O bravo companheiro Rui Martins, a quem muito prezo e respeito, formalizou o seu apoio a Marina Silva com este comunicado que publicou no Direto da Redação.
Eis os trechos que considero mais significativos.
"...O Brasil mudou com Lula e isso é visível e todos nós sentimos. Porém ninguém pode assumir sozinho a solução de tantos problemas, que se foram avolumando em tantos séculos de governos dirigidos por elites. Ainda restam áreas não solucionadas, surgiram também divergências, foram feitos compromissos, que atrasam ou comprometem os sonhos das novas gerações de um Brasil mais justo e menos desigual.
Muitos esperavam o retorno de Lula, para restituir a confiança e acertar as arestas do que foi mal concluído ou ficou por fazer. A opção de Lula de não retornar irá perpetuar, na memória de todos nós a do pioneiro e desbravador, mas sua ausência não pode ser substituída por delegação.
Sem Lula, todos nós de esquerda que o apoiamos mesmo tantas vezes criticando, temos a liberdade de optar de nos lançarmos na busca de um outra opção, que favoreça ainda outros excluídos, reformule e renove a maneira de se fazer política e permita se abrir um novo caminho, sem manter compromissos com as figuras corruptas que conseguiram sobreviver e mesmo pactuar com estes doze anos de lulismo.
Chegou a hora de mudar porque o tempo pode desviar os melhores projetos. Existe um clima geral de insatisfação e de falta de rumo, que só poderá ser preenchido com novas metas, novos desafios, novas pessoas, mesmo que sejam sonhos ou utopias. Estávamos quase habituados a calar no peito nossas decepções, pois afinal somos humanos e imperfeitos, mas ninguém pode nos impedir de reacender a chama de novas esperanças e de novas metas, na verdade as velhas esperanças e velhas metas das reformas de base, que nos foram roubadas pelo golpe de 64.
A maioria dessas reformas não foi feita e o Brasil cresceu dentro do modelo neoliberal do incentivo ao consumo, que retirou da miséria 30 milhões, essa é porém uma solução de efeitos temporários que não pode ser aplicada indefinidamente.
O crescimento intensivo tem provocado a monocultura da soja, a pecuária extensiva e o desmatamento de nossas florestas, sem ter sido feita a esperada reforma agrária, se aceitando a pressão da Montsanto que nos impôs os cereais OGM, mesmo quando nossos parceiros comerciais europeus nos preferiam sem OGM. Sem se falar nas pressões do agronegócio sobre as terras indígenas, invasões, tentativas de remarcações das reservas, em nome de uma agricultura desenfreada, que não garante a necessidades das populações locais, mas voltada apenas para a exportação.
...Precisamos repensar a política, precisamos repensar a economia, saber o que realmente é essencial, para que as populações com o crescimento da robotização não sejam condenadas ao desemprego, e tenham, isso sim, uma vida mais plena.
Por isso, decidi votar e lutar por Marina Silva. Porque ela nos traz novos desafios e nos obrigará a novas soluções políticas e mesmo econômicas. E todo esforço é sempre sadio.
Esta não é uma declaração de ruptura aos petistas, muito menos aos lulistas, mesmo porque talvez sejamos chamados a nos reunirmos num segundo turno.
...enfim, apelo aos companheiros que lutaram comigo pela não extradição do italiano Cesare Battisti, a participarem desta nova luta. Tenho certeza de que vivemos um momento histórico".
ENTRE A INCÓGNITA, A PASMACEIRA E O RETROCESSO
Esta seria uma boa oportunidade para eu adotar posicionamento semelhante. No entanto, gato escaldado com relação à política oficial, tenho simpatia por uns e outras, mas não boto mais a mão no fogo por ninguém. Daí preferir reafirmar minha posição inicial: Marina Silva é uma incógnita; Dilma Rousseff, a continuidade da pasmaceira atual; e Aécio Neves, o retrocesso.
Aquilo com que sonho não é nenhuma candidatura presidencial de 2014, mas sim a emergência e afirmação de uma nova geração revolucionária, capaz de conquistar nas ruas o que jamais obteremos na Praça dos Três (podres) Poderes.
Tal geração parece estar engatinhando. Depois da terrível prostração que se abateu sobre o Brasil quando o PT submeteu-se às imposições dos verdadeiramente poderosos, aceitando exercer a Presidência da República pela metade (ou seja, com a obrigação de manter a política econômica neoliberal herdada de FHC), só em junho de 2013 a voz das ruas, finalmente, se fez ouvir de novo. E ela trovejou, provocando calafrios nos que querem ver o povo distanciado das grandes decisões nacionais e impotente para mudar seu destino.
No entanto, vários episódios demonstraram que o amadurecimento dos novos revolucionários levará algum tempo. Muita luta há de ser travada até que o deslumbramento inicial ceda lugar à postura consciente de quem tudo sacrifica em nome de um bem maior e coletivo. Estamos na fase da acumulação de forças, não das batalhas decisivas.
Então, vejo um governo de Marina Silva como a melhor ponte disponível, entre o melancólico presente de despolitização e desencanto das grandes massas e o futuro desejado, de uma onda revolucionária que varra do Brasil a exploração do homem pelo homem -ainda e sempre a fonte da maioria das injustiças e desgraças, além de maior obstáculo existente ao progresso da humanidade- e comece a reverter a destruição das próprias bases da sobrevivência humana, insensivelmente levada a cabo pelo capitalismo, dia após dia, mesmo depois de ficar mais do que comprovado que está em curso a contagem regressiva para o fim da nossa espécie.
Fui o primeiro a destacar que a atual insatisfação generalizada torna muito perigoso para nossas frágeis instituições o pleito de 2014. Nem o petismo (visivelmente paralisado por suas contradições e incapaz de avançar), nem o tucanato (que só nos promete o acatamento da exigência que o grande capital faz de uma recessão purgativa, além de sua tradicional insensibilidade no trato das questões sociais) têm esperanças para oferecer ao povo nos anos difíceis que atravessaremos a partir de 2015.
Marina, sim, tem, pois chegará com aura heroica, uma nova pauta, desafios diferentes e muita disposição. Até onde pretende ir, se honrará suas bandeiras, se vai fazer História ou protagonizar mais decepções, isto pertence ao futuro, e quase todos os prognósticos que lemos não passam de especulações tendenciosas, para favorecerem ou desqualificarem sua candidatura.
A volta da esperança é do que precisamos para, pelo menos, ficarmos a salvo de retrocessos institucionais enquanto não estão dadas as condições para irmos ao xis das questões -o que, reafirmo, não depende da vontade de presidentes da República, mas sim da luta de cidadãos conscientes e mobilizados.
É neste sentido, sem fantasias nem ilusões, que prefiro Marina.
E continuarei defendendo com muita firmeza os valores da minha geração revolucionária, principalmente a noção de que devemos competir respeitosamente com os adversários do campo da esquerda e estarmos sempre juntos no combate implacável aos inimigos de classe.
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