Sob a desagregadora presidência do ultradireitista Gilmar Mendes, o Supremo Tribunal Federal se desmoraliza cada vez mais: em sua coluna desta 4ª feira na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari relata mais uma lambança da corte que deveria servir como exemplo para todo o Judiciário.
Trocando em miúdos, no último mês de abril o STF julgou um pedido do deputado Miro Teixeira, no sentido de que fosse declarada inconstitucional a Lei de Imprensa herdada da ditadura.
O relator Carlos Ayres Britto concordou em gênero, número e grau com o pedido, sendo acompanhado por outros cinco ministros, inclusive Mendes e Cezar Peluso.
Ao redigir a ementa desse julgamento, que deverá ser a síntese da decisão do Supremo, Britto colocou:
Até agora nenhum ministro a contestou. Mas, circulam rumores de que existe quem discorde do resumo de Britto.
O certo é que, ao julgarem o caso da censura prévia a O Estado de S. Paulo, o relator Cezar Peluso e Gilmar Mendes assumiram posição diametralmente oposto à que teriam adotado em abril: descartaram a queixa do jornal devido a uma minúcia formal, ao invés de apreciarem o mérito da questão.
Ora, se nem o Poder Judiciário tem o direito submeter a imprensa às tenazes da censura prévia, então a formulação incorreta da queixa pouco importa. Com seu voto saída pela tangente, os irmãos siameses Peluso e Mendes estariam alterando seu entendimento anterior.
Resumo da opereta:
O relator Carlos Ayres Britto concordou em gênero, número e grau com o pedido, sendo acompanhado por outros cinco ministros, inclusive Mendes e Cezar Peluso.
Ao redigir a ementa desse julgamento, que deverá ser a síntese da decisão do Supremo, Britto colocou:
"Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive procedente do Poder Judiciário, sob pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidigitação jurídica".Divulgada a ementa 41 dias atrás, abriu-se o prazo para cada ministro verificar se estava correta ou Britto cometera algum equívoco, caso em que deveria manifestar sua discordância, para que o relator corrigisse a ementa e a submetesse novamente a apreciação.
Até agora nenhum ministro a contestou. Mas, circulam rumores de que existe quem discorde do resumo de Britto.
O certo é que, ao julgarem o caso da censura prévia a O Estado de S. Paulo, o relator Cezar Peluso e Gilmar Mendes assumiram posição diametralmente oposto à que teriam adotado em abril: descartaram a queixa do jornal devido a uma minúcia formal, ao invés de apreciarem o mérito da questão.
Ora, se nem o Poder Judiciário tem o direito submeter a imprensa às tenazes da censura prévia, então a formulação incorreta da queixa pouco importa. Com seu voto saída pela tangente, os irmãos siameses Peluso e Mendes estariam alterando seu entendimento anterior.
Resumo da opereta:
- ou Britto sintetizou erradamente os votos de Peluso e Mendes, na ementa que está à disposição de ambos, para contestá-la, há seis semanas;
- ou Peluso e Mendes mudaram totalmente sua posição oito meses depois, revelando uma incoerência inadmissível com a posição que ocupam.
Admitida a primeira hipótese, resulta que ambos teriam sido, no mínimo, omissos: se queriam decidir de maneira diferente no segundo caso, deveriam ter previamente retificado a ementa do julgamento anterior.
Se foi incoerência, temos o direito de supor que votam de uma forma nos processos que não afetam os interesses de figurões, e de outra maneira quando está na berlinda o filho do presidente do Senado, aliado do Governo Federal.
O pior é que a sucessão de vexames e desatinos já bastava para fazer de 2009 o pior ano da história do STF. Se não, vejamos:
Se foi incoerência, temos o direito de supor que votam de uma forma nos processos que não afetam os interesses de figurões, e de outra maneira quando está na berlinda o filho do presidente do Senado, aliado do Governo Federal.
O pior é que a sucessão de vexames e desatinos já bastava para fazer de 2009 o pior ano da história do STF. Se não, vejamos:
- tendenciosidade extrema de Mendes e Peluso ao longo de todo o Caso Battisti e bateboca explicito no final do julgamento, quando os ministros perdedores na terceira votação tentaram de todas as formas descaracterizar o que tinha sido decidido;
- decisões absurdas tomadas ao absolver o culpadíssimo Antonio Palocci, ao detonar a profissão de jornalista e ao coonestar implicitamente um episódio de censura prévia à imprensa; e
- pancadaria verbal no plenário, entre Mendes e o ministro Joaquim Barbosa, tendo este último, com inteira razão, assinalado que as sucessivas declarações do presidente do STF à imprensa sobre temas polêmicos afrontam a liturgia do cargo.
Agora ficamos sabendo que, ou ministros redigem ementas com mau entendimento/má fé, ou ministros decidem cada vez de uma maneira sobre o mesmo assunto.
Ridículo e deplorável.
Ridículo e deplorável.
2 comentários:
Eu tenho em meus favoritos uma pasta com o nome "leitura Diária", nela estão o Luis Nassif, PHA, osamigosdopresidentelula, Azenha, esquerdopata e O Rebate. Dito isso quero discordar do enfoque que é dado ao caso "censura do estadão": O enunciado do Ministro Aires Brito não entra em choque com a decisão do STJDF, já que o que o tribunal impediu de ser publicado foram peças de um processo que está sob "segredo de justiça" e foram obtidos pelo jornal de maneira ilegal. Quando for suspenso o segredo de justiça, todos os jornais poderão publicar o seu conteúdo. Existem milhares de processos que correm sob segredo de justiça, inclusive no STF e nunca foram questionados; só agora, quando se trata de um membro da família do presidente do senado cria-se esta celeuma. O mais engraçado é que a imprensa de direita (PIG) só agora descobriu que o Sarney – que já foi até presidente da república – é o Sarney representante no senado do povo do Amapá e Maranhão. Resumindo: o que eles queriam mesmo é criar constrangimento ao presidente do senado, retira-lo do cargo e colocar em seu lugar o Marconi Perillo, que por sua vez tem uma folha corrida de causar inveja ao Fernandinho Beira Mar.
Mesmo mal utilizada como vem sendo, a liberdade de imprensa é um valor absoluto para uma nação civilizada. Segredos de Justiça não podem ter precedência sobre ela.
Se a Justiça ou a Polícia não sabem preservar seus segredos, que acionem quem os publicar.
Podem-se agravar as punições (multas, suspensão parcial ou definitiva das atividades daquele veículo, responsabilização criminal de diretores e editores, etc.), até que correspondam aos danos causados pela divulgação da informação sigilosa.
O que não se pode é institucionalizar a censura prévia. Caso contrário, não teriam sido divulgados os documentos do Pentagono, fundamentais para tirar os EUA do Vietnã, nem existido o Caso Watergate.
Temos de equacionar os problemas em termos amplos, não ficarmos pensando em quem será beneficiado por uma decisão neste momento.
Cada decisão é um precedente que vai nortear as seguintes. E o que fazemos de errado hoje, volta-se contra nós amanhã.
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