
postergar, seja para restabelecer a verdade histórica a meu respeito.
Foi
a experiência acumuladas nestas e outras batalhas que me ensinaram a
encontrar o foco certo em termos jurídicos e a palavra certa para
sensibilizar as pessoas imbuídas de espírito de justiça.
Quem
acompanhou o Caso Battisti deve lembrar-se que eu tinha visão clara do
rumo que os acontecimentos tomariam e a utilizava para propor as linhas
de ação mais adequadas para nosso comitê de solidariedade.
Acostumado
a travar lutas desiguais, rechaçava o sectarismo, tudo fazendo para
agregar todos os bons cidadãos à nossa causa. A união foi essencial para
nocautearmos um inimigo do 1º mundo e todos os seus quinta-colunas no
Brasil (principalmente na imprensa, cuja tendenciosidade atingiu o
paroxismo). Éramos poucos, éramos fracos, mas soubemos nos aglutinar e
dar sempre os passos certos.
Não podemos nos associar aos inimigos de classe, mas são admissíveis e justificáveis as alianças táticas com forças pertencentes ao campo da esquerda ou que tenham uma tradição de esquerda, desde que o objetivo do momento seja comum.
Então,
como participante de uma bancada de esquerda que tenderá a ser
minoritária, acredito poder dar contribuição destacada para estimular a
união das forças progressistas, denunciar/atrapalhar as maracutaias dos
poderosos, desencavar razões legais para colocar suas políticas em xeque
e fazer com que tais questões repercutam na sociedade, trazendo a
opinião pública para nosso lado.
O
que me manteve vivo, depois da derrota trágica nos anos de chumbo, foi
a esperança de ainda contribuir para que frutificassem os ideais da
minha geração, em nome dos quais tantos companheiros imprescindíveis
foram martirizados ou destruídos.
Preparei-me
durante quatro décadas para o papel que me proponho a desempenhar na
luta contra a fascistização; mas, travá-la em melhores condições e com
mais visibilidade, dependerá da confiança e do apoio que receber dos
companheiros.
É o último apelo que lanço pois tudo que eu tinha para dizer, está dito.
E a sorte, lançada.
E a sorte, lançada.
19.9.12
'ENEM' COMO CANDIDATO O HADDAD DEIXA DE SER TRAPALHÃO
O problema do Haddad é ainda não ter encontrado os parceiros ideais |
Por um punhado de segundos a mais no horário eleitoral de São Paulo, o seu símbolo primordial, o ex-presidente Lula, pagou o mico de posar para repulsivas e criticadíssimas fotos na Mansão Maluf.
O candidato Fernando Haddad, por sua vez, além do constrangimento de ser zoado como a Dona Flor de dois improváveis maridos, ainda viu bater asas a vice ideal, Luíza Erundina, que seguiu os ventos da dignidade.
Agora, na tentativa de tirar do ar uma rotineira propaganda adversária, nova catástrofe em termos de comunicação!
A peça tucana vincula Haddad a José Dirceu, Delúbio Soares e Paulo Maluf. "Sabe o que acontece quando você vota no PT? Você vota, ele volta", diz o narrador, a cada foto de vilão exibida.
Na política, a falta de perspicácia produz invariavelmente este resultado |
"A publicidade é manifestamente degradante porque promove uma indevida associação entre Fernando Haddad e pessoas envolvidas em processos criminais e ações de improbidade administrativa.
Sempre que [Haddad] teve poder de nomeação [quando era ministro], nunca nomeou Delúbio, Maluf ou Dirceu.
Se tais pessoas jamais foram nomeadas por Fernando Haddad, o que sobra então a intenção dessa propaganda? Sobra a intenção de degradar através da associação da imagem do candidato às pessoas que surgem na tela".
Em termos práticos, o resultado foi ele receber um calaboca do juiz:
"...não se há que falar em degradação e ridicularização quando se estabelece a ligação entre o candidato e outros filiados a seu partido ou a partido coligado, ligação esta de conhecimento público e notório.
Expor-se ao ridículo é crime sem perdão na era da internet |
Da mesma forma que um candidato pode ser beneficiado pelo apoio de correligionários bem avaliados pela população, pode ele ser prejudicado pela associação feita a políticos não tão bem avaliados".
