Foi constrangedor: os jogadores santistas aparentemente hipnotizados --diria até bestificados-- pelo privilégio de estarem assistindo tão de perto a um show dos melhores futebolistas do mundo.
O placar de 4x0 para o Barcelona foi justíssimo.
E que craque extraordinário é Xavi, capaz de dar aquela matada de bola acrobática para depois colocar Messi cara a cara com Rafael!
O técnico Mano Menezes tem de se indagar: o que ele faria para não levar o baile que Muricy Ramalho levou?
Esperar o adversário atrás e apostar nos contra-ataques, com os espanhóis, não será solução.
De resto, se a ficha ainda não caíra para alguém, agora até o mais fanático dos patrioteiros é obrigado a reconhecer: não somos mais os reis do futebol.
De resto, se a ficha ainda não caíra para alguém, agora até o mais fanático dos patrioteiros é obrigado a reconhecer: não somos mais os reis do futebol.
O melhor time que o Brasil formou em muitos anos foi presa facílima para o Barcelona, que novamente manteve a posse de bola por mais de 70% do tempo, fez o que quis e quando quis, construiu sua goleada como quem tira o doce de uma criança e perdeu outras chances claríssimas de gol, inclusive mandando duas bolas nas traves do atônito Rafael.
Muricy Ramalho teve o seu dia... |
Não é hora de queimarmos as poucas esperanças que temos de dar a volta por cima.
Se dependesse da opinião de torcedores frustrados, o Gerson canhotinha de ouro nunca mais vestiria a camisa da Seleção depois de desperdiçar um pênalti em 1964, tornando-se o bode expiatório da derrota diante da Argentina por 0x3 em pleno Pacaembu. Ainda bem que o tínhamos regendo a orquestra brasileira em 1970!
O certo é que, afora os grandes craques com que então contávamos, possuíamos em 1958 e 1962 um esquema de jogo menos convencional, com Zagallo recuando para ajudar o meio de campo e depois avançando como ponta-esquerda clássico, misto de 4-3-3 com 4-2-4.
Em 1970 fomos além, com o quadrado mágico de Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino, quatro jogadores em rotação, podendo ocupar e aproveitar qualquer espaço que surgisse.
Mas, a partir daí empacamos.
Não assimilamos o futebol total que começou a se desenhar desde a laranja mecânica de 1974. Tornamo-nos defensivistas, pateticamente cautelosos, acreditando sempre que, segurando tudo lá atrás, nossos talentos decidiriam as partidas com suas estocadas.
Ainda ganhamos duas Copas do Mundo --sem, contudo, deslumbrarmos o mundo.
Em 1994, pela primeira vez, a taça nos veio sem uma vitória na final: depois de 120 minutos de sonolento 0x0, superamos a Itália na disputa em pênaltis, mais apropriada para peladas domingueiras.
Em 1994, pela primeira vez, a taça nos veio sem uma vitória na final: depois de 120 minutos de sonolento 0x0, superamos a Itália na disputa em pênaltis, mais apropriada para peladas domingueiras.
...de José Mourinho. |
Superioridade real se evidenciava quando havia a disputa de jogo extra. A loteria dos pênaltis pode premiar o menos ruim (1994) ou propiciar uma enorme injustiça (2006).
Em 2002 foi a única vez em que a nova escola brasileira funcionou a contento --mas, num Mundial de entressafra, no qual nenhuma das grandes forças estava inspirada.
Quando o estilo Barcelona se impôs, o futebol brasileiro despencou de vez.
Faltam-nos zagueiros habilidosos, capazes de retomar a bola e saírem jogando.
São anacrônicos e ridículos os nossos meio-campistas recuados, que só sabem cumprir razoavelmente a função defensiva.
E carecemos desesperadamente de jogadores cerebrais no meio de campo, que ditem o ritmo da equipe e municiem os atacantes de forma a receberem a bola com apenas um ou dois zagueiros os marcando, não uma tropa.
O superestimado Muricy Ramalho não decifrou o enigma da esfinge: nem conseguiu evitar as jogadas agudas do Barcelona, nem conseguiu fazer com que seus atacantes levassem real perigo (só ameaçaram em lances esporádicos, e mais por erros dos catalães).
Teve o Brasileirão inteiro para preparar o Santos, mas seu time chegou despreparado à partida mais importante desde 1963.
Então, temos de repensar muitas coisas e, nas categorias de base, fazer um trabalho direcionado para a gestação dos maestros que deixamos de produzir.
Duas semanas depois da morte do grande doutor da bola e da democracia, tivemos um atestado eloquente de como nos fazem falta, hoje, os Sócrates.
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