Está colocada mais uma vez em xeque, desta vez na Bolívia, a ilusão de que se possa promover revoluções nacionais, de cima para baixo, na era do capitalismo globalizado.
O script é sempre o mesmo: conquistar o governo central por meio do voto, para, a partir daí, tentar tomar o poder e revolucionar a sociedade.
Os resultados são sempre os mesmos: ou os revolucionários se tornam reformistas ao longo desse processo, desistindo de uma transformação maior e conformando-se em administrar o estado burguês de acordo com (e em comunhão de interesses com) os burgueses; ou o poder econômico os expele violentamente do governo.
No primeiro caso, evidentemente, está o Brasil de Lula, com a administração petista assegurando um ambiente favorável, como nunca antes neste país, para os bancos e o grande capital multiplicarem seus ganhos, enquanto distribui migalhas às massas para perpetuar-se no governo.
No segundo caso está a Bolívia de Evo Morales, que foi colocado no governo pela maioria de eleitores pobres e agora está descobrindo, da pior maneira possível, que a minoria dos ricos não aceita compartilhar suas riquezas por decreto.
Os ingredientes do golpe em gestação são clássicos. Como no Brasil de 1964, os governadores das províncias bolivianas mais prósperas estão no centro da articulação golpista, repetindo os exemplos de Adhemar de Barros (SP), Carlos Lacerda (RJ) e Magalhães Pinto (MG).
Os atos de sabotagem e os bloqueios adotados nos departamentos da Bolívia são uma atualização do locaute de caminhoneiros que preparou o terreno para o pinochetazzo.
De quebra, a mão sinistra dos EUA move os cordéis nos bastidores, como, comprovadamente, fez no Brasil e no Chile.
O pior é que, na seqüência do golpe, deverá vir um banho de sangue como o chileno, para quebrar a resistência da maioria da população, subjugando-a à minoria vitoriosa.
Salta aos olhos que, sem uma intervenção dos grandes da região, provavelmente concertada na OEA, Morales será derrubado e os povos indígenas do altiplano, massacrados.
E não há a mínima possibilidade de que tal intervenção venha reforçar a posição de Morales. O poder econômico, como sempre, prevalecerá, impedindo que Hugo Chávez, p. ex., vá com suas tropas socorrer o aliado.
O melhor que podemos esperar, em tal cenário, é uma solução de compromisso, com os dois lados da crise boliviana forçados a ceder para evitar-se o pior.
Sendo a alternativa um genocídio, temos mais é de torcer para que a operação apaziguadora chegue a tempo.
Depois, caberá à esquerda sul-americana efetuar uma profunda reflexão sobre suas estratégias e táticas, pois o prazo de validade dessas que levaram ao impasse boliviano caducou no século passado.
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11.9.08
BOLÍVIA EM TRANSE
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