Em termos políticos, a sua patética ingenuidade rendeu uma manchete intriguenta da Folha de S. Paulo, que trombeteou: Haddad diz que associá-lo a Zé Dirceu é degradante.
Isto porque o advogado do PSDB, ao ser comunicado da ação, deve ter corrido a alertar os dirigentes sobre a vacilada; e estes devem ter corrido a oferecer o furo à Folha.
Isto porque o advogado do PSDB, ao ser comunicado da ação, deve ter corrido a alertar os dirigentes sobre a vacilada; e estes devem ter corrido a oferecer o furo à Folha.
Como o padrinho Lula terá recebido a informação de que seu afilhado
jamais nomearia Zé Dirceu e Delúbio (que ele nomeou) e Maluf (cujo
apoio ele buscou)? Conhecendo bem o pupilo, deve ter pensado com
seus botões que, quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o
carregue...
Para os petistas que ignoram como essas coisas se passam, Haddad parecerá um traíra que abandona os companheiros em desgraça.
Para os petistas que ignoram como essas coisas se passam, Haddad parecerá um traíra que abandona os companheiros em desgraça.
Para os mais perspicazes, um bobalhão que não controla direito sua campanha, dando trunfos de mão beijada ao inimigo.
O que não passaria de uma reprise das trapalhadas por ele cometidas ao organizar o Enem...
O que não passaria de uma reprise das trapalhadas por ele cometidas ao organizar o Enem...
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15.9.12
A ELEIÇÃO PAULISTANA ESTÁ SENDO UM TRIÂNGULO DAS BERMUDAS
O quadro eleitoral em São Paulo é desalentador.
O cavalo de Tróia das empresas (ou seria melhor dizer gangues?) que atuam no mercado religioso encaminha-se para o 2º turno, já que as duas máquinas políticas mais poderosas desistiram de o tentarem derrubar desde já.
O vira-casaca e o bebê de proveta lançam sua munição mais pesada um contra o outro, apostando nas muitas vulnerabilidades do explorador da fé acidental. Acreditam que, chegando lá, o vencerão facilmente no confronto final.
É uma aposta arriscada e que, no passado, muitas vezes teve resultados catastróficos --como catastrófica indubitavelmente seria a afirmação dos neopentecostais como força política de primeira grandeza, consequência óbvia se o tiro sair pela culatra.
A última chance de escaparmos deste triângulo das Bermudas são os debates eleitorais.
Se algum dos restantes sair-se muito bem, poderá atropelar na reta final, aproveitando a evidente falta de entusiasmo do eleitorado com o bobo, o mau e o feio (a identificação com o filme famoso de Sergio Leone só não é total porque nem mesmo na acepção sarcástica do mestre do bangue-bangue à italiana o Fernando Haddad poderia ser considerado bom, embora caia como uma luva quanto à maldade do Russomanno e à feiúra do Serra...).
Torço para que o companheiro Carlos Giannazi assuma-se como o candidato realmente antípoda do sistema, a exemplo do Lula dos bons tempos. Assim, na pior das hipóteses, deixará sua marca impressa em cores vivas; e, para nós, a luta não acabará em outubro nem em novembro. Trata-se apenas de uma batalha e o que queremos é ganhar a guerra.
Que Giannazi, enfim, marque a diferença em termos ideológicos, pois jamais vai conseguir grande destaque numa disputa de quem virá a ser o melhor administrador em termos convencionais. Aí prevalecem inevitavelmente os que têm mais tempo no horário eleitoral e maior exposição na mídia.
A chance que lhe resta é uma só: convencer os eleitores de que se trata do único capaz de resgatar São Paulo das garras dos poderosos, evitando que a administração municipal continue priorizando negócios & negociatas em detrimento dos cidadãos.
Para quem sabe das coisas, trata-se do óbvio ululante. Os debates serão a última oportunidade para o Giannazi tornar o eleitorado ciente disto.
O cavalo de Tróia das empresas (ou seria melhor dizer gangues?) que atuam no mercado religioso encaminha-se para o 2º turno, já que as duas máquinas políticas mais poderosas desistiram de o tentarem derrubar desde já.
O vira-casaca e o bebê de proveta lançam sua munição mais pesada um contra o outro, apostando nas muitas vulnerabilidades do explorador da fé acidental. Acreditam que, chegando lá, o vencerão facilmente no confronto final.
