Hoje me lembrei de um dos meus filmes prediletos: O homem que não vendeu sua alma (d. Fred Zinneman, 1966).
É
sobre a dignidade com que o grande pensador Thomas Morus (Paul
Scofield) resiste às pressões do rei Henrique VIII (Robert Shaw),
obcecado em arrancar-lhe um endosso à sua ruptura com a Igreja Católica e
à decisão de tornar-se ele próprio o chefe espiritual dos ingleses.
Morus
era católico fervoroso e preferiu perder tudo (poder, riqueza e a
própria vida) do que coonestar as pretensões papais do monarca.
Levado a julgamento, o autor da Utopia,
com extrema habilidade, evitou tanto trair suas convicções como
fornecer aos acusadores quaisquer justificativas legais para sua
condenação.
Até
que um crapulazinho ambicioso (John Hurt) dá o falso testemunho que o
condena, recebendo como recompensa o cargo de coletor de impostos no
território de Gales.
Morus,
com infinito desprezo, diz-lhe que nem por riquezas incomensuráveis
compensaria ele ter perdido a alma; muito menos "por Gales" (recém-anexado e
tido como insignificante).
Embora
me entristeça a condenação do antigo companheiro de jornadas estudantis
e tenha considerado sua pena exageradíssima, parece-me que ele se
vulnerabilizou irrefletidamente, colocando o pescoço no laço que a veja e outras escórias sempre mantiveram armado para ele.
Melhor seria se, como Morus, tivesse permanecido fiel aos valores originais. No seu caso, perseverando nas tentativas de mudar o mundo, ao invés de aderir à realpolitik (começando pelo crime, muito pior do que qualquer mensalão, de ele ter pessoalmente negociado os termos da capitulação de Lula aos grandes capitalistas em 2002, assumindo o compromisso de que as linhas mestras da política econômica de FHC permaneceriam intocadas sob a Presidência petista).
O governo manietado daí decorrente, exatamente por não ser revolucionário, nem de longe justificava o preço que ele agora pagará, esses 10 anos por Gales!
Bem diferente do caso de Tiradentes: ninguém tem dúvidas sobre se valeu a pena ele morrer pela independência.
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