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2.12.14

ANTEPASSADO ILUSTRE: ANGELO LONGARETTI MATOU O TRUCULENTO IRMÃO DO PRES. CAMPOS SALLES.

Italianos posando no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes, por volta de 1890.
Minha família é a mais prosaica possível, gente com ambições meramente materiais, cujo ramo italiano jamais saiu do anonimato e cujo ramo brasileiro nunca almejou voos mais altos, tendendo a passar despercebido caso um jovem de 20 anos não houvesse matado em 1900 o truculento irmão de um presidente da República e um jovem de 18 anos não houvesse ingressado em 1969 na luta armada contra a ditadura militar.

Como continuo vivo e ativo, a parte que me cabe nesse latifúndio é mais conhecida. E acabo de descobrir na internet uma ótima dissertação de mestrado sobre o episódio de 1900 e anos seguintes, um dos mais marcantes dos abusos cometidos na patriamada contra os imigrantes italianos, cuja íntegra pode ser acessada aqui. Trata-se de O caso Longaretti: crime, cotidiano e imigração no interior paulista, de autoria de Christiano Eduardo Ferreira.

Uma lembrança remota da minha meninice é a do meu pai e meu tio comentando a morte deste antepassado ilustre, Angelo Longaretti (1). Circulava de mão em mão a notícia publicada no jornal italiano Corrieri della Sera.
Panfleto aliciando italianos

Atraído pelas promessas dos fazendeiros brasileiros, que mandavam recrutadores à Itália oferecendo viagem gratuita, Angelo veio trabalhar na lavoura cafeeira.

Raul Salles, filho do fazendeiro Diogo Eugênio Salles, assediou a irmã de Angelo. Este tentou transferir-se com a família para outra fazenda, mas Raul fez com que fossem rejeitados. E ainda persuadiu o delegado de Analândia a prender Angelo por embriaguez.

Quando o soltaram, no dia 3 de outubro de 1900, Diogo e Raul vieram com seus capangas para expulsarem os Longaretti da fazenda, deixando de pagar-lhes os 2 mil réis a que tinham direito por seu trabalho. O idoso Francisco, pai de Angelo, disse que não sairiam. Diogo agarrou-o, sacudiu-o e atirou-o no chão.

Angelo, vendo o velho desmaiado, supôs que estivesse morto. Foi buscar uma garrucha enferrujada (2) e baleou Diogo. Por um capricho do destino, o disparo, apesar de impreciso, seria letal.

Seguiu-se uma série de descalabros, como as intimidações policiais a habitantes de Analândia para que depusessem contra Angelo.

Este evadira-se, mas acabou sendo detido em 18 de maio de 1901, delatado por um compatriota de olho na recompensa oferecida por sua prisão.

No processo, não foi levada em conta a minoridade do réu (Angelo ainda não completara 21 anos) nem o juiz providenciou tradutor para ele e as testemunhas da defesa que não falavam bem o português. E foram relevadas várias contradições dos acusadores.

O falecido era irmão do quarto presidente da República do Brasil, Campos Sales, que cogitou até efetuar uma tentativa de instauração da pena de morte, com efeito retroativo (!), para que pudesse ser aplicada nesse caso; mas, foi dissuadido pela Inglaterra, que lhe fez ver quão aberrante seria a iniciativa, em termos jurídicos.

O governo italiano, supondo tratar-se de mais um anarquista, não deu a mínima. Angelo foi, entretanto, fortemente apoiado pela colônia, que até se cotizou para pagar-lhe um advogado famoso. Isto não impediu sua condenação a 21 anos de reclusão.

Num segundo julgamento a pena diminuiu para 10 anos. Acabou cumprindo sete anos e meio e sendo libertado por decisão do Supremo Tribunal Federal; com Campos Salles fora do poder, a justiça pôde, finalmente, prevalecer. Voltou à Itália, onde levou vida tranquila até a morte, em 1960.
  1. o sobrenome familiar correto é Longaretti, mas meu pai foi registrado equivocadamente como Lungaretti (o escrivão não entendeu a pronúncia italianada) e eu herdei o erro;
  2. a qual, curiosamente, lhe fora entregue há tempos pelo próprio Raul, em substituição a um pagamento.

28.11.14

VIROU PORNOCHANCHADA: REINALDO AZEVEDO SUGERE QUE BOULOS FOI MOLESTADO NA INFÂNCIA.

fina ironia de Guilherme Boulos no artigo Sugestões para o Ministério de Dilma (vide aqui) foi respondida por Reinaldo Azevedo com uma avalanche de ad hominem e baixarias, tanto na Folha de S. Paulo (aqui) quanto no blogue da nunca veja (aqui). 

Sem querer ele provou que uma sugestão do Boulos era equivocada: um sujeito tão limitado intelectualmente não serviria de jeito nenhum para ministro da Cultura, nem mesmo para suceder à nada brilhante Marta Suplicy. 