É uma aposta arriscada e que, no passado, muitas vezes teve resultados catastróficos --como catastrófica indubitavelmente seria a afirmação dos neopentecostais como força política de primeira grandeza, consequência óbvia se o tiro sair pela culatra.
A última chance de escaparmos deste triângulo das Bermudas são os debates eleitorais.
Se algum dos restantes sair-se muito bem, poderá atropelar na reta final, aproveitando a evidente falta de entusiasmo do eleitorado com o bobo, o mau e o feio (a identificação com o filme famoso de Sergio Leone só não é total porque nem mesmo na acepção sarcástica do mestre do bangue-bangue à italiana o Fernando Haddad poderia ser considerado bom, embora caia como uma luva quanto à maldade do Russomanno e à feiúra do Serra...).
Torço para que o companheiro Carlos Giannazi assuma-se como o candidato realmente antípoda do sistema, a exemplo do Lula dos bons tempos. Assim, na pior das hipóteses, deixará sua marca impressa em cores vivas; e, para nós, a luta não acabará em outubro nem em novembro. Trata-se apenas de uma batalha e o que queremos é ganhar a guerra.
Que Giannazi, enfim, marque a diferença em termos ideológicos, pois jamais vai conseguir grande destaque numa disputa de quem virá a ser o melhor administrador em termos convencionais. Aí prevalecem inevitavelmente os que têm mais tempo no horário eleitoral e maior exposição na mídia.
A chance que lhe resta é uma só: convencer os eleitores de que se trata do único capaz de resgatar São Paulo das garras dos poderosos, evitando que a administração municipal continue priorizando negócios & negociatas em detrimento dos cidadãos.
Para quem sabe das coisas, trata-se do óbvio ululante. Os debates serão a última oportunidade para o Giannazi tornar o eleitorado ciente disto.
13.9.12
AINDA NÃO CONSIDERO CUMPRIDA MINHA MISSÃO
São Paulo, setembro de 2012.
Prezado eleitor,
não estranhe se for eu mesmo, candidato a vereador de São
Paulo, que estiver lhe entregando esta mensagem. Minha campanha é humilde e
feita com muita dificuldade, como costumam ser as dos candidatos que não se comprometem a, eleitos, retribuírem as doações recebidas dos ricos e poderosos.
Sei que despejam propaganda política demais na vossa cabeça;
mas, humildemente, peço uns minutinhos de atenção. Pois o que lerá aqui não
são falsas promessas nem frases feitas. É uma história de vida.
Disputo a primeira eleição já sexagenário, mas meus ideais
vêm de muito longe: aos 16 anos eu já discutia com meus colegas de escola formas
de ajudarmos os melhores brasileiros a resistirem à ditadura mais bestial que
este país já conheceu.
Tornei-me líder secundarista e, quando os golpistas de 1964 passaram
a responder aos protestos pacíficos com assassinatos e torturas terríveis, não
recuei: ao lado de sete jovens companheiros, ingressei no movimento de
resistência armada ao despotismo que fora instalado pelas armas.
Mas, o que poderiam fazer uns tantos idealistas destreinados e mal armados
contra aqueles que, além de terem as armas como instrumentos do seu ofício, contavam
com esmagadora superioridade em efetivos, armamento e recursos? Dos oito que éramos, dois acabaram mortos;
cinco, fomos presos e barbaramente torturados; e uma escapou ilesa, mas, traumatizada
pela perda do marido e perseguições sofridas, nunca mais seria a mesma.
Quando enfim me libertaram, tive de reconstruir minha vida
nas piores condições, com uma lesão permanente e várias sequelas, ameaçado, vigiado,
estigmatizado.
Mesmo assim fiz longa carreira jornalística e continuei sempre
defendendo as bandeiras que norteiam minha existência: liberdade e justiça
social.
Até que os barões da imprensa, incomodados com minhas verdades,
me privaram do direito de trabalhar nas suas redações e até de ser citado em
suas publicações. Mas, limitado à internet, minha influência até cresceu e eu
pude dar boa contribuição para várias causas; orgulho-me de, como defensor dos direitos
humanos, haver evitado graves injustiças e ajudado a salvar pessoas valorosas.
