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29.11.11

ESQUERDISTAS SELVAGENS DEFENDEM DITADORES SELVAGENS

A informação é do Clóvis Rossi (ver íntegra aqui):
"O relatório da comissão da ONU que investigou a violência na Síria (...) é duríssimo: diz que as forças de segurança sírias cometeram 'graves violações dos direitos humanos', o que inclui execuções sumárias, prisões arbitrárias, desaparições forçadas, torturas, violência sexual, violação dos direitos das crianças -enfim o catálogo completo a que recorrem as ditaduras mais selvagens.

Para o Brasil, não dá mais para repetir a torpe declaração emitida após visita de uma delegação do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) a Damasco, na qual condenaram 'a violência de todas as partes'. Equivalia a igualar vítimas e algozes.

Agora, há um relatório com a chancela de Paulo Sérgio Pinheiro, o brasileiro que preside a comissão..."
O qual, acrescento eu, é um personagem acima de qualquer suspeita de favorecer manobras imperialistas.

Foi, p. ex., indicado pela Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça para representar a sociedade civil no grupo de trabalho que preparou o anteprojeto de lei da Comissão Nacional da Verdade. Constitui exemplo inatacável de dignidade e idealismo, sempre colocando seu brilho intelectual a serviço das causas justas. Uma unanimidade, enfim.

Então, a habituais desqualificações a que recorre uma parcela da esquerda tão selvagem quanto os ditadores que apoia, neste caso não  colarão.

O que me deixa estupefato é a defesa em bloco que tais desatinados fazem dos  tiranos das Arábias.

Um Gaddafi da vida, embora não tenha chegado ao poder graças a revolução nenhuma, mas sim por meio de uma quartelada, teve lá seus rompantes antiimperalistas antes de acertar os ponteiros com os senhores do mundo (revelando grande afinidade com o que o Império tinha de pior, o fascistóide, mafioso e debochado Sílvio Berlusconi).

É algo de que ninguém jamais acusaria o  açougueiro de Damasco, Bashar al-Assad, despótico, conservador e reacionário até a medula, desde sempre.

A vergonhosa tibieza do Governo brasileiro face a uma das piores tiranias do século 21 se deve tão somente a interesses econômicos. Uma variante do  critério  de que "ele pode ser um grandíssimo fdp, mas é nosso fdp".

A esquerda não caudatária do petismo, entretanto, está desobrigada de coonestar o oportunismo governamental.

Mesmo assim, com um primarismo abissal, os esquerdistas selvagens encaram a mais do que necessária derrubada de al-Assad como uma tramóia dos países da Otan para apoderarem-se de riquezas sírias.

Ainda que assim fosse, que cabimento tem tomarmos partido em disputa na qual ninguém é antagonista do capitalismo? Se são só vilãos brigando por um butim, o que importa para nós qual vilão prevalecerá?

Mas, a própria razão de ser da esquerda é defender o povo contra os que o tiranizam e massacram. São milhares as vítimas fatais do  açougueiro de Damasco nos oito últimos meses, 256 crianças incluídas. Até a Liga Árabe vê premência em deter-se a matança.

Estarrecedores também são os casos citados no relatório de abusos sexuais contra menores, como um jovem de 15 anos violado na presença do pai.

O hipotético repúdio à Otan implica o bem real repúdio ao povo sírio e uma vergonhosa cumplicidade com a carnificina que lhe é imposta.

Está mais do que na hora de voltarmos a ter um ideário positivo, priorizando o que se afirma e não o que se nega. Direcionar-se apenas por negações, como uma bússola invertida da imprensa burguesa, nem sempre leva à posição correta e às vezes desemboca em absurdos.

Caso atual: é um completo absurdo a promiscuidade dos herdeiros de Karl Marx com um herdeiro de Vlad Dracul.

2 comentários:

Matheus Boni disse...

E qual é a conclusão, apoiar uma guerra imperialista da Otan contra a Síria?
É claro que se deve apoiar os movimentos democráticos e populares. Isso não implica em legitimar os crimes em nome da democracia. O ditador sírio pode estar promovendo um massacre. Mas não é a guerra uma forma de massacre? O discurso da "guerra humanitária" levou ao massacre do povo líbio pelos bombardeiros e hordas de mercenários da Otan. Desnecessário citar os exemplos da ex-Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Vietnã, Laos e Cambodja (ver Chomsky), não é?
Enfim, repudiar um tirano não significa apoiar o outro.

celsolungaretti disse...

Os massacres do Gaddafi eram uma certeza.

Os massacres da Otan foram uma evidente extrapolação do mandato que a ONU lhe outorgou.

DITADORES DEVEM SER COMBATIDOS, SEMPRE!!!

O que precisamos é tomar mais cuidado para não deixar a coisa fugir do controle, como aconteceu na Líbia.

Mas, omitir-se ante a barbárie "porque vai favorecer os imperialistas" não é nem nunca foi solução.

Temos de arrumar melhores formas de lidar com tais problemas, mas não dar carta branca a carniceiros bestiais como Bashar al-Assad.

Veja no meu outro blogue, inclusive comentários, uma boa colocação deste tema:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2011/12/soberania-deixou-de-ser-um-escudo-para.html

Abs.

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