RA precisaria de uma professora que o botasse de castigo, obrigando-o a copiar cem vezes a frase: ironia se responde com ironia, sarcasmo com sarcasmo, quem parte logo para a agressão não passa de um desordeiro de botequim

Pessoalmente desaprovo a utilização da orientação sexual (real ou suposta) de algum desafeto como trunfo para sua desqualificação. Mas, não consigo deixar de rir quando a coisa é feita de forma tão espirituosa como num artigo que o Fernando Collor lançou para detonar o Itamar Franco, por quem se considerava traído. 

Não afirmou uma única vez que o dito cujo era gay, mas cada frase continha uma sugestão velada nesta direção. O ghost writer dele caprichou, conseguindo condensar, num espaço reduzido, uma verdadeira coleção de duplos sentidos homofóbicos. Meu lado de escritor foi conquistado pela verve do sujeito... 

Da mesma forma, Boulos bateu no RA com luvas de pelica, ao justificar, dirigindo-se a Dilma, sua indicação para a Pasta da Cultura: 
"Ele vive falando mal da senhora, mas acho que no fundo é tudo ressentimento. Uma ligação e ele se abre que nem uma flor. Vai por mim, até um rottweiler precisa de carinho. É isso que ele deve estar esperando há anos"
A reação do RA foi a mais banal possível, igualzinha a uma que eu tive aos 18 anos, quando era líder secundarista e, numa reunião com estudantes que tentávamos recrutar, uma participante disse que os defensores da luta armada eram homossexuais enrustidos querendo aparentar virilidade. Inexperiente, sem jogo de cintura, só me ocorreu retrucar com uma grosseria: 
"Se você quiser, podemos tirar a prova agora mesmo, na frente de todo mundo!"
Aos 53 anos, o RA só foi capaz de sair por idêntica tangente: 
"Não sei se notam a sugestão, nada sutil, de que sou um veadinho, 'que se abre que nem uma flor'. (...) Ele poderia tentar me ganhar, sem o apoio de seus bate-paus e incendiários, para sentir o perfume, hehe"
Sendo Boulos professor de psicanálise, talvez treplique com um lugar-comum freudiano: negações muito enfáticas costumam equivaler a afirmações às avessas. Mas, com certeza, ele deve ter conquistas melhores das quais se ocupar. Nem como veadinho (uso a terminologia dele) o RA seria atraente. 

Já esta suposição do colunista mais reacionário da revista mais reaça do Brasil está mais para chute na virilha, daqueles que brigões de rua desferem quando estão levando uma surra: 
"Esse rapaz foi molestado na infância e acabou ficando assim?" 
Desde quando ter sido vítima de um crime sexual em plena infância é algo de que alguém deva se envergonhar e que possa servir de munição contra ele?! Como pode um jornalista ter uma cabecinha tão pequena? Que conceitos aberrantes povoam a mente desse formador de opinião!

O RA parece um pugilista que está nocauteado em pé e continua lançando os braços mecanicamente para a frente. Por caridade, o Boulos deveria mandá-lo logo para a lona.

27.11.14

O BOLSONARO E O REINALDO AZEVEDO NÃO PODEM FALTAR NESSE DESPAUTÉRIO!

Faz muito tempo que eu não leio um artigo político tão pertinente e bem humorado como este que reproduzo abaixo, merecidamente na íntegra. 

O Guilherme Boulos, formado em filosofia pela USP e membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, está de parabéns! Deu o tratamento adequado à piada de mau gosto que a Dilma está tentando fazer passar por um Ministério

E que esta bem mais para um despautério... 

SUGESTÕES PARA O MINISTÉRIO DE DILMA 

Guilherme Boulos 

Nós dos movimentos sociais nos sentimos amplamente contemplados com os primeiros nomes para seu ministério. Governo novo, ideias novas. Os gestos não poderiam ter sido melhores. 

Joaquim Levy na Fazenda foi uma sacada de gênio, com grande sensibilidade social. Pena que o Trabuco não quis, mas confio que seu subordinado no Bradesco dará conta do recado. A Marina queria indicar gente do Itaú. O Aécio tinha obsessão pelo Dr. Armínio.

Mas esses, como a senhora disse na campanha, tomariam medidas impopulares. A solução certamente está com o Bradesco. Itaú de fato não pode, mas Bradesco... vá lá! 

Kátia Abreu na Agricultura achei um pouco ousado demais. Cuidado pra não ser chamada de bolivariana! Os índios e os sem-terra estão em festa pelo país. Não temos dúvidas de que o ministério terá um compromisso profundo com a demarcação das terras indígenas, o combate ao latifúndio e com a Reforma Agrária. 

Armando Monteiro no Desenvolvimento deixa seus detratores sem argumentos, muito bem! Dizem que a senhora não dialoga com a sociedade civil. Ora, como não? A Confederação Nacional da Agricultura em um ministério e a Confederação Nacional da Indústria em outro. Aí está a gema da sociedade civil, as entidades patronais. 