Ainda não considero cumprida minha missão, nem completo o
legado que quero deixar às minhas filhas, netos, e ao meu povo.
A
São Paulo dos meus sonhos não é esta de qualidade de vida tão ínfima,
de transporte tão infernal e de tamanho descaso com as
necessidades e direitos mais elementares dos cidadãos -- palco, ademais, de
episódios chocantes como o de coitadezas sendo escorraçados a pontapés (ao invés de
civilizadamente tratados da dependência química que os está levando à morte) porque atrapalham grandes
empreendimentos imobiliários.
Admito sinceramente que o maior problema paulistano não pode
ser solucionado por prefeitos e vereadores: é o fato de que aqui os interesses
individuais prevalecem sobre os coletivos. Numa sociedade regida pela
ganância em detrimento do bem comum, jamais a população será respeitada como merece.
Mas, a administração pública não precisa ser tão medíocre e
desumana como a atual; nem os representantes do povo, tão traidores do povo.
Então, sem demagogia nem planos mirabolantes, eu apenas me proponho
a continuar fazendo o que fiz durante toda a minha vida adulta: defender os direitos
e os interesses dos humildes, contra a gula insaciável e as infames maquinações
dos poderosos.
Pode parecer pouco, em relação ao que tantos prometem. No
entanto, é bem mais do que eles entregarão.
Ficarei muito grato se merecer o vosso apoio.
Cordialmente,
Ficarei muito grato se merecer o vosso apoio.
Cordialmente,
Celso Lungaretti
12.9.12
"PALAVRA DE HOMEM RACHA, MAS NÃO VOLTA DIFERENTE"
Consiga
ou não eleger-me, a minha campanha deixará o legado de ter colocado em
xeque os valores e procedimentos adotados pelos candidatos durante a
temporada de caça aos votos, ajudando a definir parâmetros políticos e
éticos para as candidaturas progressistas.
Dois dos principais:
Dois dos principais:
- defendo que nos vejamos, acima de tudo, como integrantes da esquerda anticapitalista, e não de tal ou qual partido (nossos ideais comuns, que remontam a Marx e Proudhon, estão infinitamente acima da mentalidade clubística);
- e que nos apresentemos francamente ao eleitorado como REVOLUCIONÁRIOS que tudo faremos para minorar o sofrimento dos cidadãos sob o capitalismo, mas deixando claro que as soluções reais e as conquistas definitivas só virão com uma transformação maior da sociedade.
Candidaturas e mandatos nos servem, TATICAMENTE,
para a acumulação de forças. Não temos o direito moral de igualarmo-nos
aos farsantes que prometem mundos e fundos para elegerem-se, como se
medidas circunstanciais fossem sanar mazelas estruturais.
O capitalismo está podre até a medula e é o obstáculo primordial à felicidade dos homens. Não será no Executivo e no Legislativo atuais que desataremos esse nó, embora tenhamos a obrigação de honrar nossos mandatos, bem representando e defendendo incansavelmente os trabalhadores, os excluídos, os injustiçados, os humilhados e ofendidos.
Afora estas grandes coordenadas, que nada mais são do que a recolocação de valores assumidos por boa parte da esquerda no tempo em que eu iniciava minha jornada, há as lições que estou extraindo desta campanha.
Nos últimos dias, p. ex., recebi a mensagem de que o movimento Ciclocidade exige que imprimamos, assinemos e lhe enviemos pelo correio um termo de comprometimento com suas metas, como condição para figurarmos na lista de apoiadores e nossas candidaturas serem por ele divulgadas.
Tenho tudo a ver, claro, com as propostas de priorização do transporte alternativo e de restrição do uso egoísta do espaço público. E minha posição já foi publicamente exposta em artigos como este, este e este.
Mas, minha história de vida é a de quem jamais trilhou os caminhos convenientes, sempre preferindo os da consciência. Não será aos 61 anos que vou transigir com imposições desse tipo.
Candidatos do sistema assinam às dúzias tais compromissos e depois dizem que não passavam de um papelzinho sem importância --está aí o Serra, que não me deixa mentir.
Como revolucionário, recuso-me a ser colocado nessa vala comum e a concordar com qualquer um que me veja como merecedor da desconfiança organizada dos cidadãos.
