Tão logo tomei conhecimento da Carta aberta ao povo do Brasil, corri a defender um posicionamento digno do nosso governo: que abrigasse Edward Snowden e lhe permitisse continuar escancarando os podres da espionagem estadunidense.
Sabia que dificilmente seria esta a decisão das autoridades brasileiras, pois já haviam rechaçado pedido semelhante no passado, esquivando-se com burocratices.
O dado novo era que, depois disto, os EUA foram flagrados espionando a Petrobrás e até mesmo a nossa presidenta -a qual, para salvar sua imagem junto ao público interno, teve de ir à ONU posar de vítima indignada.
Foi, falou, falou, falou e ninguém importante da parte criticada estava lá para ouvir e contestar, numa demonstração inequívoca de desprezo por Dilma e pelo Brasil.
O sapo não só foi engolido, como metamorfoseado em príncipe pela propaganda oficial. Ser olimpicamente ignorada pelo Império tinha de parecer um triunfo moral, para que a ninguém ocorresse cobrar-lhe uma resposta efetiva aos EUA, à altura dos insultos recebidos.
Mesmo assim, nova chance surgiu e fiz tudo que estava ao meu alcance para que o desfecho não fosse novamente pífio. Em vão: a decisão está tomada e é a de não indispormo-nos com os donos do mundo por causa de um Snowden qualquer.
Se fossem mais sinceras, as fontes do Itamaraty que comunicaram a segunda negação de Cristo (ôps, quer dizer, de Snowden), poderiam ter argumentado: "O que o Brasil ganharia dando abrigo a Snowden? Apenas relações mais tensas com os EUA. A troco de quê?".
Palavras de Reinaldo Azevedo, o reaça mais exibido do Brasil, que tem todos os defeitos, menos um: não finge ser o que não é.
Ele qualifica Snowden de "traidor de sua própria pátria" (um conceito tão embolorado só poderia mesmo vir expresso com as redundâncias características da linguagem telenovelesca...) e aconselha: "Ele que vá para Caracas".
Não duvido de que os hierarcas do Itamaraty, lá com seus botões, pensem exatamente assim. Só não assumem.
Chocante é vermos a mesma postura de constrangedora vassalagem sendo adotada por quem um dia ousou pegar em armas contra a ditadura e o imperialismo!
Por último, o esclarecimento da questão que levantei ("Chegou a hora da verdade, Dilma! Agora saberemos quem você é e quanto vale.") veio mais depressa do que eu supunha.
Quem é Dilma? Uma política profissional que tem passado mais ilustre que a maioria dos seus pares, pois um dia foi revolucionária.
Quanto vale? O mesmo que os demais políticos profissionais, pois tal passado é imperceptível nas suas atitudes presentes.
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