Até no visual esta parece à deriva... |
Não trouxe esperança nenhuma a posse de Dilma Rousseff para o novo mandato conquistado aos trancos e barrancos, com a satanização dos adversários, o estelionato eleitoral e o abuso clamoroso da máquina governamental.
Assumiu admitindo que fará mesmo um ajuste recessivo da economia, embora tenha sido este um dos principais espantalhos utilizados por sua campanha contra os adversários.
Eles, os neoliberais empedernidos, estariam preparando medidas duras para tirarem o pão da mesa dos pobres. Ela, a heroína do bem, jamais abriria o saco das maldades.
Agora, dá o dito por não dito e anuncia que vai aplicar fielmente tal receituário, fazendo-nos suspeitar que o vulto feminino com o qual acabará historicamente identificada vá ser o de Margaret Thatcher (já tinham em comum a rispidez e o mandonismo). Um péssimo ponto de chegada para quem um dia deve ter-se espelhado em Rosa Luxemburgo, La Pasionaria e Anita Garibaldi...
Para dourar a pílula, fez a ressalva meramente retórica de que submeterá o País ao "menor sacrifício possível".
O que isto refresca? Nada. Porque se trata de uma admissão de que as possibilidades ditarão a escala do ajuste. Se concluir que é imprescindível um ajuste dos mais rigorosos, Dilma não faltará com a palavra ao implementá-lo, portanto... me engana que eu gosto!
Quanto ao maior escândalo brasileiro de todos os tempos, o da Petrobrás, Dilma continua com a cabeça enfiada na areia, qual avestruz. Diz que é tudo culpa de funcionários subalternos e de um complô internacional.
Não teria, portanto, nada a ver com o loteamento de cargos e a transformação do governo num balcão de negócios, marca registrada da política podre que nós, ingenuamente, supúnhamos que o PT extirparia do poder, se e quando a ele chegasse. Faz 12 anos que esperamos em vão.
...enquanto estes sabem o que querem e têm de fazer... |
Declarações beirando o autismo e a posse de um Ministério super inflado e de quinta categoria só fizeram aumentar nossos receios de que o pior dos mundos possíveis nos espera ao longo de 2015: a certeza de recessão (que talvez evolua para depressão), a ser administrada por um governo fraco e com pouquíssima credibilidade, torpedeado pela direita e pela esquerda.
A primeira, obviamente, tentará o impedimento de Dilma, usando a munição fornecida pelas investigações do petrolão ou outras que surjam. Parece que a única dúvida restante é qual o motivo a ser alegado no pedido de impeachment.
Quanto à esquerda, vale notarmos uma notícia do Estadão do último dia 26, que passou meio despercebida em meio ao clima natalino (a íntegra está aqui):
"Cerca de 40 líderes de movimentos sociais, centrais sindicais e partidos como PT, PSOL, PC do B e PSTU começaram a articular a criação de uma frente nacional de esquerda e já preparam uma série de atos e manifestações para 2015. O objetivo dessa mobilização é o de se contrapor ao avanço de grupos conservadores e de direita não só nas ruas, mas no Congresso e no governo federal.
...A iniciativa partiu de Guilherme Boulos, do MTST, que (...) havia feito elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de um conjunto habitacional gerido pelo movimento, na Grande São Paulo.
Dias depois, Lula (...) divulgou vídeo no qual diz que é preciso 'reorganizar' a relação com os movimentos e partidos de esquerda se o PT quiser 'continuar governando o Brasil'".
...e estes devem ser incorporados à luta maior que se travará. |
Este filme eu já vi e acabou mal. Foi no governo de João Goulart, que, aliás, era muito mais competente do que Dilma e mesmo assim não segurou o rojão.
Para contrabalançar, desta vez quem estará comandando a esquerda é o Lula, político dos mais argutos, que certamente vai obter de volta, na marra, os nacos de poder que lhe foram retirados na reforma ministerial, mas não vacilará um segundo quando for hora de preservar o mandato de Dilma, com todos os seus defeitos, da escalada direitista.
E os valorosos manifestantes que foram às ruas a partir das jornadas de junho de 2013, tão vilipendiados pela esquerda palaciana, agora terão de ser vistos de forma bem diferente: conquistar o seu apoio e engajamento será fundamental para a Frente de Esquerda.
O ano de 2015 promete ser o mais quente na política brasileira desde 1968.
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