Tem gente sendo injusta com a senhora, dizendo que essas indicações sinalizam que seu governo irá aplicar o projeto derrotado nas urnas. Não se deixe levar por isso. Estão fazendo o jogo da direita, no fundo querem mesmo é desestabilizá-la. 

A senhora está no caminho certo. Para onde? Bom, esta é outra questão. Mas o que eu gostaria mesmo é de humildemente lhe apresentar algumas sugestões para a composição dos ministérios. 

Para a pasta das Cidades o nome é o Kassab. Homem experiente, foi prefeito de São Paulo e terá a oportunidade de aplicar nacionalmente o que fez por aqui. Imagine incêndios em favelas no Brasil todo! Vamos acabar de vez com esta herança arcaica que são as favelas, Kassab já mostrou que sabe fazer. 

Tem também a política de despejo expresso, sem necessidade daquela burocracia toda de uma ordem judicial. E é claro, leva com ele uma equipe íntegra e competente. Talvez o Aref como secretário-executivo, que tal? 

Nos direitos humanos não há muito o que discutir. É Bolsonaro na certa. Um homem que pauta com coragem grandes temas tabus como a tortura, o direito ao aborto, a maioridade penal e o papel dos militares na sociedade. Cabeça arejada e capacidade de dialogar com todos os setores sociais. Ele e a Kátia poderiam ser os novos interlocutores do movimento popular no governo. 

Nas Comunicações sugiro o Fabio Barbosa, da Veja. Já mostrou ser um tipo criativo. Sua capacidade de criar fatos e transformá-los em manchetes está mais do que demonstrada. 

Imagine isso tudo a serviço de seu governo! Os blogueiros radicais, que defendem democratização da mídia, podem não gostar. Mas paciência, nem Jesus agradou a todos. Afinal, a senhora poderá argumentar que a alternância no poder é necessária. A Globo já teve três ministros, agora é a vez da Veja

Para a Cultura eu tenho dúvidas. A Marta saiu com aquela cartinha mal-educada, querendo fazer média com o mercado. Convenhamos, a senhora foi muito mais esperta. Ao invés de fazer média com o mercado, trouxe ele para dentro do governo. Deixou a Marta falando sozinha. É preciso resgatar a credibilidade do ministério. 

Pensei primeiro no Lobão, porque ele pararia com essa história de impeachment e ainda traria o apoio da turminha dos Jardins. Se bem que esta turminha tem cada vez menos razões para lhe fazer oposição. Mas acho que ele prefere construir a carreira junto com o Aécio, não toparia. 

Talvez então o Reinaldo, homem culto e com ampla visão. Reinaldo Azevedo, sabe? Ele vive falando mal da senhora, mas acho que no fundo é tudo ressentimento. Uma ligação e ele se abre que nem uma flor. Vai por mim, até um rottweiler precisa de carinho. É isso que ele deve estar esperando há anos. 

Há quem possa achar minhas sugestões muito conservadoras. Mas estou preocupado com a governabilidade. Governabilidade é tudo, presidenta! É um fim em si, como demonstram suas escolhas e as decisões de governo nos últimos 12 anos. 

Se seguir minhas sugestões ao menos não poderão acusá-la de incoerente. Quem já convidou Levy, Kátia e Armando pode, pela mesma lógica irrefutável, convidar Bolsonaro, Fábio Barbosa e Reinaldo. Quanto ao Kassab, admito que a senhora teve a ideia antes e já anda sondando com ele. 

Cordialmente, despeço-me certo de que teremos a opinião considerada.

25.11.14

O GULLIVER COMBALIDO E OS LILIPUTIANOS MAL AGRADECIDOS

A INGRATIDÃO, ESSA PANTERA, VOLTA SUA SANHA CONTRA O OSCAR SCHMIDT.

Um dos traços mais deploráveis dos brasileiros é a ingratidão, essa pantera. 

Temos poucos grandes nomes e os tratamos a pontapés depois que passa o seu apogeu. Como se muitos, invejosos de quem fez é por merecer irrestrita admiração, estivessem esperando apenas o momento certo para os apedrejar. 

E não precisam esperar muito, pois a memória é bem curta nestes tristes trópicos 

O Tiradentes, nosso maior revolucionário do passado, está quase esquecido e seu feriado é dos menos festejados. Dez vidas ele tivesse, dez vidas ele daria. Quantos disseram o mesmo neste país pachorrento, cujo povo é tão submisso face aos tiranos? 

A extrema-direita consegue impedir, com manobras jurídicas, que a família do Lamarca receba uma reparação merecidíssima; e quase ninguém se incomoda. Ele ousou lutar, foi abatido como um cão por jagunços travestidos em agentes do Estado e agora os beneficiários do seu sacrifício extremo não ousam sequer pronunciar o seu nome! 

O Plínio Marcos, cujas peças a censura impedia que fossem encenadas, era obrigado a vender textos mimeografados na porta de teatros para sobreviver. Muitos que passavam para assistir às inocuidades em cartaz se desviavam como se ele fosse pestilento.

