O PT moveu céus, terras, cargos e recursos públicos na tentativa de impedir que a presidência da Câmara Federal passasse às mãos do rebelde Eduardo Cunha, do PMDB-RJ, tido como talvez favorável (não há certeza disto) à abertura de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
Sofreu acachapante derrota. E já se comenta que aumentará o investimento em fisiologia, apostando alto para evitar o que pode ser apenas um fantasma a arrastar correntes nos seus pesadelos.
Mas, bem real é a lição deixada pela batalha perdida: quem acredita que conseguirá atravessar uma tempestade confiando em ratos, esquece que os roedores são os primeiros a abandonar barcos que estejam ou possam estar afundando. Então, por mais queijo que lhes dermos, na hora H poderão se bandear para o lado de um inimigo que ofereça mais.
Melhor fará Dilma, portanto, se não aumentar os lances nesse leilão de mafuá, mas, pelo contrário, confiar a sobrevivência do seu governo ao povo, reconquistando o apoio das ruas ao fazer o que o PT sempre prometeu que faria: o saneamento dos costumes políticos brasileiros.
Ou passará o restante do seu segundo mandato como refém da rataria... se não cair de podre pelo cominho.
Para quem é ou foi de esquerda, mais vale cair lutando, com a dignidade de um Salvador Allende, do que ser despachado com um pé na bunda, como o Fernando Collor.
Obs.: escrito e divulgado o texto acima, fiquei com uma incômoda sensação de déjà vu, como se algo me houvesse escapado. Até que a ficha caiu: tratava-se de uma possível semelhança com a manobra executada por outros ratos quando a ditadura militar chegava ao fim.
Em 1984, Tancredo Neves tramou com parlamentares governistas, até então repulsivos capachos dos fardados, uma jogada para todos se darem bem na transição.
Primeiramente os ditos cujos (talvez o termo sujos lhes caia melhor...) ajudaram, com seus votos, a derrotar a emenda Dante de Oliveira, pois o restabelecimento das eleições diretas só beneficiaria um rival comum: Leonel Brizola, o franco favorito nas urnas.
Depois, desertaram do partido governamental (o PDS) e, sob a nova identidade de PFL, deram a Tancredo os votos necessários para ele vencer a disputa com Paulo Maluf no colégio eleitoral.
Como recompensa estipulada, tornaram-se sócios da Nova República. Como recompensa imprevista, a Presidência lhes caiu no colo, pois um dos seus, José Sarney (arenoso até a medula, embora tenha escolhido o PMDB como seu novo abrigo), a acabou herdando com a morte de Tancredo.
O que acabamos de assistir na eleição da Câmara pode ter sido outro êxodo de ratos para garantirem sua continuidade no poder se este mudar de mãos.
E aí, claro, Cunha não seria nenhum rebelde, mas sim o pé que o PMDB fincou no governo que resultará de um eventual impeachment de Dilma, enquanto Michel Temer continua com seu pé bem fincado no governo atual.
Não esqueçam que estamos falando de ratos.
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