Só os tacanhos e os que têm muito a perder não percebem/admitem que a saída civilizada do impasse político que ora imobiliza o Brasil, fazendo agravar-se cada vez mais nossa pior crise econômica desde a hiperinflação do Sarney, exigirá concessões das várias partes, pois nenhuma é forte o suficiente para impor sua hegemonia.
Então, trago aqui um roteiro plausível para tanto, de antemão reconhecendo que os péssimos atores que dominam a cena política dificilmente terão grandeza e despojamento para assumirem suas responsabilidades. Mas, temos sempre de tentar:
- a fratura exposta da total discordância do Partido dos Trabalhadores com a política econômica neoliberal ora praticada deveria ser levada à consequência óbvia, com o PT anunciando sua saída do governo e a disposição de encabeçar a oposição de esquerda à presidente Dilma Rousseff;
- Dilma, por sua vez, ficaria com as mãos livres para apoiar-se nas forças que têm real afinidade ideológica com suas diretrizes econômicas, o PSDB e o PMDB (mais os coadjuvantes de sempre, que gravitam automaticamente na órbita do poder);
- neste sentido, ela poderia deixar o PT e, p. ex., reingressar no PDT, que certamente receberia de braços abertos a caneta presidencial, mesmo sabendo que Leonel Brizola estaria se revirando na cova.
O PT resgataria sua alma, livrando-se do mico de ser obrigado a respaldar medidas econômicas das quais é ferrenho adversário desde o nascedouro. E sua volta à oposição recolocaria Lula na disputa presidencial de 2018, pois a atual derrocada econômica está pulverizando suas chances.
O PSDB e o PMDB conquistariam o que sempre quiseram, o poder. Talvez adiante percebessem que administrar uma economia em frangalhos não é exatamente um grande negócio...
Dilma obteria o que mais tem buscado nos últimos meses, sua prioridade máxima e praticamente única: escapar do impeachment e terminar o seu mandato. Teria, claro, de conformar-se com a redução do seu poder real, mas seria o preço justo a pagar por tê-lo exercido de forma tão atabalhoada e incompetente. Na condição de rainha da Inglaterra, desempenharia um papel à altura dos seus predicados e não teria como causar maiores estragos.
E os manifestantes de rua provavelmente se conformariam com a meia vitória alcançada, sempre melhor do que uma derrota inteira ou do que o caos para o qual marchamos.
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