O Garrincha, que carregou nossa seleção nas costas em 1962, morreu praticamente na sarjeta. 

Depreciam o Oscar Schmidt por uma coisa (a política) infinitesimal diante dos seus feitos como esportista. E isto lhes dá pretexto para até ignorarem suas agruras terríveis, motivo óbvio do mau momento que teve como palestrante (vide aqui). 

Não deveria fazer palestras porque já é incapaz de controlar as alterações de comportamento que o tumor cerebral às vezes lhe provoca? Mas, abdicando do pouco que lhe resta na vida que ainda lhe resta, certamente morrerá mais depressa. A frustração dos pífios (*) de Caruaru pesa mais do que a compaixão do que qualquer ser humano nos deveria inspirar (e muito mais um dos nossos poucos nomes superlativos e memoráveis na atividade que exerceu!).  

Não reverenciam como deveriam a Maria Esther Bueno, o Gustavo Kuerten, o Nelson Piquet, o Emerson Fittipaldi, etc. 

O Eder Jofre disse tudo: "Se alguém quer me homenagear, que o faça agora, porque depois de morto não adianta nada". 

Como o Raul Seixas, que se ressentia muito do abandono por parte dos fãs quando o conheci, em 1980. Só após sua morte foi que o redescobriram. 

E é por ter falecido que o Ayrton Senna continua sendo tão cultuado; se estivesse vivo, enxergariam nele tantos defeitos quanto no Pelé ou no Oscar. 

Quando o mão santa morrer, talvez finalmente nos lembremos de como ele foi grande um dia... 

Faço restrições aos estadunidenses por muitos e bons motivos, mas nisto eles são bem melhores do que nós: sentem gratidão por seus ídolos e lhes dão todo reconhecimento. 

Só sobre o Muhammad Ali já vi ou tomei conhecimento da existência de uns 20 filmes. Sua carreira terminou em 1981, hoje é uma sombra do que foi, mas vive rodeado de enorme carinho, respeito e admiração. Como é o correto.

Por aqui, estaria esquecido e só se falaria dele quando surgisse oportunidade para o agredir covardemente, como acaba de fazer uma malta de linchadores virtuais. 

* é absoluta má fé me acusarem de desprezo pela cultura popular nordestina, pois nunca o tive. Inclusive, respeito e aprecio o trabalho da Banda de Pífanos de Caruaru. O que detestei foi a postura de alguns mimadinhos pífios de Caruaru. E isto está bem claro no meu texto anterior.

A BANDA DE PÍFIOS DE CARUARU E A LENDA VIVA OSCAR SCHMIDT

Oscar Schmidt é, simplesmente, o melhor jogador do basquete mundial em todos os tempos, o recordista absoluto de pontuação (49.703 pontos), o jogador de bola-ao-cesto que mais participou de Olimpíadas (5) e o que nelas mais pontos marcou (1.093). 

E mais: o atleta que lavou a alma de todos nós, brasileiros, nos Jogos Panamericanos de Indianápolis, EUA, em 1987. 

Os estadunidenses se julgavam senhores absolutos do basquete e não levavam a sério o adversário da finalíssima: nós. Tanto que uma jogadora da equipe feminina, depois de sagrar-se campeã no jogo inicial, pendurou sua medalha no pescoço do namorado, integrante da seleção masculina. Sem maldade; é que a vitória era dada como favas contadas, a ponto de ela nem sequer perceber quão arrogante e anti-esportivo havia sido seu gesto.

No primeiro tempo, eles chegaram a colocar 20 pontos na nossa frente, mas foram para o intervalo com uma vantagem um pouco menor: 14.

Oscar voltou do vestiário com incrível disposição, empolgando os companheiros. E passou a ter um aproveitamento fantástico nos arremessos de fora do garrafão. Fez jus ao apelido de mão santa.

Os estadunidenses, até então, não davam muita importância à novidade de os arremates de longe terem passado a valer três pontos, ao invés de dois. Estavam acostumados a articular tão bem suas jogadas que acabavam quase sempre finalizando de perto -e convertendo. Para que arriscar de longe, com risco bem maior de errar?

A incrível derrota diante do Brasil, por 120 x 115, os fez reconsiderar este conceito. Por obra e graça do Oscar, o brasileiro que deu uma aula de basquete na terra dos Harlem Globetrotters.

Como extraordinário esportista e como homem exemplar, ele fez por merecer nosso irrestrito respeito e a nossa mais humilde gratidão. 

Assim não pensaram, no entanto, alguns alunos de uma faculdade particular do Agreste de Pernambuco, que abriram o maior berreiro virtual por causa dos maus modos do jogador ao ministrar uma palestra. Como se seus egos chamuscados fossem tudo que importasse e uma trajetória grandiosa tivesse passado a significar nada.

Sentirão vergonha de sua pequenez, ao saberem agora o verdadeiro motivo do comportamento de Oscar? Duvido. A única imagem que importa para os mimadinhos da vida é aquela que eles veem no espelho.

