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2.10.14

MEMORIAL DA RESISTÊNCIA PROMOVE FEIRA DE LIVROS SOBRE OS ANOS DE CHUMBO; ESTAREI LÁ.

Neste sábado (04/10), vou autografar meu Náufrago da Utopia na III Feira de Livros do Memorial da Resistência de São Paulo (Largo General Osório, 66 - bairro da Luz). Estarei aguardando os companheiros no estande da Geração Editorial, das 13 às 18 horas.

Como tenho notado que muitos leitores começaram a acompanhar meu trabalho nos últimos anos, sem terem a mínima noção de quem eu seja, vou me permitir retirar do baú aqui uma longa entrevista que concedi ao jornalista Ciro Campelo em 2006. 

Servirá para apresentar-me às novas gerações e reavivar a memória das velhas. 

E dá uma boa ideia da trajetória reconstituída no meu livro, que se trata, basicamente, de uma autobiografia narrada em estilo de ficção, pois quis torná-la mais dinâmica e atrativa para os leitores não focados especialmente na política.

A VERDADEIRA HISTÓRIA 
DE CELSO LUNGARETTI

Por Ciro Campelo

Injustiçado por mais de 34 anos o ex-guerrilheiro Celso Lungaretti, conseguiu provar a sua inocência no final de 2005, com o lançamento do livro Náufrago da Utopia.

A história de Celso se confunde com a história de muitos guerrilheiros injustiçados pela esquerda armada dos anos 60/70. Podemos citar entre eles Paulo de Tarso Venceslau, Wellington Moreira Diniz e Cláudio Torres. O certo é que poucos militantes foram tão injustiçados como ele, que hoje nos concede essa entrevista a fim de esclarecer alguns fatos ainda obscuros por tantos anos e que vieram a tona com o lançamento desse livro.

Celso Lungaretti é paulistano, nascido em 06/10/1950, filho único de Reynaldo Lungaretti (contra-mestre de fiação e tecelagem) e Mafalda Vannucci Lungaretti (dona-de-casa). O seu livro foi lançado pela Geração Editorial, do Luiz Fernando Emediato, em 10/11/2005.

Em mais de 14 páginas de entrevista concedida a mim, ele fala sobre a sua militância no movimento estudantil no ano de 1968, como começou a se interessar pela guerrilha, como foi seu recrutamento na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), fala sobre as falsas acusações feitas por ex-companheiros de militância, e fala sobre sua reabilitação. A entrevista é longa, porém, extremamente esclarecedora. 

Ciro Campelo - Celso, você era bem novo quando começou a militar no movimento estudantil. Com que idade você começou a militar, e o que te levou a ter essa consciência de militar no ME?

Celso Lungaretti: Eu tinha 16 anos e cursava o 2º ano do Científico de Engenharia numa escola da Mooca. Eu era tímido, e não ficava muito à vontade com as garotas do bairro, quase todas fãs da Jovem Guarda e dos Beatles, que eu detestava. O lugar dos meninos conhecerem as meninas eram os bailinhos, e eu era meio travado para dançar. Então, como qualquer adolescente, tinha muita vontade de chegar nas garotas, mas a falta de jeito me tolhia.

Ao mesmo tempo, lia livros de autores sérios como Dostoievski, Kafka, Camus, Sartre e Carlos Heitor Cony. Já começava a ver filmes de arte, como os do Godard e do Glauber Rocha. O Eremias Delizoicov, colega de escola desde criança, apresentou-me um dia à Maria das Graças, que estava na classe dele (começamos juntos, mas ele repetiu dois anos e foi ficando para trás, então estava na 4ª série ginasial). Ela era filha de um militante do PCB que teve de fugir da Bahia para São Paulo; estava querendo formar uma base no nosso colégio, o MMDC.

A partir dessa amizade, minha vida foi mudando. Nas férias do meio de ano, troquei o Científico pelo Clássico. Caí na classe em que era feito o jornal do colégio e, por desinteresse dos responsáveis, acabei logo o assumindo e virando o faz-tudo. Usei o jornal para começar um trabalho político entre os colegas. Aí, nas férias de fim de ano, a Maria propôs formalmente a criação de uma base comigo, o Eremias e dois irmãos do bairro do Belém. Fizemos um curso básico de marxismo e, no começo do ano letivo de 1968, já estávamos organizando o movimento secundarista em toda a zona Leste de São Paulo. 

CC - O ano de 1968 foi decisivo para todos os que entraram na luta, principalmente em dezembro, com a decretação do AI-5. Esse ano mudou a vida de muita gente. Eu sei que você ainda era novo. Mais como você viu o ano de 1968?

CL: Foi um ano que valeu por dez na vida das pessoas que mergulharam fundo nos acontecimentos. Tudo se passava com tal velocidade que não conseguíamos nem captar direito as consequências de cada uma de nossas atitudes. Só quando parei para refletir, na prisão, é que consegui avaliar bem as coisas. Mas, a sensação que ficou é de que éramos empurrados pela História, muito mais reagindo do que agindo.

(sendo um texto muito extenso para o padrão de blogues e portais, peço aos leitores o obséquio de, para lerem-no na íntegra, clicarem aqui)

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