Também me causa total repugnância a idéia de toma-lá-divulgação-dá-cá-assinatura implícita nesse procedimento. Não faço trocas, defendo ideais. E quem já correu risco de vida e de destruição física/psicológica para os defender merece RESPEITO.
Mas, cansado das querelas sem fim a que os homens de princípio somos arrastados nestes melancólicos tempos presentes, tentei ser flexível na minha resposta.
Primeiramente, como é obrigatório, fixei minha posição: "...considero inadequada a assinatura compulsória de um termo de compromisso. Sou do tempo em que a palavra de um homem valia alguma coisa. E tenho uma história de vida que deve, ou deveria, inspirar credibilidade".
Depois,
deixei uma saída honrosa para ambas as partes: "...peço que me coloquem
na lista dos apoiadores independentemente dessa formalidade. Como faço
minha campanha sozinho e sou idoso, reivindico alguma compreensão. Já
nem me lembro mais da última vez que enfreitei fila de agência de
correio".
Ou seja, poderiam, se quisessem, abrir mão da exigência por eu ser idoso e não por concordarem comigo.
Não quiseram: "...realmente temos que exigir esta mínima e simples formalidade da carta assinada e enviada pelos correios. Como ainda estamos com bastante tempo até a data final, não é necessário enfrentar fila, basta selar o envelope e depositar em uma caixa de correios".
Só me restou a via da franqueza:
O capitalismo está podre até a medula e é o obstáculo primordial à felicidade dos homens. Não será no Executivo e no Legislativo atuais que desataremos esse nó, embora tenhamos a obrigação de honrar nossos mandatos, bem representando e defendendo incansavelmente os trabalhadores, os excluídos, os injustiçados, os humilhados e ofendidos.
Afora estas grandes coordenadas, que nada mais são do que a recolocação de valores assumidos por boa parte da esquerda no tempo em que eu iniciava minha jornada, há as lições que estou extraindo desta campanha.
Nos últimos dias, p. ex., recebi a mensagem de que o movimento Ciclocidade exige que imprimamos, assinemos e lhe enviemos pelo correio um termo de comprometimento com suas metas, como condição para figurarmos na lista de apoiadores e nossas candidaturas serem por ele divulgadas.
Tenho tudo a ver, claro, com as propostas de priorização do transporte alternativo e de restrição do uso egoísta do espaço público. E minha posição já foi publicamente exposta em artigos como este, este e este.
Mas, minha história de vida é a de quem jamais trilhou os caminhos convenientes, sempre preferindo os da consciência. Não será aos 61 anos que vou transigir com imposições desse tipo.
Candidatos do sistema assinam às dúzias tais compromissos e depois dizem que não passavam de um papelzinho sem importância --está aí o Serra, que não me deixa mentir.
Como revolucionário, recuso-me a ser colocado nessa vala comum e a concordar com qualquer um que me veja como merecedor da desconfiança organizada dos cidadãos.
Também me causa total repugnância a idéia de toma-lá-divulgação-dá-cá-assinatura implícita nesse procedimento. Não faço trocas, defendo ideais. E quem já correu risco de vida e de destruição física/psicológica para os defender merece RESPEITO.
Mas, cansado das querelas sem fim a que os homens de princípio somos arrastados nestes melancólicos tempos presentes, tentei ser flexível na minha resposta.
Primeiramente, como é obrigatório, fixei minha posição: "...considero inadequada a assinatura compulsória de um termo de compromisso. Sou do tempo em que a palavra de um homem valia alguma coisa. E tenho uma história de vida que deve, ou deveria, inspirar credibilidade".
Eis um candidato muito bom p/ assinar termos de compromisso |
Ou seja, poderiam, se quisessem, abrir mão da exigência por eu ser idoso e não por concordarem comigo.
Não quiseram: "...realmente temos que exigir esta mínima e simples formalidade da carta assinada e enviada pelos correios. Como ainda estamos com bastante tempo até a data final, não é necessário enfrentar fila, basta selar o envelope e depositar em uma caixa de correios".
Só me restou a via da franqueza:
"...quem é incapaz de abrir exceções a regras burocráticas é igualmente incapaz de construir uma sociedade diferente, em que as necessidades humanas e o bem comum sejam a medida de todas as coisas. Na nossa vida, só a morte é inexorável. Todo o resto podemos mudar.