Eis o outro lado da história, apresentado pelo jornalista esportivo Milton Neves:

"Sim, ele foi mal em Caruaru, decepcionando os pernambucanos.

Mas não foi de caso pensado.

Quem não sabe, graças a Deus, o que é ter um tumor maligno no cérebro, que atire tantas pedras neste bom homem, hoje atormentado e talvez condenado.

Meu saudoso avô materno, Luis Carlos Fernandes, ferroviário da Mogiana em Muzambinho-MG, morreu no Rio não resistindo a uma operação para retirada de tumor no cérebro.

Era um homem doce, mas se transformava com terríveis dores de cabeça.

Tanto que atirou um paralelepípedo em um galo do Sítio Invernada só porque o dono do terreiro cantou bem alto perto dele, um homem doente, com o fatal tumor na cabeça.

Calma com o Oscar, gente, o gigante nasceu no Rio Grande do Norte para ajudar o Brasil inteiro.

E como nos deu alegrias, hein?

Mas, hoje, ele não é mais dono de si ou de seus desatinos.

E nem de seu destino".

Obs.: o nome do ótimo conjunto de música instrumental da cidade é, claro, Banda de Pífanos de Caruaru. Mas, foram mesmo pífios os que se mostraram tão alheios e indiferentes à via crucis do Oscar.

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30.10.14

VIDA QUE SEGUE

Foi um duro golpe para mim, constatar o estrago causado pela última eleição presidencial nas minhas esperanças de uma retomada revolucionária.

Sou sincero: considero esgotado o papel positivo do PT e urgentemente necessária a afirmação de uma nova vanguarda, que volte a priorizar a luta contra o capitalismo, disposta a implodir a dominação de classe ao invés de apenas atenuar os excessos cometidos pela classe dominante.

Até lá continuaremos patinando sem sairmos do lugar. Então, na minha maneira de ver as coisas, a reeleição de Dilma significou mais quatro anos riscados do calendário da revolução (a menos que os jovens indignados voltem para as ruas e comecem a escrever uma nova História, pois eles são, agora mais do que nunca, a esperança que nos resta). 

E, como enxergo um palmo adiante do nariz, temo que o continuísmo, da forma como foi assegurado (com abuso clamoroso da máquina governamental, da propagação de falácias e da pregação do ódio), seja respondido pela direita com a tentativa de impeachment da presidenta Dilma.

Isto poderá levar a consequências imprevisíveis, com a conjugação das crises política e econômica (pois o que nos espera em 2015 é uma recessão inevitável, que talvez desemboque numa depressão).

Mas, exatamente porque o porvir se augura ameaçador, continuarei cumprindo o papel quem me atribui: o de estimular a reflexão sobre o momento e as perspectivas históricas, propondo visões alternativas às dominantes. Até agora, tem sido uma pregação no deserto: por mais certo que esteja nos meus alertas, não venho conseguindo alterar um milímetro o rumo dos acontecimentos.

Mesmo assim, creio haver motivos para perseverar. Principalmente por existirem tão poucos internautas, e a proporção é menor ainda entre os de esquerda, com convicções e coragem para remarem contra a corrente, desafiando e desnudando as posições oportunistas dos que desistiram de dar um fim à exploração do homem pelo homem.

Vida que segue, portanto. O que muda é a ênfase cada vez menor que este blogue dará à política oficial, às escaramuças dos que querem apenas conquistar, manter ou ampliar seu poder sob o capitalismo. 

Depois dos horrores da última campanha, a política oficial só me causa o mais profundo asco e a mais extrema indignação. Sinto-me como Glauber Rocha, no seu desabafo visceral em Terra em Transe, pela boca do personagem Paulo Martins (Jardel Filho):

"Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada nos planaltos. Não é mais possível esta festa de bandeiras com guerra e Cristo na mesma posição! Assim não é possível, a impotência da fé, a ingenuidade da fé.

Somos infinita, eternamente filhos das trevas, da inquisição e da conversão! E somos infinita e eternamente filhos do medo, da sangria no corpo do nosso irmão!

E não assumimos a nossa violência, não assumimos as nossas idéias, como o ódio dos bárbaros adormecidos que somos. Não assumimos o nosso passado, tolo, raquítico passado, de preguiças e de preces. Uma paisagem, um som sobre almas indolentes. Essas indolentes raças da servidão a Deus e aos senhores. Uma passiva fraqueza típica dos indolentes.

Não é possível acreditar que tudo isso seja verdade! Até quando suportaremos? Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos? Até quando, além da paciência, do amor, suportaremos? Até quando além da inconsciência do medo, além da nossa infância e da nossa adolescência suportaremos?"

27.10.14

PAUSA PARA RECICLAGEM

Já são quase oito anos de atividades incessantes, começando pelo blogue Celso Lungaretti - O rebate e depois se diversificando com o Náufrago da Utopia e o Diário de campanha do Lungaretti. Chega o momento de fazer uma pausa para reciclagem.

