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26.4.10

DEPOIS DE HONDURAS, O PARAGUAI?

A direita latinoamericana está saudosa dos Pinochet e Stroessner
Autorizado pelo Congresso paraguaio, o presidente Fernando Lugo declarou estado de exceção, durante 30 dias, em cinco dos 17 Departamentos do país: Concepción (na fronteira com o Brasil), San Pedro, Amambay, Presidente Hayes e Alto Paraguai.

Com isto, o Exército poderá abrir sua caixa de ferramentas, recorrendo às práticas invariavelmente adotadas no combate aos guerrilheiros da América Latina.


Lugo prometeu que os lobos não devorarão ovelhas (acredite quem quiser...):

"O governo oferece as mais amplas garantias de que este processo não comprometerá nenhum procedimento que tenha a ver com os direitos humanos".
O alvo são os militantes do grupo armado Exército do Povo Paraguaio, que assassinaram quatro pessoas numa emboscada da semana passada.

Por que uma reação tão extremada a um atentado estúpido, sem dúvida, mas que nem de longe representou séria ameaça para as instituições paraguaias?

É que o ex-bispo Lugo, um esquerdista cuja eleição acaba de completar dois anos, está sob forte ataque da direita conspiradora, sob a acusação de obstar "reformas liberais modernizantes". Conhecemos bem essa cantilena.

Os corvos de sempre -- como o senador dito liberal Alfredo Luís Jaeggli -- pregam o julgamento político e afastamento de Lugo. Sonham com um novo general Stroessner.

Esboça-se um cenário hondurenho: como o primeiro ovo da serpente não foi esmagado, outros podem eclodir.

Para piorar, Lugo perdeu um tanto de sua autoridade moral com as sucessivas revelações de que, quando sacerdote, tomava ao pé da letra o "crescei e multiplicai-vos". [Estão se queixando do quê? Este, pelo menos, não era chegado em coroinhas...]

Então, tudo indica que esteja exibindo o muque, para se mostrar confiável à classe média e à direita moderada, dissuadindo-as de atrelarem-se à aventura golpista.

É uma aposta arriscada: quando os militares são chamados a resolver os problemas dos civis, costumam tomar gosto pela coisa. Melhor deixarmos as tarefas policiais para a Polícia, tanto no Paraguai quanto nos morros cariocas...

De resto, a Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai já manifestou seu temor de que os fardados barbarizem. É o que farão, com certeza.

Cabe a nós esmagarmos este outro ovo da serpente, não compactuando de nenhuma forma com a idéia de que a tortura se justifica no caso de aloprados como os do EPP. Merecem ser presos e punidos, mas sem o recurso a práticas hediondas.

Levamos milênios erguendo o edifício da civilização. Temos o dever de mantê-lo em pé.

BUMERANGUE

Mas, só devemos zelar para que sejam tratados como seres humanos e não como animais. Solidariedade política seria descabida, pois, com sua insensatez, acabam prestando serviço ao inimigo.

A luta armada deve ser sempre encarada como a última opção de um revolucionário, pois seu custo é imenso e os civis acabam pegando as sobras.

Justifica-se contra ditaduras assumidas e, eventualmente, contra as enrustidas (como foram os 35 anos de Stroessner à frente do Paraguai, conquistando mandato após mandato em eleições fraudadas).

E é um bumerangue: quando fracassa, fortalece os gorilas.

No Brasil, sabe-se que o cabo Anselmo atuava como provocador nos movimentos de marinheiros durante o governo João Goulart, tudo fazendo para radicalizá-los, a fim de assustar a oficialidade das três Armas e jogá-la nos braços dos golpistas.

Depois, em 1968, militares de linha dura empenhados em radicalizar ainda mais o regime, promovendo o fechamento total (que viria com o AI-5), incentivaram um lunático chamado Aladino Félix, vulgo Sábado Dinotos, a efetuar ações armadas que eram imputadas à esquerda.

Liderando um bando de soldados e sargentos da Força Pública (a Polícia Militar da época), Félix foi responsável por 12 explosões de bombas e um assalto a banco. A ação mais sensacional foi mandar pelos ares alguns carros de um estacionamento localizado diante do prédio do Deops.

Os aprendizes de feiticeiros eram descuidados: uma unidade policial alheia ao esquema de acobertamento prendeu o guru. E este. ao ser torturado, confessou que agira sob orientação do general Jayme Portela, chefe da Casa Militar da Presidência da República.

Ou seja, quando faltam espantalhos para a propaganda golpista, a direita os inventa.

A esquerda que pegou em armas contra as ditaduras latinoamericanas cumpriu o papel de resistir à tirania. Embora os resultados tenham sido trágicos, fazia sentido sua aposta em generalizar a resistência, respondendo à generalização das ditaduras em nosso continente. E é bem mais cômodo recriminar-se os derrotados do que travar-se as batalhas quando ainda podem ser vencidas.

Já guerrilhas extemporâneas e isoladas como a do EPP, sem chance nenhuma de êxito e servindo para solapar um governo de esquerda, são crassa idiotice.

"Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue", diziam os antigos.

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