Não sei se você se sentirá bem deixando de fora de sua relação de apoiadores alguém que é personagem histórico, tem uma vida inteira de lutas nas costas e é um defensor consciente (não oportunístico) de suas bandeiras.
Mas, eu não me sentiria bem curvando-me a uma imposição destas, pois sempre as recuso...
...se, por milagre, for eleito, defenderei melhor do que ninguém as ciclovias... independentemente da postura paradoxal que vocês terão adotado".
Referindo-me ao papelão do Serra no episódio do papelzinho, citei recentemente um verso lapidar do Tom Zé: "Palavra de homem racha, mas não volta diferente".
Palavra de revolucionário, mais ainda.
Palavra de revolucionário, mais ainda.
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José Serra
"ESTAMOS VIAJANDO A GALOPE EM DIREÇÃO À IDADE MÉDIA"
Com indesculpável atraso, acabo de tomar conhecimento da MELHOR análise sobre o fenômeno Russomanno publicada nas tribunas conceituadas (avalio a minha como alternativa): a de Alberto Dines (foto), lenda viva da resistência jornalística brasileira
à ditadura militar.
à ditadura militar.
Recomendo com entusiasmo e subscrevo cada palavra.
NINGUÉM TENTA EXPLICAR O
"MILAGRE" RUSSOMANNO
É jovem (56 anos), viúvo, razoável pinta, arrumado, verbo solto, experimentado repórter de TV (no popularíssimo Aqui, Agora,
do SBT). Já teve votações espetaculares como deputado federal, a
primeira em 1994 (pelo PSDB). Depois de tucano experimentou ser corvo de
Paulo Maluf, agora é uma águia macedista, alado seguidor do bispo Edir
Macedo, imperador do PRB e da Igreja Universal do Reino de Deus.
Celso
Russomanno lidera com folga há algumas semanas a disputa pela
prefeitura paulistana onde enfrenta simultaneamente, e sem estresse,
duas feras eleitorais – José Serra e Lula da Silva.
Opinionistas,
politólogos, musas acadêmicas, pesquisólogos e especialistas em
eleições acham que o fenômeno não se aguenta nas pernas, e talvez por
isso sequer tentam interpretações mais originais para explicá-lo. Já se
falou em desgaste da polarização PT-PSDB, em cara nova, neopopulismo, cacarequismo,
nova classe média etc., etc. As acusações de corrupção, falsidade
ideológica e outras tantas do Código Penal não colam em Russomanno.
Poucos
analistas se animam a tocar na explicação fundamental: a formidável
politização da religião. Não é a defesa do consumidor que dá robustez à
candidatura de Russomanno. É o apoio da maior organização evangélica
neopentecostal da América Latina – e talvez a maior do mundo.
Rumo ao passado
A
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é uma potência política,
econômica, midiática. Edir Macedo, seu fundador, é incomparavelmente
mais poderoso do que foi o reverendo coreano Sun Myung Moon, apóstolo da
Igreja da Unificação, falecido há dias.
Mesmo
que Mitt Romney seja eleito presidente dos EUA e convertido em líder de
uma superpotência mundial, Edir Macedo continuará como papa de uma
congregação global articulada pelo fanatismo e pelo fundamentalismo.
Colocar
Russomanno no centro de uma guerra santa é temerário, mas talvez seja
exatamente este o tríplice sonho de Edir Macedo – ser perseguido pela
Santa Madre Igreja, desembaraçar-se de Lula e aniquilar a grande
imprensa que tanto o incomoda. Isso explica a superficialidade das
análises midiáticas sobre a arrancada de Celso Russomanno. Melhor fingir
de avestruz, comer areia, do que enfrentar as manadas das seitas
político-religiosas iluminadas por holofotes de neon.
Falar
no poder da IURD significa trazer para a ribalta o poder recôndito do
Opus Dei, hoje um dos polos do poder político brasileiro que a esquerda
teima em ignorar e à direita não interessa badalar.
Estamos
viajando a galope em direção à Idade Média. Seu ícone, bem penteado e
bem vestido, não precisa de novas mídias nem de redes sociais; sua força
está contida numa mensagem de apenas 19 caracteres: votem em Russomanno. (Fonte: Observatório da Imprensa)
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