Há muito estou precisando recuperar o fôlego. Esperei até o desfecho da eleição presidencial de 2014 porque, embora esteja totalmente cético quanto à possibilidade de fazermos avançar a revolução por meio da (e em meio à) putrefata política oficial, percebi uma tempestade se formando no horizonte e tudo fiz para alertar os que a podem evitar.

Nem isto consegui. Então, só me resta torcer para que estejam equivocadas as minhas previsões. 

Faço uma última recomendação: que os dirigentes da esquerda palaciana aprendam a evitar os confrontos cujo desfecho será desastroso a médio ou longo prazo. Há vitórias que conduzem a acachapantes derrotas e aos mais terríveis retrocessos. A História será implacável com os pastores que conduzirem seus rebanhos ao extermínio.  

De resto, vou refletir profundamente sobre os caminhos para concretizar a contribuição que eu ainda me proponho a dar, nos anos que me restam, para a causa à qual tenho dedicado toda a minha vida consciente.

O certo é que continuarei apostando nos movimentos e mobilizações que surjam nas ruas, à margem do sistema falido e na contramão dos podres poderes. Quando eu tiver a possibilidade de desempenhar um papel na formação de novas gerações de revolucionários, sem os defeitos e os vícios daquelas que se tornaram parte da realidade que deveriam transformar, será a hora de voltar ao ringue. 

A tarefa que gostaria de estar desempenhando a partir do day after da eleição presidencial seria a da construção de uma nova esquerda. A velha, contudo, insiste em pular fora do caixão, embora sua sobrevida já nada nos augure de bom. No mínimo, o cronograma da revolução terá sofrido um substancial atraso. Torçamos e façamos figa para que seja só este o prejuízo. Um novo 1964 é tudo de que não precisamos.

De minha parte, não vejo mais motivo nenhum para me ocupar da política oficial, exceto se o País vier a enfrentar a ameaça de uma nova ditadura. Aí, nenhum antigo resistente poderá se furtar ao dever de lutar com todas suas forças contra uma recaída nas trevas. 

Mas, não havendo emergências nem o tão aguardado ascenso revolucionário, este blogue permanecerá em recesso indefinidamente, com repostagens esporádicas de textos antigos para mantê-lo vivo.

25.10.14

AÉCIO REPRESENTA O RETROCESSO E DILMA, O REPRESAMENTO DO ÍMPETO REVOLUCIONÁRIO.

O último debate eleitoral do 2º turno da sucessão presidencial foi uma reprise dos outros três: Dilma sempre gaguejando e repetindo como disco arranhado a propaganda (enganosa, como toda propaganda) oficial, Aécio sempre causando impressão um pouco melhor, nada de espantar, mas algo mais próximo do que deva ser quem exerce a Presidência da República.

Um batalhão de pesquisadores, coordenado por marqueteiros, os mune de um imenso arsenal de dados que só servem para exibirem e depois jogarem fora: presidente estabelece prioridades e coordena seus ministros, não se ocupa pessoalmente das questiúnculas administrativas. Embora pose fingindo inspecionar obras ou atrapalhando os que trabalham em situações de emergência, aquilo tudo é só pra videota ver.  

Então, se nos ativéssemos apenas às qualidades pessoais para o exercício da função presidencial, teríamos de votar em Aécio Neves, que sugere, ainda que remotamente, um estadista. 

Dilma Rousseff fez questão de projetar a imagem de gerentona porque, no fundo, era a única convincente no seu caso. Afinal, não passa de uma guerrilheira que virou tecnoburocrata. 

Antes, queria contribuir para a revolução, uma obra coletiva que depende, fundamentalmente, de que os explorados, em algum trecho do caminho, assumam a causa e a levem à vitória. Se ela houvesse permanecido fiel aos ideais de outrora, teria estimulado a conscientização, participação e organização do povo, pois é ele quem pode fazer a revolução. Revolucionários somos apenas os abre-alas, não os sujeitos da revolução.

Mas, a derrota dos anos de chumbo lhe fez muito mal e suas ambições se reduziram a quase nada. Passou a se ver meramente como uma gestora do capitalismo, que tenta gerenciar melhor o aparelho de estado, do ponto de vista de obter algumas pequenas benesses a mais para o povão (comparativamente às concedidas pelos governos de direita).

Ora, já faz mais de um século que os teóricos marxistas fulminaram o reformismo como uma via política que, tornando o capitalismo um pouco menos selvagem, só serve para assegurar-lhe sobrevida, já que ninguém aguenta ser tratado indefinidamente a ferro e fogo. Dilmas e Lulas apresentam ao povo a face humana do capitalismo, o que apenas o impele a se conformar ao invés de lutar. 

Se queres um monumento, compara os contingentes combativos das Ligas Camponesas e dos primórdios dos movimentos de sem-terra com os apáticos e amorfos beneficiários do Bolsa Família. Uns queriam arrancar seus direitos das garras exploradores. Outros ficam à espera que a esmola lhes caia do céu, só se diferenciando dos mendigos por não terem de suplicar por ela, bastando entrarem na fila do banco.  Dos primeiros, alguns certamente engrossariam as fileiras revolucionárias, se houvesse uma revolução em curso. Dos segundos só podemos esperar prostração e abulia.

