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3.6.09

LULA DESCARTA O 3º MANDATO, MAS SE ATRAPALHA AO DEFENDER CHÁVEZ E URIBE

Charge do Cleuber (clique para ampliar)
http://www.tracodeguerrilha.blogspot.com/

A exumação da proposta de um terceiro mandato consecutivo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, graças sobretudo à inoportuna manchete da Folha de S. Paulo do último domingo, foi prontamente rechaçada pelo principal interessado: Lula afirmou que "não existe hipótese de 3º mandato", nem o pretende buscar.

Falando à imprensa nesta terça-feira, na Cidade da Guatemala, o presidente reagiu com irritação a esse vezo da Folha em, como uma fábrica de factóides, tentar gerar acontecimentos políticos a partir das pesquisas de opinião que encomenda do seu instituto, o DataFolha:
"A imprensa fortalecerá muito mais a democracia quando ela se contentar em informar os fatos, e não criar os fatos."
Sua resposta à traquinagem jornalística da Folha foi das mais apropriadas:
"Eu não brinco com a democracia, foi muito difícil a gente conquistá-la. E o que vale pra mim, vale para os outros. Alguém que quer o 3º mandato, pode querer o 4º, pode querer o 5º, o 6º. A alternância de poder é fundamental para a democracia".
Só que, como de hábito, depois de acertar o cravo, ele deu a martelada seguinte na ferradura. Talvez por perceber tardiamente que suas afirmações contundentes poderiam ser interpretadas como críticas indiretas a seus colegas Hugo Chávez (Venezuela) e Alvaro Uribe (Colômbia), ele tentou remediar... e acabou se complicando ainda mais:
"O Chávez quer o 3º mandato. Ele vai se submeter às eleições. Uma hora o povo pode querer, noutra o povo pode não querer. O Uribe está querendo o 3º mandato. Tem de passar por um referendo. Ele pode querer, e o povo pode elegê-lo ou pode não elegê-lo. Eu não vejo nisso nenhum mal. O que acho importante é que todo resultado seja um exercício da democracia"
Não fez sentido, pois as situações são semelhantes. Por que Lula estaria brincando com a democracia se buscasse o 3º mandato e o Chávez e o Uribe, não?

Ele continuou enrolando-se ao tentar defender ambos da má repercussão no exterior de seus projetos continuístas:
"É muito engraçado que as críticas que fazem aos presidentes da América Latina não são feitas aos primeiro-ministros da Europa, que ficam 16 anos ou 18 anos no poder. Lá, a pessoa é indicada por um colégio e é democrático. Aqui, a pessoa é eleita pelo povo, e não é democrático. É preciso que a gente tenha um pouco de auto-estima para valorizar a democracia".
A comparação com o parlamentarismo foi das mais infelizes, pois o primeiro-ministro governa como representante de partido(s) e pode ser derrubado a qualquer instante por um voto de desconfiança.

Já o poder de um presidente da República sul-americano é bem maior e ele o conquista/mantém muito mais em função do carisma pessoal que da sustentação partidária. No fundo, só precisa da legenda para ter o direito de disputar a eleição e ganhar acesso ao horário eleitoral gratuito.

Uma vez eleito, adquire, com as moedas do poder, todo o apoio de que necessitar. Foi como agiu, p. ex., Fernando Collor, que se lançou pelo nanico PRN e depois cooptou os partidos maiores, iniciando seu governo com ampla maioria no Congresso Nacional.

Finalmente, entregando os pontos, Lula desistiu das elocubrações e disse o que, na linguagem das ruas, poderia ser traduzido para "cada um sabe o que é melhor para si". É bem o que se depreende da saída pela tangente com que encerrou o papo:
"Eu não posso falar pela Colômbia. Agora, sobre o Brasil, eu posso comentar. Eu acho que o Brasil não deve ter o 3º mandato. É isso."
Eu me permito acrescentar que sua posição, corretíssima para o cenário brasileiro, não pode ser retoricamente conciliada com as posturas antagônicas que Chávez e Uribe adotaram em suas respectivas nações.

Então, Lula ficou em apuros porque falou demais, direcionando-se, pelas próprias pernas, para um campo minado; desde o início, deveria ter abordado apenas o caso que lhe diz respeito, o brasileiro. É isso.

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