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20.2.10

CASO BATTISTI: MÍDIA AJUDA VÍTIMA PROFISSIONAL A SE PROMOVER

O lobby de Alberto Torregiani contra o escritor e perseguido político Cesare Battisti prosseguiu nesta 6ª feira (19), com mais uma irrelevância distribuída pela agência noticiosa italiana Ansa a seus assinantes.

Os colonizados jornais on-line brasileiros aproveitaram-na literalmente, como sempre o fazem, sem nenhuma checagem ou aprofundamento.

Não dá para sabermos se compactuam com a desinformação por preguiça ou por opção ideológica.
Afora a encheção de linguiça [quero dizer, a contextualização...], o despacho da Ansa só traz duas novidades.

Uma não passa de bravata pueril do Torregiani:
"Vamos ver se Battisti tem coragem de vir diante de mim e dizer: 'eu sou inocente'".
A outra é seu mero palpite de que Battisti não teria certeza de uma decisão favorável do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Se Battisti está tão tranquilo [de] que o presidente Lula concederá a ele a imunidade, não entendo por que continua a falar. Isto demonstra que não tem esta grande segurança e que continua a fazer grandes pressões", disse Alberto.
"E daí? - perguntarão os leitores. Ninguém que fique prisioneiro por tanto tempo deixa de sentir nervosismo às vésperas de sua libertação. Mesmo tendo 99,9% de certeza de que tudo correrá bem, o 0,1% o inquieta. Ainda mais sendo um homem sensível e tendente à depressão, como Battisti.

Então é normal e humanamente compreensível que fale demais, para espantar seus fantasmas. [E também porque não se é italiano impunemente...]

O texto esclarece que Alberto é "filho de uma das vítimas de crimes atribuídos a Cesare Battisti", o que dará aos incautos a impressão de tratamento respeitoso e civilizado.

Nada disto. Na verdade, a Ansa é obrigada a ser reticente porque esclareceu, em matéria anterior, que Battisti não estava presente no atentado em que o joalheiro Pierluigi Torregiani foi morto e seu filho se tornou hemiplégico:
"...Battisti sempre afirmou sua inocência e sustenta que o disparo que deixou Torregiani numa cadeira de rodas partiu da arma de seu próprio pai.

"'E o que isso tem a ver?', replica Torregiani. 'Battisti não fazia parte do comando [grifo meu], mas é uma questão de responsabilidade. Ele foi condenado por ter participado da tomada de decisão, por ter sido o mandante do crime, e o que importa são as intenções'".
Falastrão como ele diz ser Battisti, viu-se Alberto obrigado a tentar justificar à Ansa suas afirmações um tanto contraditórias [fica difícil entender-se o motivo de tão extremada sanha vingativa contra quem, afinal, nem matou seu pai nem lhe causou a hemiplegia...]. E o fez de forma canhestra:
"Torregiani revelou que Battisti não participou da ação que culminou no assassinato de seu pai porque havia ido à localidade de Mestre, onde teria matado o açougueiro Lino Sabbadin. 'Está tudo nos autos do processo', explicou".
[A notícia distribuída no Brasil em 30/01/2009 pela Ansa já foi retirada do ar, mas a original italiana, mais resumida, ainda pode ser acessada.]

MEMÓRIA SELETIVA

Houve duas omissões significativas. Torregiani esqueceu de dizer que:
  • segundo "os autos do processo", os dois assassinatos foram planejados na casa do dirigente máximo do grupo Proletários Armados para o Comunismo, Pietro Mutti, em reunião na qual é atribuída a Battisti (que, na verdade, não estava presente) apenas a omissão, ou seja, não teria objetado; e
  • muitos anos depois e já como delator premiado, Mutti imputou mentirosamente a Battisti a autoria direta dos dois assassinatos, tendo a acusação engolido suas lorotas interesseiras como se fossem a tábua dos 10 mandamentos.
Aí a defesa levantou um pequeno e singelo detalhe: a distância entre as duas localidades (500 quilômetros) não podia ser transposta no intervalo de tempo transcorrido entre as ações (duas horas).

A derrubada de uma das mentiras de Mutti foi um embaraço? Longe disso. Os procuradores apenas remendaram a peça acusatória, colocando Battisti como assassino de Lino Sabbadin e autor intelectual da morte do joalheiro Pierluigi Torregiani...

Quanto a Mutti, a própria Corte de Milão assim se pronunciaria sobre sua teia de falsidades, em 31/03/1993:
"Este arrependido é afeito a jogos de prestidigitação entre os seus diferentes cúmplices, como quando implica Battisti no assalto de Viale Fulvio Testi para salvar Falcone, ou Battisti e Sebastiano Masala em lugar de Bitti e Marco Masala no assalto à loja de armas 'Tuttosport', ou ainda Lavazza ou Bergamin em lugar de Marco Masala em dois assaltos em Verona".
VÍTIMA PROFISSIONAL

Finalmente, cabe acrescentar revelação interessante que surgiu em notícia de O Estado de S. Paulo:
"Autor do livro Já Estava na Guerra, Mas Não Sabia, em que contou sua experiência, Torregiani entrou há pouco tempo na política. É responsável pelo Departamento de Justiça do Movimento pela Itália, liderado por Daniela Santanchè...".
Para quem não sabe, trata-se de um agrupamento reacionário cuja líder é coproprietária de um night-club para ricaços da Sardenha, uma senhora assumidamente neofascista e que rompeu com Berlusconi por considerá-lo demasiado tímido na defesa dos ideais direitistas...

Então, a verdadeira motivação de Alberto Torregiani se evidencia até na cadeira de rodas que ocupa espaço tão destacado na capa do seu livro: é uma vítima profissional querendo aparecer o máximo possível no noticiário, já que engata uma carreira política e literária nas fileiras da extrema-direita italiana.

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