Há dois pecados capitais que devem afastar os revolucionários da opção Dilma Rousseff: 
  • sua persona política, hoje, é de quem encara os explorados como objetos (beneficiários) da sua atuação, não como os sujeitos que precisam ser estimulados a cumprirem seu papel histórico. Ela substitui a mobilização revolucionária pela arregimentação dos eleitores para garantirem mandatos aos gerenciadores corretos, reassumindo, logo ao saírem da cabine de votação, a sua condição de zeros à esquerda, a serem devidamente tutelados pelos que sabem o que é melhor para eles. É o contrário de tudo que Marx e Proudhon nos ensinaram;
  • e, não se contentando em colocar os explorados no seu devido lugar por meio das políticas de governo, recorreu à repressão pura e simples para sufocar o despertar das massas nas jornadas de junho de 2013 e subsequentes, tudo fazendo para abortar o que, para quem permaneceu revolucionário, representava a maior esperança surgida desde a domesticação do Partido dos Trabalhadores. Foi imperdoável e eu, pelo menos, jamais perdoarei o PT por isto; quase vomitava ao ler, nos posts dos blogueiros amestrados que oscilam na órbita palaciana, as mesmíssimas falácias, diatribes e incitação à bestialidade fardada que os arqui-reacionários de então, como Nelson Rodrigues, lançavam contra o movimento estudantil de 1968.
Mas, se o PT, como partido (companheiros valorosos ainda existem por lá e poderão ser muito úteis quando buscarem melhor companhia), está perdido para a revolução e se o indivíduo Aécio Neves cai melhor no figurino presidencial do que Dilma Rousseff, deveríamos votar nele?

Não, mil vezes não! Pois importa mesmo é a força política que governará, não seu garoto-propaganda. O que têm os tucanos a oferecerem, além de uma melhor adequação do Brasil ao papel subalterno e dependente que lhe cabe no capitalismo globalizado? Presumivelmente, eles apenas corrigirão os erros de gerenciamento (mesmo na ótica estritamente capitalista...) cometidos na caótica gestão de Dilma Rousseff e vão ocultar com mais discrição a sujeira debaixo do tapete --afinal, a grande imprensa decerto cooperará neste mister, voltando aos miados da era FHC, ao invés dos rugidos de ultimamente.

Têm tão pouco a oferecerem ao povo como em 2002, quando foram varridos do poder por Lula. Que haja tantos brasileiros hoje dispostos a andarem para trás é estarrecedor! Mostra quanto o PT decepcionou aqueles que nele apostaram.

Noves fora, Aécio representa o retrocesso e Dilma, o represamento do ímpeto revolucionário sob a batuta (e a repressão!) dos reformistas. Merecem ser ambos repudiados. Merecem que o povo lhes atire sua decepção na cara, pois um não oferece esperança nenhuma e a outra frustrou miseravelmente as imensas esperanças que seu partido despertou.

A maneira que resta para expressarmos nossa indignação é recusa das opções que nos estão sendo oferecidas, seja (preferencialmente) anulando o voto, seja votando em branco ou mesmo, por meio da abstenção, não desperdiçando tempo com uma eleição que, além de não prenunciar verdadeira melhora, apresentou a campanha mais imunda e medíocre desde a redemocratização.

24.10.14

A veja TUMULTUA A ELEIÇÃO COM O FANTASMA DO IMPEACHMENT DE DILMA

O risco contra o qual venho há tempos alertando acaba de se materializar: a veja antecipou em um dia a distribuição da edição 2.397, de forma a colocar a eleição presidencial sob a lâmina de uma guilhotina: a do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. 

É manipulação às escâncaras, um óbvio crime eleitoral. 

A revista normalmente entra em bancas no sábado e tem sua capa e resumo das principais matérias divulgada na noite de 6ª feira. Todo o cronograma foi adiantado em 24 horas, só cabendo uma explicação: o objetivo foi permitir que Aécio Neves aproveitasse a munição nova no debate final da Globo, além de aumentar estrategicamente o prazo para a bomba repercutir, produzindo consequências nas urnas. 

E qual é esta bomba, afinal? Trata-se da atribuição, ao delator premiado Alberto Youssef, da seguinte afirmação, ao ser interrogado por um delegado da Polícia Federal:
— O Planalto sabia de tudo!
O delegado teria perguntado a quem no [Palácio do] Planalto o doleiro aludia, recebendo como resposta: "Lula e Dilma".

Reinaldo Azevedo, o blogueiro mais reacionário da revista mais reaça do Brasil, duas semanas atrás já antecipara que a direita poderia partir para o impeachment, neste parágrafo de sua coluna semanal na Folha de S. Paulo:
Reinaldo Azevedo é o principal arauto do impeachment
"Prestem atenção! Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef mal começaram a falar. A depender do rumo que as coisas tomem e do resultado das urnas, o país voltará a flertar, no próximo quadriênio, com o impeachment, somando, então, a crise política a uma economia combalida".
Só perfeitos ingênuos acreditarão que ele já não soubesse qual seria a derradeira cartada da veja

Agora, ao trombetear a nova denúncia no seu blogue, ele é mais explícito ainda:
"Se as acusações de Youssef se confirmarem, é claro que Dilma Rousseff tem de ser impedida de governar caso venha a ser reeleita, mas em razão de um processo de impeachment, regulado pela Lei 1.079..."
E, para martelar bem a ideia, ele a repetiu no final do seu post, grifando a ameaça para torná-la ainda mais ribombante:
"Se Dilma for reeleita e se for verdade o que diz o doleiro, DEVEMOS RECORRER ÀS LEIS DA DEMOCRACIA — não a revoluções e a golpes — para impedir que governe".
Evidentemente, os grãos petistas falarão em terrorismo eleitoral, minimizando a possibilidade de os acontecimentos se encaminharem em tal direção.

Mas, se precedentes valem alguma coisa, a permanência de Getúlio Vargas no poder foi duas vezes interrompida por manobras semelhantes:
  • em 1945, os Estados Unidos jogaram todo seu peso de bastidores para forçá-lo (da mesma forma que o argentino Juan Domingo Perón) a deixar o poder; 
  • e, como o ciclo varguista persistiu, com a eleição do poste que ele apadrinhou (Eurico Gaspar Dutra) seguida por sua volta ao Palácio do Catete em 1951, a direita militar exigiu que renunciasse para não ser deposto, tendo ele preferido uma outra opção, o suicídio.
Outro precedente agourento é o de 1964: o PCB subestimou o risco de golpe de estado, não montando nenhum dispositivo militar próprio para defender o mandato legítimo de João Goulart, daí os golpistas terem derrubado o governo com a facilidade de quem tira doce da boca de uma criança.

Se as agora coisas chegarem a tal extremo, a História certamente se repetirá, pois inexiste dispositivo militar autônomo ou contingentes populares preparados para reagirem à altura. O PT não fez a lição de casa.

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16.10.14

"SE UMA OUVIDORIA NÃO DEFENDE UM IDOSO GRITANTEMENTE INJUSTIÇADO, PARA QUE EXISTE?"

Sinto-me como o cidadão que, num conto primoroso de Kafka, chega na porta da Lei e tem sua entrada impedida por um poderoso porteiro. Decide aguardar seu consentimento e consome o resto da sua vida na espera. Em seus últimos momentos, pergunta:
- Todos aspiram à Lei. Como se explica que, em tantos anos, ninguém além de mim pediu para entrar?
O porteiro precisa berrar a resposta, para que o agonizante o consiga escutar:
- Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a.
É o que se passa com o meu mandado de segurança para receber a indenização retroativa que me foi concedida pelo ministro da Justiça há nove anos, mas que, graças a manobras protelatórias e à indisfarçável hostilidade das burocracias arrogantes e insensíveis, permanece até hoje no limbo, conforme expliquei detalhadamente neste artigo de três meses atrás (nada aconteceu desde então).

Nesta 5ª feira, 16/10, apelei mais uma vez à Ouvidoria do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que cumpra seu dever. Já o fizera anteriormente, recebendo a bizarra resposta de que o regulamento interno do STJ dá aos ministros o direito de organizarem a sua agenda conforme lhes dá na telha. Ora, se uma Ouvidoria acredita que regulamentos internos falem mais alto do que leis, é melhor substituí-la por um muro de lamentações.

Eis a mensagem que acabo de enviar:
Quero, mais uma vez, pedir à Ouvidoria que cumpra seu papel, defendendo meu direito de idoso a ter prioridade nos trâmites judiciais, conforme estabelece a Lei 010.741, de 2003:
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
 § 1º O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.
Requeri formalmente a priorização em 06/08/2012, sem que NENHUMA providência fosse tomada no espírito da Lei. Na prática, ela foi tratada como letra morta.
Meu mandado de segurança (de nº 0022638-94.2007.3.00.0000) completará no início de fevereiro oito anos de duração e quatro desde que obtive ganho de causa no julgamento do mérito da questão, por unanimidade (8x0). Já lá se vão mais de dois anos que o relator tomou sua última decisão, manifestando-se nos autos pela derradeira vez. ESTÁ TOTALMENTE PARADO DESDE ENTÃO!!!
Lembro também que REGULAMENTOS INTERNOS, mesmo o de uma corte como o STJ, não prevalecem sobre as LEIS do País.
Se o Estatuto do Idoso não é para valer e se um sexagenário pode ser tratado com tamanho descaso, por que o criaram?
Se uma Ouvidoria não defende um idoso gritantemente injustiçado, para que existe?
Sou a parte fraca, só me resta clamar. Espero que não seja no deserto.
A MARIA ANTONIETA DE HOJE NÃO PERDERÁ A CABEÇA. NEM O CARGO?! 
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